Pedido de Fotografias

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Luso

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« Responder #30 em: Agosto 28, 2004, 11:55:13 am »
"O Luso disse que tem pena que o pai não fale de Angola"

Angola não! Moçambique!
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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papatango

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« Responder #31 em: Agosto 28, 2004, 05:20:56 pm »

Pelas minhas contas, descreveu-nos este precurso.

É interessante, que muitas das pessoas que estiveram em África, principalmente em Angola e em Moçambique, referem sempre, porque é a experiência mais traumática, a primeira viagem em África.

Em muitos casos há gente que vem de Trás-os-Montes, das Beiras, e mesmo de pequenos lugares no Minho, na Extremadura ou no Alentejo, mas que práticamente nunca saiu de casa. De repente viram-se num avião, e muitos num barco, chegam a uma terra estranha, recebem uma G-3 novinha num saco de plástico e mandam-nos num machimbombo, ou numa berliet, por uma picada algures numa terra que fica literalmente no fim do mundo.

As distâncias em África, para quem está habituado a Portugal, são um choque. Muita gente não mede as distâncias em quilómetros, mas sim em horas de viagem.

Segundo o JLRC diz, foi para o Tete de autocarro/ónibus, portanto pelo menos havia algum tipo de rede de transportes minimamente organizada.

Em alguns lugares, nem havia autocarro. Em Angola, segundo me contaram, quem ía para o Huambo (Nova Lisboa)  e daí para Sul, não tinha avião, e eventualmente tinha ligação de Luanda para o Huambo de autocarro (se houvesse e se fosse seguro) depois eram mais uns dois ou três dias de caminho por uma estrada que ás vezes não existía.

Sobre o mapa de Moçambique está um mapa de Portugal, que nos permite ter uma idéia da distância, tendo no entanto em consideração que as estradas no interior de Moçambique estavam muito, mas muito longe de ser auto-estradas.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Luso

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« Responder #32 em: Agosto 28, 2004, 07:08:45 pm »
Caramba, este papatango é mesmo o maior!
Não podes mesmo ser Secretário de Estado, se sabes fazer estas coisas todas!  :wink:
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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JLRC

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« Responder #33 em: Agosto 28, 2004, 07:48:14 pm »
Citação de: "papatango"
Pelas minhas contas, descreveu-nos este precurso.

Exactamente Papatango, o percurso foi esse. Grande parte foi feito em estrada alcatroada, e parte era a estrada internavional que ligava a Rodésia ao Malawi. A parte dessa estrada que saía de Moatize para o Zobué e daí para Blantyre no Malawi era em terra batida e era portanto o local de eleição para as minas e emboscadas. A ligação Moatize Tete, era em estrada alcatroada, com o aeroporto de Tete pelo meio e nunca houve problemas nela. Era percorrida dia e noite por carros civis (ligeiros e de carga) e militares.
Citação de: "papatango"
É interessante, que muitas das pessoas que estiveram em África, principalmente em Angola e em Moçambique, referem sempre, porque é a experiência mais traumática, a primeira viagem em África.

A viagem de machibombo foi traumatizante porque íamos para uma zona de guerra como se fossemos para um pic-nic. É claro que agora, a esta distância temporal, reconheço que a possibilidade de um ataque era remota, mas lá, naquela altura, essa possibilidade não estava afastada. Chegámos mesmo a sermos escoltados em parte do caminho, o que aumentou a apreensão. Quanto aos machibombos, não era nenhuma carreira regular, foram alugados de propósito para nos levar. Já agora só mais um pormenor interessante. Nós não éramos muitos, o meu pelotão no total, contando com os especialistas (graduados, transmissões, maqueiro, cozinheiro, condutores e atiradores), pouco ultrapassava os 20 (julgo que éramos 24). Retirem 1 alferes 3 furriéis, 1 transmissões, 1 cozinheiro, 1 maqueiro, 1 cabo condutor e 4 condutores e vejam quantos atiradores restavam. Nos outros pelotões passava-se o mesmo. O resto dos atiradores eram soldados do complemento da província, recrutados muitos deles à força e longe também de Tete. Não me lembro se vieram connosco da Beira ou se reuniram-se a nós em Moatize, mas foram eles que complementaram os pelotões. Além deles havia também 5 cabo-verdianos. Vieram connosco de Lisboa. Eu tinha 3 e devo reconhecer que eram umas máquinas. Sempre que havia algum problema e precisava de reunir um grupo de soldados, eles eram os primeiros que escolhia porque tinha grande confiança neles e porque eram na realidade umas máquinas.

