CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa

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Heraklion

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« Responder #60 em: Fevereiro 22, 2009, 09:26:18 pm »
Com todo o respeito aos nossos amigos brasileiros, mas penso que esse acordo ortográfico é uma patetice e uma idiotice.
Estão a destruir o português, e nós deixamos... :(  :(
Viva Portugal!!
Nos liberi sumus;
Rex noster liber est;
Manus nostrae nos liberverunt
 

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André

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« Responder #61 em: Março 06, 2009, 06:09:09 pm »
Acordo Ortográfico "é uma ilusão" diz Sara de Almeida Leite


A linguista Sara de Almeida Leite afirmou hoje que o Acordo Ortográfico "é uma ilusão" que não tem em conta "as variações e distanciamento culturais" que sempre existirão.

Esta opinião é corroborada por outra linguista, Sandra Duarte Tavares, com quem publicou o livro "SOS Língua Portuguesa: Dúvidas e erros frequentes" que hoje as duas apresentaram na Expolíngua.

Falando à Lusa, no final da sessão, as duas linguistas sublinharam que "é uma ilusão a ideia de unificar a língua pela grafia, não tendo nunca em conta as variações e o distanciamento culturais".

"Subsistirão diferenças no vocabulário", referiram, exemplificando com termos como "terno" ("fato"), "aluguel" ("aluguer") ou "bonde" ("eléctrico").

Sara de Almeida Leite tinha ido mais longe na sessão pública ao afirmar: "Não concordo que tudo se chame português. Há variações e distanciamento que levam a que se possa dizer que há o brasileiro e há o português".

"Eu sei que não é politicamente correcto, mas existe uma divergência linguística e é normal", disse ainda a professora do Instituto Superior de Educação e Ciências.

Numa sessão muito participada, com cerca de 60 pessoas na sala, as duas professoras deixaram clara a mensagem de que "a língua está em constante mutação" e "as regras vão mudando conforme as tendências dos falantes".

Referindo-se a essas tendências citaram, entre outros casos, a conjugação habitual "tem morto", quando o correcto é "tem matado", já que a regra gramatical exige que se use o particípio mais comprido.

As duas especialistas apontaram ainda questões lexicais, de pronúncia e de morfologia na origem das alterações da língua, considerando que o costume falante acabará por prevalecer sobre as regras do português vernáculo.

Uma "confusão frequente" é "solarengo", referindo-se a dia de sol, quando correctamente identifica uma casa tipo solar, enquanto um dia de sol é "soalheiro", explicaram.

Na opinião das duas professoras, "os estudantes universitários demonstram grandes lacunas relativamente ao conhecimento da língua, designadamente do ponto de vista da sintaxe".

"Têm dificuldades em estruturar as ideias porque desconhecem a língua", considerou Sandra Duarte Tavares.

A Expolíngua encerra hoje no Centro de Congressos de Lisboa, à Junqueira, tendo recebido cerca de 10.000 visitantes durante os três dias, segundo dados da organização, o que ultrapassa em 2.000 os visitantes do ano passado.

Durante os três dias realizaram-se vários debates em torno das línguas, tendo "os convidados especiais" sido o Português e a Lusofonia.

Neste 19.º Salão Português de Línguas e Culturas estiveram representadas 34 entidades nacionais e estrangeiras, entre as quais a Extremadura Turismo (Espanha), o Governo do Principado das Astúrias e a embaixada da Finlândia.

Lusa

 

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André

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« Responder #62 em: Abril 15, 2009, 06:45:50 pm »
Portugal adia entrada em vigor do Acordo Ortográfico


A implementação do Acordo Ortográfico em Portugal e Cabo Verde, inicialmente indicada para 05 de Maio, foi adiada para o segundo semestre deste ano, garantiu hoje à Agência Lusa o ministro da Cultura cabo-verdiano.

Manuel Veiga justificou a decisão com o argumento de que alguns Estados membros acreditam que há necessidade de reunir «mais consensos e discussões» à volta do projecto.

A data para a entrada em vigor em Cabo Verde, segundo Manuel Veiga, deverá ser definida após a reunião dos ministros da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), marcada para Junho, em Lisboa.

«Já tínhamos avançado que o acordo entraria em vigor em Maio, mas ainda há necessidade de discutir mais e conseguir maior consenso, não só em Cabo Verde mas também noutros países, como Portugal, Angola e Moçambique», explicou.

