Colocar Portugal ao lado dos franquistas (e dos países do Eixo) é um disparate evidentemente.
No entanto seria necessário ser muito cego para não ver que o governo português estava muito longe de ser neutral.
A mais importante influência portuguesa do meu ponto de vista, não foi sequer o deixar passar armamento através da fronteira ou as compras de armamento para a Itália que depois acabaram por chegar aos nacionalistas de Franco pela «porta do cavalo».
O mais importante, foi a pressão feita pelos portugueses em Londres, e especialmente pelo embaixador Armindo Monteiro.
Baseio-me, evidentemente nos documentos desclassificados da correspondência de Salazar e do próprio embaixador, que está publicada em livro.
Acho no entanto, aliás estou convicto, de que os portugueses eram apenas um dos canais de comunicação entre a Inglaterra e Franco, ou melhor dizendo, entre a Inglaterra e os generais espanhóis.
Estes canais, serão os principais responsáveis pela não entrada da Espanha na guerra em 1940.
Um pequeno aparte ligado ao tema:
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A acção portuguesa em favor de Franco, é acima de tudo uma reacção ao governo republicano e ao facto de o governo republicano espanhol ter membros do Partido Comunista.
Ora como sabemos, a organização internacional, que era coordenada desde Moscovo, não considerava a existência de dois partidos comunistas na península mas apenas de um.
Logo, o PCE em Espanha, no governo, implicava que a mesma estrutura que tinha assento no governo de Espanha, era inevitavelmente a mesma que deveria existir em Portugal, e portanto inimiga do governo de Portugal independente.
A ligação entre o PCE e o PCP será uma das razões da quase destruição do PCP, que foi relativamente simples, porque o PCP tinha sobre si a acusação (correcta) de que era um simples apêndice do Partido Comunista Espanhol. Salazar jogou a cartada nacionalista (vide a revolta dos marinheiros).
Só quando Álvaro Cunhal chega ao topo do PCP é que as coisas se alteram, porque Cunhal entendeu qual a principal razão da decadência do PCP nos anos 30 e fez tudo o que esteve ao seu alcance, até finalmente separar o PCP do PCE.
É por isso que o PCP seguiu uma linha Nacionalista que do ponto de vista da ortodoxia internacionalista era até esquisito e difícil de justificar. Foi criada em muitos sectores do Partido Comunista Português (junto da população mais simples e humilde) uma fobia anti-espanhola que funcionou como vacina contra a situação anterior de aproximação entre os dois partidos comunistas.
As más relações entre o PCE e o PCP continuaram mesmo depois de 25 de Abril de 1974.
Cumprimentos