ZOT e a guerra em Tete

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Fencer

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #15 em: Fevereiro 11, 2011, 10:44:47 am »
Caros Amigos,

Antes de mais, muito obrigado por toda a colaboração! O fluxo de informação prova que a guerra em Moçambique dava para escrever, não uma tese nem um livro, mas uma verdadeira enciclopédia! O problema é que estou a perder o enfoque em Tete, mas não faz mal.

E agora, gostava de lançar outro pedido de ajuda: sabem se há alguma coisa publicada (em papel ou em virtual) sobre a forma como as forças portuguesas reagiram ao 25 de Abril? O pouco que descobri diz que a Frelimo manteve a acção, mas que houve casos de comandantes no terreno que, em contacto com os guerrilheiros, propuseram que se estabelecesse uma trégua. Sabem se isso foi regra ou se não passou de excepções? O que mais se sabe sobre essa fase?

Obrigado, again!
 

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PILAO251

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #16 em: Fevereiro 11, 2011, 05:26:44 pm »
Li algures que um general rodesiano não quiz escolher a cor castanha da boina para as suas tropas por causa da má impressão que ficou das nossas tropas .
Mas o branco da rodésia, lutava por aquilo que considerava a sua terra, pois tinha lá nascido, enquanto o minhoto mobilizado, apercebia-se da indiferença dos brancos de L.M., que chegavam a perguntar, se já não havia tropas em Portugal, se era preciso enviar o filho (dele) pró norte.
Diz um amigo meu que fez a comissão no norte, que o Kaúlza, olhou para o ninho de vespas e em vez de as manter controladas, deu-lhes uma paulada (Nó Górdio) e elas, as vespas, espalharam-se por todo o lado.
O meu velhote que estava pela 2ª vez na zona de Tete, disse-me que nenhum do material delicado, conhecido por carga crítica, foi afectado, nem afectando o bom funcionamento na barragem.        

A visão dum militar é sempre condicionada ao seu campo de actuação, exemplo, posso dizer-lhe muito por onde andei mas nunca terei uma visão alargada da situação, portanto há sempre que recolher material, nosso, rodésiano e moçambicano, sendo que qualquer dele será sempre afectado por pruridos nacionalistas, como alguém disse a 1ª vítima da guerra é sempre a verdade.  
No - Ultima missão - o relato do ataque a Cumbamory, pelo comandante Manecas, é perfeitamente desvalorizado, no entanto sou amigo pessoal dum dos intervenientes directos que me assegurou que o material apanhado corresponde ao relatado e conhecido, mas, voltamos á velha questão, ele viu muito, mas muito em relação a que?????????????
Muna-se duma boa couraça par fazer o seu trabalho.      

Isto foge um bocado ao tema,mas
Aconselho vivamente
Angola-Um gigante com pés de barro---Avassalador, pois desmitifica muitas das tretas que se diziam á boca velada.

Para quem quer passar um bom bocado a rir-Angola o dia a dia dum embaixador- de António Pinto da França.
 

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Duarte

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #17 em: Fevereiro 11, 2011, 06:45:09 pm »
Citação de: "PILAO251"
Li algures que um general rodesiano não quiz escolher a cor castanha da boina para as suas tropas por causa da má impressão que ficou das nossas tropas .

Não foi um general, mas o TCor. Reid-Daly, comandante dos Selous Scouts, aquando da escolha das cores e inssignias regimentais da unidade.
Citar
I was personally opposed anyway to brown berets...mainly, I think, because the infantry of the Portuguese Army had worn brown berets and I had not been overly impressed when working with some of them."
слава Україна!

“Putin’s failing Ukraine invasion proves Russia is no superpower"

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FoxTroop

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #18 em: Fevereiro 11, 2011, 07:23:28 pm »
Pois é...... Muito se fala sobre o assunto sem se falar com quem esteve "enterrado até às orelhas" no assunto. Muito porque os que estiveram "enterrados" na jorda não são muito propensos a falar. Primeiro porque certas coisas não se falam, depois, porque certas coisas nunca serão compreendidas por quem não viu/viveu, e em último, porque assim sendo não vale a pena falar. Então, a morte ou o gajo alemão (Alzheimer) calam a memória para o revisionismo.