«Possivelmente o acordo deverá entrar em vigor no segundo semestre deste ano», acrescentou, sem apontar datas, e lembrando que três países da CPLP - Angola, Moçambique e Guiné-Bissau - ainda não ratificaram o acordo.

Manuel Veiga afirmou à Lusa que a reunião dos ministros da CPLP pode ser uma oportunidade para a definição de uma data conjunta para que o acordo entre em vigor ao mesmo tempo em todos esses países.

«Se há países que acham que devemos aprofundar a questão no próxima reunião dos ministros da Cultura, entendemos que Cabo Verde deve ter esse compasso de espera para aprofundar o debate e, só depois, definir uma calendarização para a entrada em vigor e, se possível, na maioria dos países», sustentou.

«Se conseguirmos, juntamente com outros países, marcar uma data para que o acordo entre em vigor ao mesmo tempo, o acordo terá muito mais força do que se entrar em vigor neste momento apenas em Cabo Verde», disse.

Manuel Veiga disse que o acordo ortográfico também não vai entrar em vigor naquela data em Portugal, uma vez que as autoridades portuguesas «entendem que precisam aprofundar o debate».

A data de 05 de Maio, Dia da Cultura da CPLP, foi adiantada à Lusa na Cidade da Praia pelos ministros da Cultura de Cabo Verde e de Portugal, durante a visita oficial que o primeiro-ministro português, José Sócrates, efectuou ao arquipélago, entre 12 e 14 de Março.

Manuel Veiga vai aproveitar o adiamento para promover um estudo sobre o peso da Cultura na economia cabo-verdiana.

O objectivo, explicou, é obter indicadores económicos para apresentar a empresários, produtores, agentes culturais e sociedade civil, em geral, conseguir uma noção mais clara da importância da cultura como geradora de emprego e de rendimentos e determinar que peso tem no Produto Interno Bruto (PIB).

«Basta verificar a existência de tanta gente que anda à volta da música, que anda a promover a nossa cultura, tanto lá fora como cá dentro. Tudo isso gera rendimentos», acrescentou.

Em Maio, sublinhou, virá a Cabo Verde uma delegação da União Europeia (UE) com o objectivo de discutir com o Ministério da Cultura os termos de referência e o financiamento do estudo.

Lusa

 

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André

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« Responder #63 em: Abril 24, 2009, 01:33:14 pm »
Portugal «está atrasado na aplicação do Acordo Ortográfico» diz Malaca Casteleiro


Portugal «está atrasado na aplicação do Acordo Ortográfico» e a «bola está do lado do Governo», declarou o linguista e académico João Malaca Casteleiro, que participou na sua elaboração.

O professor e membro da Academia de Ciências de Lisboa, que coordenou o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea editado em 2001, falava quinta-feira à noite numa tertúlia promovida pela Biblioteca Municipal da Covilhã.

«A bola está do lado do Governo», respondeu quando questionado sobre quando é que o Acordo vai passar a vigorar.

«Neste momento - frisou - trata-se de uma decisão política, de estabelecer uma data de quando é que o acordo entra em vigor, nomeadamente nos diferentes graus de ensino, nos manuais escolares, nos jornais e nos organismos do Governo».

«Estamos atrasados, porque, nestas coisas, candeia que vai à frente alumia duas vezes», observou.

«O Brasil com 200 milhões de falantes - argumentou - já decidiu e Portugal, que é o berço da língua, não decide. Esta situação a nível internacional é muito mal recebida. Quando Portugal se decidir, os outros países também entrarão nesta onda de adoptar a nova ortografia».

Segundo Malaca Casteleiro, o Acordo carece ainda da publicação de vocabulário mais amplo, mas as obras que já estão no mercado «do ponto de vista pedagógico e didáctico são suficientes».

Perante cerca de uma centena de pessoas, Malaca Casteleiro destacou os benefícios de o Português «adoptar do ponto de vista internacional a mesma roupagem, a mesma maneira de escrever, que é o que está em questão: é a grafia das palavras».

«Não vejo contras. Esta é uma questão que se arrasta há praticamente 100 anos e precisava de ter uma solução. Este acordo ortográfico é essa solução. Não foi possível encontrar melhor. Mesmo os opositores ao acordo não apresentaram alternativas. Só criticam e contestam», acrescentou.

Lusa

 

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« Responder #64 em: Abril 26, 2009, 05:58:32 pm »
Acordo Ortográfico entrará em vigor «seguramente este ano


O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, disse hoje que o Acordo Ortográfico entrará em vigor «seguramente este ano». O governante considera que o atraso de Portugal na matéria é «muito mal recebido» a nível internacional.

