Governo investe mil milhões de euros na ciência e inovação

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JNSA

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« Responder #15 em: Junho 27, 2004, 11:26:51 pm »
Citação de: "Tiger22"
Citação de: "JNSA"
Espero que quando o PS voltar ao poder, volte a dar a pasta da Ciência ao Dr. Mariano Gago.

Esperemos que tal tragedia não volte a acontecer nas próximas décadas.


O Tiger22 tem medo de voltar a ter um Ministro da Ciência e Tecnologia que saiba o que está a fazer?  :roll:
 

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« Responder #16 em: Junho 27, 2004, 11:38:00 pm »
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O Tiger22 tem medo de voltar a ter um Ministro da Ciência e Tecnologia que saiba o que está a fazer?


Não, o Tiger22 deve estar com medo de voltar a ter um ministro do Ensino Superior que saiba o que está a fazer.

Ministro da Ciência e Tecnologia é algo que neste governo PSD apenas existe no nome do ministério, tal como por exemplo o Ministro do Ambiente.

São animais mitológicos cuja extinção foi declarada há uns anos atrás, quando o Guterres fugiu da cadeira do poder...

 :roll:
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« Responder #17 em: Setembro 28, 2004, 06:49:26 pm »
Bem, não resisto a pôr estas notícias aqui, porque o título está decididamente hilariante :"Governo investe mil milhões de euros na ciência e inovação"...

Era de esperar que depois das notícias do nosso comportamento de caloteiro com o CERN alguém do Ministério do ensino superior (e da Ciência em part-time) se lembrasse de pagar as quotas para evitar posteriores humilhações ( e problemas bem mais sérios como se vê abaixo).

Mas qual quê... Eles estão mais interessados é em aumentar as propinas para reduzir a participação do Estado no ensino superior...

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Portugal Pode Perder a Face no Maior Laboratório de Física de Partículas
Por TERESA FIRMINO
Terça-feira, 28 de Setembro de 2004



Portugal não está a cumprir os acordos financeiros com o Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), na Suíça. Não paga as quotas anuais, como devia fazer por ser um dos 20 países-membros. Não paga às equipas portuguesas para construírem componentes de duas experiências do futuro acelerador de partículas da Europa - o Large Hadron Collider (LHC), o mais potente do mundo, que deverá funcionar em 2007. E não paga as verbas dos projectos de investigação ligados ao CERN, através de concursos abertos em Portugal pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Nos 18 anos de adesão, nunca se viveu uma situação assim, diz a física Paula Bordalo, nas vésperas do CERN cumprir 50 anos de vida.

Os incumprimentos podem ter várias consequências, alerta a professora do Instituto Superior Técnico (IST) e investigadora do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), em Lisboa. Para já, Portugal vai ter de pagar juros pelas quotas em atraso de 2003. Caso não sejam pagas também as quotas de 2004 até ao fim do ano, o país perderá o direito de voto no Conselho do CERN, o órgão de decisão máxima. É o que acontece quando se falha o pagamento por dois anos.

A humilhação nem será o pior. "O não pagamento das quotas traduz-se numa consequência mais grave: a impossibilidade das indústrias portuguesas participarem em concursos do CERN para projectos de construção e manutenção das suas infra-estruturas. Nestes concursos, Portugal tem obtido um grande retorno do investimento", diz a investigadora. "Tirando a parte humilhante, há a parte económica, que devia alertar o Governo."

A adesão de Portugal ao CERN, em 1986, permitiu às empresas concorrer em vários domínios. "Para a construção do futuro acelerador LHC, Portugal tem tido um retorno económico muito positivo. Várias empresas têm sido contratadas, nas áreas da engenharia mecânica e metalúrgica, novas técnicas de soldadura ou informática."

No acordo de adesão, Portugal teve condições vantajosas. Em vez de pagar a quota integral, em 1986 só pagou dez por cento e investiu o restante em Portugal; em 1987 só pagou 20 por cento e investiu 80 por cento e assim por diante, até 1995, em que já pagou a totalidade. Comprometeu-se a gastar o dinheiro das quotas em infra-estruturas, na formação de recursos humanos e no apoio à participação em projectos de investigação e desenvolvimento.

