Portugal «deve ser» país participante nas áreas militares

  • 29 Respostas
  • 11774 Visualizações
*

Fábio G.

  • Investigador
  • *****
  • 1393
  • +3/-0
DN

Citar
Portugal «deve ser» país participante nas áreas militares
JOSÉ MANUEL BARROSO
É do «interesse» de Portugal «participar na cooperação estruturada» a nível da segurança e da defesa europeias, usando a dupla experiência adquirida na «cooperação internacional» e no conhecimento que as Forças Armadas portuguesas têm da NATO e dos países lusófonos, defendeu o comissário europeu António Vitorino - ao intervir ontem no seminário sobre «Segurança e defesa europeias», realizado no Instituto de Altos Estudos Militares, em Lisboa, co-organizado com o Instituto Português para as Relações Internacionais.

«Algumas coisas vão ter de mudar na nossa relação com a Espanha», alertou Vitorino, quer a nível do investimento em investigação e desenvolvimento, quer na área da «indústria instalada», quer ainda na «delicada» questão da «acção combinada».

O que Portugal pode oferecer ou defender, para a sua participação na cooperação europeia nas áreas da segurança e da defesa, foi detalhado pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general Valença Pinto, na sua intervenção de abertura do seminário, e pelo director-geral de Política de Defesa Nacional, general Pinto Ramalho, num dos painéis da tarde. Valença Pinto chamou a atenção para os «pilares de sabedoria», acumulados por Portugal e outros países europeus, «em teatros de operações mais ou menos periféricos durante a Guerra Fria» e que, hoje, «são centrais» na luta contra o terrorismo.

Pinto Ramalho, por seu lado, afirmou que Portugal precisa de estar presente, enquanto país, na área da segurança e da defesa europeias. E que essa presença deve ter vários níveis: nas estruturas «de decisão e de organização» da UE; no desenvolvimento das capacidades «para participar em operações»; na força europeia de intervenção rápida; e nos «grupos de batalha», as unidades de intervenção vocacionadas para intervenções reduzidas (nomeadamente em África), utilizando a sua experiência de cooperação com países da CPLP.

DEBATE. A relação entre a Europa e os Estados Unidos «está no centro do debate» sobre a segurança e a defesa europeias, considerou António Vitorino, acrescentando ser necessário «fazer da relação transatlântica uma parceria indispensável».

Vitorino frisou ser «a dimensão de segurança e defesa o mais importante desafio da União Europeia», agora que foram «concretizados os do grande mercado interno, da moeda única e do alargamento».

Vitorino sublinhou que a componente da segurança e defesa europeia tem o «apoio estável» dos cidadãos europeus nos últimos três anos, segundo revelam as sondagens. E apontou «três questões centrais» para os europeus: «que é para a UE o uso da força militar?»; que «consistência» tem a «credibilidade e capacidade militar» europeia; e, ainda, como se conjugam a segurança interna e a segurança externa «perante a ameaça terrorista».

Voltando à relação transatlântica, Vitorino afirmou que a luta antiterrorista «não pode ficar refém» da questão do Iraque. E que esta teve, ao menos, «o mérito de colocar [os europeus] perante as dificuldades e incoerências» da política de segurança e defesa europeia.
 

*

Fábio G.

  • Investigador
  • *****
  • 1393
  • +3/-0
(sem assunto)
« Responder #1 em: Junho 07, 2004, 01:59:49 pm »
DN

Citar
Paulo Portas e Bagão Félix assinam protocolo
M. C. F.
nO Museu Militar do Exército, em Lisboa, vai ser amanhã palco da assinatura do protocolo que regula a colaboração entre os ministérios da Defesa e do Trabalho em matéria de profissionalização das Forças Armadas, foi ontem anunciado pelo gabinete de Paulo Portas.

O documento abrange as actividades a desenvolver conjuntamente pelo Exército e pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional, que até agora têm sido feitas com ca rácter informal. A última teve lugar na segunda quinzena de Abril e dirigiu-se aos jovens - entre os 18 e os 24 anos - inscritos nos Centros de Emprego de todo o País.

Daí resultou a adesão de cerca de 1600 candidatos a um regime de contrato no Exército, obrigando a uma incorporação extraordinária a 31 de Maio em que entraram 810 voluntários (415 mulheres e 395 homens), disse ao DN fonte oficial.

