Missão militar portuguesa no Afeganistão

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Lancero

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« Responder #105 em: Setembro 14, 2006, 02:29:59 pm »
Sim, de qualquer forma nunca será uma missão fácil e 'descomplicada' - espero não ter dado essa ideia :oops: . Os páras estarão de certeza bem treinados. Deselho-lhes a melhor sorte e que andem de olhos bem abertos.
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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ricardonunes

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« Responder #106 em: Setembro 15, 2006, 01:21:00 am »
Governo consciente dos riscos da missão portuguesa no Afeganistão
Transferência de militares já era esperada

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A transferência dos militares portugueses para Kandahar, principal bastião dos rebeldes taliban e palco de uma crescente onda de violência, foi decidida por James Jones, comandante da ISAF, de quem o destacamento português está directamente dependente como força de reserva.

"A missão em Kandahar não é nada de anormal”, salientou João Mira Gomes, acrescentando que o Govero está consciente dos riscos que envolve. O governante precisou que a missão dos militares portugueses termina em Outubro e tem como objectivo proteger o aeroporto local, para “contrariar o avanço dos talibans”.

Entretanto, o tenente-coronel Serra Lopes, responsável pelo contingente português composto por 154 militares do 1º Batalhão de Infantaria Pára-Quedista da Brigada de Reacção Rápida, revelou, em declarações à rádio TSF, que o risco é mais elevado no Sul do Afeganistão devido à maior actividade taliban na região, mas que a “moral dos militares é boa, está excelente”.

As forças da NATO, que assumiram o controlo das operações militares internacionais no sul do Afeganistão no final de Julho, lançaram no passado dia 2 de Setembro uma grande ofensiva contra os bastiões dos rebeldes taliban no sul do Afeganistão, travando duros combates com os rebeldes, que têm mostrado uma resistência superior ao esperado.


Gostava de ver este Sr. João Mira Gomes, durante uma semana no terreno a acompanhar os militares, sem as suas mordomias ministeriais.
Potius mori quam foedari
 

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Bravo Two Zero

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« Responder #107 em: Setembro 15, 2006, 08:47:51 am »
No Público:

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NATO não pediu a Portugal para reforçar contingente no Afeganistão
14.09.2006 - 17h28   Lusa, PUBLICO.PT
 


Portugal não recebeu “nenhum pedido” específico da NATO para reforçar o seu contingente no Afeganistão, garantiu o almirante Mendes Cabeçadas, chefe de Estado-Maior General das Forças Arma das (CEMGFA), apesar de admitir que essa hipótese foi analisada.

"Não houve nenhum pedido dirigido expressamente a Portugal, nem nenhuma pressão quanto ao envio de novas forças", afirmou Mendes Cabeçadas, numa conferência de imprensa conjunta com o general Raymond Henault, presidente do comité militar da Aliança Atlântica, que se encontra de visita a Lisboa.

No entanto, o almirante explicou que Portugal "estudou no plano militar todas as possibilidades", incluindo a de "eventualmente vir a ser solicitado para reforçar a sua contribuição". "Mas naturalmente que isso está sempre condicionado a decisões de natureza política", acrescentou.

Por seu lado, o general Henault admitiu que não existe "de momento nenhuma indicação que Portugal possa atender ao actual pedido de envio de forças adicionais" para o Afeganistão. Contudo, disse esperar que os Estados-membros da NATO possam "aumentar o esforço significativo que já fazem", até porque as forças da Aliança estão a enfrentar no terreno "uma resistência maior do que o esperado".

Na semana passada, a NATO solicitou o envio urgente de mais 2500 militares para a Força Internacional de Segurança e Assistência (ISAF), mas na reunião das chefias militares realizadas ontem nenhum dos 26 Estados-membros se comprometeu a aumentar a sua contribuição.

O dirigente lembrou que, até agora, os países da NATO providenciaram apenas 85 por cento das necessidades inicialmente identificadas para a missão no Afeganistão, o que limita a flexibilidade da força e "aumenta o tempo" de preparação das missões. "Conseguimos fazer o trabalho em segurança com as tropas de que dispomos, mas não podemos fazer tudo o que gostaríamos, especialmente quando temos resistência inesperada", afirmou.

Quanto à situação na região de Kandahar, para onde foram recentemente deslocados cerca de 140 dos 154 militares portugueses em missão no Afeganistão, o presidente do comité militar descreveu-a como "muito volátil".