O governante falava em Belmonte na inauguração do centro interpretativo e museu "À Descoberta do Novo Mundo", centrado no Brasil e na viagem de descobrimento de Pedro Álvares Cabral, navegador natural daquela vila.

Perante uma comitiva brasileira, José António Pinto Ribeiro considerou que «a língua foi o que de mais extraordinário deixaram os navegadores».

A língua, afirmou, «é mais forte que o sangue».

Questionado pela Agência Lusa sobre quando entrará em vigor o Acordo Ortográfico, o ministro referiu que será «seguramente este ano», sem contudo apontar uma data concreto.

«Estamos a identificar todas as tarefas, dado que, uma vez em vigor, haverá um prazo de aplicação e adaptação de vários anos para que tudo aquilo seja assimilado por todos nós», explicou José António Pinto Ribeiro.

«Estamos a fazer um programa para tudo o que há a fazer até lá, ao nível do ensino, dos meios de comunicação social, dos livros, para que tudo seja feito sem rupturas, com grande tranquilidade e com grande liberdade e integração de toda a gente», referiu.

O linguista e académico João Malaca Casteleiro, que participou na elaboração do Acordo, considerou na última quinta-feira que Portugal «está atrasado na sua aplicação» e que a «bola está do lado do Governo».

«O Brasil com 200 milhões de falantes» - argumentou - «já decidiu e Portugal, que é o berço da língua, não decide. Esta situação a nível internacional é muito mal recebida. Quando Portugal se decidir, os outros países também entrarão nesta onda de adoptar a nova ortografia», referiu.

Em Portugal, o segundo protocolo do Acordo Ortográfico, cuja ratificação era essencial para a sua entrada em vigor, foi aprovado no Parlamento em Maio e promulgado pelo Presidente da República em Julho.

Para vigorar, o acordo tem de estar ratificado por um mínimo de três dos oito países, o que foi alcançado em 2006 com São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Brasil, seguidos de Portugal.

Lusa

 

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« Responder #65 em: Junho 10, 2009, 01:45:41 pm »
Brasil também critica o Acordo Ortográfico


Jornalistas, escritores, filósofos e mesmo comediantes brasileiros começam a atacar publicamente um acordo que pode não prevalecer.

São cada vez mais as vozes que se levantam contra o acordo ortográfico. Não só em Portugal, como também noutros países que falam a língua de Camões. No Brasil, por exemplo, os principais opositores do acordo citam o Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa, Contra o Acordo Ortográfico, promovido por Vasco Graça Moura, que já conta com mais de 115 mil assinaturas. Há dias, a petição esteve na base de um artigo publicado no jornal O Globo, com o título Portugal Reage.

Quem também ataca o acordo é o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras. "No tempo do Getúlio (Brasil) e de Salazar (Portugal) foram feitos acordos que não prevaleceram, porque, na realidade, quem faz a língua não são as academias, nem os governos. Quem faz a língua é o povo," afirma. "Os portugueses jamais vão deixar de chamar o trem de "comboio", não adianta. Em Portugal, "facto" é "fato", e "fato" é "roupa". Também temos nossas particularidades e jamais vamos chegar a um acordo".

Por outro lado, humoristas como José Simão inspiram-se agora no acordo. "Vão mudar a língua logo agora que o Lula estava aprendendo a falar pelo sistema antigo", referia há dias Simão.

Para Desidério Murcho, da Universidade Federal de Ouro Preto, "as pretensas vantagens do acordo são como as vantagens de ter gnomos de barro no jardim: são decorativos, mas não fazem a poda por nós". Até porque, refere, "não há qualquer impedimento ortográfico à presença dos livros portugueses no Brasil, por exemplo. Na verdade, na biblioteca de filosofia da minha universidade encontram-se imensos livros portugueses e nem os meus colegas nem os meus estudantes se queixam da ortografia. Mas todos se queixam de ser muito difícil comprar livros portugueses".

Por fim, o jornalista José Carlos Tedesco lembra que, "entre os quase 200 milhões de brasileiros, muitos não conseguem sequer cumprir as regras antigas e, portanto, terão grande dificuldade - ou irão mesmo ignorar - as novidades".

DN

 

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #66 em: Abril 12, 2015, 07:22:24 pm »
Evento na FLUL em 14 de Abril de 2015 às 18 horas



AO90 obrigatório nos exames nacionais

Não usar acordo ortográfico nos exames pode baixar nota em 5 valores
Citação de: "Rita Carvalho, SOL"
A partir deste ano, os alunos terão de usar o novo acordo ortográfico nos exames nacionais. Se não o fizerem, serão penalizados nas provas de Português.