Pessoas que vivem num limbo estranho que, talvez só seja realmente compreendido pelos que bateram pela mesma bitola. Não os entendo, nem sequer o quero fazer pois à certas "portas" que não se passam, pois só abrem para um lado. Respeito-os, e muito.

Por isso, antes que a memória viva seja apagada, vou recolhendo depoimentos dos que por lá passaram. Os meu familiares, os da minha aldeia, os da aldeia da minha esposa, com o pessoal da "minha tropa" que por lá bateu, etc, etc.
Em todos esses depoimentos, nunca ouvi de ninguém isto:

Citar
que muitas das tropas portuguesas que eles tinham medo de atacar, em vários casos não tinham praticamente, munição para as G3, e que havia pelotões em que apenas o comandante de pelotão tinha arma, havendo depois um ou dois tiros para cada soldado português, se tanto

Estou a falar de Combatentes presentes em Nangololo, Mueda, Nazombe, Nancatari, Chai, Omar (um da minha aldeia escapou de ser feito prisioneiro em Omar por ter ido a Mueda por questões sanitárias), Vale de Miteda (entretando abandonado) Muidumbe, isto em Cabo Delgado. Do Niassa falei com pessoal que esteve em Vila Cabral e Metangula. Da ZOT existem apenas dois Combatentes, que são da aldeia da minha esposa, que estiveram lá, mas são os dois FZE's e de certeza que essas unidades não servem de termo de comparação para "necessidades de munição".

Pelo contrário, todos, sem excepção, dizem que o que nunca faltou foi munição em barda. Se o meu caro tem fontes ou dados que suportem isso que afirmou de o pessoal ir para as operações com "duas ou três munições por soldado", faça favor de as apresentar.

Quanto ao falhanço da Frelimo, veja onde fica Mueda e depois conte a distancia até à Beira. São mais de 1000 kms de avanço em dois anos. Claramente estavamos a ganhar  :evil:

PS: Não coloquei aqui os termos, com que as pessoas a quem fui confirmar a sua alegação, o brindaram.
 

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papatango

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #19 em: Fevereiro 12, 2011, 12:06:04 am »
FoxTroop->

Ao tentar fazer análises históricas, baseando-nos exclusivamente em comentários de pessoas que estiveram no local, corremos sempre o risco da distorção provocada pela falta de distanciamento, que é meio caminho andado, para não concluir coisa nenhuma.

Nós não estamos num tribunal, em que se apresentam provas a favor ou contra. Eu apenas lhe posso dizer que havia e houve casos em que as nossas tropas não tinham munições.
Não tinham munições porque nós não tínhamos um sistema de distribuição e de logística adequado e eficiente, especialmente para responder à dita ofensiva do Tete.
Quando não há munições num lugar, há sempre munição a mais noutro lugar qualquer. O que eu garanto é que houve casos de sub unidades que fizeram patrulhas e escoltas quase sem munições, porque tinham que fazer a escolta e a munição não chegava a tempo.
É claro que haveria lugares onde o que não faltava era munição e até havia de sobra, mas isso é mais uma prova de que o sistema logistico não estava a funcionar.
Era para resolver esse problema, reconhecido por todos, que se compraram mais de 20 AVIOCAR (alias se bem me lembro previu-se a compra de mais mas com o 25 de Abril foram cancelados).

Uma guerra não se ganha com umas quantas operações e uns quantos ataques. A verdade é que a FRELIMO tinha imensa dificuldade em chegar ao sul.


