Prezados, estou postanto abaixo uma nota muito interessante, que se constitui na primeira de quatro, que foram publicados no Defesa@net, e caso queiram, acessem o respectivo endereço para lerem as demais: Defesa@Net, Defesa, Estratégia e Inteligência ou
esge@defesanet.com.brObservação: esta é a primeira nota que publicamos, com síntese de pensamento sobre o novo conflito mundial, especialmente preparadas para Defesa @ Net, pelo Professor Sampaio e que serão divulgadas com intervalo de poucos dias, representando um ponto de vista geopolítico e estratégico que poderá ser polêmico, mas que merece a maior atenção.
"As transformações da arte da guerra são uma conseqüência das modificações da política.... a guerra é um instrumento da política: ela traz, necessariamente, a marca desta política: ela deve avaliar tudo à imagem desta política ". Estas são algumas das conclusões de Clausewitz, em seu "Da Guerra"( Martins Fontes, SP, 1979, p.743).
Não estamos em uma era da Globalização? O mundo não está interconectado ( e interdependente), pelas teias do capitalismo financeiro, que se agiganta, com as atuais conquistas técnicas ( redes de satélites, internet, fibra ótica, computadores cada dia mais potentes, sistemas de criptografia mais eficientes, etc.) a ponto de afetar, até mesmo, as próprias soberanias nacionais? Então, devemos pensar a Guerra de forma diferente ou, mais precisamente, adaptada aos dias que vivemos, pois como dizia, também , Clausewitz, "qualquer guerra deve ser acima de tudo compreendida segundo a probabilidade do seu caráter e de seus traços dominantes... como um todo orgânico indivisível..."
"Cada Era tem sua formas de peculiares de guerra e tem que ter, portanto, sua própria Teoria da Guerra. "Quem quiser compreender a guerra deve analisar argutamente sua própria época.
É por causa destas considerações de Clausewitz, entre outras, que podemos afirmar que começou a 4 Guerra Mundial e esta guerra é uma Guerra de Excluídos contra os Incluídos ( apocalípticos contra integrados, como diria Humberto Eco, em seu livro de 1965) e a primeira guerra global, no sentido que ela será travada em todos os lugares, de forma não convencional ( ou se preferirem, dentro de outro tipo de convenções e incluirá um combate múltiplo, entre classes, etnias, religiões e tradições culturais.
Todos sabemos que a 3 Guerra Mundial, que começou mais ou menos em 1948 ( Bloqueio de Berlim, etc.), já terminou com a Queda do Muro e a subseqüente extinção do Império Soviético ( 1991).
Uma guerra que foi conhecida como "Fria", travou-se por um domínio ideológico, centrado numa doutrina herética de origem ocidental, o Comunismo, que se apresentou como religião leiga, de fundo salvacionista e milenarista, propondo a construção de uma Utopia e o desenho de um homem novo".
A estratégia adotada pelos Estados Unidos nesta guerra foi a de cercar o inimigo na zona chamada de Rimland ou Anel Interior (Spykman e outros, doutrina Truman, guerra periférica] e por procuração), impedindo que ele extravasasse do Heartland e ao mesmo tempo esgotando seus recursos, fazendo-o correr uma série de pontos de fricção em sua enorme periferia. Coréia, Indochina-Vietnã, mas também Líbano, Oriente Médio, Balcãs, Turquia, todos eram pontos de atrito, de desgaste, onde o Império Soviético tinha de desdobrar forças, recursos, gente, para fazer frente a uma coalizão bem orquestrada, muito mais rica e adiantada, científica e tecnologicamente, até que se chegou ao ponto de ruptura e o Bloco Comunista (ou do "socialismo real") deixou de existir.
Agora, o que se pretende? A emergência de um super-poder no mundo, os Estados Unidos, está sendo contestado por algo que já se chegou a chamar Terceiro Mundo, mas que se expressa, na verdade, de outra maneira .
A guerra não é mais travada entre Estados, entre Soberanias. A Guerra é Civilizacional. Trata-se de uma reação ao processo de pasteurização cultural a que os estados Unidos submetem o mundo.
Esta reação se dá, porém, de uma forma não contestatória, não meramente violenta (como até então), mas por um Ato de Guerra, onde é atingida a população civil, sem prévio aviso e em tempo de paz, no território continental norte-americano, pela primeira vez em sua história.
Modificou-se, pois, profundamente, o caráter da guerra. A guerra não é uma Guerra de Religiões, apenas. Ela é uma guerra de um fundamentalismo religioso, é verdade, mas não contra o Cristianismo e sim mais contra as Instituições do Ocidente; a Liberdade de organização e expressão; a liberdade de palavra, de crença, de cátedra. Os chamados direitos humanos, em especial para mulheres e crianças, enfim, pontos fortes que refletem visões completamente diferentes de mundo, como encarados pela Civilização Ocidental e como encarados pela Civilização Muçulmana . O elemento religioso entra no caldeirão , como sempre, como instrumento político-psicológico, para despertar entusiasmos, fanatismos e união.
Mas o cerne da questão está na diferença fundamental na maneira de viver, que separa os afluentes daquilo que Mussolini já chamava de "nações proletárias."
Em próxima nota, veremos em que consistirá o alvo desta guerra e como ela afetará todo o Globo, durante muitos e muitos anos, devendo decidir sobre o modo de vida de todos nós.
Nota Defesanet: O Autor von Clausewitz, oficial Prussiano, contemporâneo das guerras Napoleônicas. Sua obra Da Guerra (Von Kriege) influenciou o pensamento militar nos séculos XIX e XX.
(X) Conferencista e Professor de Pensamento Geopolítico e Estratégico, Escola Superior de Geopolítica e Estratégia, Porto Alegre/RS - Brasil"