Assim, criou-se o Fundo CERN, para abrir todos os anos um concurso para projectos de investigação, explica Paula Bordalo, coordenadora do grupo português em duas experiências, a Compass e a NA50. Com essas verbas, as equipas pagam as despesas de participação nas experiências, como deslocações para recolher dados e fazer testes no CERN, ou para reuniões com todos os participantes. "As reuniões são fundamentais. Temos de ouvir o trabalho dos outros grupos e os outros têm de ouvir o nosso, senão somos postos de parte." Estas verbas contribuem ainda para um fundo comum de cada experiência, do qual se compra de material.

"Este ano não pingou um tostão"

"Todas estas verbas estão a faltar. sem dinheiro, não podemos assumir compromissos." Há dias, Paula Bordalo recebeu um E-mail do responsável geral da Compass a perguntar quando pagava a contribuição de 2004 para o fundo comum da experiência. "Para um estrangeiro, é inconcebível que, no último quadrimestre do ano, ainda estejamos à espera de receber as verbas dos orçamentos desse ano e cuja atribuição foi oficializada."

De facto, em Setembro ou Outubro, abre o concurso Fundo CERN relativo ao ano seguinte. Avaliados os projectos, por peritos internacionais, e divulgados os resultados pela FCT, as equipas costumam assinar os contratos em Janeiro e, aí, recebiam metade das verbas. Entre Junho e Outubro, recebiam mais 40 por cento e, após o fecho das contas, recebiam, entre Janeiro e Março do ano seguinte, os restantes dez por cento.

Os problemas começaram em 2002: nenhuma equipa recebeu os últimos dez por cento, denuncia Paula Bordalo. "A FCT não cumpriu o compromisso e não sabemos quando pagará o que falta." Para o concurso de 2003, só em Março ou Abril desse ano a FCT divulgou a avaliação: "E apresentou o contrato com a limitação de não poder ser retroactivo a Janeiro, contrariamente ao que o edital de Setembro anunciava", diz.

"A investigação não se pode fazer em 'part-time'. Não pode parar três a quatro meses, em que se deve continuar a colaborar com os colegas estrangeiros e continuar com os recursos humanos (estudantes de doutoramento ou pós-doutoramento). Tivemos de suportar um buraco orçamental de três ou quatro meses." Só uma parte das equipas recebeu a segunda prestação de 2003. "Tudo indica, por haver pagamentos em atraso, que não será tão depressa que receberemos a última prestação."

O concurso de 2004 não correu melhor. "O painel de avaliação só reuniu em Março!" Desde Junho, quando se divulgaram os resultados, com cortes de 30 por cento face a 2003, que as equipas esperam receber o contrato final. "Este ano não pingou um tostão. A situação está a tornar-se insustentável. É impossível dar continuidade aos projectos."

Jovens portugueses, a analisar dados das experiências para as teses de doutoramento, não puderam apresentar os resultados em conferências internacionais. "O trabalho que desenvolveram foi apresentado por outros. É uma pena", diz Paula Bordalo, perguntando para que serve gastar dinheiro no CERN se depois os cientistas não podem exercer as suas actividades normais.

O mesmo lamenta o físico João Seixas, do IST e coordenador do grupo português na experiência NA60. "A situação está a tornar-se crítica. Se o financiamento não chegar até ao fim do ano, haverá impossibilidade efectiva de continuar a trabalhar. O que é lamentável, ao fim de três anos de trabalho intensivo", alerta.

"Politicamente, a ministra da Ciência tem de dar uma solução. O ministério anda sempre a dizer que tem mais dinheiro para a ciência, para os bolseiros. Não vejo aonde", critica Paula Bordalo.


Ministério Diz Que Vai Pagar Dentro de Dias


As quotas em dívida ao CERN ascendem a 8.563.784 euros, informou o Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES). Desse valor, 7.283.620 euros são da quota de 2004 e os restantes 1.280.164 é o que falta pagar de 2003. Em Junho, o MCES dizia que decorria a tramitação no Ministério das Finanças (MF) para pagar as quotas em atraso e, ontem, garantiu que o MF já autorizou o pagamento, que só não foi feito já por questões processuais. "Estão a decorrer os procedimentos administrativos para que o montante seja saldado, o que se prevê tenha lugar nos próximos dias", diz um comunicado. Estão ainda em dívida as contribuições de 2003 e 2004 (800 mil euros) para o novo acelerador do CERN, e também serão pagas dentro de dias. Quanto aos projectos de investigação ligados ao CERN, o ministério diz que as verbas de 2004 vão ser aprovadas hoje pelo gestor do Programa Operacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e as que estão em atraso, de 2002 e 2003, vão ser todas pagas.




