Votação

Ramos Horta - Secretário Geral da ONU - Concorda?

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Votação encerrada: Fevereiro 10, 2006, 02:44:31 am

Ramos Horta - eventual candidatura a Secretário-Geral da ONU

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Leonidas

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Ramos Horta - eventual candidatura a Secretário-Geral da ONU
« em: Fevereiro 10, 2006, 02:44:31 am »
Saudações guerreiras.

Timor um país com dimensão internacional. Será que deverão ter o nosso apoio? Terá Timor Loro Sae o apoio de todos os países da CPLP?
Qual a importãncia para Timor, para a CPLP e para o resto do mundo?

 :!:

Citação de: "Diário Digital"
Ramos Horta admite candidatar-se a secretário-geral da ONU
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, Ramos Horta, admitiu uma eventual candidatura ao cargo de secretário-geral da ONU, ao afirmar, em entrevista a um diário de Macau, que em política «não se diz nunca».

«Aprendi que em política nunca se deve dizer nunca», afirmou Ramos Horta em declarações ao diário Ponto Final, garantindo no entanto que, «formalmente», não é concorrente ao lugar.
O nome de Ramos Horta foi recentemente sugerido como um bom candidato ao cargo de secretário-geral da ONU pelo ex-embaixador norte-americano Richard Holbrooke.

Na entrevistam, Ramos Horta lembra a amizade que tem por Holbrooke, que na Administração Clinton foi «decisivo para o desfecho positivo da questão» timorense.
«A minha posição formal é a de que não sou candidato« acrescentou o líder da diplomacia timorense.

José Ramos Horta pode ser uma das alternativas para o próximo mandato de secretário-geral da ONU, na medida em que é asiático, a zona geográfica que deverá indicar o substituto de Kofi Annan seguindo a lógica da rotatividade praticada pelas Nações Unidas.
 
Além de Ramos Horta, também o actual dirigente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Kemal Dervis, o vice-primeiro ministro da Tailândia, Surakiart Sathirathai, o ministro dos Negócios Estrangeiros sul coreano Ki Moon, e Jayantha Dhanapala, do Sri lanka, são nomes apontados como possíveis candidatos ao lugar.

Diário Digital
08-02-2006


Cumprimentos
 

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dremanu

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« Responder #1 em: Fevereiro 11, 2006, 06:10:23 pm »
Eu votei sim. Não sei se vai fazer muita diferença ter alguem que fale Português como Secretário-Geral da ONU, mas provavelmente também não é mau. A ONU é um antro de esquerdalhada que não serve p'ra nada. É um lugar bom para mandar os bons falantes e deixar-los todos a "dialogar" uns com os outros.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Luso

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« Responder #2 em: Fevereiro 11, 2006, 06:47:43 pm »
Uma organização que permitiu (permite?) à Líbia presidir ao cmité de efesa dos direitos humanos (ou coisa que o valha) não merce credibilidade. É mesmo um antro de tachistas, políticamente correctos e de bons selvagens canibais. A esquerdelhada que o Dremanu fala...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Leonidas

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« Responder #3 em: Fevereiro 12, 2006, 06:11:31 pm »
Saudações guerreiras.

Ó meus amigozzzzzzzzz

Epá, vocês entram logo a matar, canéco :!:      :D  

 :idea:  :jok:

Cumprimentos
 

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Pantera

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« Responder #4 em: Fevereiro 12, 2006, 06:53:55 pm »
Eu votei sim.

Embora não conheça muitas posições politicas dele,lembro-me de ele ter defendido a pena de morte para alguns terroristas,penso que depois do atentado de bali.Gostei de ouvir.

Além do mais penso que já foi nobel da paz,o que acaba por ser bom.

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Leonidas

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« Responder #5 em: Fevereiro 18, 2006, 05:53:58 pm »
Saudações guerreiras.

Não há como fugir á problemática, entretanto surgida.

Que implicações isto terá para o Ramos Horta e para aqueles que o apoiam? Será que para a pessoa em questão, tudo não passou de um desabafo a quente por causa do que aconteceu a Sérgio Vieira de Mello? Mesmo assim será aceitável? Como deverá ser interpretado tudo isto?
Será que por causa disto estamos perante um impasse?
Gostava de ouvir Ramos Horta acerca disto.

