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Outras Temáticas de Defesa => Área Livre-Outras Temáticas de Defesa => Tópico iniciado por: Moi em Janeiro 18, 2006, 09:00:04 pm

Título: História incompleta da PAX AMERICANA
Enviado por: Moi em Janeiro 18, 2006, 09:00:04 pm
A seguir, um resumo de intervenções de Washington nas Américas Central e Latina, a partir do século 19:

1806: À frente de um pelotão, o capitão Z. Pike invade o México ao norte do Rio Grande, sob as ordens do General Wilkinson.

1822-23: O tenente Ramage desembarca em Cuba a bordo do navio Porpoise, na costa oeste da ilha, sob o pretexto de perseguir piratas. O Tenente Itribiling desembarca uma tropa de fuzileiros navais na costa oeste de Cuba, em Puerto Escondido.

1824: O mesmo Porpoise desembarca marinheiros nas cercanias de Matanzas, em Cuba, ainda sob o pretexto de perseguir a pirataria.

1825: Destacamentos dos navios Sea Gull e Gallinnipper praticam “ações contra saqueadores nos cayos de Jutia Gorda e La Cocinera. Em Cuba

1831: Fuzileiros do navio Lexington desembarcam nas ilhas Malvinas, na Argentina, por ordem expressa do governo norte-americano. As ilhas seriam ocupadas pela Inglaterra cerca de dois anos depois.

1835: Soldados do navio Brandkwine aportam em El Calao, litoral do Peru, e seguem para Lima, a fim de ”proteger a cidade” durante motins revolucionários. A ocupação perdurou até 1836.

1838: O mesmo navio Lexington realiza um desembarque maciço em Buenos Aires, Argentina. Pretexto: “defender os cidadãos norte-americanos durante as desordens revolucionárias”.

1842: O oficial T.A.C Jones, no comando de uma esquadra que percorria o litoral da Califórnia, ocupa Monterrez, extremo noroeste do México. Uma semana depois, ocupa San Diego. Explicação: o oficial acreditou que as cidades haviam “declarado guerra”.


1816-1848: Guerra entre México e Estados Unidos. Não houve pretexto para o ataque norte-americano. Derrotado, o México firmou o tratado de Guadalupe-Hidalgo, reconhecendo a anexação do Texas. Cediam também a Califórnia, o Arizona, o Novo México e outras regiões, extensão equivalente a França e a Alemanha juntas.

1852-53: Durante a guerra civil de Buenos Aires os navios americanos Congress e Jamestown desembarcaram vários destacamentos. Pretexto: defender interesses estrangeiros.

1854: Uma esquadra norte-americana desembarca soldados em San Juan Del Norte, Nicarágua. O pretexto era “defender a propriedade de uma companhia daquele país, ameaçada (sic) pelo governo” nicaraguense. Em represália, o povo destruiu a empresa e o embaixador americano naquele país foi detido. O incidente diplomático resultou numa reação enérgica. Sob as ordens de Washington, uma esquadra ianque bombardeou San Juan, invadiu a cidade e a incendiou.

1855-57: Por ordens do comodoro Paudling, um destacamento de fuzileiros navais desembarca na Nicarágua. Pretexto: prender o “filibusteiro Wiliam Walker”, quer foi preso, torturado e enviado para Washington.

1858: Forças do navio americano St. Lawrence desembarca em Montevidéu, Uruguai e se apodera da alfândega, dando como pretexto a “guerra civil em processo”.

1859: Demonstrações de forças navais ianques no Panamá exigindo “desagravo”, por um suposto ataque ao banco norte-ametricano Water Witch. O governo panamenho se viu obrigado a capitular.

1860: Com o pretexto de perseguir o bandido mexicano Juan Cortina, o capitão ianque Ford cruza com suas tropas o Rio Grande, penetrando ilegalmente o México.

1865-66: O navio americano St. Mary desembarca fuzileiros navais no Panamá. O pretexto era “proteger o tráfego ferroviário e os interesses norte-americanos durante a guerra civil”. A intervenção ocorreria novamente no ano seguinte, sob o mesmo pretexto.

1868: O general Zedgwick exige e obtém a rendição de Matamoros, afirmando que o fez para reparar queixas de residentes norte-americanos. O militar permaneceu no local com cerca de cem homens durante uma semana, até que o governo de Washington se decidiu em ordenar a retirada da tropa.

1869: Fuzileiros americanos desembarcam por suas vezes em Montevidéu, novamente sob o intento de proteger nativos estrangeiros durante insurreição popular.

1873-1882: Tropas dos estados Unidos cruzam, por diversas vezes, a fronteira do México em suposta “perseguição a ladrões de gado. O governo mexicano apresentou moção de repúdio, o que não impediu que ocorressem choques entre as forças dos dois países, como foi o caso de Remolina, em maio de 1873 e o de Las Cuencas, em 1875. Tais incursões se realizavam, conforme ficou comprovado, por ordens diretas de Washington.

1885: Em março, o navio americano Galena envia à Colômbia uma grande força para a região do Panamá durante uma rebelião, sob o pretexto de proteger a ferrovia. Dois meses depois, uma esquadra ianque e vários destacamentos tomam à força a maior parte da rota do Canal e da Cidade do Panamá. Em julho, o navio Alliance desembarca tropas de fuzileiros em Colón, em caráter provisório.


1888: Uma esquadra norte-americana realiza apresentação de força no Haiti, por motivo do apresamento do navio mercante Haytian Republic.

1891: Uma guarda militar ianque desembarca em Valparaíso, Chile. Pretexto: proteger o embaixador dos Estados Unidos. Mais tarde, um motim de que resultaram dois americanos mortos, dezoito feridos e trinta e seis aprisionados, o governo dos Estados Unidos exigiu reparação. Diante da negativa chilena, a guerra chegou a estar iminente, e o Chile se viu obrigado, por fim, a oferecer escusas e a pagar todas as indenizações exigidas.

1893-94: Durante a Revolta da Armada, no Brasil, o almirante ianque Benham, com uma grande esquadra norte-americana sob seu comendo, tomou posição aberta contra os rebeldes, e chegou a posicionar embarcações a caminho do país, ao decorrer da guerra civil.

1896-98: Revolução no Panamá. Fuzileiros do navio americano Atlanta desembarcaram em Bocca de Toro, no ístimo. No ano seguinte, o navio Alert efetua um desembarque de soldados em Corinte, Nicarágua, durante “motins revolucionários”.

1898: Os Estados Unidos intervém no conflito cubano-espanhol, em Cuba. A propaganda oficial apresenta o envio de tropas ianques à Ilha como um ato generoso e filantrópico da América do Norte. Hoje existem provas de que ta; tese seria insustentável. De acordo com o historiador Ramiro Guerra, a intervenção não foi decidida pelo governo McKinley para ajudar o estabelecimento de uma república independente e soberana em Cuba mas, de fato, para realizar “uma política muito claramente definida em todo o decorrer do Século 20”.

1899: O navio americano Marieta realiza desembarque de fuzileiros em San Juan Del norte, com objetivos ‘de proteção’, logo após a insurreição de Reyes.

1901: Fuzileiros do navio Machias desembarcam em março em Boca Del Toro, na Colômbia. A mesma coisa, no mês de novembro, no Panamá em em Colón, permanecendo em ambos os lugares até dezembro. O pretexto era de “proteger a segurança ferroviária durante a guerra civil”.

1903-1904: Revolução Panamenha. O episódio teria sido orquestrado por agentes dos Estados Unidos com o objetivo de obter o comando do Canal. Não foi à toa que Theodore Roosvelt pôde afirmar, anos mais tarde: “eu me apoderei do Canal”. Para conseguir tal intento, o presidente americano violou todas as leis internacionais e os mais elementares princípios de moralidade que exigem respeito à soberania dos povos.

1904: Fuzileiros do navio Columbia desembarcaram em San Domingos. O pretexto era o de proteger o vice-cônsul alemão, ameaçado pelos revolucionários. Em janeiro e fevereiro daquele ano, uma enorme força naval norte-americana efetuou um desembarque de soldados em Puerto Plata e Souza e, com seus canhões, atacou os rebeldes.

1904: O Almirante Goodrich ordena que um batalhão de fuzileiros navais avança desde a zona do Canal do Panamá até Aucon, a fim de manter a ordem durante a rebelião do general Huertas. As tropas ocupam a cidade e permanecem no local durante uma semana.

1906: Intervenção militar norte-americana em Cuba. As tropas permaneceram no território cubano até 1907.