A novidade desta época de exames está a indignar alguns professores de Português que continuam a defender a ortografia anterior e que já puseram a circular nas redes sociais uma carta dirigida ao Ministro da Educação a pedir a suspensão desta decisão.

Até agora, os alunos podiam usar as duas grafias ou, pelo menos, não tinham qualquer penalização se escrevessem palavras com a grafia anterior. Contudo, este ano poderão perder até cinco valores (numa prova com nota máxima de 20) se escreverem palavras sem acordo ortográfico, que passam a ser consideradas erros ortográficos.

O novo acordo ortográfico foi assinado em 1990. A sua aplicação nas provas nacionais foi gradual: no ano passado já foi obrigatório escrever com acordo nos exames do 6º ano de escolaridade. Este ano, a obrigação alarga-se ao 9º e ao 12º ano.
Fonte: http://www.sol.pt/noticia/126786

Entretanto:
Citação de: "José António Pinto Ribeiro"
Há resistências de algumas pessoas, e não são muitas, que têm uma relação emocional, clássica, física e sensorial com a Língua. Mas ninguém será abatido, preso ou punido se não aderir às novas normas. O Acordo é uma simplificação da Língua.
Fonte: http://expresso.sapo.pt/ninguem-sera-abatido-preso-ou-punido-se-nao-aderir=f391681

Afinal o AO90 não é obrigatório nos exames… no Brasil
Citar
O novo acordo ortográfico passou a vigorar no Brasil no dia 1/1/ 2009. Porém, o período de transição para as novas regras da escrita só termina no primeiro dia de 2016. Isso quer dizer que até lá as novas e antigas regras ortográficas coexistem e devem ser aceitas sem distinção. De acordo com o manual do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a correção das redações é feita conforme a lei, ainda aceitando as normas anteriores ao acordo.
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=17544

O totalitarismo ortográfico
Citação de: "Luís Menezes Leitão"
O maior crime contra o nosso património foi o pseudo-acordo ortográfico que afinal nada unifica e só serve para tornar o português de Portugal uma espécie de escrita de laboratório, com grafias absurdas, e que o distanciam completamente das outras línguas europeias, e até da escrita dos outros países lusófonos. Felizmente a sociedade civil tem dado a adequada resposta a este disparate, já que grande parte dos livros que se publicam e os jornais de referência continuam a usar a ortografia tradicional. Infelizmente isso já não sucede com o Estado, que a todo o custo quer impor uma ortografia que a sociedade claramente rejeita. É assim que o Diário da República se tornou um jornal de leitura cada vez mais penosa, tantos são os disparates ortográficos que linha sim linha não aparecem nos diplomas legais.

O governo, no entanto, não desiste de impor este absurdo contra tudo e contra todos e, depois de querer penalizar os professores que escrevem com a ortografia tradicional, agora quer obrigar os alunos a escrever com a nova ortografia, sem o que os seus exames serão avaliados negativamente. O procedimento é típico de um Estado totalitário. Efectivamente, neste tipo de estados as lavagens ao cérebro começam sempre pelas crianças, as mais incapazes de se defender. Mas assim como os povos souberam libertar-se dos totalitarismos, estamos seguros que também o povo português dará a adequada resposta a esta imposição totalitária de uma ortografia absurda.
Fonte: http://www.ionline.pt/iopiniao/totalitarismo-ortografico

Deve ser bem fixe estar a criar os miúdos nesta democracia. (Um bom motivo para uma pessoa se mudar para os Açores.) Ainda bem que não somos como alguns estados nos EUA, aonde até chega a ser proibida a aprendizagem de alguns conteúdos nas aulas de ciências naturais e biologia pelos governos locais.

Cumprimentos,
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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #67 em: Abril 15, 2015, 07:11:40 pm »
«Tomar partido, sim!»
Citação de: "Rui Valente/ILCAO"
A Constituição da República portuguesa atribui a “Iniciativa da Lei” aos deputados, ao Governo e — conquista importante da democracia — a grupos de cidadãos devidamente recenseados. Infelizmente, a Lei que regulamenta a Iniciativa Legislativa de Cidadãos fixa um limite mínimo de 35.000 assinaturas para a submissão de um Projecto de Lei a discussão e votação no Parlamento. É um número absurdamente alto, que na prática inviabiliza o exercício deste direito por parte dos portugueses.