"Pela primeira vez na sua história, a NATO está envolvida em operações de combate directo, que são absolutamente essenciais para desalojar os malfeitores que estão a tentar impedir a organização de levar a cabo do seu trabalho", disse.

Henault destacou ainda a presença de militares portugueses no aeroporto de Kandahar, uma infra-estrutura que diz ser"vital para a missão em curso e para toda a região Sul".

A NATO comanda desde 2003 a ISAF, uma missão com mandato da ONU, que tem actualmente no Afeganistão 18.500 militares. No final de Julho, a NATO assumiu o controlo das operações militares no Sul do país, tendo desencadeado, no início deste mês, uma ofensiva em grande escala (com o nome de código "Operação Medusa") contra redutos taliban na região.


http://publico.clix.pt/shownews.asp?id= ... idCanal=30

E também, quem enviariamos?
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Get_It

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« Responder #108 em: Setembro 15, 2006, 01:11:04 pm »
Citação de: "Bravo Two Zero"
http://publico.clix.pt/shownews.asp?id=1270214&idCanal=30

E também, quem enviariamos?

Ainda temos tropas disponíveis para enviar: Cavaco Silva, Sócrates, Luís Amado e Nuno Severino Teixeira, que não fazem cá falta nenhuma. Armava-se cada um com uma G-3, um navegador GPS comercial, e um colete da GNR e lá iam eles.

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque:
 

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ricardonunes

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« Responder #109 em: Setembro 15, 2006, 06:16:10 pm »
Páras na toca do lobo

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Vão para o pior destino possível. Cerca de 140 pára-quedistas do Exército, ao serviço da NATO no Afeganistão, foram deslocados da sua base em Cabul para Kandahar, bastião taliban no Sul do país. A região está a ferro e fogo com fortes combates entre as tropas da NATO – canadianos e britânicos – e os rebeldes auxiliados por barões de droga. Os pára-quedistas vão, até Outubro, fazer segurança no perímetro do aeroporto de Kandahar, onde está a base local da NATO.
Segundo apurou o CM, a ordem do comando da ISAF – a missão da NATO no Afeganistão – surgiu após consultas com o Governo e chefias militares, que autorizaram a transferência. Ficou acordado que os portugueses ficariam no aeroporto para permitir aos canadianos libertarem-se para a ‘Operação Medusa’, na província de Kandahar.

Essa operação, iniciada no dia 2, envolve mais de dois milhares de soldados da ISAF e já resultou na morte de cinco canadianos, 15 britânicos e cerca de 500 taliban.

O próprio presidente do Comité Militar da NATO, Raymond Henault, disse ontem em Lisboa que a situação em Kandahar é “muito volátil”. “Pela primeira vez a NATO está envolvida em operações de combate directo, essenciais para desalojar os malfeitores”, disse Henault, que destacou a presença de militares portugueses no aeroporto de Kandahar, infra-estrutura “vital para a missão em curso e para toda a região sul”.

O responsável da NATO afirmou que se enfrenta uma resistência que “não é exclusivamente taliban”, também com “criminosos ligados ao tráfico de droga, resistentes à introdução da autoridade”.

Os pára-quedistas portugueses não deverão ser deslocados para as zonas (a menos de 30 quilómetros do aeroporto) onde há combates. No entanto, por fazerem parte da Força de Reacção Rápida do comando da ISAF, podem ser colocados em qualquer zona do Afeganistão.

O ministro da Defesa disse ontem que a transferência dos ‘páras’ para Kandahar estava já planeada e que a missão, embora envolva riscos, será cumprida com “naturalidade”, tanto mais que os militares vão estar “dentro do perímetro do aeroporto, sem contacto directo com o exterior”. O general Loureiro dos Santos, especialista em estratégia militar, considerou que o risco em Kandahar é superior ao que existia em Cabul, mas destacou o facto de os pára-quedistas ficarem apenas a fazer a “segurança estática ao aeroporto”.

COMANDOS DERAM CAÇA

Segundo adiantaram ao CM fontes militares, esta não será a missão mais complicada entregue aos portugueses desde que se estrearam na Força de Reacção Rápida da ISAF em Agosto de 2006.

Em Julho, uma companhia de comandos (que os pára-quedistas foram render) foi deslocada um mês para Herat e Farah, no Oeste do país. Foram realizadas operações de combate e patrulhas de longo raio de acção – que duraram 18 a 30 horas – cujo objectivo era dar caça aos taliban que para ali eram empurrados pelos combates em Kandahar.