Participação no Novo Acelerador Está em Risco


A menina dos olhos do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN) vai ser o acelerador Large Hadron Collider (LHC). Não haverá máquina igual, o que torna o laboratório um local de trabalho único e apetecível para cientistas de todo o lado. Exemplo disso são os EUA: não são membros, mas têm um acordo de colaboração com o CERN e participam no LHC. Portugal também participa, e os moldes em que o faz foram assinados em 1996: para tal, pagaria uma certa quantia, seguindo um calendário até 2007. Mas esse calendário está esquecido.

Graças ao acordo de 1996, o mais potente acelerador de partículas do mundo vai ter mão portuguesa na concepção e construção de componentes de duas experiências nos seus enormes detectores - o CMS e Atlas, que vão analisar o resultado de colisões de partículas, para continuar a desvendar os segredos da matéria. E, ao mesmo tempo, recriar os instantes iniciais do Universo, fracções de segundo após o Big Bang, onde nasceu a matéria e a energia.

Agora, a participação portuguesa no LHC está em risco. Em 2003 começaram os problemas. Por exemplo, para o CMS, no qual colaboram 25 cientistas portugueses de várias instituições, coordenados por João Varela, do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, havia o compromisso de pagar 2,8 milhões de francos suíços (1,8 milhões de euros), no total. Da contribuição, 400 mil francos (264 mil euros), para o fundo comum da experiência, já foram saldados, em dinheiro. O restante - 2,4 milhões de francos suíços, ou 1,5 milhões de euros - seriam pagos em equipamentos desenvolvidos pelos investigadores e indústria portugueses.

De 1996 a 2002, as verbas foram transferidas sem percalços. Mas as de 2003 e 2004 (700 mil francos suíços ou 452 mil euros) ainda não chegaram às equipas, que iam começar a construir protótipos. "Corremos o risco de não ter financiamento para construir a instrumentação que nos responsabilizámos a construir", alertava o físico em Junho.

"As consequências podem ser muito desagradáveis", dizia. Mais do que comprometer o do LHC, a credibilidade portuguesa ficará de rastos. Basta ver que na construção do CMS participam 2500 cientistas de 160 instituições, de 37 países. Também no Atlas, cuja participação portuguesa é coordenada por Amélia Maio, do LIP e da Universidade de Lisboa, colaboram 1800 investigadores de 150 instituições e 34 países.

"É impensável que Portugal não respeite este compromisso. Seria um golpe demasiado rude na credibilidade da ciência portuguesa. Os 2500 cientistas que participam no CMS não se privariam de espalhar a notícia. Se não formos nós a solucionar o problema, a nossa credibilidade baixa a um ponto mínimo. Ninguém vai querer colaborar com uns tipos que não cumprem os compromissos."

Para Paula Bordalo, da equipa do CMS, o desaparecimento do grupo português do acelerador causará apenas um pequeno atraso no desenvolvimento das experiências. "Como somos um pequeno grupo, há-de aparecer um grupo de outro país que cobre logo o nosso espaço, e então adeus." T.F.


Público, 28 Set 2004
http://jornal.publico.pt/2004/09/28/Ciencias/index.html

Alguém tem algo a acrescentar ?
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« Responder #18 em: Setembro 29, 2004, 06:39:30 pm »
Para terem uma ideia do que está a ser posto em risco:



Público / 29 Set / Destaque

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Laboratório Europeu de Física de Partículas Celebra 50 Anos
Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004

Na planície entre o Lago Genebra e as Montanhas do Jura, junto à fronteira entre a Suíça e a França, nasceu o que é agora o maior laboratório de física de partículas do mundo, utilizado por cerca de 6500 cientistas e engenheiros. Entre estes, estão já várias gerações de investigadores portugueses, para quem a colaboração o primeiro grande laboratório internacional se tornou algo essencial e, para os mais novos, natural. Por Teresa Firmino

