Em 1999 ainda havia linces na Serra da Malcata (um bom bocado acima do Tejo). E ainda deve haver (poucachinhos... que andam entre Espanha e Portugal). Os nossos ursos foram-se no séc. XIX, embora no séc. XX tivessemos umas visitas de Espanha (
http://bicharada.net/animais/animais.php?aid=163). Mas há por aí muitos ursos, mais pequenos e com menos pelo...
Voltando ao lince,
http://lynxpardinus.naturlink.pt/linces_na_serra.htmlhttp://dn.sapo.pt/2005/04/04/sociedade/ ... _2010.htmlLince-ibérico vai voltar à Malcata até 2010
Os enormes círculos que se sucedem, quase nus, nas vertentes suaves e cheias de mato da serra lembram aqueles que se vêem na televisão, sempre em searas estrangei- ras, e que os fanáticos dos ET atribuem a raides nocturnos de ovnis. Ao volante do todo-o-terreno da Reserva Natural da Serra da Malcata, o biólogo Pedro Sarmento, que dirige a reserva, sorri. "Toda a gente diz isso", conta ele.
Mas estes círculos, ligados entre si por estreitos carreiros, no coração da Malcata, nada têm de misterioso ou de extraterrestre. São pastagens para os coelhos-bravos, que foram estrategicamente abertas pelos técnicos da reserva nos últimos anos. Nesta altura, são também a única marca visível do que ali se prepara a instalação de um centro para a reintrodução experimental de linces-ibéricos, que poderá, na melhor das hipóteses, receber os primeiros hóspedes já a partir do próximo ano.
"Pode ser para o ano, em 2007 ou mesmo em 2008, não sabemos ainda, por isso não quero adiantar uma data", diz Pedro Sarmento, que é também o coordenador em Portugal do programa para a conservação do lince.
O centro de reintrodução experimental da Malcata é para já o único no género previsto para a Península Ibérica, no âmbito do projecto internacional de conservação desta espécie ameaçada de extinção, no qual estão envolvidos Portugal e Espanha e ainda a União Internacional da Conservação da Natureza (ver texto na outra página).
Iniciado recentemente, o projecto tem como pedra-de-toque a reprodução do lince em cativeiro para a sua reintrodução no habitat natural a partir de 2010. Até lá, há ainda uma série de passos a dar, mas as coisas "estão a andar bem", garante Pedro Sarmento.
As notícias não podiam, aliás, ser melhores, nestes últimos dias. Numa estreia mundial que ficará para a história da biologia, nasceram, faz hoje exactamente uma semana, os primeiros três linces em cativeiro, em Espanha. Foi no centro de El Acebuche, no Parque de Doñana, na Andaluzia, onde está instalado o primeiro centro de reprodução em cativeiro no âmbito do projecto ibérico para a conservação desta espécie.
Repovoamento. À medida que o jipe percorre aos solavancos os caminhos pedregosos e inclinados da Malcata, as marcas circulares das pastagens abertas para os coelhos sucedem-se na paisagem. Olhando com atenção, vê-se que desponta no interior desses círculos uma tímida sombra em tons de verde. É a erva a nascer, em resultado das chuvas das duas últimas semanas. Um bom sinal, que agrada ao director da reserva. Para que um dia aqui haja novamente uma população viável de lince ibérico, é necessário que não faltem os coelhos, já que estes animais são a base da alimentação daquela espécie felídea. E neste momento tudo indica que o programa em curso para o repovoamento da Malcata com coelho-bravo está no andamento certo para que isso venha a acontecer.
Em tempos, o coelho-bravo era vulgar por aqui. Mas nos últimos 30 anos, a mixomatose e a doença hemorrágica viral, duas patologias altamente contagiosas e mortais para esta espécie, atingiram as populações de coelho-bravo no País, dizimando-as em grande número e um pouco por todo lado.
A Serra da Malcata não foi excepção e uma das hipóteses que ajudam a explicar o desaparecimento do lince ibérico desta região (e também da zona espanhola contígua, que fica a escassos quilómetros e se avista facilmente das zonas altas da Malcata) é, justamente, o desaparecimento do próprio coelho nestas paragens.
"O lince-ibérico é um animal muito especializado em termos de alimentação, o que o torna muito vulnerável", explica Pedro Sarmento, sublinhando que a queda abrupta dos seus efectivos na península e o seu desaparecimento dos seus territórios tradicionais em Portugal, "poderão ter resultado da escassez de coelho-bravo, a par da degradação global do seu ecossistema tradicional".
Quando a Reserva Natural da Serra da Malcata iniciou, em 1997, o projecto de repovoamento da serra com coelho-bravo, não havia mais do que dois animais desta espécie por hectare na região. Desde então, foram ali introduzidos anualmente números crescentes de coelhos, capturados noutras zonas do País, onde ainda abundam, como no vale do Guadiana.
No ano passado, foram 300 os animais que viajaram do Baixo Alentejo para aqui. "Este ano vamos introduzir mais 600 coelhos oriundos da mesma zona", adianta Pedro Sarmento.
Metodologias. Para assegurar a sua sobrevivência e reprodução, a reserva abriu até agora um total de 150 hectares das pastagens circulares que marcam esta paisagem e construiu mais de centena e meia de refúgios que lhes servem de abrigo. São montes de terra, que surgem aqui e além, e têm pequenos buracos. São tocas e muitas delas estão a ser usadas, como revela a existência de excrementos ali por perto.
As contagens indicam, entretanto, que a população de coelho-bravo já está nos 4,5 animais por hectare, o que é um bom indicador, segundo Pedro Sarmento. "Os estudos feitos prevêem que este é o número mínimo para sustentar uma população viável de lince", explica o biólogo. Oito anos depois, os resultados das acções de repovoamento com coelho-bravo são, assim, positivos. Mas o programa ainda não terminou e vai continuar, no âmbito de dois projectos para a conservação de espécies e habitats na reserva da Malcata. São 2,5 milhões de euros, do Programa Operacional do Ambiente (POA), entre 2003 e 2006, que estão também destinados a reflorestamento com espécies autóctones, como o sobreiro e a azinheira, aquisição de terrenos e obras para a instalação do centro de reintrodução experimental do lince.
A zona onde vai nascer este centro já está definida. É um terreno extenso com 300 hectares no Vale do Ribeiro da Casinha, em pleno coração da serra. Tem água, rochas escarpadas que podem servir de abrigo e vegetação variada e é uma espécie de paraíso para linces. As obras, cuja data de início ainda é neste momento uma incógnita, passarão pela reconversão de três edifícios rústicos existentes na zona mais baixa do vale, na chamada Quinta do Major, para futura instalação de uma clínica veterinária e acomodações para os técnicos.
Depois há que instalar muitos quilómetros de vedação, para delimitar todo terreno, e inúmeras câmaras em volta, para seguir os passos dos linces, quando eles forem ali largados no futuro. "Este centro experimental vai servir-nos para testar e afinar as metodologias para a reintrodução dos animais na natureza a partir de 2010", explica Pedro Sarmento. E sublinha "Nessa altura já terá que estar tudo tecnicamente definido, sem qualquer margem para dúvidas".