Os portugueses inovaram o modo como o patrulhamento era feito e conseguiram reduzir a zero a actividade rebelde – muito activa antes da presença dos comandos, tendo mesmo morto um soldado espanhol.

A participação portuguesa na ISAF tem sido alvo de rasgados elogios por parte do comando. Há locais, mesmo em redor de Cabul, onde as patrulhas portuguesas são as primeiras a ir desde o início da guerra, em 2001.



http://www.correiodamanha.pt/noticia.as ... l=10&p=200

Não está nada mal para quem foi catalogado de arruaceiro.
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typhonman

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« Responder #110 em: Setembro 15, 2006, 09:06:57 pm »
Não brincamos em serviço, e não temos equipamento bom..
 

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Viriato - chefe lusitano

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« Responder #111 em: Setembro 16, 2006, 11:29:04 am »
A ser verdade esta noticia palavra que me orgulho em ser Portugues de alma e coração, quase me comoveu esta noticia dos feitos da companhia de comandos, Obrigado............
"Viriato, ao Pretor romano Caio Vetílio lhe degolou 4000 soldados; a Caio Lucitor matou 6000; a Caio Plaucio matou Viriato mais de 4000 e prendeu 2000 soldados, Pretor Cláudio Unimano lhe deu batalha e de todo foi destruído por Viriato da Lusitânia..."
 

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JACARÉ

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Paras no Afganistão
« Responder #112 em: Setembro 16, 2006, 02:41:01 pm »
Viva,

Estou à procura de informação sobre a organização do contigente português. Alguém te dados sobre orgânica e equipamento?
 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #113 em: Setembro 17, 2006, 01:02:18 pm »
Seja bem vindo, Jacaré.
O contingente Português é constituído pela 21ªCPára (pelo menos eu acho que seja essa a unidade). O armento usado é a espingarda-automática Galil 5.56 mm, Metrelhadora-ligeira MG-3 7.62mm, LAW, Canhão sem recuo Carl Gustav 84 mm, Metralhadora-pesada Browning 12.7mm, o lança-granadas automático GL40, os mísseis Milan II e talvez os morteiros de 60 mm. Os veículos que eles usam são os Hummer blindados e os M-11 Panhard.
Há sempre muitas incognitas sobre o que exactamente está lá e que missões fazem, já que na sua maioria à um “black out” informativo.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Bravo Two Zero

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« Responder #114 em: Setembro 17, 2006, 01:46:39 pm »
Ofensiva contra os taliban no Sul do Afeganistão concluida ?


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NATO Says Anti-Taliban Operation Is Done
 
 
 
KABUL, Afghanistan (AP) -- A top NATO general said Sunday that the alliance's anti-Taliban offensive in southern Afghanistan has been "successfully completed."

Lt. Gen. David Richard, the head of the 20,000 NATO-led force, called the two weeklong operation in insurgency wracked southern Afghanistan a "significant success."

The insurgents were forced to abandon their positions and reconstruction and development efforts would soon begin in three southern areas, he said.


Associated Press
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Marauder

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« Responder #115 em: Setembro 17, 2006, 04:07:48 pm »
Citação de: "Bravo Two Zero"
Ofensiva contra os taliban no Sul do Afeganistão concluida ?


Esta sim...

Segundo os meus cálculos, o que se conseguiu foi ganhar tempo..daqui a alguns meses, se tanto, vai voltar a brotar talibans por lá.

A não ser que se conquiste o povo..
 

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ricardonunes

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« Responder #116 em: Setembro 17, 2006, 04:26:12 pm »
Citação de: "Bravo Two Zero"
Ofensiva contra os taliban no Sul do Afeganistão concluida?


Não acredito, provavelmente os taliban refugiaram-se dentro do Paquistão, e ai as forças da NATO não podem continuar a "caçada".
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Yosy

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« Responder #117 em: Setembro 17, 2006, 09:41:55 pm »
O Afeganistão está a tornar-se numa espécie de "guerra secreta". Quase nada disto chega aos nossos media. A esmagadora maioria dos nossos compatriotas nem faz ideia dos rasgados elogios feitos aos Comandos, nem do estado a que o Afeganistão chegou.
 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #118 em: Setembro 18, 2006, 12:07:09 pm »
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2006/09/11
O Impasse Afegão
Alexandre Reis Rodrigues
 
 
 
Um membro do Parlamento afegão dizia há dias[1]que os talibãs eram como um rio; se é bloqueado num sítio muda o curso para continuar o seu caminho, mas nunca pára. Para ser detido, tem que se ir à sua nascente, que neste caso era o Paquistão e o Irão. Em relação ao Paquistão ninguém tem dúvidas; quanto ao Irão a ligação já não é tão clara mas, obviamente, há também “nascentes” internas que contribuem para o agravamento que a situação tem tido nos últimos meses.