Faz hoje 50 anos que o maior laboratório de física de partículas do mundo, o CERN, foi oficialmente criado. Empobrecidos pelos seis anos da II Guerra Mundial, os países da Europa não podiam financiar sozinhos os dispendiosos instrumentos para a investigação e viam os físicos e outros cientistas emigrar para os EUA. Neste contexto do pós-guerra, o francês Louis de Broglie, galardoado com o Nobel da Física em 1929, propôs em 1949, na Conferência Europeia de Cultura de Lausanne, a criação de um laboratório europeu de física de partículas. A 29 de Setembro de 1954 nascia o CERN, na Suíça, na planície entre o Lago Genebra e as Montanhas do Jura.

Nem sempre se chamou Laboratório Europeu de Física de Partículas. Os resquícios do nome antigo estão na sigla que continua a estar-lhe associada - CERN. Em 1952, 11 países decidiram criar um órgão provisório - o Conselho Europeu para a Investigação Nuclear, ou CERN, na sigla francesa.

Numa reunião em Paris, de 29 de Junho a 1 de Julho de 1953, a convenção que estabelecia a organização foi assinada por 12 países e entrou em vigor a 29 de Setembro de 1954. Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França, Grécia, Itália, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Reino Unido e Jugoslávia foram os 12 fundadores.

Surgia, então, uma das primeiras organizações científicas internacionais, que viria a tornar-se um modelo para outras na Europa, como o Observatório Europeu de Astronomia, a Agência Espacial Europeia ou o Laboratório Europeu de Biologia Molecular (Portugal faz parte de todas, e inclui-se também nos actuais 20 países-membros do CERN). Mais tarde, como a expressão "nuclear" levantava receios e dava a entender outro tipo de actividades, o nome do laboratório foi alterado, mantendo a sigla, já muito conhecida.

O meio século de vida começa a ser assinalado hoje, por volta das 21h00, com um bolo de aniversário: quem nasceu em 1954 pode ir lá soprar as velas. Uma hora antes, vai ser iluminado o túnel circular onde funcionou o acelerador de partículas Large Electron-Positron Collider (LEP), de 1989 até 2000, data em que foi encerrado para ceder o lugar ao novo acelerador, o Large Hadron Collider (LHC). É nesse túnel, de 27 quilómetros de circunferência e a 100 metros de profundidade, na fronteira franco-suíça, que começou em 1999 a construção do LHC.

Deverá começar a funcionar em 2007, e aí os físicos esperam aprofundar como nunca os conhecimentos sobre a matéria e as forças fundamentais que a regem. Esta máquina única, que custa cerca de dois mil milhões de euros, irá acelerar dois feixes de partículas - protões - quase à velocidade da luz, em direcções opostas, fazendo-as colidir em quatro pontos. Aí estarão as quatro grandes experiências do LHC, compostas por vários detectores - Atlas, CMS, ALICE e LHCb -, embora haja uma quinta experiência, designada Totem, que fará medições nas outras.

Cada feixe de protões será acelerado a uma energia da ordem de 6,5 tera electrão-volts (TeV). Como os feixes vão um contra o outro, soma-se a energia total, que assim chegará aos 13 TeV. (Um tera é um milhão de milhão, e essa é a energia cinética de um mosquito em voo). Os 13 TeV representam quase dez vezes mais a energia do acelerador actualmente mais potente, o Tevatron, no Fermilab, em Batavia, EUA, explica um artigo na revista "Science".

O que torna o LHC extraordinário é que as partículas são muito pequenas e a sua energia está extremamente concentrada. Por isso, enquanto da colisão de dois mosquitos em pleno voo ninguém espera que resultem novas partículas, da colisão de protões com a energia cinética dos mosquitos os cientistas esperam ver criada matéria. É isso que os vários aceleradores de partículas do CERN têm feito: nas colisões são criadas novas partículas, uma vez que uma parte da energia da aceleração é transformada em matéria, corporizando literalmente a famosa igualdade de Albert Einstein E=m2. Depois, detectores procuram captar os resultados dessas colisões.

