As verdadeiras prioridades de investimento

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Luso

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As verdadeiras prioridades de investimento
« em: Setembro 12, 2006, 09:33:17 pm »
Roubei esta ao JQT, esse grande maroto que não coloca o que escreve aqui também...

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Fora de tópico mas esclarecedor para quem ainda pensar que o país não gasta mais nas FAs porque não tem dinheiro.

DE, 05.09.2006:

Quote:
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Endividamento da Refer volta a crescer e já representa 2,8% do PIB nacional
A gestora da rede ferroviária nacional aumentou o endividamento em 455 milhões de euros em 2005. A tendência é de agravamento face ao défice de exploração e à insuficiência de capitais próprios.

Nuno Miguel Silva com Ana Baptista

A Refer agravou em 455,5 milhões de euros o endividamento durante o exercício de 2005, elevando-o para 3.976,6 milhões de euros, agravando num simples ano este indicador em cerca de 12,6%. Este montante equivale à capitalização bolsista do BES.
No relatório da comissão de fiscalização de contas da Refer, o respectivo presidente, José António Portela, alerta para o facto de “o actual nível de endividamento da Refer corresponde a cerca de 2,8% do PIB português, com tendência de agravamento face ao elevado défice anual de exploração e à insuficiência de capitais próprios para financiamento dos projectos de investimento em curso, sendo de realçar que os investimentos de modernização e de expansão da rede não têm tido nenhum efeito positivo nos proveitos de exploração, mas têm implicado um aumento dos custos de manutenção dos novos equipamentos, contrariando os princípios de gestão e de equilíbrio económico e financeiro da empresa”.
O relatório de gestão da responsabilidade da administração da Refer referente ao exercício de 2005 explica que, no que respeita ao passivo, “este regista um aumento de 13% quando comparado com o ano anterior, estando justificado por um aumento de 25% nas dívidas a terceiros médio e longo prazo, devido ao financiamento de 600 milhões de euros a 10 anos, efectuado no início do ano”.
As dívidas a terceiros de curto prazo sofreram um decréscimo de 11%, e o recurso a dívidas a instituições de crédito a curto prazo baixou 15%, dada a existência do referido financiamento. “Assim, a estrutura do passivo apresentou como alteração o facto das dívidas de médio e longo prazo aumentaram o seu peso total do passivo para 71%, quando em 2004 esse valor era de 64%, em contrapartida as dívidas de curto prazo baixaram o seu peso no total do passivo (2004 – 34%, 2005 – 27%)”, sublinha a Refer.
O resultado líquido da empresa liderada por Luís Sousa Pardal foi negativo em 160,4 milhões de euros em 2005, o que traduziu um agravamento de 4% (mais 6,2 milhões de euros) em relação a 2004. “Comparativamente, aos valores constantes do orçamento de 2005 (prejuízo de cerca de 207 milhões de euros), verifica-se um desvio orçamental favorável no resultado líquido de cerca de 46,6 milhões de euros, em virtude do montante da rubrica fornecimento e serviços externos se ter situado abaixo do previsto de cerca de 44,5 milhões de euros, por efeito da menor contratualização de serviços conservação e manutenção da via e da catenária e da sobreorçamentação de custos”, assinala a comissão de fiscalização.


REFER Actividades e investimento em 2005

Rede da Refer utilizada em apenas 54% da sua capacidade
Em 2005, a capacidade disponibilizada pela Refer aos operadores (CP - Comboios de Portugal e Fertagus) foi de 72 milhões de ck’s (comboio/km), mas o seu nível de utilização foi de apenas 54% do total da sua capacidade, ou seja, 2003 circulações médias diárias. A CP utilizou 37,6 milhões da rede ferroviária nacional, sendo que 29,1 milhões de ck´s foi para serviço de passageiros, 7,1 milhões para mercadorias e 1,1 milhões para marchas (comboios vazios). Já a Fertagus, utilizou 1,6 milhões de ck´s da rede, ou seja 2%. 1,5 milhões de ck’s foram usados no serviço de passageiros. Actualmente, a rede ferroviária nacional contava com uma extensão de 3.613 quilómetros, dos quais 2.839 apresentam tráfego. No final de 2005, 51% desta rede estava electrificada.