1910: O navio ianque Buffalo desembarcou uma força de reconhecimento, em março, na cidade de Corinte, Nicarágua. Em maio, os navios Paducah e Dubuque efetuam um desembarque ameaçou prender navios nicaragüenses e abriu fogo contra a terra. Pretexto: os motins revolucionários incitados pelo próprio Departamento de Estado.


1912: O navio americano Petrel desembarcou um destacamento em Honduras, a fim de impedir a ocupação, pelo governo, de uma estrada de ferro pertencente a uma empresa norte-americana.

1912: Desembarque de grande força ianque no porto de Guantânamo, em Cuba, ocupando todo o vale. Outro desembarque se efetuou em Nipe e em Daiquiri. Pretexto: defender os interesses norte-americanos durante os distúrbios que se produziram ao levantar-se em armas o Partido Independente de Cor.

1912-1925: Tropas desembarcam em Manágua, Nicarágua, a fim de “estabelecer a ordem e a pacificação do país”. Soldados desembarcariam também em outros lugares. Os americanos ocuparam todo o país. Em seguida, surgiu um movimento de independência nacional, que sustentou longa luta armada contra o invasor. Os Estados Unidos mantiveram suas tropas na Nicarágua até 1926.

1913: Grupo de marinheiros do navio Buffalo desembarcou em Ciaris Estero, México, para “proteger os norte-americanos dos distúrbios revolucionários”.

1914: Fuzileiros desembarcam em Port-au-Prince, no Haiti

1914-1917: Incidente do Delphin, em Tampico, México. Os norte-americanos se apoderam do porto deVera Cruz, permanecendo no local durante todo o ano. Em 1916, sob pretexto de perseguir Pancho Villa, o general americano Persching lança contra o México uma expedição “punitiva”, que penetrou milhas adentro do território mexicano. A luta continuou até fins de 1917. Esta seria a chamada guerra “não declarada” ao México.

1915-1934: Forças norte-americanas intervém e ocupam o Haiti, em julho de 1915, permanecendo na ilha por dezenove anos. O pretexto inicial: “impedir os ataques aos estabelecimentos estrangeiros durante a guerra”.

1916-1924: Forças navais ianques desembarcam e ocupam a República Dominicana, à custa de muitas baixas. Até 1922, o país é governado por generais. Deixam a região dois anos depois, sob a guarda de fuzileiros, como interventores.

1917-1919: Soldados invadem Cuba durante a Chambelona, ocupando boa parte da província oriental. O pretexto: defender interesses estrangeiros. As tropas permanecem na ilha até 1919.

1918-19: Após a expedição “punitiva”, no México, tropas americanas invadem o território mexicano três vezes em 1918 e seis, em 1919.

1919: O navio norte-americano Cleveland desembarca uma força em Puerto Cortez, Honduras, em setembro daquele ano, a fim de “impedir desordens”.

1919-12: Tropas ianques da Zona do canal penetram na província de Chiriqui, de julho a agosto, para “supervisionar as eleições” (!).

1920: Barcos americanos Tacoma e Niagara tomam a cidade da Guatemala, sob o pretexto de “defender os interesses norte-americanos durante a guerra civil”.

1924-25: Desembarcam soldados norte-americanos em vários pontos da Guatelama, entre fevereiro e abril de 1924. O cruzador Denver serviu de base de operações, ajudado pelo Billingsley e pelo Lardner. Em setembro, o Rochester desembarcou forças em Celba. Em abril de 1925, o Denver efetuou novo desembarque.

1925: Tropas dos Estados Unidos ocupam a cidade do Panamá. Pretexto: “prestar serviço de polícia durante uma greve”.

1926-1933: Depois de poucos meses após haverem se retirado, fuzileiros navais ianques regressam à Nicarágua, o que provoca forte oposição nacional. As tropas dos Estados Unidos ocupam o país até 1933. na prática, com um curto intervalo de poucos meses entre 1925 e 1926 a Nicarágua esteve ocupada militarmente por tropas estrangeiras durante vários anos.

1934-1950: Com a ascensão de Franklin Roosvelt à presidência dos Estados Unidos, os episódios referentes à Segunda Guerra mundial, que desviou o foco militarista norte-americano e a formulação da chamada “Política da Boa Vizinhança”, houve uma certa pausa momentânea em manifestações mais agressivas por parte de Washington nas Américas. O efeito civilizador dos Estados Unidos voltaria com a Guerra Fria, culminando com o rompimento da tradição política dos países do Sul, que adotariam à força a orientação de ditaduras sinistras que Washington iria impor, como o fez, desde sempre à América Central e ao Caribe.

1964: Em meio ao temor de uma revolução socialista no Brasil, durante o governo João Goulart (1961-64), os Estados Unidos desencadearam, como nos velhos tempos, uma operação, intitulada Brother Sam, constituída por uma esquadra chefiada pelo porta-aviões Forrestal, por um porta-helicópteros, seis destróiers, quatro petroleiros, sete aviões de carga C-125, oito aviões de caça, oito aviões-tanque e um jato de comando aéreo, e portava cento e dez toneladas de armamentos. A operação, prevista para maio, se precipitou com o levante de 31 de março. O objetivo inicial seria apostar em Santos, reconhecendo São Paulo como região legalista contra Jango. Com a insurreição das tropas de Juiz de Fora, a “missão civilizadora” se dirigiu para o Espírito Santo, com o intuito de sustentar o governo de Minas Gerais com homens, armas e combustíveis. Foi abortada com a rápida vitória dos militares e a deposição de Goulart, a 1o de abril. Até hoje, esta operação é ponto de controvérsia a respeito de seus fins e meios, e muitos questionam se ela realmente existiu ou não, embora existam documentos que comprovem a ação, nos próprios arquivos norte-americanos.

1973: A sedição do governo socialista de Salvador Allende, feita pelas mãos de militares chilenos, foi articulada pelos Estados Unidos, como a primeira operação complexa de desestabilização de governos sul-americanos. A operação se fez tanto através de propaganda quanto atos de conspiração e de guerra, comandada por um grupo que integrava gestores de empresas multinacionais, para derrubar o governo. O programa de Allende entrou em choque com os interesses norte-americanos na América. Como foi comprovado depois, o descontentamento popular foi estimulado por greves financiadas pela Inteligência norte-americana. Em 11 de setembro de 1973, o palácio do governo foi bombardeado e o presidente morreu durante a luta.

1986: O governo norte-americano foi acusado de desviar o dinheiro de venda ilegal de armamentos ao Irã para sustentar o movimento dos “contras”, grupo de extrema direita que lutava para derrubar o governo sandinista da Nicarágua, na América Central. O escândalo abalou o prestígio do presidente Ronald Regan, ficando claro para a opinião pública que ele não só tinha conhecimento dessas transações, como também as autorizara. Desta forma, o governo de Washington mantinha os “contras” (ditos “conservadores” que haviam fugido para Miami a fim de organizar uma milícia guerrilheira e atacar a Nicarágua) com armas, equipamento e assessoria militar que, sem sucesso, tentaram derrubar o governo de Daniel Ortega. O presidente seria derrotado apenas em 1990, por via eleitoral, com a vitória de Violeta Chamorro, da União Nacional de Oposição (UNO).
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 18, 2006, 11:51:38 pm
E a seguir o Moi vai-nos brindar com outro post de idêntico brilhantismo dedicado à União Soviética...
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 19, 2006, 02:03:35 am
Lá está a estreiteza de ideais...

O objectivo é dar a conhecer a intervenção americana no mundo e abrir horizontes para estudar mais a fundo algumas das questões referidas ou subentendidas. Tal como a Doutrina Monroe.

Se quisesse dizer mal dos Estados Unidos tinha emitido opinião. Não o fiz.

Quanto à União Soviética, ficaria a perder de longe em número de guerras e mortes provocadas.

Agora, se o «termo» de comparação fosse a Inglaterra Monárquica, então seria um bom exercício.
Título:
Enviado por: papatango em Janeiro 19, 2006, 02:34:35 am
Caro Moi.

Eu não pretendo dar uma de inteligente "maniqueista" :conf:  mas fico com a impressão de que você nos pretende passar uma imagem da américa um bocado, se calhar maniqueista.

Diga-me só uma coisa, em nome do interesse de informar:

Em 1814, a capital desse império americano, a cidade de Washington, foi pilhada e incendiada pelos britânicos.

Importa-se de me dizer em que capitulo deste seu relato das malfeitorias americanas se encaixa a ocupação e destruição da capital?

É que fico com a impressão de que nos quer dar a ideia de que os americanos já impunham a sua PAX, quando na prática eram os britânicos que mandavam, e na realidade mandaram, até 1914.

Talvez, a bem da verdade, nos queira explicar o que é a doutrina Monroe, que implicava que um ataque contra um país americano era um ataque contra todos.