Trinta e cinco mil subscrições em papel são uma tarefa quase impossível para um grupo de cidadãos que, sem outros meios além da vontade individual dos seus promotores, activistas e voluntários, tenta levar um Projecto de Lei ao Parlamento. O número é de tal forma elevado que se presta a esta confusão: muitas pessoas julgam que basta reunir 35.000 assinaturas para que a Lei seja automaticamente aprovada. Na verdade, o Projecto de Lei contido numa ILC terá ainda de ser votado em plenário — isto, claro, se não tropeçar antes num qualquer tecnicismo de secretaria e não chegar sequer a ser admitido. Ou seja: a vontade expressa de 35.000 cidadãos eleitores poderá não servir para nada.

A Lei 17/2003, que rege as ILC, é, de facto, uma lei “para cidadão ver”.

A ILC-AO, visando a revogação da RAR 35/2008, reuniu até agora cerca de 15.000 assinaturas. Em papel. Um número extraordinário para uma Iniciativa sem meios, mas insuficiente para o fim em vista. Muitas vezes olhámos para este número e pensámos: “Quinze mil assinaturas… bem, isso daria para promover duas candidaturas à Presidência da República! Ou para inscrever dois partidos políticos no Tribunal Constitucional…”

De facto, a ideia sempre andou por aí. Rondou-nos, insinuou-se, às vezes quase se metia pelos nossos olhos dentro. “Apenas” teríamos de voltar ao princípio, ou seja, lançar uma nova campanha de recolha de  assinaturas, mas desta vez tendo por objectivo “só” 7.500 e já não 35.000, essa absurda enormidade.

É verdade que o problema do AO tem sido maltratado pela generalidade dos partidos políticos portugueses. Alguns optam pela omissão simples, enterrando a cabeça na areia. Outros assobiam para o lado, esperando que os críticos desistam por cansaço — porque acreditam em segredo que o AO é o Santo Graal da modernidade. Há ainda quem diga que o ideal é que cada um possa escrever como bem entender (cito de memória Francisco Louçã no blogue “Tudo Menos Economia”, por exemplo) — como se o problema fosse uma questão de Liberdade de Expressão. Outros ainda colocam a tónica num ponto de vista nacionalista e xenófobo que, de todo, não faz sentido.

Perante este cenário, não admira que uma das mais activas militantes da ILC tenha recentemente dito que nas actuais circunstâncias apenas nos resta o voto NULO: “com AO90 não há voto para ninguém”!

Foi, naturalmente, uma posição individual. O apelo ao voto nulo, como se imagina, nunca poderia ser endossado pela ILC — desde logo porque o voto nulo é, antes de mais, um voto contra o próprio direito de voto, duramente conquistado. Mas também porque essa forma de luta seria totalmente invisível, não-mensurável e, consequentemente, inútil.

Não será melhor criar, no boletim de voto, o nosso próprio espaço para riscar uma cruzinha?

Muitos dirão: criar um partido político por causa do AO é, também, uma distorção das regras do jogo democrático. Mas não está já o jogo democrático distorcido à partida, ao permitir que a vontade da maioria da população portuguesa no que ao AO diz respeito não tenha qualquer eco na Assembleia da República?

A criação de um partido com um fim específico nem sequer é inédita. Há quatro anos, um outro grupo de cidadãos concluiu que não havia um único partido em Portugal que consagrasse nos seus objectivos a salvaguarda dos direitos dos animais. Foi assim que surgiu o PAN, reconhecido pelo Tribunal Constitucional em 2011 e que, em quatro anos, se tornou na sétima força política nacional — sexta, em distritos como Setúbal, Faro e Lisboa.

Criar um partido político é mais uma arma que está ao nosso alcance. Nesta luta desigual pela preservação da nossa Língua, temos o direito e o dever de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance. Não podemos dar-nos ao luxo de não aproveitar esta oportunidade.
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=17851

