Haiti e a região devem preparar-se para terramotos piores
O forte terramoto que atingiu o Haiti na terça-feira pode ser o prenúncio de outros, advertem cientistas que insistem na necessidade de reconstruir com materiais reforçados a capital Port-au-Prince, situada sobre uma grande falha geológica.
"Não se pode reconstruir partindo do princípio de que o perigo já passou para o Haiti", advertiu Paúl Mann, investigador do Instituto de Geofísica da Universidade de Austin, no Texas. "Essa liberação de energia numa região próxima de Port-au-Prince pode ter aumentado a pressão nos segmentos adjacentes da mesma falha" telúrica, explicou.
Os investigadores estão a desenvolver sistemas de simulação para tentar prever de que maneira as mudanças de pressão causadas pelo terramoto de magnitude 7.0 registado na terça-feira no Haiti afectaram esses segmentos.
"Essa falha é de várias centenas de quilómetros de comprimento, e o segmento que se rompeu, causando o terramoto, mede apenas 80 km", ressaltou Man. Então, "muitos dos outros segmentos, que não registam um terramato há muitos anos, acumulam pressão, e "qualquer um desses segmentos poderá provocar um terramoto semelhante ao que ocorreu no Haiti", acrescentou.
Região das Caraíbas sob risco
Inclusive, há duas grandes cidades ao longo dessa falha -Port-au-Prince e Kingston, na Jamaica-, que podem temer uma nova desgraça. Ainda mais, porque o segmento que causou o terramoto não foi o mais próximo da capital haitiana.
Na segunda falha, que atravessa o norte do Haiti e se estende para a vizinha República Dominicana, não há uma ruptura há 800 anos, e a pressão acumulada é suficiente para causar um tremor superior, de magnitude 7.5.
"A questão é saber quando serão registadas essas rupturas", frisou Mann, acrescentando que é muito difícil saber "se será em um ou dentro de 100 anos".
Haiti tinha sido avisado
Eric Calais, um geofísico francês que trabalha na Universidade Purdue, em Indiana (norte dos Estados Unidos), começou a estudar em 2003 a falha responsável pelo movimento telúrico de terça-feira. Ele alertou as autoridades haitianas sobre a perigosa acumulação de pressão, mas poucas coisas foram feitas para reforçar as construções do país.
"Não há como censurar o governo haitiano", disse Calais à AFP. "Nos ouviram atentamente e sabiam do perigo. Estavam muito preocupados e tinham começado a tomar medidas. Mas tudo aconteceu cedo demais".
"É um país pobre", ressalta Calais. "Reforçar um edifício para que resista a um tremor pode ser tão custoso como reconstruí-lo". Por isso, defende que agora "é muito importante que a capital seja reconstruída corretamente", já que outros segmentos dessa falha poderão romper-se no futuro.
SAPO/AFP