Citação de: "TSF"
Ramos Horta defende pena de morte para terroristas
José Ramos Horta, ministro dos Negócios Estrangeiros timorense e prémio Nobel da Paz em 1996, admite repensar a sua oposição à pena de morte perante actos de terrorismo como o atentado de Bagdad.

( 09:13 / 21 de Agosto 03 )

Ramos Horta expressou a sua indignação perante o atentado que levou a vida de Sérgio Vieira de Mello, que conheceu de perto em Timor. O ministro dos Negócios Estrangeiros diz claramente, num artigo de opinião publicado no «The Australian» que «a morte de Sérgio mudou a forma como encaro a vida e a questão da pena de morte».

Assumindo-se «irritado» com o atentado de Bagdad, Ramos Horta escreve «repenso a minha oposição antiga à pena de morte para terroristas».

Para o Nobel da Paz é inaceitável que sejam os consumidores a gastar dinheiro para manter preso um terrorista que «mata, fere, destrói e rouba a vida a tantos inocentes».

«Muitas vezes no passado assinei petições a pedir recuo na condenação de alguém à morte. Poderia, caso a caso, continuar a fazer isso no futuro», considerou.

«Os desafios do terrorismo colocam questões muito sérias e uma delas é se a Justiça pode continuar a manter a mesma postura ética face à pena de morte», afirmou Ramos Horta, à TSF.

«Obviamente não defendo o fim da proibição da pena de morte, mas em casos de julgamento, num Estado de direito, em que um indivíduo julgado culpado em actos de terrorismo que tenham resultado na morte de pessoas inocentes, não serei eu a assinar petições a pedir clemência para a não execução da pena de morte quando esta for decidida por um tribunal. Não faço referência à pena de morte em casos de crimes, como há nos Estados Unidos», continuou.

«Refiro-me a acções terroristas em, que a pessoa conscientemente, complanificação, às vezes durante emses, escolhe matar civis para atingir determinados objectivos religiosos ou políticos», disse.

José Ramos Horta recorda no artigo que no seu regresso a Timor-Leste - 24 anos depois de partir, a 01 de Dezembro de 1999 - Sérgio Vieira de Mello foi um dos seus companheiros de viagem.

Considerando que o brasileiro «aprendeu depressa» a difícil tarefa de recuperar e governar um país, o governante timorense saudou a sua paciência, a capacidade de ouvir e comunicar e a grande capacidade de «construir consensos».


Eu sou totalmente contra a pena de morte, e nunca apoiarei ninguém que a defenda. Eu votei SIM antes.
Portugal e Cabo Verde apoiam Ramos Horta.
 

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Bernardino

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« Responder #6 em: Fevereiro 28, 2006, 11:02:19 pm »
Sim!

Penso que possui um conjunto de caracteristicas que reune consenço mundial...o que não é nada fácil.

Simultanemanete é bom para a Lusófonia...

Temos a UE, UA e possívelmente a ONU...
 

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Rui Elias

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« Responder #7 em: Março 02, 2006, 11:59:11 am »
Mais importante que ter o apoio dos países da CPLP, é necessário para secretário-geral ter o apoio ou pelo menos a indiferênça dos membros permanentes do CS da ONU.

Lembro-me do bom secretário-geral que foi Kurt Waldheim, o austríaco, que nos anos 80 não foi reconduzido no cargo por veto dos EUA, pressionados por Israel, por se ter descoberto que na sua juventude tinha militado nas SS nazis.

Portanto, os EUA põem em dispõem na escolha, e os outros países também têm uma palavra a dizer.

O Ramos Horta conhece os meandros da ONU, é um diplomata do mundo, e terá perfil para o cargo, pelo menos tanto quanto o teve o Boutros Galli, o Perez de Cuellar ou o actual Koffi Anan.

Mas tudo depende dos "jogos de poder".

Os EUA nunca aceitariam um secretário-geral que estivesse contra a politica imperial que levam a cabo.

O Ramos Horta de há 3 anos a esta parte abandonou o seu passado de militante marxista, e começou (e bem) a alinhar com as teses ocidentais relativamente aos grandes assuntos da agenda internacional.