O exército americano, essa potência maléfica, era minusculo quando comparado com um exército europeu. Basta dizer-lhe, que até quase ao fim do século XIX, os americanos temiam o Brasil, porque este país tinha navios mais poderosos que a América.

Portanto, creio que a Pax Americana, começou um pouco mais tarde.

Quanto aos mortos provocados pela Pax Soviética, também sería interessante considerar o reinado de Estaline, e classificar os seus feitos heróicos contra as várias nacionalidades dentro da URSS, e contra aqueles que ele achava que estavam contra ele.

O facto de um governo ou sistema de governo, se impor num determinado espaço geográfico por meios violentos, não é menos grave, quando é feito dentro das próprias fronteiras.

Logo, lamento informa-lo caro Moi, mas o nível de crueldade e barbarie do grande camarada Pai dos Povos faz os americanos parecerem meninos de coro.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 19, 2006, 02:59:28 am
Só uma insignificância para colocar as coisas na devida perspectiva...

Os terríveis imperialistas americanos tinham em 1909, 29 metralhadoras
Benet Mercié. Creio que até nós tinhamos mais, e a nossa marinha em pessoal, era do tamanho da americana (se não o era em 1909 era-o no início do século)

A 6 de Abril de 1917 já tinham as seguintes metralhadoras:

- 670 Benet Mercié (modelo obsoleto pouco prático e confiável);
- 282 Maxim em cartucho regulamentar;
- 143 Metralhadoras Colt (no cartucho russo destinadas a treino);
- 353 Lewis (no calibre inglês)
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 19, 2006, 03:01:20 am
Papatango

Olhe que não, Olhe que não, Olhe que não...

...A União Soviética não fica à frente

Mas ainda assim, o que é interessante verificar, e à luz do que afirma, segundo estudos de opinião levados a cabo na Rússia em 2003, mais de metade dos Russos (os entrevistados naturalmente) consideravam que o impacto de Estaline na História russa foi positivo. Apenas cerca de um terço discorvada.

Confirmar em... New York Times de 5 de Março de 2003, artigo de Michael Winess.

É que curiosamente, os ocidentais condenam-no mais que os russos. Resquícios de uma longa propaganda ocidental, com laivos de histerimos nos mais absurdos episódios. (Relembro que a crítica a Estaline deu-se no XX congresso do PCUS na década de 1950... partiu de dentro... segundo o último livro do Peixeiro Pereira).

Como acredito que saiba o que é maniqueísmo, vou passar á frente.

Com mais tempo direi o que entendo da Doutrina Monroe (America aos Americanos) e os seus verdadeiros objectivos e conquistas.

Também considero o Estaline um criminoso, mas mesmo assim acho que ele não foi tão terrível quanto os americanos na chacina que fizeram aos indígenas da região/Índios.

Ainda assim, não há aqui um desfazamento? Eu falo de dois séculos e tão de barbárie americana, mas só me falas a partir do Estaline...

Fala também da incrível Monarquia Russa, também ajuda ao resultado.

E já estou a ajudar.

Mas com mais tempo, eu explico as implicações da Doutrina Monroe, aliás ao alcance de uma qualquer pesquiza no Google.

Pelo contrário, eu não lamento informar.

Cumprimentos Republicanos Jacobinos
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 19, 2006, 03:22:06 am
Por falar em republicanos jacobinos, fale-nos da sua Revolução Francesa.
Fale-nos de Russeau e das consequências da sua filosofia.
Preste-nos esse serviço.
Título:
Enviado por: papatango em Janeiro 19, 2006, 04:06:49 am
Moi ->

Se os alemães, numa sondagem qualquer afirmassem que Hitler até nem foi assim tão mau, nós daríamos que importância à sondagem ou ao estudo ?

O problema dos russos e da sua relação com Estaline, é que, tendo sido um ditador implacável, dado ter conseguido ultrapassar Hitler em barbárie, deu também aos russos a ideia de que estavam num grande país, que fazia frente mesmo aos mais poderosos de todos.

Os russos têm (e são eles que dizem) algumas características curiosamente parecidas com as dos portugueses. São um bocado fatalistas e têm tendência, perante o que é objectivamente uma situação de decadência a afirmar as virtudes do periodo estalinista, não por ele ter sido um santo, mas por ter projectado o poder do país.

Aliás, a mesma coisa ocorreu por exemplo com o Ceaucescu na Romenia, que era o homem que pela primeira vez colocou a Romenia no mapa, ou com a Imelda Marcos, que tinha muitos admiradores, porque embora por más razões, era uma Filipina conhecida no mundo todo.

= = =

Portanto, temos que ver todas estas coisas no seu contexto histórico.
Se a russia continuasse a ser uma Hiperpotência, os russos afirmaríam que Estaline era um reles cão imundo, mas como isso não acontece, eles olham para esse periodo com nostalgía, e é a nostalgía que marca o resultado desses estudos.

= = =

Também considero o Estaline um criminoso, mas mesmo assim acho que ele não foi tão terrível quanto os americanos na chacina que fizeram aos indígenas da região/Índios.

Que estatísticas nos tem para apresentar?
O Estaline mandou matar vários milhões de russos. Normalmente considero o numero mais baixo para não haver exageros. Portanto 9.000.000 (nove milhões de pessoas). Claro que há valores que apontam, incluindo os mortos pelos maus tratos nos campos na sibéria, para 20.000.000 de mortos.

Sabe que, naqueles lugares, só se morria de causas naturais, nunca de fome. As pessoas estavam esfomeadas, mas morriam de pneumonia, ou de tifo (conforme o periodo do ano).

O que ocorreu com os americanos, não foi uma matança sistemática com motivações politicas, foi uma movimentação de colonos europeus, que ocupou a terra dos antigos proprietários (no sentido figurado, porque para os Indios a terra não podia ser propriedade de ninguém, e essa foi uma das razões dos embates).

Foi gente da Irlanda, da Inglaterra, da Suecia, da Alemanha, da Polonia, da Russia e da Italia, entre outros países. Colonos, migrantes fugidos da fome.

O facto de fugirem da fome, não desculpa nada, mas permite colocar as coisas no seu real contexto. O capitalismo selvagem, de origem britânica, também produziu grandes injustiças, mas nunca tantas quantas a do sistema de servidão que continuou com Lenine e Estaline, com a implantação dos Sovkozes, de onde os trabalhadores também não podiam sair sem autorização.

= = =

Depois, creio que os dados dos Luso sobre a situação ridicula do exército americano durante a maior parte do periodo que nos refere é auto-explanatória.

Sabe Moi, nos Estados Unidos, durante muito tempo, julgou-se que o governo central nem devia ter exército, e que deveria apenas haver a Guarda Nacional de cada estado, que só ficaria sob a alçada do presidente em Washington, se o país fosse atacado.

É por isso, que o exército americano, só tem expressão a seguir à segunda guerra mundial. Em 1935, os Estados Unidos conseguiam no máximo mobilizar 100.000 homens. No mesmo periodo a Romenia tinha cerca de 270.000.

Moi: Você tem que nos explicar porque é que a Pérfida América durante grande parte da sua História não teve recrutamento obrigatório e tinha um exército de voluntários.

Enfim...

Independentemente de se estar ou não de acordo com a sobranceria dos americanos, você acaba por perder grande parte da razão, porque faz uma afirmação politica anti-americana, (que podia até ser legítima num determinado contexto) afirmando-se contra um poder americano desde o inicio do século XIX que na realidade não existia.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Leonidas em Janeiro 19, 2006, 04:10:58 am
Saudações guerreiras.
 
O que nunca será demais é o exercício "obrigatório" para denunciar a flagrante hipócrisia americana ainda reinante e com políticas que só têm como objetivo os previligiados de sempre.

De muita coisa boa que vem da américa, aquilo que de mau exporta ou tenta impor, pode ser ou é mesmo letal.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 19, 2006, 04:23:51 am
Leónidas...

"Flagrante hipocrisia americana"?

Mas desde quando há sinceridade em política?
É assim.
É natural.
Não somos crianças: interpretamos o que nos dão e agimos em conformidade. Fazemos opções. Escolhemos a melhor solução. Mas na maior parte das vezes o mal menor.
Título:
Enviado por: fgomes em Janeiro 19, 2006, 04:29:01 am
Moi, a respeito de Estaline, está a brincar?
Tem todo o direito de ser antiamericano, agora branquear Estaline dessa maneira, por favor estude as várias fontes históricas sobre o período em que ele governou e depois faça comparações com os americanos...
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Janeiro 19, 2006, 04:31:59 am
Citação de: "Luso"
Por falar em republicanos jacobinos, fale-nos da sua Revolução Francesa.
Fale-nos de Russeau e das consequências da sua filosofia.
Preste-nos esse serviço.