Cumprimentos,
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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #68 em: Abril 16, 2015, 07:10:35 pm »
«Sob o signo da idiotice»
Citação de: "Maria do Carmo Vieira"
Vivemos sob o signo da idiotice, etimologicamente da «ignorância». Uma ignorância cultivada sobremaneira entre pessoas adeptas do imediato, ocupando visíveis cargos de poder, e que orgulhosamente se extasiam perante o seu vazio cultural e a sua insensibilidade face à justiça social, considerando seus inimigos todos os que ousam pensar por si próprios porque põem em causa, quantas vezes, os seus interesses. Nós, os professores, somos testemunhas dessa gritante falta de sensibilidade e de cultura, porque é disso que se trata, ostensivamente hasteadas com a reforma de 2003 no ensino, nomeadamente no ensino da Língua Portuguesa. Com efeito, em nome da facilidade, de uma apregoada alegria na sala de aula, do funcional e do utilitário, estes últimos com forte apego às exigências de mercado, a Literatura foi menosprezada, com destaque substancial para a poesia; também em nome da uniformização da nomenclatura gramatical, que havia sido posta em causa pelo Generativismo, impôs-se, em 2004, a massacrante TLEBS que, estéril, aspirou, no entanto a substituir a Gramática, mantendo-se do 1º ciclo ao secundário, com o disparate das suas designações e a confusão das suas descrições; no mesmo esquema de arrogância e de ouvidos surdos ao coro de críticas e à forte polémica suscitada, decretou-se em 2008 o dito Acordo Ortográfico de 90, paciente e hipocritamente engendrado nos bastidores, cuja barbaridade de argumentos veio sublinhar, de novo, a ignorância e a falta de cultura reinantes, o que é inegável pela leitura da Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).

Porque somos professores e não perdemos ainda, apesar de tantas imposições, de tantas ameaças e de tanta estupidez, o sentido de ensinar, o que significa que não abdicamos da responsabilidade de responder criticamente a tudo o que ponha em causa a qualidade do ensino da língua portuguesa aos nossos alunos, apenas nos resta desobedecer colectivamente. Sabemos, com efeito, que só dominando bem a língua materna, os nossos alunos poderão pensar e exercer o seu espírito crítico; não o permitindo, somos responsáveis pelas nefastas consequências daí advenientes. Em suma, dizemos aos mentores deste Absurdo Acordo Ortográfico e aos políticos que na sua ignorância o implementaram, contrariando a vontade da esmagadora maioria dos portugueses, que, em nome da dignidade que nos assiste e que por isso mesmo não tem preço, não queremos «que nos libertem do pesado encargo de pensar».
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=17877

«Os acordistas já não acordam»
Citar
A julgar pelos ares displicentes (quando há sequer ares) dos que se dizem felizes com o «Acordo Ortográfico de 1990», eis-nos acabados de aterrar no melhor dos mundos. Chatices, só estes piolhos importunos e tagarelas dos anti-acordistas.

Não se lhes ouve um pio, a esses portugueses ditosos. O Ministério, a Academia, os Centros de Linguística, o ILTEC, eles dormem a sono solto, mas silencioso. «Está tudo a correr com normalidade», reza o mantra dos gabinetes. «Até que enfim, sossego!», ronronam os gatos nos tapetes das Receções.

Entretanto, no mundo acordado, passam-se fenómenos insólitos. Um vírus, uma programação maligna, veio-se instalando em mentes portuguesas, comandando-lhes: «Se achares duas consoantes seguidas, corta uma». Até ao momento, os encontros com líquidas («tr», «pl» etc.) são poupados. A fonologia tem as suas resistências. Mas fora daí, o vírus é eficaz.

Já publiquei aqui listas sempre actualizadas dessas curiosas novidades. Essas listas (em que aproveitei sempre o denodado e inteligente esforço alheio) distinguem-se de outras do género por isto: são sempre confrontadas com o «Vocabulário da Mudança» do oficialíssimo ILTEC. Isto é, TODOS os vocábulos nelas contidos contrariam o AO90. E também todos figuraram pelo menos uma vez (e vários deles bastantes vezes) em textos públicos, assinados, e não raro provenientes de entidades oficiais.

Aqui vai nova lista com o estado de coisas presente. Tenha-se em conta que outras inovações haverá, que escapam à nossa atenção. Tenha-se em conta (e isto é decisivo!) que antes da entrada em vigor do AO90 fenómenos deste tipo eram residuais. Isto foi já inequivocamente demonstrado. Além disso, o carácter científico e ‘culto’ da larga maioria destas grafias mostra que elas nasceram duma busca de correcção e rigor.