Só arranjando forma de que todas sejam olhadas em conjunto é que a NATO, agora com a responsabilidade de estabilização do país por mandato da Nações Unidas, pode ambicionar ter o sucesso que nenhuma força de intervenção no Afeganistão teve antes, aliás, acabando todas por retirar ingloriamente. Como sempre, a solução do problema não passa apenas pela intervenção militar, que é aonde a NATO primariamente se move. São requeridos outros tipos de envolvimento em diversas áreas: política, diplomática, económica, financeira, de reconstrução geral do país, etc. Ninguém nega que não estejam a ser feitos, mas os progressos alcançados não são de molde a ajudar a solução militar, como veremos seguidamente.


Não basta, por isso, reclamar mais efectivos militares, recriminando os países membros da NATO – como fez, recentemente, Lord Roberston, ex-secretário-geral da NATO - por estarem a ser inconsistentes nas suas obrigações de participação no esforço que aprovaram. Em face do agravamento da insegurança, poderão, de facto, ser necessários mais efectivos para estancar pontualmente a actual crise, até porque a NATO, contrariamente ao que seria de esperar, não tem reservas no terreno! Até o próprio General Jones, actual SACEUR, que, até há poucos dias atrás, considerava a ofensiva talibã como apenas sazonal e que a força disponível era suficiente, veio agora defender que, afinal, são precisos mais efectivos e reconhecer que a Aliança ainda não encontrou uma solução para o problema.[2] Convém, porém, não esquecer o desfecho da intervenção da União Soviética, quando ao fim de uma campanha militar de 9 anos, envolvendo 115000 efectivos, acabou por sair, sem nada ter alcançado, com mais de 15000 baixas em mortos e 50000 feridos.


Grande parte da solução, como referia o deputado afegão, está nas mãos do Paquistão, que muitos observadores consideram não estar a fazer o suficiente para controlar a fronteira, não obstante os 80000 militares que tem na área, com 350 baixas até ao momento. As opiniões, porém, dividem-se sobre se a falta de controlo se fica a dever a incapacidade – dadas as extremas dificuldades do terreno – ou a falta de vontade – dados os apoios que tacitamente os talibãs sempre tiveram do Exército paquistanês e a fragilidade da situação política interna, com um quinto do Parlamento nas mãos de radicais islamitas. Provavelmente, fica a dever-se à combinação dos dois factores e ao facto de que a fronteira, também conhecida por ”Durand Line” - nome do diplomata inglês que a desenhou em 1983 – nunca ter sido reconhecida localmente pelas tribos da etnia Pachtun que sempre a atravessaram, nos dois sentidos, sem lhe prestar atenção.[3]


Neste contexto, a única nota potencialmente positiva é a do acordo firmado, no princípio de Setembro, entre as autoridades paquistanesas e os líderes tribais da Província do Waziristão, implicando da parte destes últimos o fim das incursões pró-talibãs em território afegão e promessa de fim do apoio logístico que lhes dão. No entanto, mesmo que o acordo seja cumprido isso não vai chegar para resolver a situação, pois, como bem lembra o Governo afegão, não é apenas dessa área que flui actividade terrorista contra o Afeganistão. Em resumo, ou há formas de pressionar mais eficazmente o Paquistão a pôr termo ao apoio que os talibãs têm no seu território ou a situação no Afeganistão nunca chegará a estabilizar sejam quais forem os efectivos que os membros da NATO venham a disponibilizar.


Outra área crítica para o sucesso é o da reconstrução, mas, como na anterior, o panorama também é muito sombrio. Alguns atribuem a principal dificuldade ao boicote desencadeado pelos talibãs nas províncias do sul, apontando, em apoio da sua tese, o maior sucesso que tem havido no norte, onde os Provincial Reconstruction Teams têm, melhor ou pior, conseguido fazer o seu trabalho. Porém, Ann Jones, jornalista e fotógrafa nova-iorquina,[4] que tem trabalhado no Afeganistão nos últimos quatro anos com agências de ajuda humanitária, descreve uma situação que põe parte importante do ónus da culpa mais no sistema internacional da ajuda do que na realidade local. Ann Jones, no trabalho de investigação que fez, conclui que não mais do que 40% da ajuda prometida nas habituais conferências de dadores – sempre muito mediatizadas - chega realmente ao destino; pior do que isso, muita da que é efectivamente disponibilizada é gasta de forma ineficaz, frequentemente para pagar preços exorbitantes ou para adquirir produtos do próprio país dador, quando haveria outros a preços mais acessíveis.


