Tenho que tirar umas dúvidas com vocês.
Primeiro falam do pobre rapaz que teve a infeliz idéia de levar para a caserna o que ele pensava que seria apenas uma recordação de guerra. Pois é, até em Tancos (ETAT), passado todos aqueles anos, quando tivemos um sargento da EPE a dar-nos algumas luzes sobre NBQ se falou disso. A únida coisa que posso dizer é que realmente foi um perfeito amadorismo, próprio de quem nunca teve numa missão. No entanto não nos podemos esquecer que era a primeira missão de manutenção de paz que Portugal se via envolvido depois da Guerra do Ultramar. Não nos podemos esquecer que os únicos Batalhões de Infantaria preparados para ir para a Bósnia eram os 3 BIAT e pouco mais. Quando o primeiro contigente do Exército "normal" foi finalmente para a Bósnia, já tinham passado por lá os 3 BIAT, ou seja, ano e meio na Bósnia. Quando o pessoal dos BI foram para a Bósnia, tiveram que ir a São Jacinto aprender com o pessoal do 2º BIAT como se lutava em zonas urbanizadas, já que os Pára-quedistas Portugueses foi a primeira unidade na OTAN em que a luta em zonas urbanizadas era parte integrante da formação do militar.
Em relação aos Sapadores aí têm que me explicar bem essa situação. Então se o tal Comando era da Arma de Engenharia era de se esperar que soubesse o que estava a fazer, certo? No meu tempo havia uma unidade Pára-quedista na EPE, segundo li já acabaram com essa unidade. Mas em 1996, ainda não havia a Companhia de Engenharia? Se não havia, então que se usa-se os "nossos" Sapadores (os do Exército). Para quê formar à pressão militares nessa tarefa se já há outros com essa formação? Lembro-me de ler na Revista Boina Verde uma operação que a Companhia Pára-quedista que estava no Afeganistão recorreu aos EOD da Marinha norte-Americana para destruir material de guerra capturado e poder lidar com os IED. Se desde o inicio se inclui uma unidade da FAP porque é que também não foi uma unidade de sapadores?
Em relação à barracada que o Legionário falou, o que é que aconteceu? Sempre ouvi falar que os Páras Portugueses se tinham dado lindamente com os Legionários na Bósnia, até à fotos disso e tudo.
O que o senhor diz é verdade ; foi a primeira OE neste genero que Portugal fez...e os legionarios sapdores (6° REG) davam-se bem com as unidades portuguesas com quem contactou.
Quanto à "barracada" :
A 30 de abril de 1996 o 6° REG festejou em Rajlovac (base aerea perto de Sarajevo) a sua festa anual de Camerone. Para quem nao sabe, é nesta data que todos os anos os legionarios relembram um dos seus maiores "fait d'armes" : "algumas dezenas de legionarios, comandados por um capitao amanuense, resistiram até ao fim , recusando render-se, a milhares de guerrilheiros mexicanos. O comandante destes, reconhecendo a grande coragem dos legionarios, poupou a vida dos poucos sobreviventes que, apos terem esgotadas as muniçoes, se defendiam à baioneta. "
retomando :
Eu e outro sargento portugues pedimos ao nosso capitao para convidar alguns militares portugueses para a nossa festa e para as nossas mesas.
Nos tinhamos conhecido e tinhamos excelentes relaçoes com o Oficial que ja referi, assim como, com os dois sargentos e alguns praças sapadores que tinham participado na formaçao de desminagem. Através destes tinhamos visitado o campo militar Português e conhecido alguns Paras.
Destes, alguns eram sargentos velhinhos que tinham estado na guerra do Ultramar.
O capitao concordou, eles foram convidados e vieram !
Ao principio estava toda a gente bem disposta...o problema foi que a boa disposiçao, à medida que se ia despejando os copos, continuou a aumentar ... a tal ponto que um dos cabos me veio chamar porque a coisa estava a aquecer demais : as garrafas de champagne (do bom !) ja so serviam para, depois de devidamente agitadas, regar os presentes..., aqui e ali os paras desafiavam os legos para o "braço de ferro" ou para partir este ou aquele objecto a murro ou à cabeçada. Ja se via pessoal (paras) descamisado e que aos gritos desafiavam o nosso pessoal. Este, é relativamente facil de controlar : se um simples cabo, dirige a palavra a um legionario, este poe-se em sentido e so diz uma coisa : "à vos ordres caporal !" .
Para acalmar os nossos amigos Paras, eu nao podia contar nem com os cabos nem com os sargentos Paras, porque estes eram os piores. Depois da festa acabar, pura e simplesmente recusaram ir embora...
Depois de terem abandonado as mesas completamente embriagados e desfraldados, deambulavam pelas nossas instalaçoes aos gritos, um deles (sargento velhinho) caiu das escadas abaixo e abrio a cabeça. Apesar de ferido, nao se calava com os impropérios...a tal ponto que o meu capitao, nos intimou a mim e ao outro sargento tuga : - De Sousa e De Castro, vous avez 10 minutes pour les faire sortir, ou j'envoie la PM !"
Esta historia, cada vez que me lembro ainda me faz rir, mas na altura nao achei piada nenhuma.
Cumprimentos