*

GRAFIAS CONTRÁRIAS AO ACORDO ORTOGRÁFICO 1990,
PÚBLICAS E RECENTEMENTE DOCUMENTADAS EM PORTUGAL

abrutamente por abruptamente
abruto por abrupto
adatação por adaptação
adeto por adepto
ajunto por adjunto
alótone por alóctone
amidalite por amigdalite
aministração por administração
antissético por antisséptico
artefato por artefacto
atidão por aptidão
autótone por autóctone
avertência por advertência
batéria por bactéria
bateriano por bacteriano
batericida por bactericida
catação por captação
compatar por compactar
compato por compacto
conetar por conectar
conetor por conector
contatar por contactar
contato por contacto
conveção por convecção
convição por convicção
convito por convicto
cootação por cooptação
cootar por cooptar
corrução por corrupção
corruto por corrupto
cócix por cóccix
critografia por criptografia
descompatar por descompactar
dianóstico por diagnóstico
dição por dicção
dítico por díptico
dútil por dúctil
egício por egípcio
egitologia por egiptologia
eletrotenia por ele(c)trotecnia
elipsar-se por eclipsar-se
elítico por elíptico
encritação por encriptação
erução por erupção
esfínter por esfíncter
espetante por expectante
espetável por espectável
estupefato por estupefacto
eucalito por eucalipto
ezema por eczema
facioso por faccioso
fato por facto
fatual por factual
fatualmente por factualmente
fição por ficção
fitício por fictício
fratal por fractal
fricionar por friccionar
ginodesportivo por gimnodesportivo
helicótero por helicóptero
impatante por impactante
impato por impacto
inadatação por inadaptação
incónita por incógnita
indenização por indemnização
ineto por inepto
ininterruto por ininterrupto
intato por intacto
inteletual por intelectual
interrução por interrupção
interrutor por interruptor
Invita por Invicta
latente por lactente (cp. «mulher latente»)
láteo por lácteo
manífico por magnífico
manitude por magnitude
mição por micção
nétar por néctar
netarina por nectarina
Netuno por Neptuno
núcias por núpcias
oção por opção
ocional por opcional
ostáculo por obstáculo
ostipação por obstipação
otativo por optativo
otogenário por octogenário
otogonal por octogonal
otometria por optometria
otómetro por optómetro
óvio por óbvio
pato por pacto
piroténico por pirotécnico
pitórico por pictórico
plânton por plâncton
politénico por politécnico
proveto por provecto (cp. «em proveta idade»)
rato por rapto
rétil por réptil
reto por repto
seção por secção
secionamento por seccionamento
seticemia por septicemia
setuagenário por septuagenário
subretício por sub-reptício
sução por sucção
sujacente por subjacente
ténica por técnica
ténico por técnico
tenologia por tecnologia
tenológico por tecnológico
tetónico por tectónico
trítico por tríptico
tumefato por tumefacto
vasetomia por vasectomia

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A situação é, portanto, preocupante. Mas uma intervenção adequada por parte de alguém responsável parece, de momento, de descartar. Incompetência? Preguiça? Acobardamento? Má-fé? Tudo começa a ser tremendamente concebível.
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=17872

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #69 em: Abril 21, 2015, 06:10:03 pm »
Adversários do Acordo Ortográfico reclamam referendo
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Um fórum realizado na Universidade de Lisboa aprovou uma moção a defender que o Acordo Ortográfico de 1990 deve ser referendado. Os defensores do tratado acham que o esforço de unificação da língua compensa as eventuais imperfeições do AO.

A obrigatoriedade do uso do Acordo Ortográfico de 1990 (AO) no ensino e na administração pública deve ser imediatamente suspensa, e a sua eventual aplicação em Portugal deve ser depois submetida a referendo. É o que defende uma moção aprovada no fórum Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao ‘Acordo Ortográfico’ de 1990, que decorreu na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) no dia 14 de Abril.

Os subscritores da moção acham que o AO falhou o seu objectivo de “unificação das variantes do Português” e que a “alegada simplificação” que trouxe “corresponde a uma total insegurança ortográfica”. Do outro lado, os que defendem o AO – incluindo o seu principal negociador pelo lado português, Malaca Casteleiro, que o PÚBLICO ouviu –, não negam imperfeições ou incongruências, mas acham que é um pequeno preço a pagar por uma ortografia unificada.

E, se o jurista Ivo Miguel Barroso tiver razão, ainda haverá algum tempo para discutir o assunto antes de se esgotar o prazo de transição estabelecido para a aplicação do AO. Na sua intervenção na FLUL, Barroso procurou demonstrar, contrariando a interpretação oficial, que esse prazo não termina em Maio próximo, mas sim em Setembro de 2016, já que os seis anos previstos não devem ser contados, defende, a partir da data em que se procedeu ao depósito da ratificação do 2.º Protocolo Modificativo do AO, mas da data da publicação no Diário da República (DR) do aviso dessa ratificação, o que só veio a acontecer em Setembro de 2010.