Os jovens inscritos nos Centros de Emprego não perdem o subsídio de desemprego após recusa de duas ofertas de emprego nas Forças Armadas, dada a especificidade da condição militar - que, por exemplo, permite invocar o Estatuto de Objecção de Consciência.
 

*

Rui Elias

  • Investigador
  • *****
  • 1696
  • +2/-2
(sem assunto)
« Responder #2 em: Junho 07, 2004, 03:42:18 pm »
Se se deve cooperar, não se percebe porque é que se abandonou o projecto do avião de transporte europeu.

O ministro da Defesa recentemente deu uma entrevista ao programa da SIC-Notícias em que defendia que não se deve ser dependente de um único país em termos de aquisições, apesar da justificação que deu para a vinda das velhas Perrys.

Se na minha opinião ele esteve bem no abandono dos helicópteros inicialmente escolhidos para o GALE, apesar de atrasar todo o processo, acho que esteve mal ao abandonar a participação no projecto da Airbus.

Com algum esforço, julgo que seria possível mantermo-nos nesse projecto, e adquirir na mesma C-130 novos para substituir os actuais.

Desse modo passaíamos a ter 6 C-130J novos e mais três europeus.

Os aviões europeus eram maiores, e como nós não podemos comprar o C-17 (o que seria óptimo) acho que assim a nossa capacidade de transporte aéreo ficará sempre côxo.
 

*

Ricardo Nunes

  • Investigador
  • *****
  • 1256
  • Recebeu: 4 vez(es)
  • Enviou: 5 vez(es)
  • +3/-0
    • http://www.falcoes.net/9gs
(sem assunto)
« Responder #3 em: Junho 07, 2004, 03:45:50 pm »
Citar
Com algum esforço, julgo que seria possível mantermo-nos nesse projecto, e adquirir na mesma C-130 novos para substituir os actuais.

Desse modo passaíamos a ter 6 C-130J novos e mais três europeus.


Ora aí é que está enganado. A opção ou era uma ou outro. Não existem verbas suficientes na LPM para as 2 compras.
Ricardo Nunes
www.forum9gs.net
 

*

Rui Elias

  • Investigador
  • *****
  • 1696
  • +2/-2
(sem assunto)
« Responder #4 em: Junho 07, 2004, 03:59:35 pm »
Ricardo Nunes:

Eu sei que segundo a LPM anteriormente aprovada, no tempo do Guterres, a ideia era comprar apenas 3 aparelhos desses (o A-400M) e abandonar os C-130, o que seria péssimo.

Repare que eu disse "com algum esforço".

Julgo que tudo isto passa por vontade política e capacidade do governo (qualquer um) saber comunicar ao país a necessidade em termos de Defesa e Segurança.

Se houver vontade, pode-se investir pelo menos o mesmo que os países europeus em termos de percentagem do PIB.

E se nos envolvermos mais em projectos conjuntos, como seria o caso, também tiraríamos ganhos disso.

Claro que 30 anos de Forças Armadas "ao abandono" não se recuperam numa legislatura, mas há que dar o pontapé de saída.

E na minha opinião, a actual LPM apenas aposta na modernização, o que já é positivo, mas não na quantidade, o que é um handycap para o País no futuro.

É a minha opinião
 

*

Fábio G.

  • Investigador
  • *****
  • 1393
  • +3/-0
(sem assunto)
« Responder #5 em: Junho 07, 2004, 04:09:43 pm »
Rui Elias repare que se estava previsto apenas 3 A-400M seria pelos custos de aquisição demasiado alto some a isso mais 6 C-130J, prefiro que esse dinheiro seja aplicado em programas mais prioritários como o GALE, as fragatas, submarinos ...



DD

Citar
STE acusa Governo de favorecer militares

O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) acusa o Governo de favorecer os militares no ingresso aos quadros da Função Pública, através de novas regras que estão a criar tensões entre os funcionários civis em regime de contrato.



De acordo com a edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, em causa está o sistema de incentivos à prestação de serviço militar em regime de contrato e voluntariado, no âmbito da profissionalização das Forças Armadas.
Datada de 21 de Maio, a nova lei confere ao militar em regime de contrato que tenha feito serviço efectivo pelo período de cinco anos a possibilidade de se candidatar aos concursos internos da administração pública.