Poderá ter hipóteses.

Quanto a isso ser bom para Portugal ou para o mundo lusófono já é mais duvidoso.

Não é por se ter um nacional em cargos-chave, que o país sai beneficiado.

Guterres no Alto Comissariado dos Refugiados da ONU, ou Durão Barroso na Comissão Europeia não favorecem Portugal, nem têm que o fazer.

São cargos supra-nacionais.

Em qualquer caso acho que o Ramos Horta só se canditará se achar que terá reais possibilidades de ser o escolhido.
 

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Leonidas

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« Responder #8 em: Abril 08, 2006, 06:33:16 pm »
Saudações guerreiras.

ENTREVISTA A RAMOS HORTA (Alerto para a extensão do artigo)

Ainda não é candidato mas percebe-se que tem a liderança das Nações Unidas no horizonte. O ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, José Ramos-Horta, até já tem ideias para o cargo. A maior resistência é o facto de não gostar de viver em Nova Iorque, confessa na primeira entrevista de fundo desde que o seu nome começou a circular como possível sucessor de Kofi Annan.

Correio da Manhã – Gostava de ser secretário-geral das Nações Unidas?

Ramos-Horta – Certamente que sim. É uma missão altamente aliciante do ponto de vista político e intelectual. Vejo o papel de secretário-geral como o de um mediador, um conciliador, um pacificador. É alguém que procura trazer a paz ao mundo, a comunidades e nações.

– Já é candidato?

– Não. Ainda não sou candidato.

– Mas põe de parte essa hipótese?

– Não ponho de parte essa hipótese.

– Em que circunstâncias admite apresentar uma candidatura?

– Estou vinculado a um compromisso pessoal e oficial do governo de Timor-Leste de apoiarmos a candidatura do vice-primeiro-ministro da Tailândia, Surakiart Satiraitai. Aliás fui o primeiro ministro dos Negócios Estrangeiros do mundo a apoiar o candidato tailandês, há dois anos...

– Por achar que ele está mais bem preparado ou em melhor posição do que o senhor?

– além disso, é política do nosso governo apoiar candidaturas em primeira linha dos países da nossa região. Sempre que haja um candidato da ASEAN, a associação dos países do sudeste asiático, nós apoiamo-lo.

– O senhor não está nessas condições?

– Nós ainda não somos membros da organização mas temos excelentes relações com os membros. O dr. Surakiart é uma pessoa afável, com um grande ‘background’ académico e de um país amigo de Timor-Leste.

– Está em melhor posição do que o senhor?

– Obviamente, eu não me considero melhor do que qualquer candidato. Nem pior. Respeito todos os candidatos que se apresentaram. Um ou outro mal conheço: por exemplo, o candidato coreano, tivemos apenas uma troca de apertos de mão. Também conheço muito mal o candidato do Sri Lanka. Conheço muito melhor Surakiart com quem lido há anos.

– Apoiando o candidato tailandês quer dizer que põe de parte a hipótese de vir a ser candidato.

– Por enquanto.

– Em que circunstâncias essa situação poderia alterar-se ao ponto de se candidatar?

– O Conselho de Segurança considera não só os candidatos declarados mas também outros potenciais.

– Uma lista em que o senhor está?

– Uma lista em que supostamente estou. Porque o Conselho de Segurança, por tradição, já há muitos anos, às vezes nem considera os candidatos oficialmente declarados. Às vezes, vão procurar individualidades que nem sequer declararam uma candidatura.

– Quem é que lhe deu a notícia de que o senhor estava nessa tal ‘shortlist’?

– Isso são conversas informais nos corredores das Nações Unidas. As mais variadas pessoas dizem que eu sou uma das pessoas consideradas.

– Já sabia que estava nessa lista quando o embaixador Richard Holbrooke escreveu o artigo em que o apontava como uma boa escolha?

– Não sei se existe uma lista

– Foi o que disse o ministro dos Negócios Estrangeiros português...

– Não sei se existe formalmente uma lista enquanto tal mas é o que se fala nas Nações Unidas.

– A rotatividade geográfica – que umas vezes tem sido seguida, outras não – segundo a qual o próximo secretário-geral deveria ser asiático, deve ser respeitada?