Citação de: "papatango"
As distâncias em África, para quem está habituado a Portugal, são um choque. Muita gente não mede as distâncias em quilómetros, mas sim em horas de viagem.

É verdade Papatango, a minha noção de distâncias mudou em África. O que cá se mede em km, lá mede-se em horas e normalmente em horas de avião. Para irmos a Cabora Bassa, alugava-se em Tete um taxi aéreo e ía-se de avião. Para se ir à Beira, apanhava-se o avião da DETA. Eu passei 10 dias em Lourenço Marques e aluguei um carocha (VW). Serviu para dar as voltas na cidade e fui nele até à Ponta do Ouro. Não sei quantos Km foram, sei que foi 1 dia, quase sempre por picadas em mau estado. Quando cá cheguei, parecia-me tudo pequenino, as terras todas em cima umas das outras. Para desespero da minha família, resolvia ir beber o café depois do jantar a Setubal (moro em Almada), que para eles era muito longe mas para mim estava ao virar da esquina. Essa noção de distância ainda hoje perdura.

Citação de: "papatango"
Sobre o mapa de Moçambique está um mapa de Portugal, que nos permite ter uma idéia da distância, tendo no entanto em consideração que as estradas no interior de Moçambique estavam muito, mas muito longe de ser auto-estradas.


Excelente comparação pois permite ter uma melhor noção da distância. As estradas por onde passámos, mesmo as estradas alcatroadas, estavam muitas delas em mau estado, algumas eram mesmo picadas. Picadas são estradas de terra batida. Verdade seja dita, algumas estradas cá, também são autenticas picadas :oops: !!

Cumptos
 

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JLRC

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« Responder #34 em: Novembro 13, 2004, 01:30:14 am »
Caros companheiros

Ao rever alguns posts antigos, revi a fotografia do pai do companheiro Luso em que ele e alguns dos seus camaradas seguravam uma minas anti-carro, salvo erro TM-46. Inspirado nela decidi contar-lhes a estória das minhas primeiras minas.
Primeiro quero contar-lhes uma coisa que se calhar desconheciam. As minas em Moçambique, pelo menos na minha zona operacional, a ZOT (Zona Operacional de Tete), eram pagas. As minas anti-pessoal valiam 500$00 escudos para quem as descobriam e 1.000$00 escudos para quem as destruíam e as anti-carro valiam 1.000$00 para quem as descobriam e 2.000$00 para quem as destruíam. O dinheiro era paga rapidamente e em escudos moçambicanos. Normalmente o dinheiro que me calhava era utilizado para pagar um jantar a todos os militares que íam na coluna. As refeições eram baratas. Por 20$00 almoçava-se bem.
Como a estrada (picada) que atravessava a zona de acção (quadrícula) da minha companhia, era uma estrada internacional que fazia a ligação da Rodésia do Sul (actual Zimbabwe) ao Malawi, era frequente a estrada estar minada e haverem emboscadas pois era intenção da guerrilha (Frelimo) cortar a estrada internacional. Na minha zona de acção foram mais as minas que as emboscadas.
Fotografias de algumas viaturas minadas :













Em nenhum destes acontecimentos houve mortos, mas houve alguns feridos graves.