A jornalista é particularmente crítica da administração americana que reserva 47% da ajuda para assistência técnica (entre 4% e 2% nos casos da Suécia, Irlanda e Luxemburgo) e exige que 70% dos produtos a adquirir sejam americanos; o Reino Unido, a Suécia, a Noruega e a Irlanda não fazem qualquer exigência nesta área. Jones aponta ainda o caso da famosa auto-estrada Cabul-Kandahar, que em Março de 2005 era objecto de um artigo no jornal Kabul Weekly, sob o título “Milhões gastos em estradas de segunda categoria”; segundo o jornalista afegão, quem ganhou o contrato de construção foi uma firma americana (Louis Berger Group) ao preço de 700000 dólares americanos por quilómetro quando outras companhias garantiam o preço de 250000 dólares. Aparentemente, foi invocado o critério de qualidade que a firma americana garantia, mas o trabalho acabou por ser feito por firmas turcas e indianas que o Grupo Berger subcontratou, ficando o preço final em 1 milhão de dólares por milha (1542 metros) e com uma qualidade deplorável. Um antigo ministro afegão do Planeamento dizia, há algum tempo, que em matéria de construção de estradas até os talibãs faziam melhor! Obviamente, estas situações apenas ajudam os talibãs a aprofundar e alargar a penetração social que tem conseguido nos últimos meses. Se estas circunstâncias não forem corrigidas urgentemente e se não for conseguido tornar transparente o processo de concessões de ajudas, então de pouco servirá aumentar os efectivos militares.


Depois, há também o problema da produção de ópio que atingiu um novo pico; mais 50% do que no ano anterior, ou seja, 6100 toneladas, 92% da produção mundial. Embora de importância capital, esta questão só poderá ser resolvida quando for possível garantir outros meios de subsistência aos produtores; vai levar anos. A dos senhores da guerra também demorará muito tempo a resolver; dificilmente o poderá ser apenas por via pacífica.


A situação é, de facto, muito séria; O tenente-general David Richards, que comanda presentemente as tropas da coligação desde 1 de Agosto, embora geralmente optimista e esperançado de que poderá inverter a situação num período de 3 a 5 meses, não deixa de alertar para a eventualidade de não se conseguir ter sucesso. Richards, que se mostrou inicialmente surpreendido com o pouco que tinha sido feito em matéria de reconstrução, procura apostar na criação de condições de segurança que permitam avançar mais nessa área, demonstrando aos afegãos como lhes pode ser útil a presença das tropas da NATO.


A estratégia aprovada pelo Conselho do Atlântico Norte foi desenhada muito à volta deste objectivo e, embora não declaradamente, dá a ideia de querer demarcar-se da forma de actuar das forças americanas, frequentemente menos habilidosas em obter o apoio da população local ou em distinguir entre simples população e guerrilheiros talibãs, preferindo jogar pelo seguro. O objectivo para a NATO, agora, é criar zonas de segurança a alargar progressivamente, em vez de apenas intervir pontualmente, sem ficar depois para garantir que o controlo da área é mantido. Nas explicações públicas, o general Richards tem recorrido à imagem dos “borrões de tinta” (inkspots) em papel mata-borrão (blotting paper) que lentamente se vão alargando. Esta estratégia, porém, exige uma maior participação do Exército afegão para ir sucessivamente ajudando a assumir a segurança das áreas controladas; se os afegãos vão ou não estar à altura desta tarefa é que se verá nos próximos meses.


Com a preocupação de evitar ou minimizar, pelo menos, o problema dos danos colaterais – uma das mais frequentes queixas afegãs contra as tropas americanas - a NATO começou, em princípios de Setembro, a avisar as populações sobre próximas operações, recomendando o abandono da área. Alguns não sairão por falta de recursos para se deslocarem ou por desejo de ficarem a proteger os seus bens; outros, porque terão ligações com os talibãs e querem ajudá-los. Em qualquer caso, esta iniciativa é uma espécie de “pau com dois bicos”: ajudará a melhorar a relação com os locais, mostrando a boa vontade das forças da NATO, mas fará perder a surpresa táctica, dando tempo aos guerrilheiros para se afastarem ou montarem um contra-ataque. Estes, em resposta à NATO, também começaram a avisar as populações sobre próximos ataques; aliás, foi uma fuga de informações sobre um destes avisos que permitiu à NATO montar uma bem sucedida emboscada às forças que iriam fazer esse ataque e que acabaram por sofrer pesadas baixas. Não se estranhará, certamente, que não façam mais avisos.