Mas estamos a falar do período do "terror" que se seguiu à Revolução Francesa, do qual Rousseau não teve nada a ver com isso, ou estamos a falar das obras filosóficas de Rousseau que contribuiram para criar a Democracia, tal como a conhecemos hoje em regimes monárquicos e republicanos?

Cumprimentos republicanos (mas não jacobinos :wink: )
B. Pereira Marques
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 19, 2006, 04:49:50 am
Falem à vontade... 8)
Título:
Enviado por: fgomes em Janeiro 19, 2006, 05:00:08 am
Rosseau acreditava no BOM SELVAGEM, o problema é que este era canibal...
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 19, 2006, 05:16:49 am
Citação de: "fgomes"
Rosseau acreditava no BOM SELVAGEM, o problema é que este era canibal...


Excelente! :G-beer2:
Título:
Enviado por: emarques em Janeiro 19, 2006, 05:38:46 am
Citação de: "Papatango"
Em 1814, a capital desse império americano, a cidade de Washington, foi pilhada e incendiada pelos britânicos.

Importa-se de me dizer em que capitulo deste seu relato das malfeitorias americanas se encaixa a ocupação e destruição da capital?

Obviamente, na guerra de 1812, em que os EUA decidiram libertar o Canadá da "opressão monárquica" do Reino Unido e por isso invadiram o Domínio britânico. Os estadounidenses foram sem sombra de dúvida os agressores nesse caso.

Citação de: "Luso"
Creio que até nós tinhamos mais, e a nossa marinha em pessoal, era do tamanho da americana (se não o era em 1909 era-o no início do século)
Procure dados sobre a "Great White Fleet". Um resumo:
Citar
The "Great White Fleet" sent around the world by President Theodore Roosevelt from 16 December 1907 to 22 February 1909 consisted of sixteen new battleships of the Atlantic Fleet. The battleships were painted white except for gilded scrollwork on their bows. The Atlantic Fleet battleships only later came to be known as the "Great White Fleet."

The fourteen-month long voyage was a grand pageant of American sea power. The squadrons were manned by 14,000 sailors. They covered some 43,000 miles and made twenty port calls on six continents.


Até acredito que conseguíssemos ter mais efectivos, que temos jeito para pôr gente a "encher chouriços", mas não comparemos o poder naval de Portugal com os EUA.

Quanto ao princípio de século... Acha que Portugal poderia ter derrotado com facilidade a esquadra espanhola em 1898? "Remember the Maine".

O que não quer dizer que eu ande por aí a assinar por baixo na teoria do "Grande Satã".
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 19, 2006, 04:28:57 pm
emarques, é impossível contradizer esses factos. Todavia fiz a comparação com Portugal porque foi mesmo com Portugal que um historiador norte americano comparou! Estranhei o facto e depois vi que se referiria a efectivos. A ideia que retive é que a Marinha (sempre em efectivos!) seria mesmo a 4.ª maior do mundo.
Todavia já não me lembro da fonte, infelizmente, para que possa corraborar o que digo. E também por isso não é de todo inatacável.

No entanto, o que a História demonstra é que os vazios de poder são prontamente ocupados e esses vazios de poder resultam sobretudo de uma falta de capacidade militar e de vontade para a exercer.
Título:
Enviado por: superbuzzmetal em Janeiro 19, 2006, 06:00:33 pm
Se fizessem um estudo na china sobre o que pensam de Mao Tse Tung aposto que a maior parte das pessoas irão considera lo um heroi da nação.
Contudo este homem foi o responsável pela morte de 70 milhões de chineses e pela tentativa de destruição da cultura chinesa, é incrivel o que uma boa maquina de propaganda e o passar do tempo fazem à opinião das pessoas.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:01:07 am
Papatango

A análise sobre o sentimento russo sobre Estaline é a sua opinião, eu não concordo com ela. Constrói um castelo de cartas de veracidade duvidosa, alicerçada num Nuno Rogeiro qualquer (leia-se gajo que lê umas coisas e emite opiniões como se conhecesse de facto).

Por exemplo, para mim, os romenos ainda detestam o Ceaucescu - ou não tivesse sido fuzilado mais a mulher - mesmo apesar deste ter sido considerado pela administração Reagan como um «comunista dos bons».
O que também tem semelhanças como a admiração de Roosevelt por Mussolini, «aquele encantador italiano» como disse.

A sua opinião sobre a chacina a Oeste, bom, é no mínimo muito superficial. Mas Avante.


Por falar em Avante, não me lembro de me ter identificado com o Partido Comunista, nem tão pouco como Anti-Americano Primário.

Se a falta de entendimento leva a rótulos, a discussão perde interesse.

Vamos aos argumentos.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:05:47 am
Citação de: "superbuzzmetal"
Se fizessem um estudo na china sobre o que pensam de Mao Tse Tung aposto que a maior parte das pessoas irão considera lo um heroi da nação.
Contudo este homem foi o responsável pela morte de 70 milhões de chineses e pela tentativa de destruição da cultura chinesa, é incrivel o que uma boa maquina de propaganda e o passar do tempo fazem à opinião das pessoas.


É exactamente esse o argumento que uso para combater a candidatura de Cavaco.

Isso serve para muita coisa, como para apagar a memória dos povos ocidentais, ou orientais, temos é que aprender a reconhecer que a propaganda há em ambos os lados, no dos bons e no dos maus.

Agora é que vamos aos argumentos...
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:07:11 am
Doutrina Monroe sucintamente, a teoria:

Os princípios enumerados nela eram basicamente defensivos. Os Estados Unidos se colocavam como protetores das nações latino-americanas recém-emancipadas, repudiando qualquer intervenção armada programada pela Santa Aliança. A mensagem era uma advertência às potências européias no sentido de que não tentassem reativar o domínio colonial sobre o continente, nem interferissem nos princípios republicanos imanentes ao processo de emancipação: o Novo Mundo estava fechado a toda futura subordinação à Europa. Em síntese, a teoria contida na mensagem se baseia em três princípios gerais:
a)   o continente americano não pode ser objeto de recolonização;
b) é inadmissível a intervenção de qualquer país europeu nos negócios internos ou externos de países americanos, e, finalmente;
c) os Estados Unidos, em troca, se absterão de intervir nos negócios pertinentes aos países europeus.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:08:33 am
Frase interessante, para «desanuviar»

O presidente mexicano Porfírio Díaz declarou para a História: “Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:10:28 am
A prática:

Em 1869 invadiram as Ilhas Midway e em 1887 ocuparam Pearl Harbor. Em 1898 os EUA anexaram o Havaí, ocuparam militarmente Cuba, Porto Rico e Guam (estes dois últimos anexados) e invadiram as Filipinas (onde morreram 100 mil filipinos) após uma grande guerra imperialista contra a Espanha na qual os estadunidenses saíram vitoriosos e transformaram as Filipinas em colônia. Em 1899 ocuparam o arquipélago de Samoa. Em 1916 os EUA anexaram as Ilhas Virgens.
A doutrina Monroe (1823), ‘a América para os americanos’, serviria de justificativa para centenas de intervenções na América Latina. No final do mesmo século e no início do séc. XX, a América Central começaria a sofrer cada vez mais com o imperialismo estadunidense, que considerava esta região seu quintal e ali interviria cada vez mais freqüentemente.
Entre 1898 e 1901 os EUA ocupam a ilha cubana e a partir de 1901 impõem um protetorado sobre Cuba, que incluía a ocupação militar da ilha e a construção de uma base naval ao sul de Guantánamo. Até a nova constituição cubana autorizava a intervenção militar estadunidense no país, através da Emenda Platt de 1901. Na ilha cubana os EUA mantiveram seu domínio com governos fantoches entre 1901 e 1906, de 1909 a 1917, entre 1924 e 1933 e foi governada pelo ditador Fungêncio Batista de 1934 até 1944 e de 1952 até 1959, alternado por outros governos fantoches. Entre os períodos onde Cuba foi governada por representantes diretos dos interesses dos Estados Unidos, a ilha foi invadida e ocupada por tropas estadunidenses (1906-1909, 1912, 1917, 1921-1923, 1933).
O domínio estadunidense na ilha cubana só acabou com a Revolução de 1959 e o posterior alinhamento de Cuba com os soviéticos (1961), mas, mesmo assim, os EUA deram apoio a diversos grupos de oposição ao governo cubano, chegando a organizar o desembarque na Baia de Porcos, para onde enviou rebeldes cubanos e agentes da CIA para tentarem depor Fidel Castro. Entre 1959 e 1966 a CIA chegou a organizar 24 planos diferentes para assassinar Fidel Castro, desses 8 foram levados adiante mas fracassaram. Através do seu serviço secreto, os EUA introduziram em Cuba diversas doenças e pragas até então desconhecidas na ilha como peste suína africana, praga de arroz, doença de Newcastle em aves, carvão e ferrugem da cana-de-açúcar, mofo azul do tabaco, ferrugem do café, conjuntivite hemorrágica e dengue.
Os EUA fomentaram o separatismo na província do Panamá, até então território da Colômbia, onde queriam construir um canal ligando o Atlântico ao Pacífico. Em 1903 ocupam o recém-criado território panamenho para construir ali o Canal do Panamá, tomando parte do território deste país (a zona do canal). O presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, o ‘fundador’ deste país declarou apenas: “Eu tomei o Panamá”. O Panamá seria ocupado até 1918, quando os EUA interviram novamente no país. As tropas estadunidenses só sairiam em 1999, tendo intervindo militarmente no país em outras situações como 1923, 1964 e 1989. Mais recentemente o Panamá foi governado por ditaduras militares pró-EUA de 1968 a 1981 e de 1983 a 1989.  
Em 1903, ocorre a primeira intervenção estadunidense na República Dominicana (na época São Domingos). A República Dominicana é ocupada pelos exércitos estadunidenses em 1905 e novamente entre 1916 e 1924, sendo que de 1905 até 1941 foi, na prática, uma colônia estadunidense, num período em que os EUA recolheram os impostos do país para si. Foi governada pelo ditador Rafael Trujillo de 1930 a 1960, representante dos interesses estadunidenses. Outras ditaduras financiadas pelos EUA governaram o país de 1960-61 e 1963-1965. A ilha foi invadida em 1965 por tropas da OEA (Organização dos Estados Americanos) lideradas por 22 mil soldados dos Estados unidos e uma nova ditadura pró-EUA foi implantada entre 1965 e 1978. Ainda em 1903 os EUA invadiram Honduras pela primeira vez em nome das companhias norte-americanas exportadoras de frutas como a United Brands e a United Fruit Co., que até hoje controlam o país, fato que lhe rendeu o apelido de "República das Bananas", depois estendido a outros países da região.
O Haiti foi ocupado por tropas norte-americanas em 1914 e esse domínio continuou até 1936, passando posteriormente por governos fantoches que incluíram ditaduras entre 1946 e 1950, de 1956 até 1986 e de 1987-1990. Em 1991 os EUA voltaram a intervir no país e em 1994 o Haiti foi novamente invadido por tropas estadunidenses, que colocaram um novo governo no poder.
Na Guatemala, os EUA apoiaram governos fantoches de 1906 até 1944. Derrubaram governos democráticos e implantaram ditaduras militares com intervenções militares em 1954, durando até a 1965, e novamente de 1970 a 1985. Durante essas ditaduras fortemente repressoras, o país passou por grandes conflitos internos entre o governo ditatorial pró-EUA e terroristas de direita, de um lado, e guerrilheiros de esquerda do outro, numa verdadeira guerra civil. Teve como trágico resultado cerca de 120 mil mortos, a maior parte civis ou membros da oposição.
Tropas norte-americanas invadiram a Nicarágua em 1909 e novamente em 1912. Entre 1912 e 1933 a Nicarágua foi uma colônia norte-americana, constantemente ocupada pelos marines. Um pequeno grupo de oposição formado por camponeses lutava contra a ocupação, liderados por Sandino. Após este período, os EUA entregaram o governo do país para a família Somoza, que governou o país com uma forte e opressora ditadura de 1936 a 1979, sempre representando os interesses estadunidenses no país. A pedido do embaixador norte-americano, Sandino foi assassinado durante o que deveria ser uma reunião para negociações de paz em Manágua. Graças ao apoio estadunidense e a corrupção generalizada, a família Somoza construiu uma fortuna de mais de um bilhão de dólares, sendo proprietária, direta ou indiretamente de quase todas as terras do país.
O domínio estadunidense no país se estende até 1979, quando o novo governo, formado por sandinistas, tentou implantar um regime de tendências socialistas. Mas os EUA financiaram guerrilheiros anti-sandinistas (os chamados ‘contras’), que juntamente com o embargo norte-americano, arrasaram a economia do país e permitiram a subida ao poder de um governo pró-EUA em 1990, após a morte de mais de 30 mil nicaragüenses. A Nicarágua chegou a apelar para o Tribunal Penal Internacional contra a atitude norte-americana, onde venceu, mas os EUA não aceitaram acabar com o crime contra esse país, nem pagar as indenizações que o tribunal lhe impusera. Posteriormente a Nicarágua pediu à ONU que votasse uma determinação para que todos os países respeitassem o direito internacional e o princípio de autodeterminação dos povos, mas os EUA vetaram.    
El Salvador passou por ditaduras de direita apoiadas pelos EUA entre 1931 e 1944, de 1960 a 1967, de 1969 até 1979. Durante essas ditaduras o país passou por intensos conflitos sociais e uma verdadeira guerra civil entre guerrilheiros de esquerda e de direita. Estes últimos, conhecidos pelo apelido de “O Batalhão”, apoiados pelo governo e pelos EUA, foram responsáveis por alguns dos mais violentos massacres da América Latina, não poupando velhos nem crianças. Muitas vezes os membros da oposição eram presos pelo “batalhão”, torturados e depois arrastados pelas ruas da cidade até que toda a carne se desprendesse dos ossos. Os EUA chegaram a invadir o país em 1979 para ‘regularizar a situação’ e colocar no poder uma nova ditadura, extremamente repressora, nos anos seguintes (1980-82) mas permitindo que o mesmo grupo permanecesse no poder até 1994. Estes longos conflitos , mais intensos no final dos anos 70 e início dos 80, resultaram em mais de 60 mil mortos, a maior parte da oposição.
Em 1980, os EUA apoiaram a ascensão de uma ditadura no Suriname. Em 1983 os Estados Unidos invadiram a ilha de Granada para depor um governo de esquerda que contrariava os seus interesses, implantando um governo pró-EUA.
No México, os EUA realizaram outra intervenção militar em 1914, dando suporte para a ascensão de governos autoritários, que formariam nos anos 20 o Partido Revolucionário Institucional (PRI), passando a governar o México com um governo de partido único, mas de fachada democrática, sempre apoiado pelos EUA. Este grupo político permaneceu no poder até o ano 2000. Como resultado, hoje os EUA comandam praticamente toda a economia mexicana, em especial os recursos naturais, como minerais metálicos e o petróleo, sendo que 95% das exportações de petróleo mexicano, hoje, vão para os EUA.
Na Venezuela, um grande produtor de petróleo já no início do séc. XX, os EUA financiaram ditaduras como a de Juan V. Gomez, que escancarou as portas da economia venezuelana para as empresas petrolíferas norte-americanas de 1908 até sua morte em 1935. Os EUA mantiveram outras ditaduras no país de 1936 a 1945 e de 1949 até 1958.
Durante toda a Guerra Fria os EUA financiaram diversas ditaduras no mundo, mas principalmente no seu quintal: a América Latina. Além das já citadas na América Central, temos na América do Sul governos fantoches ‘democráticos’ que reprimiram violentamente toda forma de oposição, mas principalmente movimentos de esquerda na Colômbia e na Venezuela (principalmente após os anos 60). Temos também ditaduras implantadas com apoio dos EUA no Equador, (1963-1968 e 1972-1979), no Peru (1968-1980 e 1992-2001) e no Uruguai (1972-1984). Na Bolívia  foram vários golpes e governos ditatoriais nos períodos de 1952-1964, 1965-1966, 1969-1970 e 1971-1982. No Paraguai, além da ditadura de direita apoiada pelos Estados Unidos de 1940 a 1947, o General Stroessner ficou no poder de 1954 até 1989, uma das mais longas ditaduras militares da história.  
No Chile, após um curto governo de tendências socialistas, formado pelos social-democratas e socialistas chilenos, que nacionalizou as minas de cobre, o presidente Allende foi morto no sangrento golpe de 11 de Setembro de 1973, organizado pela própria CIA e com participação de marines norte-americanos, onde até o palácio presidencial La Moneda e a residência do presidente Allende foram bombardeados. Este golpe marca o início de uma violenta ditadura liderada por Pinochet que durou até 1990, sustentado pelos escusos interesses estadunidenses.
Na Argentina (1966-1973 e 1976-1984), da mesma forma, os militares que dirigiram o país foram responsáveis por milhares de desaparecimentos políticos, casos de torturas, estupros, assassinatos e espancamentos, contabilizando um total de mais de 35 mil mortos, em nome da “defesa da democracia”.
No Brasil, após um curto governo nacionalista, que tentou fazer uma tímida reforma agrária e algumas nacionalizações, foi organizado um golpe militar em 1964, também com participação e supervisão da CIA, do Departamento de Informação do Pentágono (Cel. Vermon Walters), da embaixada dos EUA ( embaixador Lincoln Gordon) e de apoio militar estratégico dos EUA (na operação Brother Sam), que chegaram a enviar um porta-aviões (o Forrestal), um porta-helicópteros, 6 destróieres, esquadrilhas de caças, petroleiros e 100 toneladas de armas leves para apoiar o golpe. Caso a população resistisse ao golpe, as tropas estadunidenses desembarcariam no país. A ditadura militar no Brasil durou até 1984, mas somente em 1989 voltaram a ocorrer eleições diretas.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:12:18 am
Mais uma boa explicação, chamo a atenção da seguinte frase. Alias muitas semelhantes foram proferidas pelos diferentes presidentes americanos.