Contudo, a parte polémica desta lei é o facto dela conferir ainda ao militar em questão o direito de preferência em caso de igualdade na classificação final de qualquer concurso para o ingresso na administração central, regional e local.
 

*

Rui Elias

  • Investigador
  • *****
  • 1696
  • +2/-2
(sem assunto)
« Responder #6 em: Junho 07, 2004, 04:19:11 pm »
Caro Fábio G

Já que Portugal, como membro integrante da NATO não tem capacidade para competir com outros em termos de armamento, podia ao menos tentar competir e partilhar missões da NATO ou da UEO em termos de capacidade logística.

Claro que as fragatas são prioritárias e as 2 Perrys usadas, quando as Vasco da Gama estão a meio de vida não augura nada de bom.

Por isso é que no passado advoguei o sacrifício dos submarinos a favor de maior investimento em termos de meios navais de superfície.

Embora, por princípio não se deva abandonar a arma submarina.

Mas exctamente por o dinheiro não ser elástico, neste momento, havia que investir rápidamente no GALE, em fragatas novas e em meios logísticos, a começar pela aceleração do programa do NPL.
 

*

C. E. Borges

  • Membro
  • *
  • 147
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #7 em: Junho 07, 2004, 06:11:45 pm »
Estranho... Eu acabo de ler uma entrevista do General Loureiro dos Santos à Revista «Pública» (do jornal «Público»). Nessa entrevista, e por indução da jornalista, é dito que o Navio Logístico Polivalente «foi considerado, não como uma primeira prioridade em si mesma, mas apenas como ganho marginal se comprássemos os submarinos» (sic). Como entretanto outro militar especialista de questões estratégicas e militares, escreveu hoje no DN que, em caso de projecção de forças, os submarinos são a melhor escolta de navios de superfície de grande valor estratégico, pensei que está bem o que está bem. Ou afinal o que é que não está bem ?
Melhores saudações.
 

*

papatango

  • Investigador
  • *****
  • 7444
  • Recebeu: 950 vez(es)
  • +4508/-862
(sem assunto)
« Responder #8 em: Junho 07, 2004, 07:01:17 pm »
Vamos lá ver:

O estaleiro que fornece os submarinos está obrigado contratualmente a dar a Portugal os planos e os projectos para a fabricação de um navio de apoio logistico.

É por isto que o NavPol é  marginal, ou seja há uma ligação de dependência entre o contraro dos submarinos e o contrato do navio de apoio logístico.

Outra coisa é a escolta de um navio de grande tamanho e capacidade.

Pode-se fazer uma escolta com submarinos, mas nesse caso tudo tem a ver com a aplicação estratégica dos mesmos.

Ou seja, se nós mandarmos um NavPol guardado por submarinos, qualquer navio inimigo pode ter medo de se aproximar, por causa dos submarinos (mesmo que eles até nem estejam lá), mas na realidade o submarino não consegue proteger nada, depois de o NavPol ter sido detectado nos radares inimigos e de algum missil ter sido disparado contra ele.

Se isso acontecer, necessitamos de fragatas e armas que permitam não só destruir o missil que ameaça os navios, como para efectuar a devida resposta, ou seja devolver o favorzinho ... :twisted:

A verdade é que uma fragata ASW (Meko) uma fragata Anti-aérea (LCF holandesa) um NavPol e dois NPO's, armados como corvetas, constituem uma força capaz, em grande parte do mundo.

Por outro lado, na outra ponta da missão, onde o NavPol se aproixima de terra, os submarinos são completamente inuteis e a protecção das fragatas é absolutamente essencial, não só para misseis eventualmente baseados em terra, como para apoio de fogo ás tropas desembarcadas.

Os submarinos têm muito mais uma missão de interdição das nossas aguas. São um dissuasor, para qualquer força que eventualmente nos queira impedir de navegar no chamado triangulo estratégico.

Fora isso, eu também prefería um LHD em vez do LPD. Mas sacrificar a arma submarina, sería sacrificar a unica forma que temos de pôr em sentido outras forças. Os submarinos U-209PN, uma vez em actividade são armas que nenhuma marinha enfrentará de ânimo leve. Têm demasiados torpedos, demasiados misseis e são demasiado silenciosos para não serem temidos.