Quanto aos comentários de quem lhe respondeu, eu só posso dizer o seguinte:

Eu não também não lhe colocaria aqui as respostas que lhe daria um militar que tivesse estado debaixo do fogo da artilharia alemã durante a I guerra mundial.
Para eles, os combates dos portugueses em Moçambique não passariam de joguinhos de crianças.
Nunca um combatente em Moçambique alguma vez na vida poderia entender o que é uma barragem de artilharia pesada de centenas de peças de 8 polegadas.
Nenhum dos soldados de África, sofreu o terror dos ataques de gás.
Nenhum dos soldados de Africa poderia saber o que era estar meses e meses a fio, na lama podre das trincheiras da Flandres, com temperaturas negativas.


Não me venha com as descrições e os relatos pessoais ! ! !
Eles são sempre terríveis, são sempre maus, são sempre horriveis.

PARA OS SOLDADOS PORTUGUESES EM LA LYS, a GUERRA TAMBÉM ESTAVA PERDIDA. TÃO PERDIDA QUE SE RENDERAM AOS MILHARES.
Mas no fim, os aliados é que ganharam a guerra, que muitos acreditavam ser impossível de vencer.

Hoje podemos fazer uma análise do ponto de vista da estratégia, e concluir que embora o apoio do agente alemão Vladimir Lenine, ao retirar a Russia da guerra, tenha libertado as divisões alemãs que foram utilizadas nas três ofensivas da operação Kaiserschlacht (em que se inclui a ofensiva de La Lys), o apoio maciço da América acabaria sempre por vencer a Alemanha.

Mas para quem estava nas trincheiras, A GUERRA ESTAVA PERDIADA!
Ponha uma coisa na cabeça:
Quem está nas trincheiras pode ser Heroi, sem dúvida, mas nunca será um estratega !

As afirmações de quem lá esteve são importantes para criar uma imagem geral, mas não podem de forma alguma ser a palavra final quando se pretende determinar se a operação no Tete teve de facto sucesso.


Estamos a falar de História !
Temos que ser racionais e frios, ainda que isso possa parecer cruel, para quem passou pela guerra.
Tão frios para com os militares que sofreram em África, como para os que, de forma muito mais terrível, sofreram muito mas muito mais, nas trincheiras da Flandres em 1917 e 1918.

Os que afirmam que a Guerra estava perdida do ponto de vista militar, não conseguem apresentar um raciocínio estruturado que o justifique ou o explique, ainda mais quando a própria FRELIMO reconhece a situação desesperada em que se encontrava.
Se mais fosse necessário, bastaria dizer que a guerra foi ganha não com a nossa derrota no terreno, mas com um golpe, feito por um grupo de militares maçaricos em 1974.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Duarte

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #20 em: Fevereiro 12, 2011, 01:18:20 am »
Citação de: "papatango"
Não tinham munições porque nós não tínhamos um sistema de distribuição e de logística adequado e eficiente, especialmente para responder à dita ofensiva do Tete.
Quando não há munições num lugar, há sempre munição a mais noutro lugar qualquer. O que eu garanto é que houve casos de sub unidades que fizeram patrulhas e escoltas quase sem munições, porque tinham que fazer a escolta e a munição não chegava a tempo.

É natural que tal tenha acontecido muitas vezes, postos isolados, etc.. Isto acontece em qualquer conflito e qualquer exército ou força militar sofre casos destes. Aposto que a FRELIMO ficou sem muniçes muitas vezes também dadas as longas rotas de reabastecimento.
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Luso

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #21 em: Fevereiro 12, 2011, 12:57:47 pm »
A propósito do tema do abastecimento de munições, coloquei a questão ao meu pai que esteve estacionado em Pauíla 1971/1972.
Fome algumas vezes, em resultado de rações monótonas, compensadas com caça, mas nunca falta de munições de arma ligeira e morteiro. Nenhuma operação decorria sem que cada militar estivesse equipado com 5/6 carregadores (depósitos) cheios (100 /120 tiros).
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #22 em: Fevereiro 12, 2011, 01:33:26 pm »
Citação de: "Luso"
Nenhuma operação decorria sem que cada militar estivesse equipado com 5/6 carregadores (depósitos) cheios (100 /120 tiros).
4 carregadores de 20 munições nos porta carregadores colocados no cinturão mais o carregador da arma.
Ainda hoje é assim.
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"Tudo pela Nação, nada contra a Nação."
 