"A expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça (...) e nada pode detê-la". Discurso de posse do presidente norte-americano James Buchanan, em 1857.



O projeto norte-americano de anexação da América Latina é bastante antigo e conheceu várias etapas e formas nestes quase duzentos anos. O processo não foi linear, ele foi condicionado por inúmeros fatores entre eles a capacidade de resistência dos povos latino-americanos e a correlação de forças entre as grandes potências. Mas, no geral, podemos dizer que os EUA foram persistentes nos seus propósitos anexionistas, utilizando os mais diferentes métodos - articulando o grande porrete e a fala mansa. Este artigo busca apresentar, sumariamente, a história da expansão norte-americana no hemisfério até o início da década de 90 quando do início de uma nova ofensiva através da implantação da Alca.
A Doutrina Monroe e o Destino Manifesto
No dia 4 de julho de 1776 foi proclamada a independência norte-americana. A guerra pela independência durou cerca de 6 anos. A jovem república era composta de treze colônias federadas concentradas no lado do Atlântico. Nascia com a necessidade de proteger-se das gananciosas potências européias, especialmente a Inglaterra, e também com pretensões de se expandir para o oeste e sul do continente, conquistando novas terras para a sua população, que crescia rapidamente, e novos mercados para suas mercadorias.
Pouco a pouco foi se constituindo uma ideologia justificadora do expansionismo norte-americano. Esta seria denominada ideologia do "Destino Manifesto". Propagou-se a idéia da superioridade dos norte-americanos sobre os outros povos do continente - descendentes de espanhóis, portugueses e indígenas. Aos norte-americanos caberia conduzir os demais povos pelo caminho da civilização e da modernidade capitalista.
Em 1823, o presidente James Monroe apresentou o seu discurso anual ao congresso norte-americanos. Ele poderia ser traduzido em uma de suas frases mais conhecidas: "A América para os americanos". O corpo de idéias relativo à política externa seria denominado Doutrina Monroe. A princípio foi entendida como uma resposta norte-americana às potências européias que estavam de olho no continente, inclusive nos territórios do norte. Os norte-americanos ainda disputavam o Oregon com os ingleses e os russos estavam de olho na Califórnia. No sul, as independências do Brasil e da América espanhola ainda não estavam consolidadas. Naquele momento a Europa era dominada pela Santa Aliança - uma coligação monarquista e arqui-reacionária.
No entanto, mais do que protegerem as Américas das pretensões européias, queriam proteger seus interesses políticos e comercias no conjunto do continente, ainda que acobertando-os com um verniz democrático e anticolonial. Prova disso é que os EUA se colocaram contra o projeto do México e da Colômbia de ocupar as Antilhas e libertá-las do jugo espanhol. Os EUA também se opuseram e buscaram sabotar o projeto de união americana defendido por Simon Bolívar. Ficava cada vez mais claro que quando Monroe disse a América "para os americanos" queria, na verdade, dizer "para os norte-americanos".
Restabelecidos da guerra contra a Inglaterra, os EUA partiram para a realização do seu "Destino Manifesto", através da utilização da sua força militar. O primeiro passo foi a conquista do Texas. Desde o final da década de 1820 colonos do sul dos Estados Unidos se deslocaram para a região do Texas, pertencente à República do México. Aproveitando-se da confusão política e da corrupção reinantes montaram suas fazendas e introduziram ali o trabalho escravo - a Constituição mexicana proibia a escravidão. No entanto, em 1835, o México aprovou uma constituição centralista. Este foi o pretexto para que os colonos americanos se rebelassem e proclamassem a independência do Texas (1836) - fundando a república "escravista" da estrela solitária - e imediatamente pedissem a sua integração aos EUA. Estes reconheceram o novo país, passando a protegê-lo e, em 1845, o anexaram, sob o protesto do México.
Os EUA não estavam contentes e queriam ainda mais. No ano seguinte, aproveitando-se de um conflito militar corriqueiro na fronteira, declararam guerra ao México. A guerra terminou com a derrota mexicana e a perda dos territórios da Califórnia, Novo México, Nevada, Arizona e Utah. O México perdeu cerca de metade do seu território e os EUA ganharam, finalmente, o seu acesso ao oceano Pacífico e aos territórios riquíssimos nos quais, em alguns anos, seriam descobertos ouro e petróleo. Alguém um dia falou "Pobre México tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".
A guerra parecia ser o melhor caminho para a expansão territorial dos norte-americanos, além de ser um negócio bastante lucrativo. Agora eles voltavam os seus olhos para o mar do Caribe, considerado um "mar interno" dos Estados Unidos, e para a América Central.
Em 1855 tentaram repetir os métodos utilizados contra o México na pequena Nicarágua. Neste ano o mercenário William Walker desembarcou com 120 homens fortemente armados e tomou o país. Apoiado pelos sulistas norte-americanos declarou-se presidente e restabeleceu a escravidão. Desta vez a tentativa de colocar uma nova estrela na bandeira norte-americana fracassou. Walker foi derrotado e acabou sendo fuzilado pelo governo de Honduras.
Dois anos depois, em 1857, no seu discurso de posse o presidente americano James Buchanan afirmou: "a expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça (...) e nada pode detê-la". Falando em nome dos "altos e amplos objetivos nacionais", o jornalista e político norte-americano John O'Sullivan se posicionou contra aqueles que buscavam "prejudicar nosso poder, limitando nossa grandeza e impedindo a realização do nosso Destino Manifesto, que é estendermo-nos sobre o continente que a Providência fixou para o livre desenvolvimento de nossos milhões de habitantes, que anos após anos se multiplicam". Tese muito semelhante à do "espaço vital para a raça ariana" apregoada por Hitler menos de cem anos depois.
As grandes corporações norte-americanas, com apoio da imprensa, desenvolveram uma grande propaganda a favor do expansionismo e da guerra como meio de realizá-lo. Mantendo-se firme no seu propósito de anexar a região caribenha, em 1898, os EUA declararam guerra à Espanha e ocuparam seus territórios no Caribe e no Pacífico. O pretexto foi o apoio ao povo cubano escravizado pelos espanhóis e a explosão do navio americano "Maine" em porto cubano - possivelmente fruto de um acidente.
O povo cubano há décadas travava uma luta heróica pela sua independência. A primeira guerra da independência havia durado dez anos (1868-1878) e a segunda havia se iniciado em 1895. Somente quando a libertação, dirigida por José Marti, estava quase se concretizando os EUA resolveram intervir militarmente.
O objetivo real dos americanos não era libertar Cuba, mas defender os seus interesses na ilha, que era a maior produtora de açúcar do mundo e um ponto estratégico na defesa naval e ponte comercial para o sul do continente. Não foi à toa que ilha permaneceu ocupada militarmente até 1902. Os marines só se retiraram quando os constituintes cubanos aprovaram a emenda Platt - uma lei americana - que dava o direito aos norte-americanos de intervirem na ilha quando seus interesses estivessem ameaçados. Cuba tornou-se assim um protetorado americano no Caribe. Somente em 1933, em plena política de Boa Vizinhança, foi revogada a emenda Platt.
Entre 1889 e 1890 ocorreu a primeira Conferência Pan-americana em Washington, da qual participaram dezoito países. Neste encontro os EUA propuseram uma união aduaneira de todo o continente, um conselho de arbitragem dos conflitos econômicos e militares e uma moeda comum, o dólar. O projeto fracassou pela resistência imposta pela Argentina e pelo Brasil. Foi formada então a efêmera União Pan-Americana.
Na busca da sua hegemonia nas Américas e na disputa por mercados em outras partes do mundo, os EUA iniciaram o fortalecimento de sua marinha de guerra. Em 1890, quando da 1ª Conferência Pan-americana, a marinha americana era a sexta do mundo e em 1907 já era a segunda.
Theodore Roosevelt e o Big Stick
Em 1901 assumiu o presidente Theodore Roosevelt, antigo chefe de polícia de Nova York. Seu ditado favorito era "Fale suave, mas tenha nas mãos um grande porrete que será bastante útil". Por isto sua política externa ficaria conhecida como Big Stick (grande porrete).
O Big Stick norte-americano foi bastante utilizado, mais do que a fala mansa. Cuba foi ocupada novamente entre 1906-1909, em 1912 e 1917-1922. Os marines ocuparam também o Haiti (1915-1934), a República Republicana (1916-1924) e a Nicarágua (1909-1910, 1912-1933).
A extensão dos EUA, de uma costa a outra, criou novos problemas para a expansão do comércio e a sua defesa militar. Era preciso construir um canal entre os dois oceanos que permitisse um deslocamento rápido de sua marinha mercante e de guerra. O lugar ideal para construi-lo era a região do Panamá, pertencente à Colômbia. No entanto o governo colombiano se opôs aos planos norte-americanos de constituir um enclave militar e comercial em seu território.
Os norte-americanos passaram a insuflar grupos rebeldes separatistas que acabaram assumindo o poder na região, separando-a da Colômbia. Os EUA foram primeiros a reconhecer a independência do Panamá (1903) e a enviar soldados para protegê-la. O novo governo, agradecido, entregou a área na qual seria construído o canal e deu aos americanos o direito de explorá-la por toda a eternidade. Somente na metade da década de 1970 foi renegociado o acordo e se definiu que o canal passaria para o Panamá em 1999.
Em 1927 os norte-americanos intervieram militarmente na guerra civil da Nicarágua e ali permaneceram até 1934. Os mecanismos para intervenção eram os mesmo, primeiro fomentavam as disputas políticas entre grupos oligárquicos locais e depois intervinham militarmente ao chamado de um deles - o mais favorável aos interesses norte-americanos.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:14:40 am
A Política da Boa Vizinhança

