Campa de Salazar visitada por portugueses e japoneses - 120 anos do nascimento
Os 120 anos do aniversário do nascimento de António Oliveira Salazar foram hoje aproveitados por pessoas de vários pontos do país e até do Japão para visitar a sua campa, no Vimieiro, Santa Comba Dão.
Um grupo de 13 alunos do Centro de Formação Profissional de Águeda, outro de idosos de Gondomar e um casal de japoneses foram alguns dos visitantes da campa, todos munidos de máquinas fotográficas para mais tarde recordar o momento.
Não fossem as placas com inscrições colocadas por simpatizantes na parede em frente e a campa do homem que governou o país durante 40 anos e alguns meses passaria despercebida.
Uma das inscrições esclarece o porquê da simplicidade: «O homem mais poderoso de Portugal do século XX, e modesto sem igual, nasceu humilde e humilde cresceu, viveu humilde e humilde morreu. Medíocre é o povo que com ele nada aprendeu».
João Caseiro, formador do Centro de Formação Profissional de Águeda, deslocou-se ao Vimieiro de autocarro com os seus alunos no âmbito do módulo «Portugal: do autoritarismo à democracia».
Em declarações à Agência Lusa, considerou esta visita pertinente, por ser preciso «deixar de pensar no Salazar como um fantasma, humanizá-lo, compreendê-lo como um ser humano e um homem do seu tempo».
«As mudanças sociais são muito rápidas, as mentalidades são mais lentas a acompanhar as mudanças sociais, mas é preciso que toda a gente compreenda que todo o lugar da História tem uma pessoa, há quem as critique, há quem as exalte» , afirmou.
João Caseiro considera que o seu papel enquanto formador é apenas o de transmitir a História e não compreende «porque é que as pessoas tanto temem Salazar».
«Salazar morreu no dia 27 de Julho de 1970, já está sepultado neste cemitério. Será que ele dentro da campa faz mal a alguém? Porque é que temem o homem? Porque é que temem o estadista? Porque é que temem o político?» , questionou.
Um dos seus formandos, Romeu Fernandes, disse ter ouvido falar de «coisas boas e coisas más de Salazar» e, apesar de prezar a liberdade, considera que «o que faz parte da História nunca deve ser apagado».
«Pode não ter dado a liberdade à população, mas por outro lado ajudou. Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial não enviou contingentes, conseguiu manter-se à parte, foi uma das coisas boas» , exemplificou.
O seu colega Carlos Teixeira tem opinião idêntica, apesar de admitir que o que sabe sobre o assunto apenas se deve ao que leu e estudou.
«Foi uma pessoa que lutou pelo país, pondo em causa se calhar algumas pessoas. Mas, por outro lado, tentou sempre lutar pelos pobres e humildes, só que há pessoas que não pensam assim» , referiu.
No seu entender, «há muitos fantasmas a pairarem na cabeça dos portugueses» sobre Salazar, mas não deve haver medo de falar sobre ele.
«Devemos encarar isso como mais uma época de um modo de governar diferente, porque nenhuma governação é igual à outra» , frisou.
De táxi chegou Atsushi Ichinose, um investigador da Universidade de Sophia, em Tóquio, Japão, e a companheira.
«Estou interessado na história contemporânea de Portugal e agora estou a preparar um livro sobre os últimos 20/30 anos de Portugal. Hoje é aniversário do Dr. Salazar, por isso escolhi esta data vir aqui» , justificou.
Professor de Português e de História de Portugal naquela universidade católica, o japonês - que já viveu há mais de 20 anos em Lisboa - defendeu que «é importante preservar a história, a memória de um homem»,que foi «muito importante para a História de Portugal».
António Matos, de Gondomar, que esteve acompanhado por duas mulheres, considerou que o problema de Salazar foi a sua longa governação.
«Teve bons aspectos e maus. Maiores os maus do que os bons, mas foi um homem necessário. Só que acho que um político se deve retirar no momento certo. Ele não se retirou» , lamentou, defendendo que «20 anos chegariam».
«Mas o tempo passou e agora é para a frente que se tem que caminhar» , acrescentou.
Lusa