– Sim. A Europa teve três secretários gerais (dois nórdicos e um austríaco), a América Latina teve um

– Há mais de trinta anos que não há um asiático no cargo...

– Sim. A África teve três mandatos e a Ásia teve um secretário-geral há mais de trinta anos. Sendo a região mais populosa do mundo. Metade da população do mundo é asiática.

– Já tem ideias sobre o que se pode fazer naquelas funções?

– Sem dúvida alguma. Qualquer candidato a secretário-geral qualquer pessoa minimamente interessada em política internacional e conhecendo o papel do secretário-geral, tem ideias formadas. Do meu ponto de vista, uma das prioridades é a resolução do contencioso nuclear com o Irão e a Coreia do Norte e a liderança na luta contra o terrorismo internacional.

– A ONU ainda tem um papel fundamental na cena internacional?

– Sem dúvida. Um papel indispensável. Reúne toda a comunidade internacional no seu seio: países pequenos, pobres, ricos e superpotências. Há problemas que os Estados Unidos ou a Rússia, falando de superpotências, só por si não poderão resolver. Têm de ter o concurso de outros países. E esse concurso é melhor ser feito nas Nações Unidas.

– Mesmo com a fractura criada na sequência da intervenção americana no Iraque?

– A fractura já foi ultrapassada. Hoje, a preocupação da comunidade internacional está mais virada para como consolidar a paz e o processo democrático no Iraque e no Afeganistão. Já não se ouvem os debates controversos de antes da guerra.

– Essa crise não deixou marcas?

– Algumas. Mas os países têm o sentido de Estado, de maturidade, para porem de lado as diferenças e ressentimentos do debate que precedeu a intervenção americana no Iraque e para, hoje, verem os desafios e perigos comuns: o terrorismo e a instabilidade no Iraque, que podem alastrar pelo resto da região.

– O senhor apoiou a guerra. Continua a considerar que a intervenção foi positiva?

– Bom, deixe-me lembrar de novo o artigo que escrevi no ‘New York Times’ em 2003: eu dizia taxativamente que os Estados Unidos deviam revelar maior paciência e dar tempo ao tempo. Dar tempo aos inspectores da ONU e dar ao secretário-geral a oportunidade de tentar persuadir Sadam Hussein a abandonar o poder.

– Mas quando a intervenção se consumou, o senhor apoiou-a...

– Apenas no sentido de que perante a intransigência de Sadam Hussein cooperar com as Nações Unidas e perante a natureza do regime e dada a realização da intervenção não me parecia prudente continuar a opor-me a essa intervenção.

– A escalada do conflito e a incerteza que está criada naquela região não lhe parecem um preço demasiado alto?

– Se verificarmos o horror do regime de Sadam Hussein, as centenas de milhares de mortos causados por ele, eu pergunto se a eliminação de Sadam Hussein não é um facto positivo.

– O pretexto eram as armas de destruição massiva que não chegaram a aparecer...

– Pode ser, mas esse pretexto americano nunca o vi como o grande problema. Eu vi a questão do Iraque, sobretudo, como uma questão moral de, em pleno século XXI, se continuar a ver com total naturalidade a existência de um regime que usou armas químicas e biológicas, que invadiu dois países e de a comunidade internacional, com toda a naturalidade, contemplar a legitimidade de um regime desta natureza.

– Não é sensível aos argumentos dos que dizem que o Iraque se tornou um enorme campo de recrutamento para o terrorismo?

– E onde estavam esses terroristas antes da intervenção no Iraque? Estavam no Afeganistão. Perderam o santuário do Afeganistão, quando houve a intervenção americana e de outros países, que levou ao derrube dos taliban. Os terroristas não se manifestaram de repente com a presença americana no Iraque.

– Agora, as preocupações da comunidade internacional estão viradas para o programa nuclear iraniano. Acredita que a diplomacia ainda pode ser suficiente para resolver esta nova crise?

– Acredito que sim. É uma questão delicada, de muita complexidade. Deve ser gerida com paciência e muita prudência na medida em que passos em falso podem acender um barril de pólvora na região.

– Podemos estar à beira de um novo cenário de guerra?