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papatango

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #23 em: Fevereiro 12, 2011, 03:12:32 pm »
Meus senhores, vamos ver:

Tete. Ofensiva do Tete.

Na verdade, nem sei se podemos chamar aquilo de ofensiva, porque foi na prática o resultado de uma fuga, quando a FRELIMO entendeu que tinha que fugir do norte, por causa da operação Nó Górdio.
As falhas de fornecimento de munição para sub unidades, ocorreram. Não eram a regra, eram a excepção, mas ocorreram e especialmente na região do Tete, porque o grosso da capacidade logística portuguesa estava no norte.

É aliás por isso que a FRELIMO opta por acções nessa região. Mas a ofensiva do Tete, é acima de tudo propaganda. Não teve nem de perto nem de longe a influência que se lhe atribui, como prova do descalabro final das forças portuguesas.

A FRELIMO afirmava que tinha bases tanto a norte quanto a sul do Zambeze, mas essas bases não passavam de acampamentos sem qualquer tipo de condições. Não eram bases de suporte logistico, onde estivessem grandes quantidades de armas ou munições. Nem sequer comida eles tinham.
Além disso a proximidade da fronteira, reduzia enormemente a capacidade efectiva da FRELIMO.

O que eles tinham, disso não há qualquer dúvida, era um sistema de propaganda e guerra psicológica, que permitiu criar a impressão de que eram de facto muito mais poderosos que o que realmente eram.

As poucas operações que a FRELIMO realizou, esgotaram a capacidade da organização.
Para lhes piorar a situação, havia as pressões portuguesas contra a Zambia do Keneth Kaunda e as acções das forças operacionais da PIDE (especialmente na fronteira oeste), que eram utilizadas como forma de pressão para que a Zambia não apoiasse a FRELIMO (ou os movimentos angolanos).
Ao pressionar a Zambia, os portugueses garantiam um estrangular gradual da FRELIMO, porque lhes limitavam muito a capacidade de acção.

Mas as nossas dificuldades logísticas em Moçambique foram uma constante. Embora mais pequeno que Angola em termos de área, Moçambique tem distâncias muito maiores, por causa da sua configuração. El linha recta, em Angola da fronteira com a Namíbia ao rio Zaire são pouco mais de 1200km. Em Moçambique do Rovuma ao Maputo são praticamente 2.000km. Por estrada, de Lourenço Marques a Cabora Bassa eram cerca de 1700km.

Nenhum exército conseguiria de um momento para o outro, responder a uma ofensiva rapidamente e sem problemas, ainda mais quando tinha grande parte dos seus efectivos numa outra região igualmente remota.

A falta de material, era também comum na FRELIMO e é por isso que é quase ridículo falar de Ofensiva do Tete.
A FRELIMO pedia desesperadamente armamento aos países do bloco de leste. E quando o Nixon chegou ao poder, muitos dos regimes africanos, entenderam que os americanos passariam a olhar com mais atenção para qualquer apoio soviético directo ou indirecto. O receio de que os americanos cancelassem apoios financeiros se países como  Zambia ou a Tanzânia fossem vistos a apoiar abertamente a FRELIMO, causaram problemas exactamente quando essa ofensiva ocorreu.

A mudança da politica de Washington relativamente a Portugal, no inicio dos anos 70, facilitada pelo politica de abertura da Primavera Marcelista,  condicionou todas as três frentes da guerra. É por isso que em Moscovo, muitos dirigente comunistas que discutiam a questão portuguesa, concluíram que não era possível ganhar a guerra contra os portugueses em África.

Os métodos de guerrilha e combate assimétrico desenvolvidos pelos agentes da Russia comunista e satélites, para lutar contra os gordos e anafados ocidentais, não funcionavam contra o soldado portuga, habituado a passar fome na sua própria terra.

As minhas fontes para tirar as conclusões, são familiares meus que cumpriram serviço militar em Moçambique na Beira entre 1971 e 1973, juntamente com livros como Costa Gomes, o último marechal, o diario do Franco Nogueira, onde se descrevem os contactos não oficiais com os países vizinhos de Portugal ou o livro « Jorge Jardim, agente secreto » do Freire Antunes.
Sobre a abertura de Washington ao regime, pode-se consultar as memorias do embaixador de Portugal em Washington Hall Themido, da Dom Quixote.

Cumprimentos
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PILAO251

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #24 em: Fevereiro 12, 2011, 06:43:19 pm »
Sr. PT

A questão de Tete é transversal, o meu amigo tem a sua opinião, eu tenho a minha, o vizinho de cima tem a dele e a minha prima tem a melhor de todas. Se bem que tem razão quando diz que a Frelimo, foi empurrada pela Nó Gordio e tinha as linhas de abastecimento muito alargadas, e não chegou a afectar o projecto da barragem.

Vamos ao que interessa.

Situações pontuais em que, devido á falta de colunas de abastecimento, fossem por a picada estar inop. devido as chuvas, ou as colunas não passarem devido á pressão do IN, isso aconteceu várias vezes, caso de Guilege, casos dos Postos de Vigilancia ao longo do rio Messalo, em que ao fim de 5 a 6 horas de fogo, as ditas começavam a escassear, chegando os mesmos a serem tomados e a guarnição ter que fugir, ou como no caso em 61 em que o Nº de atacantes e a surpresa do ataque levasse a que as munições tivessem que ser contadas.
Mas isto foram situações pontualíssimas.

Agora o Sr. não sai daqui sem por o preto no branco.
Qual o caso que conhece em que a Unidade, Pequena Unidade ou Sub-Unidade, isto é, qual o  Nº de Companhia, Pel. ou Grupo de Combate, em que o graduado, seja Alferes, ou Furriel, tivesse arma e os homens não tivessem arma, ou tinham arma, mas só meia dúzia de munições.
Não esquecer os Números das Unidades, e de preferência o nome dos Alferes ou Furrieis envolvidos.

Não me vai falar do caso de Omar, em que o pessoal foi agarrado à unha, ou da Companhia que abandonou o aquartelamento em cuecas em Angola em 75, pois não.
Att, um ex-Alf. Atr.
 

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papatango

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #25 em: Fevereiro 12, 2011, 11:55:15 pm »
Naturalmente que as opiniões são opiniões, mas não invalida que não se possam basear em informação correcta.

Eu discuti muitas vezes estas coisas com pessoas que estiveram no terreno, porque sempre tive curiosidade sobre o tema e por isso naturalmente sempre que possível puxava conversa.
Algumas das pessoas na verdade, até nem gostavam muito de falar nisso.
A pessoa que me referiu as dificuldades com o armamento, foi a mesma que sempre que falava desse tempo, falava sempre de um alferes que lhe tinha morrido nos braços.
Como é evidente, eu não perguntei às pessoas em causa - as quais tenho por absolutamente honestas - qual era o nome e o numero mecanográfico do oficial responsável pela unidade.
Quando recolhemos este tipo de testemunhos eles são o que são e devem ser interpretados para permitir ter uma ideia geral dos acontecimentos.

Quando os dados recolhidos avulso, por fontes que temos por boas e acima de suspeita, ainda por cima fazem sentido, quando analisamos por exemplo as aquisições de material militar, as movimentações no norte, a operação Nó Górdio, a qualidade das estradas, a capacidade dos meios aéreos disponíveis, o numero de pistas de aviação onde pudessem aterrar os Noratlas (os únicos aviões com alguma capacidade de que dispunhamos), as afirmações do governador de Moçambique ou do ministro dos negócios estrangeiros da altura,  então isso permite-nos ter uma opinião bastante segura sobre o que realmente aconteceu.

E o que aconteceu, foi que pelo menos na fase inicial da chamada ofensiva do Tete, houve situações em que os militares se queixaram da falta de capacidade de apoio logistico das Forças Armadas.
Conforme você disse, estas situações foram pontuais, mas ocorreram. E foram especialmente graves, quando a nossa capacidade logística estava concentrada no norte, e quase esgotada, porque Portugal não tinha capacidade para duas operações Nó Górdio.

Aliás, se não fosse para beneficiar da nossa desvantagem, as forças inimigas não tinham atacado onde atacaram.
Eles conheciam as nossas debilidades, e tentaram utilizar esse conhecimento em favor do lado deles, com algum sucesso.E nós cambaleámos no inicio. O problema do outro lado é que a FRELIMO deu um passo maior que a perna, porque eles também tinham problemas logísticos, ainda mais em áreas onde também actuavam as forças da Rodésia.

Peço desculpa, mas mesmo que eu tivesse o numero mecanográfico do primeiro-sargento que disse que faltava a quantidade regulamentar de munição, isso não teria qualquer influência numa análise sobre a situação estratégica no noroeste de Moçambique, e na análise das forças e interesses geopolíticos em jogo.


Cumprimentos
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PILAO251

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #26 em: Fevereiro 13, 2011, 09:20:06 am »
Caro PT
Não pretendendo pessoalizar a questão, mas há coisas que tem que ser ditas.
No caso da dita ofensiva de Tete, estamos basicamente de acordo, ponto assente.

Neste Forum, que tem algumas pretensões, e legitimas, a servir de referência num debate que se propõe alargado na temática da defesa e respectivas implicações ou correlações, políticas e económicas, temos que ter como pedra basilar o fazer ou não, certas afirmações.
Fui claro quando afirmei que a visão dum qualquer interveniente, numa situação, de paroxismo anímico, é limitada pelo seu campo de actuação, se não mesmo, pelo seu campo de visão, e, á posteriori, o relato da situação peca por excesso em termos emocionais e por defeito em termos analíticos.
Neste caso concreto, a sua afirmação acerca do alferes ter arma e o resto da malta andar a ver navios, é como atirar o barro à parede,,,, a merda toda, é se cola.
Amanha temos os putos na rua a dizer que o meu pai andou lá, com fisgas, pois até conheço um gajo, que no grupo dele, só o alferes é que tinha arma ou outros não.
Isto ou pior.
Portanto, quando certo tipo de afirmações são postas no papel, temos que explicar muito CLARAMENTE, em que circunstâncias as mesmas se passaram ou, se nos poupamos, temos que nos abster, afim de evitar mal entendidos.

Caríssimo, no fundo a maka é esta, certos factos aqui descritos passarão a ter peso de lei, e por sua vez, qualquer erro, não rebatido, perpetuar-se-a, tal como qualquer afirmação dúbia.
Já não basta termos os de cima a cagarem em nós, quanto mais, os de baixo.

Desculpem a linguagem de caserna.      

Att. sempre a considerá-lo
 

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #27 em: Fevereiro 13, 2011, 12:49:59 pm »
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
- Organização da ZOT (Zona Operacional de Tete)
- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)
- Casos e estórias passados na cidade e arredores
- Presença militar portuguesa em Vila Coutinho
- Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
Se alguém me puder ajudar, fico muito grato!
Através do blogue
 http://coisasdomr.blogspot.com/
Procure entrar em contacto com o Rui Souto que enquanto alferes foi comandante do G.E.801 que actou  na ZOT ,e que será dos homens que melhor conhece a problemática da guerra do ultramar em Tete.

cumprimentos.
 