Com uma máquina inigualável como o LHC, os cerca de 6500 cientistas e engenheiros que utilizam as instalações do CERN, de 80 países - incluindo os EUA, já que estes abandonaram em 1993 o projecto de construir um enorme acelerador de partículas no Texas -, desejam obter respostas para grandes interrogações. De que é feita a matéria? De que é feito o Universo e por que é como é? Nesta senda ao infinitamente pequeno e infinitamente grande, inclui-se a procura de uma famosa partícula, o bosão de Higgs, que explicaria por que todas as outras têm massa. Por ora, é só uma miragem.

O grande dia das festividades será a 16 de Outubro, quando o CERN abrir as portas ao público. Esperam-se 20 mil visitantes. Os países-membros estão a organizar algumas iniciativas e Portugal não será a excepção. O Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, com sede em Lisboa, está a organizar palestras para Outubro e, em Novembro, uma festa da física das partículas.T.F.

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WWW, Uma Invenção Que Encolheu a Terra
Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004

Para que serve a física das partículas? Para saber coisas desligadas da realidade? Nada disso. É certo que os cientistas fazem ciência fundamental, procurando respostas sobre a estrutura da matéria e as forças que a regem. Mas esta monumental tarefa exige a construção de enormes e sofisticadas máquinas, daí que muitos desenvolvimentos de electrónica ou tecnologia da informação tenham saído dos laboratórios para a indústria ou para os hospitais.

Exemplo é a tomografia por emissão de positrões (PET), usada na medicina para obter imagens do interior do corpo. Os positrões, que são anti-electrões ou, dito de outra forma, partículas de antimatéria, têm sido criados no CERN. Não é fácil criar partículas de antimatéria, com cargas opostas às dos átomos vulgares, porque mal entram em contacto com a matéria vulgar aniquilam-se mutuamente. Tratamentos para o cancro também têm beneficiado dessa investigação.

Mas a mais mediática de todas as invenções nascidas no CERN seja a World Wide Web (WWW), a parte multimédia da Internet, que permite saltar de uma informação para outra só com um clique do rato. Ligou como nunca os habitantes da Terra.

O ambiente do CERN - onde é preciso processar muitos dados, e manter os milhares de cientistas que ali vão e depois regressam aos seus países em contacto para partilhar informação sobre as experiências em que estão envolvidos - não foi alheio a esta invenção, em 1990, da autoria do britânico Tim Berners-Lee, ordenado cavaleiro de Sua Majestade. T.F.

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Portugal Está a Tirar Benefício Industrial da Adesão à Organização
Por TERESA FIRMINO
Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004

Nos primeiros tempos após a adesão de Portugal ao Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), em 1986, os contratos de empresas portuguesas com a organização estavam longe das contribuições do Estado. A situação foi mudando e hoje, segundo dados do Ministério da Ciência, as empresas têm tirado benefício industrial.

Entre bens e serviços, as empresas portuguesas vendem cerca de 4,5 a 5,5 milhões de euros por ano, refere uma nota do ministério. Isto é considerado bom, tendo por base a forma como se calcula o benefício industrial (o rácio entre os bens e serviços adquiridos, anualmente, pelo CERN a empresas dos países-membros e o total das suas aquisições, excluindo a energia e telecomunicações). Daqui resulta uma classificação do Estado-membro, em equilibrado e não equilibrado: em média, considera-se equilibrado quando obtém um benefício de 0,85 em bens e 0,4 em serviços.

Ora, os 4,5 a 5,5 milhões de euros anuais obtidos por empresas portuguesas representam, em média, entre 2000 e 2003, um benefício de 0,6 em bens e 2,21 em serviços. Para ajudar nestas contas, refira-se que a quota anual de Portugal ao CERN é de 7,2 milhões de euros, a que se juntam outras contribuições anuais para o novo acelerador de partículas.

"Tendo em conta a participação nacional para o orçamento da organização, verifica-se que os resultados, inicialmente pouco estimulantes, têm vindo a melhorar desde 1986, devendo ser considerados excelentes, se tivermos em conta que as vendas do CERN são, na sua grande maioria, produtos de alta tecnologia que constituem na generalidade o chamado 'estado da arte'", refere uma nota do ministério. No ano passado, eram cerca de 25 as empresas com contratos com o CERN.