E no fim é apenas para isso que eles servem.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

*

C. E. Borges

  • Membro
  • *
  • 147
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #9 em: Junho 07, 2004, 07:58:51 pm »
Sim senhor, fiquei elucidado e continuo a achar que a missão submarina é, de facto, relevante para um país com as características de Portugal.
Mas "os planos e os projectos" de um NavPol, já me fazem um certo pesar. Tal seja o de termos uma faculdade de engenharia naval há uns bons doze ou quinze anos. Conheço, por exemplo, uma engenheira naval, aluna brilhantissíma, que está a trabalhar na...Noruega. Se calhar não havia «massa crítica» para levar ávante os estudos e projectos em Portugal. Enfim, isto é tudo muito complicado.
 

*

papatango

  • Investigador
  • *****
  • 7444
  • Recebeu: 950 vez(es)
  • +4508/-862
(sem assunto)
« Responder #10 em: Junho 07, 2004, 08:32:22 pm »
Estou de acordo, que haverá em Portugal técnicos para fazer projectos de navios. No entanto a construção de navios militares não é a mesma coisa que a consttrução de navios civis, e ainda mais de um com as características de um LPD.

A teoria é muito boa, mas a prática não é menos importante.

Além do mais o problema não é haver ou não pessoas qualificadas, o problema é não haver de facto trabalho para essas pessoas, porque não há pura e simplesmente projectos suficientes.

Para garantir trabalho para estas pessoas, por exemplo, teremos que pôr varias pessoas a trabalhar mais detalhadamente no projecto do LPD, e temos que lhes dar a possibildade de “inventar” para que eles possam posteriormente fazer como os Holandeses, ou seja, modernizar adaptar e fazer a partir de um navio, outro mais adaptado, melhor.

Mas para isso teríamos que ter planos a longo prazo, por exemplo para a construção de um segundo LPD, baseado no LPD-2 Holandês (eventualmente).

Mas num país onde há pouco tempo ainda não havia auto-estradas a ligar o norte ao sul, e onde há uma taxa de absentismo escolar de 40%, seguramente que temos prioridades mais “prioritárias”... :D

De qualquer forma, o NPO, tanto quanto sei (fora alguns estudos) é um projecto português. Ainda ontem ouvi o antigo ministro Hernani Lopes, a devender o “cluster” naval, o que aliás faz todo o sentido.

Mais tarde ou mais cedo, vamos entender que no futuro, como no passado, a nossa situação periférica relativamente á Europa, acabará por nos tornar numa total irrelevância, se embarcarmos nesse barco suicida, pilotado pelos nossos politicos incompetentes, que por se saberem incompetentes, preferem vender Portugal á Europa, e assim, continuar imbecilmente no poder.

Em Inglaterra há um partido que é a favor de retirar o Reino Unido da Europa e já vai nos 15% das intenções de voto.

Mas claro, também não podemos culpar a Europa por todos os nossos problemas de afirmação e pela destruição da pouca industria que há num país onde nem sequer houve revolução industrial.

cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

*

C. E. Borges

  • Membro
  • *
  • 147
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #11 em: Junho 07, 2004, 11:29:54 pm »
Estou como a ouvir o Professor Carvalho (não me recordo do nome completo) - o chamado "pai do satélite português" - dizer que uma das mais valias da participação portuguesa no fabrico desse satélite, era a formação, a permanência e a continuação de um núcleo duro de engenheiros nacionais nas áreas aeroespaciais. Óra com tantos «aliados» que nós temos, parece que não temos como fazer o mesmo em relação à indústria naval e a outras. Eu também ouvi a entrevista do Prof. Ernâni Lopes. Infelizmente, quando há gente interessante a ser entrevistada, o tempo nunca chega, interrompem-no quando menos é pertinente e pede-se desculpa por terminar a entrevista abruptamente. São uns camelos.
 

*

Fábio G.