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Fencer

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #28 em: Fevereiro 14, 2011, 11:20:18 am »
Bem, nunca pensei que o meu pedido de informações gerasse tanta discussão. Mas ainda bem, pois permite-me ver que o PT tem razão quando afirma que ainda é cedo para escrever (ou mesmo para tentar escrever!) a história da guerra colonial.
Relativamente à questão do abastecimento, todos têm razão. As munições eram, é verdade, razoavelmente abundantes e, ao longo da minha pesquisa, encontrei muito poucas queixas de falta delas. Mas houve casos, sem dúvida. Falei com amigos que estiveram na região de Tete e que assumem que houve alturas em que houve "racionamento de tiros" porque o reabastecimento só podia ser feito de heli e estes não voavam quando as condições de segurança da LZ não estivessem garantidas. Outros viram-se sem munições quando estavam a fazer escolta de colunas e sofriam uma emboscada. Tenho nomes, unidades e locais, mas comprometi-me a manter os dados em segredo porque quem lá lutou será sempre patriota e "descurte" que se achincalhe a pátria, ainda que com razão.
Já quanto a alimentos, as coisas foram bem piores e havia locais onde se não se caçasse não se comia - e até as cobras eram um banquete.
Finalmente, as polémicas:
- Talvez a Frelimo não ganhasse a guerra no terreno, mas ganhou-a, certamente, na opinião pública (local, nacional ou internacional).
- Portugal também não ganharia a guerra, pura e simplesmente porque o envolvimento no terreno era demasiado escasso para controlar um país da dimensão de Moçambique. Para mim, estávamos perante um "empate técnico", que podia ter sido muito melhor resolvido com uma solução diplomática adequada.
- Os militares que fizeram o 25 de Abril não eram nem maçaricos, nem cobardes que queriam fugir da guerra, nem tachistas que queriam subir na carreira sem esforço. Ou melhor, talvez uns fossem. Muitos outros provaram no terreno a sua competência e coragem, estando na frente e não refugiados em quartéis com ar condicionado e cerveja Laurentina gelada. Generalizar é sempre um risco.
- A descolonização foi mal feita, é verdade, e acabámos por sair da guerra de uma forma desonrosa, mas isso não se deveu aos militares. Quem tornou Portugal no que hoje temos foram os políticos profissionais, que nunca fizeram mais nada na vida - porque não sabem!

Seja como for, obrigado a todos pela ajuda e pela forma como me estão a ajudar a conhecer melhor aquilo que vivi de longe!
 

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FoxTroop

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Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #29 em: Fevereiro 14, 2011, 11:46:33 pm »
Citação de: "PILÃO251"
Fui claro quando afirmei que a visão dum qualquer interveniente, numa situação, de paroxismo anímico, é limitada pelo seu campo de actuação, se não mesmo, pelo seu campo de visão, e, á posteriori, o relato da situação peca por excesso em termos emocionais e por defeito em termos analíticos.

De acordo, os relatos dos participantes directos terão sempre uma alta carga emocional adjacente, mas não é possivel fazer um estudo sério e rigoroso sobre o que for, sem se conhecer e levar em conta o estado anímico e as prespectivas pessoais de quem está na linha da frente. São eles que combatem e são eles que num momento de dúvida ou fraqueza, de sagacidade ou valentia, decidem todo o resultado de um confronto, uma batalha e, por arrasto, o rumo de uma guerra. Colocar a coisa ao nível de peças de xadrez, sem vontades e medos, desprovidas de sentir e razão, é um erro de análise perigosíssimo.

Quanto à questão de Moçambique em si, o que é certo é que a FRELIMO efectuou um avanço brutal no terreno. Observando no mapa as ocorrencias, depois da Nó Gordio as acções da guerrilha alastraram como azeite na água e as FA's portuguesas passaram a correr atrás, perdendo qualquer iniciativa operacional. Se a FRELIMO deu um passo maior que a perna? Talvez, e também não acredito que conseguisse vencer militarmente (numa fase 3 á lá Giap). Mas que colocou um pressão enorme no TO é inegável.