No mesmo documento sublinha-se que, no ambiente extremamente competitivo dos 20 países-membros do CERN, Portugal está no segundo lugar na venda de bens ("o que é notável num país cujos produtos têm um conteúdo tecnológico médio") e em segundo lugar na venda de serviços, a seguir à Suíça.

Ao benefício obtido em serviços, entre 2000 e 2003, não deve ser alheio um contrato conseguido, em 2001, pelo Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), em Oeiras. Com a duração de quatro anos, é até agora o maior contrato de uma instituição portuguesa com o CERN, no valor de 1,8 milhões de contos (360 mil euros). Foi o seu maior contrato internacional de sempre e o segundo maior que alguma vez obteve, sublinha José Oliveira Santos, administrador do ISQ.

Os engenheiros do ISQ têm a tarefa de zelar pela qualidade de equipamentos em construção do novo acelerador de partículas, o LHC. Por isso, 20 engenheiros do instituto acompanham em fábricas, espalhadas por vários países, a sua construção.

Mas esta ligação do instituto começou logo a seguir à adesão, ora em pequenos projectos de investigação, ora na prestação de serviços na área do controlo de qualidade e segurança. Ainda este ano ganhou outro contrato, de três anos, para fazer a inspecção periódica das instalações eléctricas e aparelhos de elevação, como elevadores e gruas. É por tudo isto que Oliveira Santos considera importante a colaboração mantida com o laboratório: "Permitiu-nos ter uma actividade na área das instituições científicas e adquirir conhecimentos numa área de ponta, para depois entrar noutras actividades, como o espaço e a astronomia."

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Para a Nova Geração, a Colaboração com o CERN É Natural como Respirar
Por ANA MACHADO
Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004

O primeiro português chegou ao Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN) há mais de 30 anos, em 1971. A primeira geração de físicos de partículas preparou o caminho para que o carácter excepcional inerente a colaborar com o distante CERN há 20 ou 30 anos se tornasse em algo perfeitamente natural para as gerações actuais. Hoje o CERN está à distância de um clique do rato e a colaboração internacional é algo que acontece quase tão naturalmente como respirar.

Para Carlos Marques, 28 anos, físico de partículas, e João Pina, 34, físico tecnológico, falar do CERN é falar do trabalho que nos últimos anos têm desenvolvido em termos de componentes para o Atlas, um dos detectores do grande acelerador de partículas LHC que o CERN está a construir e deve ser inaugurado em 2007. Fazem questão de explicar, ilustrando com fibras ópticas e perfis criados pela equipa do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), como o papel de Portugal é importante no controlo da qualidade da função desempenhada por estes materiais que serão parte integrante do detector Atlas.

"Foi uma tarefa que demorou três anos de trabalho contínuo", explica Carlos Marques.

A importância que para eles tem o CERN traduz-se assim, segundo gostam de frisar, no trabalho que desenvolvem. O resto, a colaboração internacional, o significado de colaborar com uma estrutura tão importante a nível internacional como o CERN, é algo natural para eles, que acham redundante enaltecer. Segundo o Ministério da ciência, em 2003 houve 66 investigadores portugueses que tiveram relações com o CERN "Há um fluxo muito dinâmico entre as equipas, mas o melhor é ver os detectores a funcionar, a crescer", confessa Carlos Marques, que aos seis anos quis ser astrónomo e aos 14 já tinha a certeza de que queria ser físico.

"Nós somos mais um dos participantes destas experiências enormes que envolvem tanta gente. Trabalhamos no limite da física, mas usar estas instituições é algo imanente à condição de ser físico", defende, por seu lado, Agostinho Gomes, físico de partículas, actualmente a trabalhar no CERN, onde chegou pela primeira vez há cerca de 12 anos. E Carlos Marques confessa mesmo que a sua primeira impressão do CERN, da primeira vez que visitou as instalações do grande complexo na Suíça, foi a de que estava perante uma zona de escritórios.

Por seu lado, José Mariano Gago, 56 anos, não esconde o fascínio que o CERN tem para si, mas acrescenta que é perfeitamente compreensível que para a nova geração de físicos colaborar com o CERN e com outras instituições e equipas internacionais é já um acto natural, que se traduz mais no fascínio pela qualidade do trabalho do que pela própria colaboração em si: "Para eles é tão natural como a água que se bebe, e ainda bem."