A política do Big Stick entrou em crise juntamente com o capitalismo norte-americano em 1929. Com o aumento da crise econômica cresceu também a animosidade dos governos e dos povos latino-americanos com a política externa agressiva dos norte-americanos. Em 1930 eclodiu uma revolução no Brasil que colocou Vargas no poder e em 1934 Lázaro Cárdenas se elegeu presidente no México. Ambos adotaram políticas econômicas de cunho nacionalista e industrialista.
Outros fatores de ordem internacional também impulsionaram a mudança de forma da política americana para América Latina. No mesmo ano que Roosevelt assumiu a presidência, Hitler tomou o poder na Alemanha e o Japão consolidou sua posição na Manchúria. Existia o perigo de uma guerra iminente e uma ameaça concreta aos seus interesses políticos e econômicos na Ásia e na América Latina. Os alemães rondavam perigosamente os governos da região.
Na 7ª Conferência Pan-americana (1933) foi aprovado um documento que afirmava que "nenhum estado tem o direito de intervir nos assuntos internos ou externos de outro estado". O documento, portanto, estava na contra-mão de tudo o que os norte-americanos vinham fazendo na América Latina até então. Entre 1933 e 1934 os americanos se retiraram do Haiti e da Nicarágua. Era o início da Política de Boa Vizinhança, visando a diminuir a desconfiança dos latino-americanos em relação ao "grande irmão do norte". O grande porrete foi substituído pela "fala mansa".
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:16:26 am
Da 1ª Conferência Panamericana à 2ª Guerra
Nesse contexto de disputa de influências, no ano de 1881 o secretário de Estado James G. Blaine convidou as nações latino-americanas para uma conferência sobre questões relativas ao comércio internacional e à arbitragem nas disputas interamericanas.
Avatares de política interna atrasaram a convocação. A Primeira Conferência Panamericana se reuniu, finalmente, em 1889-90 na cidade de Washington, com o objetivo de transformar a América Latina num mercado natural e privilegiado para as manufaturas norte-americanas que, na época, não eram competitivas em relação à indústria européia.
A oposição da Grã-Bretanha a esse projeto encontrou um porta-voz eficaz no próprio continente: a representação argentina que, em função de seu vínculo privilegiado com a grande potência européia, estava disposta a enfrentar a proposta de Blaine. A pauta da Conferência, elaborada unilateralmente pelo governo norte-americano, previa a adoção de medidas destinadas à formação de uma união alfandegária americana – um "zollverein continental" – à moda da união alemã.
As instruções recebidas pelos delegados argentinos Roque Sáenz Peña e Manuel Quintana foram precisas: "A formação de uma liga alfandegária americana envolve, à primeira vista, o propósito de excluir a Europa das vantagens acordadas no seu comércio. Tal pensamento não pode ser simpático ao governo argentino, que não gostaria de ver enfraquecidas suas relações comerciais com aquela parte do mundo para onde enviamos nossos produtos e de onde recebemos capitais e mão-de-obra". Sáenz Peña cumpriu bem a missão, concluindo seu discurso de oposição à união alfandegária confrontando o lema de Monroe: “Seja a América para a Humanidade!".
Enquanto isso, no Brasil era declarada a República, provocando uma mudança na delegação. Salvador de Mendonça representou o novo governo e manteve o alinhamento com as posições latino-americanas, apesar da aproximação com os Estados Unidos promovida pela nova República.
Em seu livro de memórias, publicado em 1913, Mendonça relata o papel mediador que lhe coube nas negociações com o secretário de Estado Blaine: "Disse-lhe com firmeza que quinze votos latino-americanos estavam dispostos a fazer questão de que saísse da Conferência nesse dia a eliminação da conquista, e que essa maioria me encarregara de lhe comunicar esse propósito. Desejávamos apenas tornar mais completo o arbitramento obrigatório e garantir de modo solene a integridade, a soberania e a independência de todas as nações de nosso continente. Abolida a conquista, cessariam as suspeitas de vizinhos contra vizinhos e principalmente contra a sua grande e poderosa nação."
O fracasso da 1ª Conferência Panamericana foi originado, principalmente, pelas posturas das delegações da Argentina e do Brasil, que lideraram o voto contrário à união alfandegária, desmontando o projeto dos Estados Unidos de construir o “sistema panamericano” sob hegemonia norte-americana.
As Conferências Panamericanas do México (1901-02); Rio de Janeiro (1906) e Buenos Aires (1910) obtiveram resultados pouco expressivos, gerando a impressão de que o Panamericanismo, depois de Blaine, tinha perdido significação central na agenda do Departamento de Estado. A ação unilateral prevaleceu e restou aos fóruns multilaterais o tratamento de questões consensuais, determinando um paulatino esvaziamento político da agenda panamericana.
Após a Guerra Hispano-americana de 1898, o foco da política externa norte-americana se tinha voltado para os países da América Central e do Caribe, inaugurando uma etapa marcada pela agressividade. A “americanização do mundo" era vista com alarma na Europa e, também, na América Latina. No Brasil, a assinatura do Tratado de Comércio com os Estados Unidos já tinha sido objeto de duras críticas de setores com interesses econômicos industrialistas. No Congresso nacional, durante a sessão de 9 de fevereiro de 1891, o deputado Vinhaes manifestava: "Há muito tempo que os Estados Unidos da América do Norte desejam fazer um tratado de comércio com o Brasil, tomando, já se vê, a parte do leão para si. Um dos principais paraninfos do Tratado nos Estados Unidos foi Blaine, secretário-geral do governo de Washington. Aquele estadista é conhecido no mundo como um dos mais aferrados protecionistas quando se trata de assuntos internos, tornando-se o mais exaltado livre-cambista logo que venha à baila assunto de caráter externo."
No plano geopolítico, a imposição da emenda Platt a Cuba, a separação do Panamá da Colômbia e a construção e posse do canal interoceânico consagraram a supremacia da potência emergente, que ganhava o reconhecimento das potências européias. O bloqueio da Venezuela por parte da Inglaterra, Alemanha e Itália, com o objetivo de exigir o pagamento da dívida que o governo venezuelano havia suspenso, originou a tomada de posição do presidente Roosevelt, que desenharia as relações dos Estados Unidos com a América Latina e a Europa no século XX. O Estado norte-americano abandonava para sempre os sonhos dos Founding Fathers, se transformava em “polícia do continente” e aprofundava o intervencionismo, seja pela pressão diplomática, seja por meios militares.
O Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe, formulado em discurso presidencial de 1904, era explícito: "A perversidade crônica, ou uma impotência que resulte na perda geral da unidade da sociedade civilizada, poderia necessitar, em última instância, da intervenção de uma nação civilizada. No Hemisfério Ocidental, a adesão dos Estados Unidos à Doutrina Monroe pode forçar esse país, em casos flagrantes de perversidade ou impotência, ao exercício de um poder de polícia internacional".
O intervencionismo nos países da América Central e do Caribe e, em especial, no México revolucionário, marcou as três primeiras décadas do século. O “idealismo wilsoniano”, inspirador da Sociedade das Nações, não se aplicava às relações hemisféricas.
A chegada do segundo Roosevelt ao poder provocou uma profunda reestruturação do governo dos Estados Unidos e de sua política externa.
Implementou-se um reajuste nas relações com a América Latina, que ficaria explícito na Política de Boa Vizinhança apresentada na Conferência Panamericana de 1933. A democracia liberal como paradigma político foi o combustível que reanimou o espírito missionário do “destino manifesto" na preparação da luta contra o nazifascismo. Roosevelt pressentira, desde o início de seu governo, que essa luta levaria os Estados Unidos a entrar na guerra. Seria, portanto, imprescindível contar com o todo o hemisfério unido, vinculado por um conjunto de acordos permanentes, fundamentados em visões político-estratégicas compartilhadas.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 20, 2006, 03:35:54 am
Citação de: "PereiraMarques"
Citação de: "Luso"
Por falar em republicanos jacobinos, fale-nos da sua Revolução Francesa.
Fale-nos de Russeau e das consequências da sua filosofia.
Preste-nos esse serviço.