Valor total de investimento fica abaixo do previsto
Os investimentos realizados pela Refer durante o ano de 2005 cifraram-se nos 426 milhões de euros, o que representa uma taxa de realização de 80% face ao previsto. Deste total, 407 milhões de euros foram utilizados em intervenções inscritas no PIDDAC, os restantes 19 milhões de euros dizem respeito, principalmente, a intervenções correntes nas infra-estruturas. Por exemplo, em 2005, a Refer gastou no desenvolvimento das acessibilidades urbanas 118,8 milhões de euros, quando esperava gastar 169.2 milhões de euros. No que respeita a intervenções de coordenação intermodal, ou seja, de ligação entre estações ou apeadeiros, a Refer gastou apenas 1.991 milhões de euros quando previa gastar 6.376 milhões. Em segurança, qualidade e eficiência do sistema de transportes, a Refer gastou em 2005 cerca de 13 mil milhões.

Refer perde 338 trabalhadores durante o exercício de 2005
A Rede Ferroviária Nacional perdeu em 2005, 8% dos seus efectivos, ou seja, 338 trabalhadores, em relação a 2004, mantendo uma tendência que se tem vindo a evidenciar desde 2003, ano em que se registou uma quebra de 369 efectivos. Em quatro anos, desde 2002, a Refer já perdeu mais de mil trabalhadores, diminuindo, no entanto, o número de profissionais não qualificados. O número de profissionais qualificados continua a ser a maior fatia de empregados em 2005 (48%), sendo que nos quadros apenas estão 26% dos trabalhadores. Registou-se ainda uma quebra no número de efectivos afectos às actividades de exploração da infra-estrutu
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Uma vez que Portugal gasta perto de 1,4% do PIB anualmente na Defesa, as dívidas de uma única empresa pública equivalem ao dobro das despezas militares anuais.

Esclarecedor.

JQT
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Marauder

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« Responder #1 em: Setembro 13, 2006, 12:25:48 am »
Verdade, mas essas dívidas não surgiram do nada, foram o acumular de muitos anos de esbanjamento. Se formos a ver os resultados negativos que a empresa teve nem é assim tão mau.. :lol:

Mas é uma vergolha como é que estas empresas chegam a estas situações!!

Ainda está para vir o dia em que empresas públicas com lucros sejam a situação normal. Secalhar nunca virá..
 

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ricardonunes

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« Responder #2 em: Setembro 13, 2006, 01:04:06 am »
Citação de: "Marauder"
Verdade, mas essas dívidas não surgiram do nada, foram o acumular de muitos anos de esbanjamento. Se formos a ver os resultados negativos que a empresa teve nem é assim tão mau.. :conf:
Mas o que eu entendo muito menos é como é que se pode manter uma empresa, seja ela estatal ou privada a dar prejuizo?
E falo de causo própria, pois onde trabalho(empresa publica), tem sido amplamente divulgado que o dinheiro vai chegando/se chegar para os vencimentos até ao fim do ano.
Potius mori quam foedari
 

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Marauder

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« Responder #3 em: Setembro 13, 2006, 09:30:49 am »
Estava a brincar, claro que 455 milhões de prejuizo é um péssimo resultado.

Mas o valor em causa que o Luso refere que é superior ao orçamento das FA resulta de o acumular de muitos anos. Não digo que a situação muda por causa disso.

Penso que grande parte da dívida foi transmitida a partir da CP, porque a Refer não é assim tão antiga. Se não for o caso (e realmente esta dívida ter surgido nos últimos anos,), trata-se provávelmente da passagem de dívidas do Estado para a Refer, como assim, o Estado abre os concursos para as modernizações das linhas etc, não paga e a Refer é que leva com a dívida. Mas isto já é especulação. Agora também já não me lembro se os artigos que falavam da situação calamitosa da Refer explicavam o historial da dívida.