Mariano Gago foi o primeiro português a chegar ao CERN, em 1971, vindo de Paris: "Lembro-me que estávamos perto do Natal e a neve tinha vindo mais cedo. O CERN era muito mais pequeno do que hoje é", diz o físico de partículas, director do LIP e ex-ministro da Ciência, que se mudou para o CERN em 1976. "Tudo o que sei de ciência aprendi lá. E grande parte do que sei de política de ciência também. Há dificuldades na vida de um cientista que podem parecer insuperáveis e é preciso viver a vida de uma grande instituição internacional para saber como resolvê-las."

Amélia Maio, 60 anos, era física nuclear quando começou a dedicar-se à física de partículas e a colaborar com o CERN, há 20 anos: "O que me fascinava era a colaboração permanente com equipas internacionais, algo que não era muito comum na investigação em Portugal." O contacto com o CERN, diz, foi a razão em grande parte de uma mudança de mentalidades nas nossas universidades e em termos humanos, no que toca às pessoas que por lá passaram.

Em 1979, Mariano Gago traz o CERN para Portugal, com o curso livre de física de partículas, leccionado por si no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Entre os que despertaram então para a física das partículas estava Paula Bordalo, hoje regular colaboradora do CERN, que confessa que o curso mudou a sua visão da física: "Esta era mesmo a vida que eu queria fazer".

O ambiente no CERN era importante para o fluxo de conhecimentos entre os investigadores que ali chegavam: "A cafetaria era extremamente famosa, era um ponto de encontro", conta Paula Bordalo, lembrando como na esplanada relvada, entre as árvores, e com o Monte Branco visível ao longe, nos dias limpos, se trocavam impressões até altas horas enquanto se comia.

"São poucas as organizações com a qualidade e a dimensão da vida do CERN. É um mundo em si. O CERN tem uma capacidade de atracção de recursos humanos qualificados únicos no planeta. A fuga de cérebros é algo que ali não existe. E há uma aposta enorme em jovens talentos", conclui Mariano Gago.
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« Responder #19 em: Setembro 29, 2004, 07:19:16 pm »
"- Partículas?
Já temos pó e migalhas que cheguem!":wink:

Já agora, onde anda o Gehry?
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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« Responder #20 em: Outubro 11, 2004, 07:25:41 pm »
A saga continua...

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Ministra da Ciência Esconde Verdade Sobre uotas
Por TERESA FIRMINO
Segunda-feira, 11 de Outubro de 2004

de organização de astronomia

A ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, Maria da Graça Carvalho, tem vindo a esconder a verdade sobre o pagamento das quotas de Portugal ao Observatório Europeu do Sul (ESO), sustentando publicamente uma versão que não é a correcta. Em entrevista ao "Diário de Notícias", a 24 de Agosto último, Maria da Graça Carvalho garantiu que o pagamento das quotas ao ESO já tinha sido efectuado, facto que o PÚBLICO sabe não ser verdade.

Nessa entrevista, que o ministério colocou no próprio "site", os jornalistas do "Diário de Notícias" perguntaram-lhe: "Portugal perdeu o direito de voto no Observatório Europeu do Sul, por não pagar as quotas. Isto foi regularizado?" A ministra respondeu: "Neste momento, está tudo resolvido, tudo pago."

Em causa estava o pagamento da jóia de entrada de 2003 e 2004. De modo a não sobrecarregar muito Portugal, conseguiu-se que esta jóia fosse paga em cinco prestações anuais - no valor de 800 mil euros cada uma -, sempre em Janeiro e a começar em 2001. Além desta jóia, cada membro do ESO paga ainda uma quota anual calculada com base no produto interno bruto e que, no caso de Portugal, é de cerca de 1,5 milhões de euros. Portugal deve também as quotas anuais de 2003 e 2004.