Não obstante todas estas dificuldades e gravidade geral da situação, as vantagens que os talibãs alcançaram nos últimos tempos não alteraram os termos estratégicos em que a sua ameaça se coloca. Embora com alguns indícios de apetência para tentarem manter o controlo das áreas onde se movimentam com maior facilidade, continuam limitados a tácticas de “avanços e recuos”, recorrendo à guerrilha nas áreas rurais e aos atentados terroristas nos centros urbanos, sem capacidade de permanecerem e não tendo dado mostras de estarem a conseguir convencer as populações de que estão a ganhar.


Ora é precisamente neste “jogo” que há que ponderar cuidadosamente o objectivo a alcançar; para a administração americana, até há pouco tempo, a palavra de ordem era acabar com os talibãs até ao seu último elemento. Isso não vai ser possível, como, aliás, facilmente se poderia prever e o tempo se tem encarregado de demonstrar. Segundo recentes sondagens, o que a população parece querer apoiar, para além de um governo forte que lhes garanta segurança e emprego, é um esforço de reconciliação e amnistia, através de negociações entre as diversas tendências rivais, incluindo obviamente os talibãs. Para Ann Jones, deveria ter-se começado por aí e não pela apressada instalação de um Presidente, Governo e Parlamento que afinal mal conseguem funcionar e não chegam a todo o território. A história não volta atrás, mas o caminho da procura de um apaziguamento interno, mesmo sendo hipótese remota para o curto e médio prazos, é uma aposta que não pode ser descartada.

[1] Time Magazine, September 6, 2006.

[2] Noutras declarações, admitia que o problema talvez se pudesse resolver internamente, por alteração do dispositivo; isto é, trazendo tropas do norte, talvez dois batalhões, para o sul. Precisa, para isso, da concordância dos respectivos países (neste caso, tratar-se-á provavelmente da Alemanha).

[3] No passado mês de Março, o Paquistão ainda sugeriu a construção de barreiras ou campos minados nos locais de passagem mas foi o próprio Governo afegão que rejeitou a ideia, sob o argumento de que a fronteira corresponde a uma divisão territorial que era válida apenas por 100 anos, tendo ficado em aberto a possibilidade da sua revisão. Ora essa possibilidade é coisa que Islamabad nem quer sequer imaginar, por poder abrir a porta à criação de um estado Pachtun que apanharia parte do território paquistanês.

[4] Também autora do livro “Kabul in Winter: Life Without Peace in Afeghanistan (Metropolitan Books, 2006).


Retirado de: http://www.jornaldefesa.com.pt/
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Marauder

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« Responder #119 em: Setembro 18, 2006, 04:40:08 pm »
Pensava que os Talibans eram compostos maioritariamente por Pastunes, que por sua vez representam uma grande parte da população do Afeganistão.

Será que há pastunes no Paquistão e Irão?

Nisso não concordo com o homem lá do parlamento.

Mesmo que estejam a receber armas via Irão ou Paquistão, como eu já disse, "conquistando o povo" em principio acaba a ameaça..[ a não ser que se importe guerrilheiros estrangeiros como acontenceu no Iraque, que agora já não acontece tanto, penso eu.]

O que existe é um saltar à corda das tropas talibans junto à fronteira do Paquistão...naquela maldita zona tribal.

Mas se a NATO e governo afegão oferecessem um programa de trocas de cultivo aos pastunes do Sul, trocando o cultivo do ópio por outros, secalhar cortava-se a fonte de recursos humanos dos talibans...

Em vez disso, de um momento para o outro viraram-se contra os pastunes e o seu único método de subsistencia no Afeganistão...e o que fazem os pastunes no desemprego? ...pois..

Isso também leva a outra coisa...porque raio é que as tropas da NATO/EU quando substituem governos gostam tambem de impor a sua decisão sobre o que se produz e o que não se produz no país...e depois queixam-se que os pastunes no desemprego alimentam as fileiras talibans.


Penso que neste caso também não tem havido um tão forte apoio do Irão aos talibans. Se tem havido realmente o material fornecido deve ser os restos do que vai para o Iraque, pois no terreno não se tem apercebido muita diferenca a nivel de qualidade das armas dos talibans.