Cumprimentos
 

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« Responder #4 em: Setembro 13, 2006, 10:28:50 pm »
O estado actual da divida é o acumular de erros praticados por gestores medíocres nomeados pelos sucessivos governos.
Uma empresa pública não deve visar o lucro mas sim não ter prejuízo.

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Marauder

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« Responder #5 em: Setembro 13, 2006, 10:50:54 pm »
Citação de: "LOBO SOLITÁRIO"
Uma empresa pública não deve visar o lucro mas sim não ter prejuízo.


Sim, o que em termos probabilisticos é muito dificil alcançar, mas percebo a ideia. Resultados em volta do zero.
 

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« Responder #6 em: Setembro 13, 2006, 10:53:24 pm »
Claro resultados á volta do zero, não esquecendo os provimentos para crescimento e modernização.

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Marauder

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« Responder #7 em: Setembro 13, 2006, 11:03:10 pm »
O mal é que consegues mais emprego e uma muito melhor velocidade em termos de inovação e de crescimento da economia e seu equilibrio se tivermos empresas privadas e economias de mercado.

Para além que as empresas publicas é sinónimo de ineficiencia e isto tem a sua razão. Com o conhecimento à priori que as performances individuais de cada não contribuiem nada, e quer o trabalhador faça 1 ou 100, vai receber o mesmo, qual é a vontade deste para não ser calão?

Ainda hoje perdi umas 2 horas na Direcção geral de Impostos, o homem da tesouraria parecia que fazia pausas de 10 min a cada...20 minutos. Ia lá para dentro com os documentos, nas calmas, ficava la a fazer a fotocopia ou a guardar o documento, e voltava nas calmas...

Traquilo no passa nada!!
 

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Luso

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« Responder #8 em: Setembro 13, 2006, 11:31:19 pm »
Correcção: uma empresa pública deve dar lucro para ser aplicado em investimentos públicos.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Marauder

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« Responder #9 em: Setembro 17, 2006, 10:14:19 pm »
E adivinhem quem é a empresa publica completamente endividada que vai investir mais 1,5 mil milhões nos próximos anos..

Yep..correcto..a Refer..

http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro%5 ... news=71685

Não é que eu seja contra a ideia, visto que considero que o nosso sector ferroviário precisa de mais investimento, nem que não seja só para o tornar mais viavel ou para dar menos prejuizo (atenção que não de TGVs..)
 

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Rui Elias

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« Responder #10 em: Setembro 29, 2006, 11:58:20 am »
É muito difícil aplicar os princípios da procura do lucro, ou pelo menos do não-prejuizo nas empresas de transportes públicos.

Até as empresas privadas de transporte rodioviáris dão prejuizo em muitas linhas, o que obriga o Estado a garantir as chamadas indeminizações compensatórias.

É que há uma coisa que se chama "serviço público de transportes".

Não se pode querer sol na eira, e chuva no nabal.

Se se quer estimular as pessoas a preferirem os transportes públicos em detrimento do automóvel, há que garantir 2 coisas.

Transportes públicos de qualidade e confrotáveis, com horários bons e uma rede de carreiras que sirva os eixos sobre-lotados, mas também os que têm menos procura.

Se para aumentar o lucros subirem as tarifas de transporte, e não se investe em melhorias na qualidade do serviço, como é que se incentiva o transporte público na vez do automóvel particular?

No caso da CP, há linhas suburbanas que dão lucro, e outras no interior que nem tanto.

Mas é para isso que o Estado serve:

Para servir os cidadãos, e não para ele ser uma entidade que se regule pela lógica do Mercado, e que lucre com um serviço que se quer público e de preferencia não muito caro.

Uma coisa que nunca ninguém me conseguiu explicar é o caso do Metropolitano de Lisboa, Metro do Porto e linhas suburbanas da CP.

Todos estes transportes circulam com base na electricidade.

Ora todos sabemos que a electricidade em 2006 apenas subiu 2,6% que foi o valor calculado para  inflacção.

Então como é que se justifica a subida intercalar do preços dos transportes com base na justificação no aumento dos preços dos combustíveis fósseis?

Coisas da vida.   :roll: