Mas os portugueses de hoje são como os de ontem?
São diferentes, certamente. Não me identifico com eles. Estou a ficar cota a ritmo galopante.
Todas as gerações olham para a geração seguinte com desalento.
Sempre foi assim.
Mas na verdade, a ideia de que os portugueses de hoje são diferentes dos do passado, não corresponde à verdade.
Somos o mesmo povo, com as diferenças que o tempo impõe, mas com características que são parecidas, afirmo mesmo, trágicamente parecidas.
Os problemas que hoje detectamos, já os detectavam os cronistas do Portugal do século XIV e XV. Camões acabou o último verso dos Lusiadas, com a palavra INVEJA.
Já no século XIV o país não era conhecido no resto da europa que (correctamente) nos via como literalmente o fim do mundo.
Os portugueses que se meteram nas caravelas e nas Naus, eram os imigrantes dos anos 60 do século XX. Gente que não conseguia em Portugal aquilo que queria e que migrava para algum lugar.
E a verdade, é que hoje, infelizmente continuamos a não ser capazes de dar a todos os cidadãos garantias e condições. E hoje, como no século XV, a última palavra dos Lusíadas continua a ser um dos problemas.
Mas a verdade, é que mesmo já tendo passado por periodos muito, mas muito mais graves que o actual, continuamos cá.
Na verdade, acabámos, como acontece com todos os povos, por ser moldados pela geografia e pela história.
Colocados no fim da Europa, os portugueses são um povo que não tem para onde ir. Muitos povos foram empurrados e desalojados. A nós não é possível empurrar-nos para nenhum lugar. Estamos no fim da linha.
Por isso, tivemos ao longo dos séculos que resistir. Provavelmente mais por inevitavel necessidade que por determinação. Mas a determinação em defender o país (que se pode encontrar pelo menos desde o século XIII) também é resultado do facto de sabermos que não temos para onde ir.
No Arte da Guerra de Sun Tzu, há um parágrafo que diz que quando não houver esperança de fugir e o inimigo for superior, então será necessário lutar. E as tropas devem estar conscientes de que estão a lutar pela sua própria sobrevivência, uma vez que não há para onde fugir.
Logo, a coragem dos portugueses é também resultado e imposição da necessidade.
Afirmar que os portugueses são cobardes, quando a própria geografia os forçou a lutar com as costas para a parede não tem qualquer sentido ou lógica.
A frase entende-se como insulto impotente proferido por um general espanhol, perante o povo que provou ao longo da História, que a Espanha de Franco pode ser derrotada e vencida.
Notar que a afirmação de Franco, bate certo com as afirmações que o antigo ministro dos negócios estrangeiros de Salazar deixou escritas nas suas memórias, nomeadamente na sua biografia.
Cumprimentos