  • Investigador
  • *****
  • 1393
  • +3/-0
(sem assunto)
« Responder #12 em: Junho 08, 2004, 12:05:27 am »
Entrevista ao General Loureiro dos Santos

Citar
Os Submarinos Não São Uma Prioridade Nacional Loureiro dos Santos

Domingo, 06 de Junho de 2004 Público

Teresa de Sousa Fotografia Carlos Lopes
PÚBLICA - Foi uma boa opção para Portugal um investimento de quase mil milhões de euros em dois submarinos?
Loureiro dos Santos - O sistema de defesa de qualquer país marítimo - e Portugal tem uma posição muito influenciada pelo mar - seria sempre muito beneficiado se tiver um sistema de armas dessa natureza. Em tese, existe uma justificação razoável para que os responsáveis pela defesa, nomeadamente os responsáveis pelo sistema naval da segurança, pretendam os submarinos. Estou a falar de uma opção de natureza doutrinária.
P - Como compatibiliza o que está a dizer com o facto de, desde 1995, Portugal ter sido sempre solicitado a participar, no quadro das alianças de que faz parte, noutro tipo completamente diferente de missões, que exigem outros meios. Da Bósnia ao Kosovo, passando por Timor, pelo Iraque e até pelo Afeganistão?
R - Essa é a grande questão. O actual ambiente estratégico internacional e nacional não dá prioridade à necessidade de submarinos, mas, pelo contrário, a outras necessidades. Se houver meios financeiros suficientes para atender em tempo adequado - agora e nos próximos cinco anos - às necessidades que se colocam em primeira prioridade e, além disso, houver meios financeiros também para os submarinos e outros sistemas de armas que, do meu ponto de vista, são de segunda prioridade, então dever-se-ia comprar.
P - Se não há recursos para tudo, como é que justifica então que, face a prioridades que exigem sobretudo forças terrestres, se gaste tanto dinheiro nos submarinos?
R - Há dois níveis de definição de prioridades. O nível global, da escolha entre sectores nacionais diferentes. E aí, há muita gente, como, por exemplo, o antigo ministro Miguel Cadilhe, que considera que determinado tipo de empreendimentos, como os estádios para o Euro2004 ou os submarinos, estão fora das nossas possibilidades.
Na área da defesa, essas definições pertencem ao ministro da tutela. O que se passou é que o ministro, em vez de ter procurado agir em função de um pensamento estratégico estruturado, fez uma espécie de "bargaining", um negócio, com os três ramos, que foram apresentando as suas necessidades de acordo com os interesses específicos de cada um.
P - Está a dizer com issoque a decisão dependeu da capacidade negocial de cada ramo?
R - Sou obrigado a chegar a essa conclusão. Ou houve ramos que tiveram maior capacidade de negociação ou, da parte do ministro, uma maior simpatia relativamente às opções desses ramos. O problema não é apenas os submarinos, que dão mais nas vistas. Houve também, do meu ponto de vista, opções que foram tomadas ao nível da Força Aérea que são discutíveis. É o caso da segunda esquadra de F-16, quando nós não temos guarnições suficientes para a primeira esquadra e precisamos, além disso, de fazer o "up-grading" dessa primeira esquadra. Neste momento e ao fim de não sei quanto tempo, só temos um avião com "up-grading", dos quarenta totais. Há aqui coisas que não se entendem muito bem.
Por ouro lado, há outro programa da Lei de Programação Militar, (LPM) - os aviões "P3 - Orion", de detecção submarina -cuja prioridade é superior à prioridade dos submarinos. Detectam eventuais submarinos que andem nas nossas águas. Mas estou a falar de um cenário que não é nada provável.
P - É difícil imaginar, no actual quadro estratégico, submarinos a ameaçar a nossa costa....
R - Essa é, precisamente, a razão que se coloca para a não necessidade prioritária dos submarinos. Neste momento e num prazo previsível não é provável que haja ameaças na nossa área estratégica próxima que justifiquem a resposta de submarinos.
P - Há vários argumentos que a Marinha e o Governo apresentam para esta opção. Um deles é justamente um ataque ou uma ameaça de submarinos a Portugal. Como acabou de dizer, não é previsível. Ou então, seria num contexto que envolveria necessariamente a NATO...
