Os oficiais americanos fizeram um “retrato” do oficial português, demonstrando as razões da ineficácia. A separação quase racial, entre oficiais, sargentos e praças, uma burocracia tenebrosa e kafkiana, erguida para defender as chefias e ao mesmo tempo impedir a ascenção dos mais novos.
Curiosa essa descrição!! Acenta como uma luva no exército americano pós-guerra! Aliás no exército americano no Vietname.
No entanto é a imagem que os americanos têm, e que os ingleses também corroboram.
Além disto, é feita por oficiais do país que ganhou a segunda guerra mundial.
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Acima de tudo, o que saltava à vista era a total e absoluta incapacidade operacional das Forças Armadas, principalmente do exército. Portugal não era na altura (práticamente como hoje) capaz de efectuar manobras com unidades de escalão superior ao batalhão, sem que de imediato aparecessem problemas de base, como carros sem combustível, e tropas a passar fome no campo, por impossibilidade de distribuir comida.
Fico assim ansioso que me explique como conseguiu um tal exército manter 3 teatros de guerra durante 11 anos.
Já agora pode também incluir na explicação a razão de sermos sempre alvo de menções honrosas nos exercícios internacionais em que participamos.
É absolutamente simples.
Entre 1945, quando acabou a guerra, e quando os americanos já trabalhavam para modernizar as F.A. portuguesas, e 1974, decorrem 29 (vinte e nove anos). Os oficiais mais antigos começam a ser "postos de parte" e substituidos por oficiais mais novos, entre 1950 e 1960. Logo, a guerra e, África, é feita exactamente pela nova geração que foi criada e instruida pelos americanos. É essa nova geração que começa a guerra, e é essa geração que a começa a planear ainda em 1958.
Mas eu arrisco mesmo dizer-lhe mais:
Havia em África, entre as unidades operacionais um espirito de corpo decorrente da necessidade, que fazia com que em grande parte dessas unidades as diferenças quase monarquicas que existem entre oficiais, sargentos e praças, (e que os americanos consideraram como um cancro) fossem em grande medida erradicadas.
Isto acontece, porque quem combatia em África, e cada vez mais lá ficava, eram os milicianos, porque muitos dos senhores do Quadro Permanente, começaram a entender os "esquemas" e em 1973, já se sabia como "escapar" de ir para uma unidade operacional.
Em 1974, havia um tremendo mal estar nas Forças Armadas, sabe porquê?
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Porque muitos oficiais e sargentos do QP,não gostavam do facto de os milicianos os estarem a ultrapassar na preferência para promoções, porque quem estava a limpar o pó às cadeiras nos Estados Maiores, não tinha tanta facilidade em ser promovido, porque havia muita gente que ficava irritada por ser preterida na promoção, mas esquecia-se que as promoções de milicianos decorriam da falta de homens para ir para a guerra, arriscar a vida.====
O serviço de saúde, é outra dor de cabeça. Não há um número suficiente de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar para efectuar sequer evacuações de emergência e intervenções primarias. No entanto, os Hospitais Militares Principais, estão equipados e têm médicos para atender as familias dos senhores oficiais, até a filha de um senhor oficial, com 60 anos de idade, que continua a ter direito a assistência médica militar, porque nunca casou e é filha de um Oficial do Exército.
Não é muito diferente dos hospitais civis portanto!
Estava tudo bem, se fosse suposto os médicos militares servirem para fazer consultas de odontologia e ginecologia, ou para fazer operações às amigdalas.
Os hospitais militares e os medicos militares devem servir para operar feridos decorrentes de operações militares, e mais nada que isso.
Lembro-me de um caso em que por mandar um recruta para um hospital civil, me disseram que o pobre coitado do recruta devia ter sido mandado com uma perna partida, para um hospital em Lisboa, a muitos mais quilometros de distância, porque disseram-me "...Nós temos os nossos proprios hospoitais, não temos que andar a pagar aos hospitais civis..."
Cabe na cabeça de alguém que coisas simples como arrancar um dente, curar uma gripe, sejam coisas a tratar nos Hospitais Militares, quando não temos médicos capacitados à altura para operações em situação de meergência?
No inicio dos anos 50, quando os americanos perguntam aos oficiais portugueses o que é que eles querem para modernizar a nova Força Aérea, os nossos oficiais pedem os modernissimos aviões P-51 Mustang, para substituir os Hurricane e os Spitfire.
Isso é uma anedota de caserna, há quem as confunda com a realidade é claro.
Eu sou daqueles que até aprecia os livros de Antonio José Telo, e isto está no livro Portugal e a Nato, de autoria dele.
Se tem algum dado que prove que é piada de caserna, talvez fosse interessante revelar.
Já agora recebemos o F-84G Thunderjet e não o F-82 que era na verdade uma variante da série "mustang", o chamado "twin mustang".
Erro meu. Sempre confundirei os dois. Peço desculpa pela minha mania da poupança
Há muito para fazer. Mas é inevitável que o que for feito, começe a “levantar” cada vez mais protestos de dentro das Forças Armadas, porque há demasiada gente, sentada, ao canto, a encolher os ombros e a rezar para que não o chateiem.
Isso já é politiquice!
Não vejo qualquer tipo de protesto contra a modernização e melhoramento das FAs, apenas contra o tradicional desinteresse e desrespeito com que os governos tratam os militares.
A verdade, é que também nunca vimos nenhum protesto contra a obsolescência dos meios, e os unicos protestos que vemos, são quando os interesses, o médico para a familia, e a idade da reforma são postos em causa.
Ficamos com a ideia de que ocorre a mesma coisa que com os juizes. Todos sabem que está tudo um nojo, mas enquanto receberem as benesses que lhes permitem calar o bico, calam-se " É la nave vá".
Quando lhes retiram as benesses que serviam de rolha para que se calassem, saltam que nem bailarinas. e gritam que nem virgens ofendidas, como se por acaso não tivessem colaborado com 30 anos de silêncio, na pouca vergonha que andaram a tolerar.
Na mesma estão as corporações de militares revoltosos.
Cumprimentos