Mas estamos a falar do período do "terror" que se seguiu à Revolução Francesa, do qual Rousseau não teve nada a ver com isso, ou estamos a falar das obras filosóficas de Rousseau que contribuiram para criar a Democracia, tal como a conhecemos hoje em regimes monárquicos e republicanos?

Cumprimentos republicanos (mas não jacobinos :wink: )
B. Pereira Marques


Os ditames do «Deus, Pátria e Família» não deixam espaço a quem tenha ideais diferentes, sobretudo se esses forem ideais que ponham em causa a hierarquia social estabelecida, e por conseguinte a tradição. Quem é contra a tradição é um assassíno, por pensar, e quase sempre encontram-se explicações como «era um excluído por isso é que era contra».

Cumprimentos Republicanos Jacobinos
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 20, 2006, 04:51:22 am
Citação de: "Moi"
Quem é contra a tradição é um assassíno, por pensar, e quase sempre encontram-se explicações como «era um excluído por isso é que era contra».


Pensar. Racionalizar. Usar a razão. Se o fizer vai ver o que na realidade que as "mentes revolucionárias" combatem.
As mentes revolucionárias tendem a surgir de berço de ouro, onde o ócio e sobretudo o ego são cultivados. Um ego sobrevalorizado e contrariado é muito perigoso, sobretudo qundo tal ego desconhece a realidade dos factos da vida.
Mas não se acredite em mim. Vá às escolas, vá aos bairros de habitação social. Vá às periferias suburbanas e semi rurais.
A disciplina e os valores são muito úteis para quem delas mais precisa, sabe?
Porque permite a quem não tem recursos poupar e dar valor ao pouco que tem. E esforçar-se para conseguir mais, para se erger.
O individualismo e as filosofias libertárias, ao não estabelecer "padrões de qualidade e de civilização" apenas servem para legitimar e colocar no mesmo patamar o malandro, o bandalho, o cobarde, o que gosta de rabinho de menino, o estudioso, o trabalhador dedicado, o patriota, o pai de família honrado.
Eu luto por estes últimos e por fazer com que aqueles que têm mais dificuldades se possam libertar por eles próprios e honestamente da miséria em que nasceram.
Aos outros abatia-os se pudesse.
Título:
Enviado por: Moi em Janeiro 21, 2006, 02:49:03 am
Citação de: "Luso"
Citação de: "Moi"
Quem é contra a tradição é um assassíno, por pensar, e quase sempre encontram-se explicações como «era um excluído por isso é que era contra».

Pensar. Racionalizar. Usar a razão. Se o fizer vai ver o que na realidade que as "mentes revolucionárias" combatem.
As mentes revolucionárias tendem a surgir de berço de ouro, onde o ócio e sobretudo o ego são cultivados. Um ego sobrevalorizado e contrariado é muito perigoso, sobretudo qundo tal ego desconhece a realidade dos factos da vida.
Mas não se acredite em mim. Vá às escolas, vá aos bairros de habitação social. Vá às periferias suburbanas e semi rurais.
A disciplina e os valores são muito úteis para quem delas mais precisa, sabe?
Porque permite a quem não tem recursos poupar e dar valor ao pouco que tem. E esforçar-se para conseguir mais, para se erger.
O individualismo e as filosofias libertárias, ao não estabelecer "padrões de qualidade e de civilização" apenas servem para legitimar e colocar no mesmo patamar o malandro, o bandalho, o cobarde, o que gosta de rabinho de menino, o estudioso, o trabalhador dedicado, o patriota, o pai de família honrado.
Eu luto por estes últimos e por fazer com que aqueles que têm mais dificuldades se possam libertar por eles próprios e honestamente da miséria em que nasceram.
Aos outros abatia-os se pudesse.




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O «iluminado»....

Começa a ler livros de outros quadrantes para não seres tão quadrado. É tão simples quanto isso.

AHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAH

PS - Não me conheces de lado algum para fazeres insinuações do género vá aqui, vá ali, conheça isto, conheça aquilo. Aliás, nem sabes que idade tenho e o que faço.
Título:
Enviado por: Lince em Janeiro 21, 2006, 03:32:19 am
Pode-me dizer onde é que o Luso o ofendeu para ter uma resposta dessas? Ou será que lhe tocaram na ferida?
Título:
Enviado por: papatango em Janeiro 21, 2006, 06:47:57 pm
Moi, eu já tinha tido oportunidade de ler o texto que nos apresentou,  da brasileira Ana Stuart, da Secretaría de Relações Internacionais do PT (Partido dos Trabalhadores) de Luis Inácio da Silva. O texto é interessante, no entanto está cheio de contradições, exageros e interpretações "livres" feitas à medida das necessidades, muitas vezes para justificar posicionamentos politicos do Partido dos Trabalhadores que para esclarecer.

Baseia-se num certo anti-americanismo terceiro-mundista, que é muito mais justificado pela irritação pelo facto de o modelo económico soviético ter caído no marasmo vitima das suas próprias contradições, que pelas razões que estão na base das críticas.

Eu não sei se de seguida, você nos vai presentear com o célebre mapa inventado pela extrema esquerda brasileira, em que se mostrava os planos dos tenebrosos americanos para ocupar a amazónia brasileira e a dividir aos bocados.

No fim, hoje sabemos que era afinal tudo uma completa mentira, pois os seus inventores tinham uma capacidade relativamente limitada para falar ou escrever inglês e por isso havia erros crassos no mapa.

E as pessoas que fizeram a falsificação, afirmaram que se tratava de um mapa que fazia parte de um manual escolar.

Afinal, um manual escolar que nunca existiu, um mapa inventado, e uma "crise" provocada por gente sem principios, movida por um ódio patético pela américa.

A mentira tem perna curta.


Eu creio, que a maioria das pessoas que escreve neste tipo de forums, sabe muito bem o que são, o que querem, ou para onde querem ir os americanos. Há uma regra básica nos negócios que é:
"O dificil para uma empresa, não chegar ao topo. O dificil é manter-se lá."

Os americanos, apenas tentam gerir a situação, no sentido de se manterem no topo, porque sabem que existem ciclos e todos os países que assumiram uma posição dominante no mundo, mais tarde ou mais cedo acabaram por perde-la.

A América, tenta evitar esse momento, e para isso posiciona-se como pode.

Devemos entender os americanos, critica-los e mesmo contraria-los quando isso fizer sentido.
Mas basear o discurso anti-americano em teorias de conspiração, e ódios politicos sem justificação, acaba por ser contraproducente.

Penso eu de que
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 21, 2006, 11:24:10 pm
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PS - Não me conheces de lado algum para fazeres insinuações do género vá aqui, vá ali, conheça isto, conheça aquilo.

Não não conheço. E não são insinuações: o que faço são recomendações.

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Aliás, nem sabes que idade tenho e o que faço.


A adolescência é um estado de maturidade. Há quem nunca cresça e quem nada aprenda.
Depois tanto conheço doutores que são azémolas como pedreiros sofisticados, portanto...

Mas acredita Moi: não te quero converter para nada. Mas peço-te apenas que abras os olhos para o que te rodeia. Vê por ti e pensa por ti. Isso basta, desde que o queiras.