Talvez tenham chegado à conclusão que pelo mesmo preço conseguem um veículo mais robusto que o ST5? Talvez as condições de aquisição sejam mais vantajosas? Talvez a versatilidade do JLTV seja mais indicada para porta-morteiros, ambulância, porta-mísseis (ATGW e SAM)? Talvez por se esperar que venha a ser uma viatura mais comum nas FFAA aliadas, aumentado a interoperacionalidade quando as nossas forças estiverem destacadas? Talvez esta tenha sido a escolha original do Exército, mas devido às indecisões do costume e ao facto de o governo ter escolhido a NSPA para gerir a aquisição, os planos saíram-lhes furados?
Eu não sei o que é pior, se é essas explicações poderem ser reais, se é alguém no Exército achar que isso são justificações minimamente aceitáveis.
Mas tá tudo grosso?!
O Exército não tem que ter uma escolha original nem a deve ter, os concursos não podem ser feitos à medida de um determinado fornecedor. O que é preciso é definir bem os requisitos necessários e o orçamento disponível e avaliar as candidaturas em função dos mesmos, em condições de
transparência. Então faz-se um concurso, ganha um veículo que satisfaz os requisitos e menos de 6 meses após a recepção da primeira unidade já se anda a fazer ajustes directos pela porta do cavalo? É por estas e por outras que o governo passou os concursos para a NSPA e dou-lhes toda a razão.
Sobre o preço e condições de aquisição mais vantajosas, como é que se chega até aí? Quem é que garante isso? Mais uma vez, isso só é aferível num concurso aberto e transparente em condições de igualdade, até porque o valor e número de unidades a adquirir agora é bastante maior do que no concurso que foi feito. Nunca saberemos que condições ou que outros fabricantes conseguiríamos atrair numa aquisição conjunta de maior volume. E à partida o preço da versão básica do JLTV é maior do que do Uro e os veículos americanos normalmente não são os mais baratos de operar e manter, essas supostas vantagens teriam que ser muito bem explicadas. Só para não se dar o caso de estarmos a falar de outras “vantagens”…
Versatilidade maior a ponto de justificar outro veículo?! Bom, realmente isto de integração de sistemas básicos num veículo ligeiro deve ser física nuclear. O Uro tem versões com todos esses equipamentos e não é muito diferente integrar num ou noutro, sobretudo não me parece que estejamos ao nível de nos dar ao luxo de tanto preciosismo e pintelhice. Aliás, os Uros adquiridos incluem justamente versões ambulância e posto de comando, que são as supostas novas versões a adquirir no JLTV, além de transporte de tropas.
E sobre a interoperabilidade com os aliados, isto é o fim da picada. Então até na porcaria de um veiculo táctico ligeiro temos que ser maria-vai-com-as-outras? As complicações que nós inventamos, realmente nunca na vida poderíamos ambicionar desenvolver qualquer tipo de equipamento próprio, o que nós queremos é o que os grandes têm ou nada…
Além de que os Uros também são usados por aliados, desde logo por um dos que tem mais interoperabilidade connosco, por isso acho que isso nem é bem um tema.
Sobre esta aquisição, é para mim inenarrável que o Exercito vá gastar 80 milhões de euros nisto, para ficar com quase 400 veículos tácticos ligeiros. É um numero completamente absurdo face às necessidades e carências do Exército e principalmente dos outros ramos das Forças Armadas.
E se de facto existia necessidade e prioridade em ter mais veículos deste tipo, o mínimo exigível era que se tivesse integrado isto no concurso que foi feito para os blindados ligeiros, aumentando o número de unidades a adquirir e o valor do contracto, o que obviamente permitiria aumentar a atractividade do concurso e o poder negocial do Estado nesta aquisição. Estamos a falar de um concurso de 2018, do qual recebemos as primeiras unidades há menos de 6 meses… Isto é uma palhaçada!
Se é para gastar dinheiro à grande e para comprar com fartura então tivéssemos feito as coisas como deve ser, integrando os dois programas e incluindo um requisito de fabrico nacional ou de integração na indústria portuguesa e procurando usar isto como uma base para futuros outros programas. Claro que aqui no fórum ninguém quer saber de nada disso, as pessoas estão convencidas que as aquisições militares são uma questão de vontade política, como se a vontade do povo fosse diferente, e estão constantemente a comparar-nos com países que têm PIBs per capita que são o dobro do nosso e que produzem e exportam muitos dos equipamentos que têm. Não é de certeza a desperdiçar as poucas oportunidades que temos lá chegaremos.