Base Aérea Thumrait, Omã, 1981 (Episódio 1)
Na fase final da sua carreira como piloto da RAF, Rod Dean esteve estacionado na Alemanha durante quatro anos num esquadrão de Jaguares mas agora, a faltar apenas 18-20 meses até se “reformar” da aviação militar, questiona-se como iria preencher o seu tempo. Decidiu visitar o seu velho amigo Al Cleaver da Secção de Pessoal na base da RAF em Barnwood que sugeriu de imediato;
“Precisamos desesperadamente de instructores de Jaguar em Omã, que achas?”
“A parte do Jaguar, porreiro, mas eu não sou QFI (Qualified Flying Insctructor).”
“Sem stress,” disse ele, “fazes o curso antes de partires.”
Enquanto regressava ao carro, e sem raciocinar bem sobre onde tinha acabado de me meter, ia pensando também no que ia dizer á minha mulher Vicki, que esperava-me no carro…Omã, um verdadeiro paraíso para os pilotos de caça. Habituados aos céus extremamente congestionados e regulados do Norte da Europa, os pilotos de Jaguar da RAF destacados para Omã encontravam um recreio difícil de imaginar; poucas regras, voo supersónico em praticamente qualquer lugar, exercícios sem restrições… Só um alerta dos comandantes; “Não se matem!”
"Depois de garantidas as minhas qualificações rumei até Omã e, após uns dias em Seeb, no Norte do País, aterrei na base da Real Força Aérea de Omã, em Thumrait – a minha “casa” durante os próximos meses. Ao meu encontro veio o Nick Ireland, que “segurava o forte” como instructor de Jaguar, mas a contracto e não como piloto da RAF (mercenário!). Descobri rapidamente que Thumrait era um local muito confortável para viver mas, localizado no Médio Oriente, era necessário respeitar as tradições locais, especialmente no Ramadão. Os jovens pilotos locais eram bastante “ocidentalizados” e as regras na cantina eram muito relaxadas – especialmente em relação às bebidas alcoólicas… Mas voltando aos aspectos de voo. O livro de regras em Omã só tinha uma – não se matem! Por conseguinte, muitos dos voos podiam ser considerados escandalosos mas extremamente recompensadores e, dada a qualidade dos instructores e dos alunos, muito seguros."O SEPECAT Jaguar foi idealizado, originalmente, como avião de treino avançado mas, após uma fase de desenvolvimento conturbado, transformou-se numa formidável máquina de ataque de interdição. No ambiente da NATO nos anos 80, os esquadrões de Jaguar da RAF seriam uma autêntica força de intervenção rápida, caso a guerra fria “aquecesse”. Capazes de se deslocarem rapidamente para a Noruega no Norte ou para a Itália ou Turquia no Sul da Europa, os Jaguar iriam reforçar os flancos mais ameaçados pelo avanço inimigo.
"Era procedimento normal fazer um voo de “aclimatização” sempre que chegamos de novo a uma unidade operacional para conhecer o terreno, o clima, pontos de referência, perigos e muitos outros detalhes. Assim, no dia seguinte á minha chegada voei com o Nick Ireland no Jaguar de dois lugares num (suposto) breve e tranquilo voo em ritmo de passeio. Curiosamente, este dia coincidia com o início do exercício com a Marinha Americana chamado “Beacon Flash”. As regras do exercício eram muito simples, a US Navy tentava atacar a base de Thumrait e a Força Aérea de Omã tentava defendê-la – isto resumia bem o objectivo da coisa, e sem qualquer tipo de restrições!
Bom, passados 3 minutos a seguir á descolagem, para minha grande surpresa, vejo um monte de A-7 Corsairs escoltados por outro número considerável de F-14 Tomcats na nossa direcção! O exercício já tinha começado! Vinte minutos depois o Nick e eu estamos de volta ao solo, sem combustível e sem nunca nos afastarmos mais de 30kms da base – mas reivindicámos três aviões americanos abatidos! Excelente introdução aos céus de Omã!"Sem radar de busca e “sem asa”, o Jaguar não é considerado um caça perigoso mas quando liberto da carga de bombas e equipado apenas com dois mísseis Sidewinder, transforma-se num caça de defesa local muito respeitável. No exercício “Beacon Flash” em Omã em 1981 os F-14 Tomcat e A-7 Corsair da US Navy descobriram isso da pior forma. Great balls of fire…