LISBOA TORNA-SE HOJE CAPITAL VERDE. O FUTURO ACABOU DE CHEGAR, COM UMA RESPONSABILIDADE QUE “É PARA SEMPRE”Chegou o dia. Os habitantes “alfacinhas” passam a ter hoje a sua Capital Verde Europeia durante o ano de 2020, dando início a um programa extenso de atividades. Sendo um “reconhecimento do trabalho” feito pelo município rumo à sustentabilidade ecológica, este é também um “compromisso de futuro”. A responsabilidade de envergar este selo é grande e os olhos vão estar postos em Lisboa, até porque ainda há problemas a resolver.
Lisboa torna-se hoje Capital Verde. O futuro acabou de chegar, com uma responsabilidade que “é para sempre”
Pedro Marques dos Santos e MadreMedia
Das ciclovias aos espaços verdes, do reaproveitamento da água aos painéis fotovoltaicos. Foi fazendo mudanças paulatinas que Lisboa, passo e passo, procurou tornar-se mais ecológica. O esforço compensou: a cidade foi agraciada com o prémio Capital Verde Europeia para 2020. Mas o esforço está longe de chegar ao fim.
Na apresentação da programação do Lisboa Capital Verde Europeia 2020, José Sá Fernandes, vereador das áreas da Estrutura Verde e Energia do município, realçou que a capital não foi distinguida com este selo por ser “a cidade mais sustentável”, mas sim porque “foi a cidade que evoluiu em todos os parâmetros ambientais – energia, água, mobilidade, resíduos e infraestrutura verde e biodiversidade”.
Ao SAPO24, o autarca reforçou essa ideia. “Ganhámos apesar de não sermos os melhores, basta ouvirmos o barulho deste avião para percebermos isso”, admite José Sá Fernandes enquanto sobrevoa uma aeronave, uma de muitas a ser uma presença indesejada nesta conversa. A atribuição do selo aconteceu “porque evoluímos muito em muitas matérias”, sendo este “um reconhecimento do trabalho que foi feito e do compromisso para o futuro”.
A conversa decorre no morro que se avoluma em frente à Reitoria da Universidade de Lisboa. Ajardinado e dotado de equipamentos de exercício ao ar livre, o espaço é, para José Sá Fernandes, uma conquista simbólica, não só porque oferece uma vista privilegiada para o Corredor Verde de Monsanto — uma das bandeiras ambientais deste executivo — mas porque neste espaço natural “eram previstos prédios, o que não fazia sentido nenhum porque perdíamos esta ligação e respiração”, defende.
Lisboa já tinha concorrido anteriormente por duas ocasiões, figurando no lote de finalistas na edição de 2019, mas aí a vitória foi para Oslo. No ano seguinte, porém, a capital portuguesa voltou a concorrer, sendo vitoriosa ao bater a concorrência de Gante (Bélgica) e Lahti (Finlândia), cidade que venceria a edição de 2021.
Para concorrer ao selo Capital Verde Europeia, o único requisito base é que seja uma cidade com mais de 100 mil habitantes, sendo o concurso aberto não só aos estados membros da União Europeia, como também aos países candidatos à adesão à UE, à Islândia, ao Liechtenstein, ao Noruega e à Suíça.
As cidades a concurso no Capital Verde Europeia são avaliadas por um painel internacional de 12 especialistas, tendo um conta um conjunto de critérios. Este inclui o trabalho feito pelos municípios quanto à atenuação das alterações climáticas, a forma como gerem resíduos, a sustentabilidade dos seus modelos de transporte ou os seus esforços em prol da ecoinovação e emprego sustentável.
Critérios de seleção para o prémio Capital Verde Europeia
Atenuação das alterações climáticas
Adaptação aos efeitos das alterações climáticas;
Transportes locais sustentáveis;
Zonas verdes urbanas que integram uma utilização sustentável do solo;
Natureza e biodiversidade;
Qualidade do ar;
Qualidade do ambiente acústico;
Produção e gestão de resíduos;
Gestão da água;
Ecoinovação e emprego sustentável;
Eficiência energética;
Governança.
Após essa primeira filtragem, as cidades concorrentes escolhidas para a fase final são submetidas a um júri internacional, encabeçado pela Comissão Europeia, tendo de apresentar um plano de estratégia e ação quanto ao que vão fazer se ganharem a competição e de que forma vão constituir-se enquanto modelos.
Mobilidade foi o trunfo de LisboaSegundo o comunicado da organização, o júri optou por Lisboa dada a “visão para a mobilidade sustentada” do executivo, ressalvando o “uso de medidas restritivas para a utilização de carros e a priorização de caminhadas, ciclismo e transporte público”, assim como a criação de “uma das maiores redes de carregamento de carros elétricos do mundo”. Para além disso, os especialistas não só referiram esta foi a primeira capital na Europa a assinar o Novo Pacto de Autarcas para Mudanças Climáticas e Energia em 2016, como também ficaram impressionados com o “foco em proteger e conectar as suas áreas naturais, providenciando ao mesmo tempo espaços recreativos ao ar livre de qualidade para os seus cidadãos”, citando o futuro projeto do Corredor Verde do Vale de Alcântara.
O tiro de partida para o Lisboa Capital Verde Europeia 2020 teve lugar ontem à noite com um jantar oficial na Estufa Fria, contando com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, do comissário europeu para o Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, Karmenu Vella, assim como do presidente da câmara, Fernando Medina.
No entanto, para o público a cerimónia de abertura acontece hoje à tarde, incluindo a passagem de testemunho de Oslo para Lisboa, um ‘flash mob’ e outros espetáculos. O evento — que tem lugar no Jardim Amália Rodrigues, no Parque Eduardo VII e no Pavilhão Carlos Lopes — contará também com a presença das figuras acima mencionadas, assim como do vice-presidente da Comissão Europeia, Franz Timmermans, do comissário europeu para o Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, e do presidente-governador da Câmara de Oslo, Raymond Johansen.
Outro evento que marca o início da programação é a nova exposição imersiva do Oceanário de Lisboa “ONE o Mar como nunca o sentiu”, tratando-se de “uma instalação da autoria da artista portuguesa Maya, que apresenta imagens filmadas exclusivamente no mar de Portugal”. Inaugurada hoje, abre o público amanhã, que é quando também decorre outra ação pela cidade.
Anunciada como a “maior plantação de árvores de sempre” em Lisboa, cerca de 20 mil espécimes vão ser espalhados por quatro pontos específicos da capital. Os destinos são o Corredor Verde do Monsanto, o Parque Urbano do Rio Seco, o Parque do Vale da Montanha e o Parque do Vale da Ameixoeira, sendo que Fernando Medina comparecerá neste último para plantar também uma semente. O objetivo é o de somar mais 100 mil árvores até ao fim do ano às 800 mil já existentes, pelo que estas ações vão continuar a decorrer nos próximos meses.
Alguns dos destaques do Lisboa Capital Verde 2020
Plantação de 20 mil árvores no dia 12 de janeiro
Inauguração do Parque Ribeirinho Oriente, em janeiro
Exposição “ONE o Mar como nunca o sentiu”, no Oceanário de Lisboa, em janeiro
Exposição sobre parques e reservas naturais do país no Museu Nacional de História Natural, em março
Inauguração do Museu da Reciclagem (ReMuseu), em Alcântara, em abril
Conferência dos Oceanos da ONU, entre e 2 e 6 de junho
Inauguração do Eco Centro e CIRE - Centro de Interpretação de Resíduos e Energia, em novembro, no Parque das Nações
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