R - Exactamente. Não é previsível, de modo algum. E, mesmo que fosse, a NATO tem, neste momento, material a mais para responder a esse tipo de ameaças. Mas essa hipótese nem sequer se coloca.
P - Outro argumento é que os submarinos são instrumentos preciosos para a recolha de informação em áreas de crise. Não será um método um pouco caro?
R - O submarino pode, de facto, recolher informações numa situação de conflito aberto junto do território inimigo. Mas essa situação não se prevê. A questão que se coloca é que nunca se compram submarinos com esse objectivo. Compram-se submarinos para combater esquadras. E, depois, pode tirar-se aproveitamento marginal da sua existência. Como é a questão do tráfico de droga.
P - Que é outra justificação do governo para a utilidade dos submarinos. Mais uma vez, seria a opção mais racional?
R - Também não se compram submarinos para combater o tráfico de droga. Era como se comprássemos mísseis antiaéreos para andar à caça de perdizes, ou carros de combate para fiscalizar a fronteira do Caia. É desproporcionado.
P - Outra justificação habitual é a ideia, que já mencionou, de que os submarinos corresponderiam também a uma necessidade da NATO, da qual somos membros.
R - Com a guerra no Iraque viu-se que, neste momento, todos os conflitos militares passam-se numa espécie de "campânula" criada pela capacidade área e naval dos EUA, na qual ninguém ou quase ninguém se atreve sequer a pôr um avião no ar ou um navio na água.
Isso quer dizer que se tornaram desnecessários mais submarinos. A NATO tirou as devidas conclusões e disse: nós não queremos submarinos, arranjem-nos é as coisas de que realmente precisamos...
P - Justamente o reforço das suas capacidades de reacção rápida?
R - Exactamente. E a própria União Europeia também. Se analisarmos o que se passou no Iraque, verificamos que onde houve falhas militares da coligação, não foi nem nos meios aéreos nem navais. Foi nas forças terrestres em ternos de quantidade e de qualidade.
A UE está-nos a pedir forças terrestres. Na NATO é o mesmo. Estão a circular documentos entre os aliados, promovidos pelo secretário-geral, no sentido de modificar radicalmente a natureza das próprias forças terrestres, transformando-as em forças móveis, muito rápidas e muito eficazes. Para nós e para responder a estas solicitações, a questão que se coloca em termos de equipamento é, fundamentalmente, em quatro áreas: espingardas automáticas, viaturas blindadas, comunicações e helicópteros, que são hoje uma arma de combate essencial, como se costuma dizer, "o melhor veículo todo o terreno".
P - A UE decidiu criar uma série de novas unidades de combate, pequena e rápidas...
R - Os chamados "battle groups" ("grupos de batalha"). Tenho insistido que é muito importante que Portugal tenha essa capacidade e responda a essa necessidade europeia.
P - E tem?
R - Creio que tem, desde que haja pequenas modificações na LPM, que deve ser revista em 2004, no sentido de reforçar os meios financeiros destinados aos quatro programas que mencionei, concentrando-os nos próximos anos. Porque é agora que eles são necessários, não só para cooperarmos ao nível desses "grupos de batalha" como ao nível da nova "cooperação estruturada" [para a defesa] da União Europeia - que, no fundo, vai decidir o poder dentro da UE. É essencial que estejamos lá.
O chamado "grupo de batalha" é uma força de 1500 homens capaz de entrar rapidamente em combate, que tem de ser substituída ao fim de seis meses. Ora, nessa altura, podemos não ter os meios suficientes para essa rotação. É nisso que temos de pensar.
P -Estamos em condições de responder às solicitações dos nossos aliados? Estamos em condições de substituir a GNR por tropa de combate?
R - Por um batalhão, sim. Mas não sei se teríamos condições para o manter ao longo do tempo. No Conceito Estratégico Militar está claro que o Exército deve ter a capacidade para projectar uma brigada para um teatro de operações e mantê-la lá - o que significa que são precisas três brigadas operacionais - ou, em alternativa, estar presente em três teatros de operações diferentes, com a capacidade para projectar um "grupo de batalha", o que coloca as mesmas exigências de rotação.
