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Outras Temáticas de Defesa => Área Livre-Outras Temáticas de Defesa => Tópico iniciado por: Luso em Maio 13, 2006, 01:02:53 am
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O que vos apraz dizer destas linhas?
Ora, seja qual for o sistema de responsabilidade encontrado para o exercício da governação pública, uma coisa é essencial aos governos – a autoridade, no sentido de possibilidade constitucional e efectiva de governar. E não pode crer-se que se chegou a boa solução quando os diferentes poderes funcionam de tal sorte que os governos ou não existem ou não governam: defendem-se. Se os grupos partidários a cada momento se consideram candidatos ao Poder com fundamento na porção de soberania do povo que dizem representar, a maior actividade – e vê-se até que o maior interesse público – não se concentra nos problemas da Nação e na descoberta das melhores soluções, mas só na luta política. Por mais propenso que se esteja a dar a esta algum valor como fonte de agitação de ideias e até de preparação de homens de governo, tem de pensar-se que onde ela atinge a acuidade, o azedume, a permanência que temos visto, todo o trabalho útil para a Nação lhe é ingloriamente sacrificado. Tem de distinguir-se, pois, luta política e governação activa: os dois termos raro correrão a par.
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Eu diria que e' uma boa descricao dos ultimos 30 anos de historia politica do pais.
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uma coisa é essencial aos governos – a autoridade, no sentido de possibilidade constitucional e efectiva de governar.
É absolutamente verdade. O governo deve ter essa possibilidade e autoridade.
os diferentes poderes funcionam de tal sorte que os governos ou não existem ou não governam: defendem-se.
Infelizmente é verdade em muitos casos, e tem sido verdade em muitos casos. A comunicação social, também ajuda a manter os governos na defensiva, com campanhas periodicas contra os governos.
Ao mesmo tempo, os governos em muitos casos têm sido irresponsáveis, por causa das más escolhas dos seus membros, e da facilidade com que os membros dos governos criam razões para que o governo fique na defensiva.
Vide caso Mario Lino, ou as constantes gaffes de Freitas do Amaral.
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Se os grupos partidários a cada momento se consideram candidatos ao Poder (...) a maior actividade (...) não se concentra nos problemas da Nação e na descoberta das melhores soluções, mas só na luta política.
Este é um problema português há muitos e muitos anos.
Atravessámos o século XIX com este problema.
Com a República, foi mais do mesmo, e a República afundou-se vitima dessa incapacidade dos politicos de colocarem os interesses do país à frente dos interesses da sua família politica.
A confusão acabou numa ditadura de 48 anos, que acabou durando tanto tempo, que caiu vítima do problema oposto, ou seja, a necrose social decorrente da manutenção no poder e durante demasiado tempod a mesma clientela no poder.
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As soluções para este tipo de problema são poucas, e embora eu seja por principio contrário a sistemas não proporcionais de representação parlamentar, creio que chegámos a um ponto em que devemos encetar um novo caminho, para que se perca o fatídico hábito de mudar de governo como quem muda de camisa, mesmo que exista uma maioria no parlamento.
Ou mudamos o sistema eleitoral, incluindo formulas para punir ferozmente e exemplarmente o caciquismo bairrista, ou então precisamos de acabar com o sistema parlamentar e implantar um sistema presidencialista.
Cumprimentos
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ou então precisamos de acabar com o sistema parlamentar e implantar um sistema presidencialista.
...porque não?
Um sistema eleitoral que, como existe na Bélgica, permite aos eleitores não serem obrigados a 'aceitar de cruz' as listas fixas propostas pelos partidos (que como sabe são o resultado de inconfessáveis compromissos entre a direcção, as distritais, os 'sindicalistas', as 'jotas' e outras 'tendências' influentes internamente) mas que lhe permite escolher individualmente os candidatos (mesmo entre os 'suplentes'!) na base das suas ideias, propostas e conhecimento específico da sua personalidade para o efectivo desempenho de funções públicas, parece-me que seria mais correcto, poderia evitar a 'profissionalização política' (nunca totalmente é certo) e talvez levar a uma renovação das mentalidades e da 'politiquice' tão enfeudada entre nós.Quantos de nós que votámos com consciência dos que seriam elegíveis com o nosso voto, não lamentamos ter de optar por o que se costuma chamar de 'mal menor' e não poder 'subtrair' alguns elementos dessa lista( diria mesmo um 'cozinhado') ?
Na verdade, por outro lado ainda mais difícilmente se aceitaria o 'voto obrigatório' que por aqui existe, quando sabemos que em Portugal a abstenção, é não só um direito como quase um 'orgulho' do eleitor.
Repare-se que nem sequer avento a hipótese de um sistema 'luxemburguês' onde existe o voto dito 'panaché', ou seja o eleitor pode votar em vários candidatos (conforme o número de postos a prover) mesmo de diferentes partidos, no seu boletim de voto.Isto seria quase um sacrilégio para a nossa tradicional maneira de ver a política, e sobremaneira para os nossos políticos caseiros que se já nem querem ouvir falar do sistema belga muito menos aceitariam do sistema do 'Grão-Ducado' o qual, concedo, será demasiado 'avançado' na Europa.
Além de que poderia pôr em causa o agora 'sacrossanto' sistema de representatividade (forçada) por sexos, o qual poderia teóricamente ser subvertido a partir do momento em que perante número equilibrado de 'elegíveis' masculinos e femininos, o eleitor acabaria por ter na sua mão ao escolher livremente entre os candidatos a possibilidade de 'distorcer' essa medida supostamenta mais 'igualitária' (como já aconteceu em Malta, por exemplo e por sinal a favor dos homens).
Resumindo, eu penso que um maior empenhamento dos eleitores na vida política terá talvez de passar pelo seu maior poder directo de decisão e/ou escolha sobre os agentes políticos e por outro lado da parte destes uma maior proximidade e auscultação activa dos seus problemas no dia-a-dia...
Mas tudo isto, estas ou outras ideias, não passarão disso mesmo... discussão de ideias sem outras consequências de maior... 'les jeux sont faits...rien ne va plus ! '
Cumprimentos
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Mais uma acha para a fogueira...
«Obedecem a este esquema e são expressão destas limitações os chamados partidos políticos, mas estes, por definição e exigências da sua vida própria, não representam nem podem servir a unidade nacional senão precisa e precariamente, quando se unem, ou seja quando se negam».
Desde já agradeço sinceramente os vossos comentários anteriores e... futuros.
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«Ora, seja qual for o sistema de responsabilidade encontrado para o exercício da governação pública, uma coisa é essencial aos governos – a autoridade, no sentido de possibilidade constitucional e efectiva de governar. E não pode crer-se que se chegou a boa solução quando os diferentes poderes funcionam de tal sorte que os governos ou não existem ou não governam: defendem-se. Se os grupos partidários a cada momento se consideram candidatos ao Poder com fundamento na porção de soberania do povo que dizem representar, a maior actividade – e vê-se até que o maior interesse público – não se concentra nos problemas da Nação e na descoberta das melhores soluções, mas só na luta política. Por mais propenso que se esteja a dar a esta algum valor como fonte de agitação de ideias e até de preparação de homens de governo, tem de pensar-se que onde ela atinge a acuidade, o azedume, a permanência que temos visto, todo o trabalho útil para a Nação lhe é ingloriamente sacrificado. Tem de distinguir-se, pois, luta política e governação activa: os dois termos raro correrão a par.»
(Discursos, volume 1º pág. XXXVIII e XXXIX)
17 de Fevereiro de 1935
Dr. António de Oliveira Salazar
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- Tinhas que estragar tudo, Miguel!
Tens que ser castigado, rapaz...
Mas é verdade. São citações de Salazar.
Não identifiquei o seu autor para que se pudesse discutir os princípios sem o lastro que inevitavelmente tais afirmações inevitávelmente carregariam.
Em todo o caso tenho-as como válidas.
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Luso não devemos ter vergonha do passado.
Salazar fez coisas boas e outras menos felizes.Devemos ter a coragem de ler a historia.
Actualmente as nossas "elites" ainda utilizam Salazar para se manter no poder, "leia-se" podemos estar na pior crise mas estaremos sempre melhor que no tempo de Salazar etc..etc...
Eu tenho a coragem de reconhecer que até os anos 1950, Salazar foi um bom governante, depois devia ter passado a "pasta". Marcelo Caetano tinha começado uma nova remodelação, nessa altura existia deputados da união nacional da ala renovadora, creio que o mais famoso era Sa Carneiro.
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De acordo, Miguel.
Todavia a minha intenção era discutir o conteúdo e não o autor.
Mas pessoalmente vejo muita razão nas palavras de Salazar.
Tem graça: lembro-me há já uns aninhos ter "postado" algures um reciocínio de Pessoa sem identificar o autor e fui atacado como um "porco faaacista".
Depois de identificar o autor fui ainda mais atacado por "enganar" as pessoas. Longe de mim tal ideia, mas o certo é que é inevitável que o raciocício se deixe levar pela emoção que o autor desperta. E não é isso que pretendo.
Mas há que se justo. Como custumo dizer, depois das emoções terem desaparecido ficará a obra para ser julgada pelas gerações vindouras.