Extinguir os comandos ou qualquer unidade militar devido a casos, sem dúvida lamentáveis e graves, como este seria um absurdo inqualificável e apenas mais uma prova de como somos um país que vive completamente ao sabor das emoções e indignações do momento, sem um vislumbre de racionalidade, continuidade de projectos e decisões e capacidade de correcção, aprendizagem e evolução. Já há sussurros nesse sentido e o bloco de esquerda, com a responsabilidade, conhecimento e superioridade moral habituais, já veio exigir a extinção do “Batalhão de Comandos”. Suponho que o Regimento de Comandos continuaria a existir sem encargo operacional...
Já morreram diversos operários em obras públicas, inclusive por negligência, suponho que já deveríamos ter parado com esse tipo de obras. Ainda no outro dia houve um acidente gravíssimo com um comboio ao serviço da CP que causou alguns mortos e antes disso já houve outros, ainda há quem permita a existência da CP e a circulação de comboios? Há casos de corrupção e má administração na construção de escolas e gestão de hospitais, como é que se continua com essa coisa de educação e saúde pública?
As unidades e as instituições existem ou deixam de existir em função da sua necessidade e relevância. O intenso e diversificado empenho operacional dos Comandos desde que foram reactivados fala por si quanto à necessidade deste tipo de força. O cenário e ameaças internacionais também. Não é de certeza por acaso que forças similares aos Comandos foram criadas ou desenvolvidas por tudo quanto é exército nos últimos anos. Mesmo no exército britânico, que tem um regimento de paraquedistas muito elitizado e de primeira água a todos os níveis e uma força de operações especiais que dispensa comentários, se sentiu necessidade, por diversas e públicas lições aprendidas, de ter uma unidade especializada do tipo Comandos. Todas as principais unidades de elite do mundo têm um histórico de mortes e acidentes em treino e instrução e naturalmente não foram extintas e os respectivos países não estariam melhor servidos se isso tivesse acontecido. Extinguir os Comandos para “reforçar” Paraquedistas e Operações Especiais nos moldes em que hoje existem seria simplesmente perder capacidades e ganhar quase nada. Não é porque são chamadas tropas especiais e têm boinas diferentes do resto que estas unidades são equivalentes e concorrentes entre si.
Não tiro de maneira nenhuma a gravidade sobre o ocorrido e é evidente que há uma série de situações que têm acontecido nos Comandos que terão que levar a medidas sérias. Se os Comandos fossem um grupo autónomo, em roda livre e irreformável dentro do Exército o que estaria em causa não seriam os Comandos mas o próprio Exército.