Mas devo dizer que esta questão se põe hoje com maior acuidade porque estamos a competir com outros países que aderiram ou querem aderir à NATO e que estão, precisamente, a tentar ganhar benefícios de natureza internacional com as capacidades deste tipo que têm. Repare na comparticipação de muitos destes países no Iraque
P - Mais significativa que a nossa...
R - Muito maior. Na UE vai passar-se o mesmo. E isso diminuiu o nosso peso específico de natureza estratégica, que hoje é um dado extremamente relevante, como sabemos.
P - Uma das razões que o ministro da Defesa invoca é que os submarinos são uma afirmação de soberania. Onde é que Portugal afirma a sua soberania? Nos últimos anos, a afirmação internacional de Portugal reforçou-se com a participação na Bósnia e no Kosovo.
R - Hoje em dia, é isso. Ao nível da defesa militar, a maior afirmação é naquilo que é escasso. É como na economia. E como o que é escasso agora são as forças terrestres, nós tiraremos muito mais benefícios em termos de afirmação de soberania no quadro internacional, se participarmos a esse nível.
P - E o argumento do espaço de interesse estratégico nacional?
R - A questão não se coloca na Zona Económica Exclusiva, porque não há aí ameaça previsível. Mas podemos pensar nos PALOP, por exemplo. Aí, pode haver necessidade de projectar poder. Mas, para além das forças terrestres, o tipo de poder naval de que podemos necessitar são as fragatas. Como aconteceu no caso de Timor. Uma unidade deste tipo permite, inclusivamente, constituir um pequeno órgão de comando a partir do qual se conduzem as operações.
Esta questão leva à necessidade - ai sim, uma primeira necessidade - de um navio polivalente logístico.
P - Que vai vir com os submarinos..
P - Pois vai. Mas repare que foi considerado, não como uma primeira prioridade em si mesma, mas apenas como ganho marginal se comprássemos os submarinos. E teve como efeito que amarrámos a aquisição do navio polivalente a todo este processo muito complexo e longo dos submarinos, levando a que esse navio vai estar pronto apenas dentro de alguns anos.
P -Como é que um país como o nosso, no quadro da suas alianças, deve colocar-se em termos militares, perante as novas ameaças do terrorismo, da proliferação dos Estados-falhados?
R - Relativamente à ameaça terrorista directa sobre os nossos espaços, devemos orientar as Forças Armadas (FA) para complementar as tarefas das forças de segurança. No âmbito naval, devemos dar prioridade ao patrulhamento dos oceanos - cujos meios deviam estar também a ser produzidos e não estão -, a aviões ligeiros de tipo "Aviocar" para funções de para fiscalização. No que respeita à proliferação de tecnologias de destruição maciça, devemos colaborar internacionalmente com meios navais e aéreos na fiscalização desse movimentos. E, depois, devemos estar preparados para operações de "nation-building", de "peacekeeping", humanitárias...
P - No "nation-building", não seria uma área em que tínhamos boas condições para contribuir positivamente?
R - Exactamente. As nossas FA têm capacidade, experiência e doutrina. É um "nicho de mercado" que deveríamos explorar. E também o combate, com as forças de reacção rápida.
P - A GNR tem condições para a missão que está a desempenhar no Iraque?
R - A GNR não existe para fazer operações de combate. Até agora isso não tem acontecido - está remetida ao quartel, quase como se fosse um alvo... Está lá mais como peça política do que como peça de natureza militar. Mas, neste momento, pode vir a ser chamada a fazê-las.
Penso que deveríamos aproveitar esta fase de transição [da soberania no Iraque, no dia 30 de Junho] para observar como as coisas evoluem e para ponderar as decisões a tomar. Nenhum cenário deve ser excluído - fazer regressar a força, substitui-la por uma unidade militar ou integrá-la numa unidade militar.
Mas, insisto, é preciso ter cuidado para que os elementos da GNR que estão no Iraque não se envolvam em acções para as quais não estão preparados - ou porque recebem ordens para isso ou porque assumem eles próprios essa iniciativa. Isso poderia originar alguns problemas. Mas julgo que há instruções rigorosas nesse sentido