– Não acredito que estejamos à beira de um cenário de guerra. Acredito que, ao contrário da crise do Iraque, o Conselho de Segurança está mais unido na determinação de evitar a nuclearização militar do Irão. Nenhum país da região está interessado em ver um Irão armado nuclearmente. O Irão, em última análise, sentirá o peso da comunidade internacional, incluindo os seus vizinhos.

– A que se deve a radicalização do mundo islâmico?

– Tem muito a ver com a questão palestiniana. Mas também com gerações de jovens muçulmanos sujeitos a lavagem ao cérebro, à instigação e manipulação em escolas chamadas madrassas, que fomentam o ódio, a desinformação sobre o Ocidente e sobre Israel. Não descuremos esse aspecto. São gerações de crianças e jovens submetidas a uma constante lavagem ao cérebro com as maiores falsidades sobre a civilização ocidental e sobre Israel.

– É uma radicalização generalizada ou apenas de certas franjas que se sobrepõem a uma maioria silenciosa mais moderada?

– Há uma maioria moderada que é silenciosa, mas essa maioria está a falar, está a reagir, em muitos países do mundo, marginalizando e isolando os radicais. Dou o exemplo da Indonésia em que, nas últimas eleições legislativas, há cerca de dois anos, os partidos muçulmanos mais conservadores perderam. A Indonésia é o grande exemplo encorajador.

– Em contrapartida, o Hamas ganhou as eleições na Palestina e um radical é presidente do Irão...

– Era precisamente o que eu ia dizer: ao contrário das eleições na Palestina, a Indonésia, o maior país muçulmano do Mundo, com 240 milhões de habitantes, marginalizou os partidos mais conservadores.

– Como se posiciona Timor neste cenário de crise internacional?

– Nós devemos ser um modelo. As relações entre Timor-Leste, país com 98% de católicos, e a Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo, são excelentes. Apesar de um passado recente de conflito, que causou muitas vítimas e deixou cicatrizes, não há ódio nem ressentimento. Timor-Leste e a Indonésia devem ser uma inspiração.

– Timor já uma vez foi referido numa das comunicações de Bin Laden. Vê o seu país como um possível alvo de terrorismo?

– Nenhum país deve considerar-se isento, imune a ataques terroristas.

– A situação geográfica que Timor ocupa potencia esse risco?

– Sem dúvida. No nosso vizinho, aquela imensidão de país que é a Indonésia, existem grupos terroristas que têm realizado muitos atentados. Isso torna Timor-Leste mais vulnerável. No entanto, há uma cooperação estreita entre os serviços de segurança timorenses com indonésios, australianos e outros. Tomámos medidas de precaução que até agora têm tido efeito, não tendo havido qualquer ataque a Timor.

– O presidente Xanana disse uma vez que Timor devia poder deslocar-se no mapa para mais perto de Portugal...

– Isso é apenas uma linguagem poética. Sendo poeta o presidente

– Subscreve esse desejo poético?

– Não tenho que subscrever porque se diz “longe da vista, perto do coração”. Nem por estar a vinte mil milhas de distância Timor fica distante de Portugal na amizade, na solidariedade, no carinho dos portugueses. Nem no apego dos timorenses em relação a muita coisa portuguesa. Os timorenses alinham sempre, por exemplo, com equipas portuguesas quando elas jogam em eventos internacionais. Já estamos perto.

–Qual é hoje a maior ameaça para o futuro de Timor?

– É a pobreza. A subnutrição, a malária, o dengue, a tuberculose, que afectam milhares e milhares de timorenses. Essa é a ameaça diária, é a violência diária que os aflige. A violência da pobreza. Fora isso, o país é tranquilo. Apesar da pobreza, praticamente não temos mendicidade.

– Um relatório das Nações Unidas, conhecido esta semana, conclui que, quatro anos depois da independência, Timor continua a ser o país mais pobre do Sudeste asiático e, pior, que está a tornar--se cada vez mais pobre. O que está a falhar?

– Creio que há aí alguma leitura errada do relatório das Nações Unidas. Cada um de nós lê diferentemente. Nós não partilhamos dessa leitura. Cito factos: há cerca de quatro anos, Timor estava no 159.º lugar do índice de desenvolvimento das Nações Unidas. Hoje, está no 140.º lugar. Avançou quase vinte pontos, está acima de Moçambique, Angola etc. Falando da CPLP, está abaixo de Cabo Verde e São Tomé, tirando obviamente Portugal e Brasil. O índice de mortalidade infantil também reduziu...

– É de noventa por mil [em cada mil crianças que nascem, noventa não completam um ano]

– Não tenho a estatística comigo. Mas em três anos baixou bastante. Portanto, creio que há alguma leitura feita pela Agência Lusa, copiada depois por todos os jornais, que não corresponde à nossa própria leitura.

– Que papel pode ter Timor no contexto internacional?

– Um papel muito limitado, obviamente. Dada a nossa pequenez, a nossa dependência, a nossa pobreza. Timor-Leste tem uma influência e um papel muito limitados. Obviamente que temos uma diplomacia muito activa no fortalecimento das relações bilaterais com todos os países vizinhos e com o resto do mundo. Aí, estamos no bom caminho. Não temos inimigos, só temos amigos.

– O facto de se falar do seu nome para secretário-geral das Nações Unidas pode dever-se ao facto de Timor ser um sucesso emblemático da ONU ou deve-se apenas ao seu papel e ao seu conhecimento da cena internacional?

– A consideração de um candidato para secretário-geral é mais pela figura da pessoa em si e não por ser do país A, B, ou C. É a pessoa que é eleita e não o país. O país pode ser o país das mil maravilhas mas, em última instância, quem vai ser eleito secretário--geral é a pessoa. Não creio que ser de Timor-Leste seja decisivo. Embora a nacionalidade também conte no sentido de que, por exemplo, se eu sou um candidato com um perfil impecável mas o meu país tem um diferendo grande com um vizinho, será difícil reclamar a neutralidade.

– Ali Alatas, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros indonésio, nunca terá chegado ao cargo provavelmente por isso.

– Em parte por causa de Timor-Leste, sim. O actual candidato da Coreia do Sul talvez tenha dificuldades em convencer as partes interessadas no problema da nuclearização da Coreia do Norte de que pode vir a ser neutral.

– O facto de Timor ser o grande triunfo das Nações Unidas desde há muitos anos pode ser um trunfo para si?

– Só em parte. Não posso dizer que, porque Timor-Leste é um caso de sucesso, eu tenho de ser secretário-geral. Porque o sucesso em parte é das Nações Unidas, em parte é de toda a liderança timorense. Não posso, à sombra desse sucesso, dizer que tenho direito a ser secretário-geral das Nações Unidas.

– Além das manifestações de disponibilidade de Portugal e de Cabo Verde para o apoiar, já recebeu outros apoios?

– Os mais variados, de personalidades ou de governos. Mas neste momento, por cortesia e boa táctica, prefiro não citar as pessoas ou países que me apoiam.

– Qual é o principal problema da ONU, hoje?

– Eu compartilho da preocupação dos Estados Unidos e outros: a primeira prioridade de quem vier a ser secretário-geral deve ser a reforma da máquina interna, da burocracia, que é imensa e paralisante. O secretário-geral Kofi Annan já avançou com propostas radicais que eu espero possam ser implementadas, porque já não era sem tempo. É preciso reduzir a máquina burocrática, fazer rejuvenescer a burocracia, diminuir os gastos, tornar toda a máquina mais operacional. Sem isso muito dificilmente é possível lançar-se para outras reformas, nomeadamente a expansão do Conselho de Segurança. É necessária também a reforma da própria Assembleia Geral.

– Como avalia o desempenho do secretário-geral Kofi Annan?

– O balanço dos últimos dez anos é altamente positivo. Em relação a Timor-Leste só podemos estar profundamente gratos e reconhecidos pelo papel central que ele teve na resolução do conflito. Kofi Annan foi também a pessoa que mais decisivamente contribuiu para a mobilização da comunidade internacional para a luta contra a pobreza, para o perdão da dívida e para o aumento do apoio dos países ricos ao programa de desenvolvimento dos países pobres. Eu diria, sem hesitação: foi o melhor secretário-geral que a ONU teve nos últimos trinta anos. Pelo menos.

– Os escândalos que envolveram a Organização, nomeadamente no programa ‘Petróleo por Alimentos’ para o Iraque, não lhe afectaram a imagem?

– Afectaram. Desmoralizaram-no bastante como pessoa. Mas seria injusto apontar o dedo ao secretário-geral porque a gestão do programa não cabia apenas ao secretário-geral mas ao próprio Conselho de Segurança. Havia supervisão de muitos países em relação ao programa. Este escândalo prova uma vez mais que é necessário haver separação entre o papel político do secretário-geral e a gestão das Nações Unidas. Sempre defendi – e na própria proposta do secretário-geral ele fala disso – a criação de um subsecretário-geral, que teria a responsabilidade primeira e última pela gestão da administração e finanças das Nações Unidas.

– Um subsecretário-geral escolhido pelo secretário-geral?

– Escolhido pelo secretário-geral e sancionado pela Assembleia Geral, que seria responsável pela gestão interna das Nações Unidas. Porque é impossível reunir numa pessoa duas figuras: o diplomata que deve gerir as grandes questões que a comunidade internacional lhe apresenta e, ao mesmo tempo, ter de se preocupar com a burocracia.

– Se vier a ser escolhido como secretário-geral já tem na cabeça quem poderia desempenhar esse papel?

– Eu convidaria, provavelmente, um jornalista do Correio da Manhã para essa função. Julgo que a forma como os senhores têm gerido as vossas contas, a circulação do jornal, as páginas de publicidade e o marketing (risos)

– Isso quer dizer que não me responde?

– Quer dizer que não lhe respondo.

"OS PASTÉIS DE NATA MATAM-ME"

CM – Depois de 25 anos de cosmopolitismo como é que se adaptou à vida em Timor?

JRH – Com enorme facilidade. Adoro estar no meu país. Adoro viajar pelo interior, estar com o povo humilde.

– Não sente falta da trepidação da vida urbana?

– Rigorosamente nada! Uma das minhas hesitações em ir para secretário-geral é ter de voltar a viver em Nova Iorque, onde vivi durante quase 15 anos.

– Não gosta de Nova Iorque?

– Não gosto de Nova Iorque.

– Porquê?

– É demasiado sem alma. Demasiado violenta – não no aspecto de criminalidade, porque não é assim tanta – mas no relacionamento humano. Gosto do meu país, viajo muito pelo interior. Faço visitas de surpresa ao interior. Compro um búfalo aqui ou acolá e ofereço à população. Adoro estas pequenas coisas que posso fazer no meu país.

– De todas as cidades onde viveu qual é aquela a que gosta mais de regressar?

– Adoro Lisboa. Considero Lisboa uma das cidades mais belas do Mundo. Tenho aqui amigos, não só em Lisboa como em todo o País. Portugal é um país belíssimo com gente muito bondosa, simpática. A natureza em si é belíssima. As pessoas são maravilhosas. A comida é óptima: os pastéis de nata matam-me!

– Tem saudades dos pastéis de nata, lá em Timor?

– Já temos pastéis de nata em Timor, mas não têm a qualidade dos pastéis de Belém. Ontem [quinta-feira], por sugestão minha, fui com o presidente Xanana aos pastéis de Belém. As pessoas, simpatiquíssimas, não quiseram cobrar-nos. Eu, de uma assentada, comi quatro.

"HÁ QUE RESISTIR À VINGANÇA"

CM – As feridas do passado, em Timor, já estão curadas?

JRH – De maneira geral, sim. Este nosso povo é generoso quando acredita na liderança. E esta tem dito ‘não’ à vingança e à violência.

– Os fantasmas mais vivos, ainda, são os da presença indonésia ou os da guerra civil?

– Hoje ninguém fala da guerra civil. Já lá vão 30 anos e a violência que sucedeu depois foi enorme. As feridas que existem são as da ocupação de 24 anos, onde milhares e milhares de pessoas foram vitimadas. Mesmo assim temos ex-milícias que estão de volta ao país, temos ex-colaboradores, os pró-autonomia, que estão no país. Alguns até estão no Parlamento, figuras conhecidas. Alguns que trocaram os lados da camisa várias vezes e no entanto nada lhes acontece.