A dotação da minha companhia em Berliets era de 3 mas quando chegámos, a companhia que íamos render tinha acabado de minar uma (1ª fotografia) e nós minámos outra pouco depois (2ª e 3ª fotografias), ficando só com uma Berliet velhinha, de um só rodado trazeiro.
Ao longo da picada, até ao cruzamento com a picada que vinha de Caldas Xavier, onde estava a CCS do Batalhão, havia 3 pontos de referência. O 1º era Chacala, onde havia umas ruínas e onde chegámos a ter um destacamento, um pelotão de canhões adido à minha companhia (última fotografia), o 2º era o km 57 onde havia as ruínas do que foi em tempos um entreposto de uma empresa de construção de estradas (ainda existiam as ruínas de algumas casas e destroços de viaturas rodeados por um muro) e o 3º era a casa da mosca, que era uma ruína de uma casa onde dantes se fazia o despiste e desinfestação da mosca Tsé-Tsé, que provocava a chamada doença do sono. Claro que com a guerra deixou de se fazer a procura da mosca.
Agora que estão bem situados vamos aos factos.
Foi uma coluna em Dezembro. Tinha chovido de noite mas quando a coluna partiu estava um lindo dia de sol e de calor, pois como devem saber, a época das chuvas coincidia com a época de calor. Era a minha segunda coluna se não estou em erro. Assim que saímos do alcatrão à saída da Vila de Moatize, coloquei 4 picadores à cabeça da coluna e assim fomos progredindo a passo de caracol. Passámos Chacala e quando íamos em direcção ao km 57, um dos picadores gritou para mim para ir ver a estrada. Saltei da Berliet e cuidadosamente aproximei-me do local onde estava o picador que me tinha chamado. Olhei para o que ele me indicava e no meio da estrada, sobressaindo da terra molhada, estava uma grande rodela de terra seca. Imediatamente vi que se tratava de uma mina anticarro. Gritei para ninguém se mexer e olhámos à volta. Rapidamente vimos à nossa volta outras 4 rodelas de terra seca, mas mais pequenas que a primeira. Eram 4 minas antipessoal. Mandei recuar as viaturas até uma distância segura e retirei os picadores. Resolvi então ficar com a minha primeira mina. Estávamos proíbidos de levantar as minas mas decidi levantar aquela. Como por vezes estavam armadilhadas, algumas até com bombas de avião, resolvi levantá-la à distância. Na berma da estrada estavam restos de fios de telefone e de electricidade arrancados dos postes e cortei um bocado com cerca de 50 m. Atei uma ponta à pega da mina (se olharem para a fotografia do pai do Luso vão ver que a mina tem uma pega) e à distância de 50 m puxei pela outra ponta. A mina saíu do buraco e então desenrosquei a rosca que se encontra ao centro e retirei a espoleta e o detonador. Guardei a mina na Berliet e fui rebentar as minas antipessoal com 100 g de trotil cada uma. Quando regressei à companhia foi uma festa pois foram as primeiras minas que detectei e por ter corrido tudo bem. Dei graças por ter sido bom aluno no curso de minas e armadilhas (fui 8º em cerca de 200) e por ter tido a calma suficiente para resolver o problema sem pânico. Como resultado, sempre que apareciam minas na picada, pelo menos nos primeiros meses, pediam-me sempre instruções pelo rádio, porque só éramos 2 especialistas em minas e armadilhas, eu e um furriel. No fim da comissão já todos eram peritos. Depois destas muitas mais descobrimos e algumas rebentaram sem serem descobertas, mas estas ficaram para sempre gravadas na minha memória.
Espero não ter abusado da vossa paciência.
Um abraço
 

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Janus

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« Responder #35 em: Novembro 18, 2004, 08:45:51 pm »
AR-10 em acção.  Nota-se também a mira telescópica na arma e a granada energa.

 

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Luso

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« Responder #36 em: Novembro 18, 2004, 09:29:47 pm »
Excelente imagem!
A melhor que já vi e uma das poucas que documenta a o uso de miras telescópicas em África (já vi G3).
Janus, em 2000 foi contactado atravez de um fóum da shooters.com por um cavalheiro que pretendia escrever uma monografia sobre a AR10. Forneci-lhe umas poucas fotos, mas mais nada. Creio que a História dos Paraquedistas Portugueses apresenta mais uns dados mas ainda não encontrei essa obra.
AR10. Essa eu nunca terei na minha colecção.
O Janus é que pode!  :wink:
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Janus

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« Responder #37 em: Novembro 24, 2004, 04:51:32 pm »
Luso,

Sim, eu também penso que será díficil encontrar uma AR10!  Se bem que aqui no mercado americano ainda “flutuam” algumas.

O único livro que conheço exclusivamente sobre a AR10 é de autoria de um Maj Sam Pikula.  Não tenho o livro aqui comigo neste momento, mas penso ser anterior a 2000.

Nunca vi uma fotografia de G3 com mira telescópica em uso pelas forças em África!  Onde posso visualizar essa fotografia que mencionou?  Presumo que a mira seja a Hensoldt?

Como sabe, a AR10 testada por Portugal também tinha um baioneta fabricada pela AI (Artillerie Inrichtingen) na Holanda.  Como indiquei previamente, essa baioneta é semelhante, principalmente no cabo, à tal baioneta desconhecida que ainda não consegui identificar.  Porém não há dúvida que esta última não foi feita para a AR10.
 

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lafonso

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Re: Pedido de Fotografias
« Responder #38 em: Abril 20, 2010, 10:48:02 pm »
ola  :(
Vi tudo e ainda hoje ouço a explosão e os disparos que se seguiram após a queda do helio, os rebentamentos e disparos n paravam. Foi brutal.
belisa
 

Re: Pedido de Fotografias
« Responder #39 em: Fevereiro 25, 2011, 08:24:58 pm »
Agradeço a quem tiver fotos de Tete dos anos 1970 a 1973, que queira enviar, para colocação em filme sobre a ZOT e militares em Tete, obrigado.