O General é impressão minha ou tem sempre tendencia a criticar alguns investimentos na Marinha (submarinos neste caso) e na FA (F-16), como General do Exército (na reserva) parece-me que ele quer é que a maior parte do investimento vá para o Exército por isso acho que ás vezes os seus comentários perdem um pouco de razão com esta tendência para favorecer o Exército.
 

*

Fábio G.

  • Investigador
  • *****
  • 1393
  • +3/-0
(sem assunto)
« Responder #13 em: Junho 08, 2004, 12:19:11 am »
DN

Citar
Virgílio de Carvalho
Política, estratégia e Defesa Nacional

Os países precisam de Objectivos Nacionais Permanentes (ONP), representativos de interesse nacional inscritos na sua Constituição, para poderem ter estratégias adequadas a eles, exequíveis e sustentáveis; e também aceitáveis, isto é, que o que possa perder-se com elas seja compensável com o que possa ganhar-se.
Após a vitória das potências marítimas na Segunda Guerra Mundial, o marechal Montgomery veio propor-nos termos poder marítimo e aeromarítimo para mantermos a segurança delas no nosso mar. Não o fizemos.
E a Espanha aprestou-se a encarregar-se disso, jogando com o seu poder aéreo e naval (que inclui um porta-aviões), pondo em risco a nossa individualidade de país.
O que nos impõe lembrar que países que se têm sentido ameaçados pelos que dispõem de porta-aviões, como a URSS e a China na Guerra Fria, têm recorrido a submarinos para os manter em respeito.
E até a própria Inglaterra, que recorreu a um submarino na crise das Malvinas para, obrigando o porta-aviões argentino a quedar-se na sua base, poder ter superioridade aérea para vencer.
E nós, o único país com a individualidade em risco na União Europeia, somos o que temos tido menos submarinos.
Por o interesse nacional estar também em risco pela nossa frágil cultura (histórico-estratégica, geopolítica e militar), entendemos precisarmos de, para além de interessar universidades nela, um Colégio de Defesa (talvez no IDN), para eméritos civis (diplomatas, cientistas, empresários, políticos, jornalistas, etc.) frequentarem, em conjunto com os oficiais dos cursos superiores dos três ramos das Forças Armadas, a parte respeitante à apreciação dos cenários internacionais.
E precisamos, também, de dotar o Exército com uma força especial de intervenção externa rápida com militares tipo marine (agregando comandos, pára-quedistas e fuzileiros), a transportar por ar ou por mar.
Neste caso, a transportar pelo futuro navio logístico polivalente para cuja protecção, como para outros navios de alto valor estratégico, os submarinos são os melhores escoltadores.
união. Entretanto, com a «invasão ianque» do mar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), do petróleo de São Tomé e Princípe e de Angola, que visa criar, com o da Nigéria e da Guiné Equatorial, alternativa segura ao do Médio Oriente (que já começou a ser finalmente posto em risco com a esperada ofensiva Ben Laden contra a governação da Arábia Saudita) é de lembrar ao Brasil o aviso do seu geopolitólogo Golbery do Couto e Silva para se juntar a Portugal, visando defender o valioso património cultural e económico da Lusofonia, inclusive a língua portuguesa.
Talvez como o Brasil fez na Segunda Guerra Mundial , aliando-se aos EUA para não lhes ceder bases, ou procurando, no mínimo, participar com Portugal na guarnição do navio logístico polivalente daquela superpotência que, com base em São Tomé e Princípe, é agora sede do comando NATO do Atlântico todo.
acossados. É que precisamos também de defender a CPLP de «nova invasão» da África pela Europa, idêntica à provocada pela Revolução Industrial do século XIX, principalmente por França e Alemanha no âmbito do conceito geopolítico, geocultural e geoeconómico «Euro-África», para assegurarem recursos minerais e económicos naturais de que carecem.
É, no entanto, justo lembrar que os Estados Unidos da América não costumam ficar em países que têm defendido de cobiças alheias, e que o porto de abrigo para eles favorecerá a soberania santomense face aos mais perigosos adversários dela (o colosso vizinho Nigéria e a Guiné Equatorial), tal como sucede com Portugal quase-arquipelágico face à vizinha Espanha.
E que a dispersão de dependências externas de petróleo, e de outros recursos económicos, poderá levar ao aparecimento de Nova Ordem Mundial multipolar de equilíbrio global de poderes.
Uma nova ordem mundial que seja favorável à solução de conflitos graves pelo diálogo e pela diplomacia, como defendemos num dos nossos livros, e o Brasil e a própria União Europeia começaram a preconizar.
 

*

Rui Elias

  • Investigador
  • *****
  • 1696
  • +2/-2
(sem assunto)
« Responder #14 em: Junho 08, 2004, 10:34:02 am »
C.E.Borges:

Como é conhecido e independentemente dos conhecimentos em estratégia reconhecidos no General Loureiro dos Santos, este não é propriamente um apoiante da actual LPM e do magistério do ministro Paulo Portas.

Daí estas críticas veladas.

Quanto a mim, a escolta de um NPL poderia ser mais eficaz com meios de superfície.

Repare que eu disse acima que em princípio não se deve abandonar uma arma, como a submarina, com tradições na nossa Armada.

No entanto, para termos apenas dois em 2009, e eventualmente um terceiro mais tarde, mais valia não termos nenhum.

Porque não apostar rápidamente também num novo reabastecedor de esquadra?