– É preciso esquecer o passado?

– Não. As pessoas têm consciência dos custos da violência. Resistem à tentação da vingança porque sabem o preço da violência.

– Qual foi a maior dificuldade que encontrou, com que não contava, desde a independência de Timor?

– A grande carência humana. Isto é: de quadros formados, experientes e competentes.

"XANANA PODE CONTINUAR"

CM - Quem vê como sucessor de Xanana na presidência da República?

– Ele mesmo.

– Acredita que ele aceitará voltar a ser candidato?

– Ele diz peremptoriamente que não se recandidata mas Xanana, sendo Xanana, um patriota, um ser humano extremamente dedicado ao povo, se verificar que tem de fazer mais cinco anos de presidência não hesitará. Por enquanto diz que não. E até tem razão porque prefere que haja renovação. Não quer perpetuar o mito da indispensabilidade de alguém.

– Ainda é indispensável?

– Ele é indispensável. É a única figura, hoje, entre a classe política timorense, estimada e respeitada por todos. À esquerda e à direita, entre pobres e menos pobres. É respeitado pela Igreja. Continua a ser o nosso Mandela.

– Se o senhor não chegar a secretário-geral das Nações Unidas admitiria a hipótese de se candidatar a presidente da República?

– Como timorense, se eu espero de Xanana Gusmão sacrifícios para um segundo mandato, em circunstância extrema de ele insistir em não se recandidatar obviamente eu me colocaria à disposição dele e do povo de Timor para qualquer cargo.

– Que incluiria a presidência da República?

– Que incluiria a presidência da República. Mas, neste momento, nem para secretário-geral nem para presidente da República, tomei uma decisão.

PERFIL

Filho de pai português e mãe timorense, José Ramos-Horta é uma das principais figuras de Timor--Leste e a mais conhecida internacionalmente pela campanha que durante anos orquestrou contra a ocupação da Indonésia e que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz, em 1996, em parceria com o bispo D. Ximenes Belo. Tal como o seu pai, que fora deportado para Timor pelo regime de Salazar, Ramos-Horta viveu muitos anos no exílio, encabeçando a luta pela independência no exterior.

Nascido em Díli, a 26 de Dezembro de 1949, Ramos-Horta deixou Timor-Leste apenas três dias antes da invasão indonésia, com o objectivo de apresentar às Nações Unidas o caso timorense, mas acabou por ficar exilado, permanecendo nos EUA até 1989, como representante da FRETILIN na ONU.

Estas funções permitiram-lhe manter relações privilegiadas com chefes de Estado e de governo. Estudou Relações Internacionais, Política e Direito na Holanda, na França e nos Estados Unidos, onde completou o mestrado em Estudos da Paz.

Não é casado e tem um filho, Loro, que afirma ser o seu melhor amigo. Fala tetun, português, francês, inglês, espanhol e está a aprender mandarim. Escreveu os livros ‘Funu: A Saga Inacabada de Timor-Leste’ (1987), ‘Timor - Amanhã em Díl’ (1994) e ‘Ost-Timor’ (1966).


Fonte:http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=194621&idselect=9&idCanal=9&p=94

Cumprimentos
 

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Nuno Bento

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« Responder #9 em: Abril 11, 2006, 03:54:19 am »
Em relação a ONU eu vivi á 2 anos num pais que foi gerido por eles e que ainda anda cheio de taxista(pessoal da ONU) e o que posso dizer é que é uma organização de taxistas (maioritariamente dos chamados paises do 3º mundo que só empregam conhecidos ou amigos de quem já la esta ou familiares de governantes corruptos .
So para terem uma ideia em Timor eles tem aquase tanto pessoal de apoio como operacionais vindo quase todo esse pessoal da America Latina, Africa ou India. Fartam-se de gastar dinheiro em carros e viagens tem privelegios parvos(incluindo duti frees dentro das suas instalações).
Ou seja é uma organização que funciona muito mal e que por exemplo em Timor fez montes de asneiras e criou problemas muitos serios ao governo de timor. Eu cheguei a ver advisers da ONU que sabiam menos que as pessoas que deviam ensinar.
Pelo que na minha openião é uma organização que ou devia ser reformulada ou então devia acabar .