As falhas no pagamento das quotas a várias organizações internacionais de ciência, de que Portugal é membro, foram discutidas numa reunião, a 21 de Setembro, entre a ministra da Ciência, o secretário de Estado da Ciência e Inovação, Pedro Sampaio Nunes, e o Conselho de Laboratório Associados (CLA), grupo de 15 instituições que apoiam o trabalho dos laboratórios do Estado. O investigador João Sentieiro, porta-voz do CLA e director do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, contou que as quotas a organizações internacionais foi uma das questões levantadas. "A senhora ministra informou que estavam autorizados os pagamentos e pagas", disse Sentieiro. "E o senhor secretário de Estado informou que esses procedimentos tinham umas demoras administrativas. Podia acontecer que ainda não tivesse havido o pagamento." Assim, os governantes reconheciam, em privado, o contrário do que a ministra disse publicamente.

Declarações desmentidas

durante reunião em Roma

Em meados de Setembro, o PÚBLICO recebeu informações de que as declarações de Maria da Graça Carvalho ao "Diário de Notícias" não correspondiam à verdade, mas optou por esperar mais algum tempo antes de investigar o caso, uma vez que o pagamento poderia estar a processar-se nessa altura. Em finais de Setembro, recebeu novamente informações de que as quotas não estavam pagas e que o ESO se preparava mesmo para expulsar Portugal em Dezembro. Perguntou então ao Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior (MCIES) o que se passava: quais os valores pagos e quando? "Não há dívidas quanto ao ESO. Ficou tudo liquidado ainda no anterior Governo", disse o MCIES, através da assessora de imprensa Fátima Alves, a 29 de Setembro. Na passada sexta-feira, 8 de Outubro, Fátima Alves confirmou esta versão: "Há verbas cativadas para isso desde o anterior Governo."

Apesar destas declarações, a verdade é que, a 29 e 30 de Setembro, os delegados no conselho do ESO, o órgão de decisão máximo da organização, reuniram-se em Roma e, entre os vários temas da agenda, constava o das contribuições dos países-membros. Como Portugal era até aí o único país em falta, falou-se do caso português.

Recorde-se que os representantes de Portugal - Teresa Lago e Fernando Bello - perderam, em Junho, o direito de voto no Conselho do ESO devido a atrasos no pagamento das quotas de 2003 e 2004, uma situação inédita nos 42 anos de vida da organização. Mas, apesar dessa sanção, até ao fim de Setembro, só uma pequena parte dessas contribuições estava paga - razão por que o atraso das contribuições portuguesas foi incluído na agenda da reunião de 29 e 30 de Setembro.

Entre a perda do direito de voto e o dia 29 de Setembro, o ESO pouco dinheiro recebeu de Portugal. De facto, tinha recebido 28.449 euros a 23 de Dezembro de 2003, estando por pagar 2,367 milhões de euros relativos às contribuições de 2003. Além deste valor, até ao início de Setembro estavam em dívida 1,635 milhões de euros da quota anual e 818 mil euros da jóia. Só durante Setembro, o MCIES pagou à volta de 800 mil euros. Até sexta-feira (8 de Outubro), o ESO não tinha recebido mais dinheiro de Portugal. Tudo somado, Portugal deve actualmente ao ESO cerca de quatro milhões de euros.

Uma mensagem reveladora

de Teresa Lago

A culminar esta polémica, a 8 de Outubro, Teresa Lago enviou uma mensagem electrónica aos 70 sócios da Sociedade Portuguesa de Astronomia, onde dá conta da reunião de Roma e afirma que "o assunto das contribuições em atraso foi abordado" e que, por isso, "o ambiente não era nada agradável". Nessa mesma mensagem, Teresa Lago falou da promessa do Governo de pagar as verbas e os juros de mora em falta até Novembro. Ou seja, uma verba que o actual Governo (que tomou posse em Julho) diz estar disponível desde o anterior Governo, e que a ministra garantiu estar paga em 24 de Agosto, foi prometida ao próprio ESO até Novembro.

Se até à próxima reunião do Conselho do ESO, em 7 e 8 de Dezembro, as contas não estiverem saldadas, o próximo passo previsto na Convenção da organização é a expulsão do país-membro, com a consequente proibição do acesso aos telescópios. Essa expulsão, a acontecer, não dá direito a reivindicar qualquer devolução do dinheiro pago em quotas anuais e na jóia.


público/11/outubro
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