Covid. Há outra razão para os inúmeros casos de contágio nos EUA: chama-se fax O problema principal, diz o “New York Times”, está no facto de vários departamentos de saúde pública ainda utilizarem uma máquina tão obsoleta quanto o fax para trocarem informação com hospitais, centros de saúde e todos os laboratórios que realizam testes de deteção do vírus
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, afirmou esta segunda-feira, em conferência de imprensa, que “há demasiados países a ir na direção errada” no que diz respeito ao combate à covid-19, e embora não tenha dados exemplos nem dito mais do que isso, foi óbvio para muitos que se referia, por exemplo, aos EUA. Num artigo publicado hoje, o “New York Times” denuncia várias falhas no sistema de saúde americano, nomeadamente falhas tecnológicas que não têm permitido perceber quem está infetado ou não com o vírus, fazendo com que este se propague.
O problema principal, diz o jornal, está no facto de vários departamentos de saúde pública ainda utilizarem uma máquina tão obsoleta quanto o fax para trocarem informação com hospitais, centros de saúde e todos os laboratórios que realizam testes de deteção do vírus. Assim acontece, por exemplo, no condado de Harris, em Houston, em que o fax que lá existe ficou “sobrecarregado” depois de um laboratório ter enviado inúmeros resultados de testes, tendo “milhares de folhas ficado espalhadas pelo chão”.
Há uma descrição no texto publicado pelo jornal norte-americano que dá para perceber o que está exatamente a acontecer. Os departamentos de saúde monitorizam o vírus como quem usa a técnica do ‘patchwork’, que consiste em coser pedaços de tecidos de cores ou padrões diferentes. Na prática, lê-se, o que acontece é que “há um sistema para reportar novos casos em que alguns testes chegam através de bases de dados digitais mas outros pelo telefone, e-mail e fax”, tecnologia esta que continua a ser utilizada porque obedece aos critérios de privacidade definidos para tudo o que é informação na área da saúde.
Estes relatórios, refere ainda o “New York Times”, muitas vezes “chegam em duplicado, são enviados para o departamento de saúde errado ou não contêm informação crucial, como o contacto do utente e a sua morada”. A juntar a isto há ainda a proliferação de pequenos laboratórios com “pouca experiência em saúde pública” e que só contribuem para aumentar ainda mais a confusão. Recentemente, aliás, 25 membros da Guarda Nacional dos EUA foram mobilizados para um desses departamentos para ajudar os especialistas em saúde pública a inserir à mão dados de que não havia registo eletrónico, conta ainda o jornal.
Por tudo isto torna-se difícil, ou mesmo impossível em alguns casos, rastrear contactos, medida básica de controlo da propagação de qualquer vírus. “Os dados transmitem-se de uma forma mais lenta do que a doença”, afirmou o diretor-executivo do referido condado em Houston, Umair Shah. Rastrear contactos de quem se suspeita estar infetado com o vírus mas também detetar casos e evitar outros, tendo em conta que se trata de um vírus em que pessoas sem sintomas podem contagiar outras. Na cidade de Austin, por exemplo, conhecer o resultado de um teste tem demorado cerca de 11 dias.
A partir de 2010, o governo federal terá investido milhões de dólares na substituição do fax por tecnologias mais avançadas, num programa conhecido como “HITECH Act”. O mesmo investimento não terá sido feito, contudo, nos departamentos de saúde pública, cujos fundos foram cortados ao longo da década passada, nem nos hospitais do país, diz o “New York Times”. “A melhor forma de se perceber o que se passa é esta: imagine que está numa superautoestrada da informação mas a viajar com um passe de autocarro”, afirmou outro responsável ao jornal.
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