O jurista é também um dos dinamizadores de uma acção popular judicial levada ao Supremo Tribunal Administrativo, que requer a não-aplicação do AO no ensino público do 1.º ao 12.º ano, argumentando com a inconstitucionalidade da Resolução do Conselho de Ministros n.º8/2011, de 25 de Janeiro, que impôs o AO na administração do Estado a partir de Janeiro de 2012, e determinou que o acordo era aplicável ao sistema educativo logo no ano lectivo de 2011/12. “Espero que o tribunal tome uma decisão antes de começarem os primeiros exames, até porque se trata apenas de matéria de Direito”, disse Ivo Miguel Barroso ao PÚBLICO.

Tomada poucos meses antes de o Governo de Sócrates cair na sequência do chumbo do PEC IV, a resolução em causa antecipou em vários anos a aplicação do AO em sectores fundamentais da sociedade portuguesa e foi instrumental na criação de um facto consumado, levando, por exemplo, os editores de manuais escolares a adoptar um acordo ao qual muitos deles se tinham sempre oposto, como foi o caso de Vasco Teixeira, da Porto Editora.

Na reunião da FLUL, onde intervieram figuras como António Feijó, vice-reitor da Universidade de Lisboa, a ensaísta Maria Filomena Molder, o poeta Gastão Cruz, o escritor e colunista Pedro Mexia ou o humorista Ricardo Araújo Pereira, o intérprete na União Europeia Francisco Miguel Valada levou uma série de exemplos que parecem demonstrar que o AO veio criar instabilidade ortográfica onde esta não existia.

377 “fatos”
A par de inúmeros exemplos de erros de português que poucos dariam antes de surgir o AO, como “fato” ou “contato”, e que agora são frequentes em jornais e televisões, mas também em universidades ou no Parlamento – até o próprio texto do AO regista alguns –, Valada apresentou uma tabela em que conta o número de vezes que algumas destas grafias erradas ocorrem no Diário da República (DR). Em 2009 não aparece nenhum “fato” ou “fatos”, mas em 2012, o ano em que o DR começa a ser redigido segundo o AO, Valada detectou 377 ocorrências.

A tabela foi entregue na Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República, mas sem nenhum resultado prático, explicou Valada. Um silêncio que simboliza a dificuldade com que se defrontam os que ainda não desistiram de tentar travar o acordo: do outro lado raramente encontram interlocutores para uma discussão séria sobre o conteúdo do AO.

“As vias políticas estão bloqueadas”, reconhece Ivo Miguel Barroso, lembrando que o tratado e os posteriores protocolos modificativos foram sempre aprovados “por largas maiorias” no Parlamento, que três Presidentes da República – Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva – o ratificaram, e que o actual líder da oposição, o socialista António Costa, é um assumido defensor do AO.

Garantido o apoio dos grupos parlamentares do PSD e do PS – apesar da oposição de alguns raros deputados, como Manuel Alegre –, e com o AO a ser aplicado há quatro anos lectivos no ensino e a generalizar-se cada vez mais na edição e nos media, é compreensível que os seus defensores não tenham interesse em promover agora uma grande discussão pública.

Entre as iniciativas promovidas nos últimos anos contra o AO, Valada recordou o Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa, uma petição lançada em Maio de 2008, e que um ano depois, quando foi apreciada no Parlamento, já tinha recolhido mais de 115 mil assinaturas válidas, entre as quais se contavam as de Eduardo Lourenço, Vitorino Magalhães Godinho, Vítor Manuel Aguiar e Silva, Vasco Graça Moura ou José Pacheco Pereira.

E antes disso, em 2005, quando o Governo de José Sócrates se preparava para ratificar o 2.º Protocolo Modificativo – destinado a permitir que o AO pudesse entrar em vigor sem a ratificação de todos os países signatários do tratado original (Angola e Moçambique ainda hoje não o fizeram) –, foi pedido, através do Instituto Camões, um conjunto de pareceres a várias instituições e especialistas. Descontado o da Academia das Ciências, da autoria do próprio Malaca Casteleiro, todos os outros oscilavam entre as críticas severas e a sugestão de que o processo deveria ser imediatamente suspenso, como o fez a Associação Portuguesa de Linguística. O próprio Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), hoje o principal instrumento de aplicação do acordo, afirmava que o AO “terá sempre consequências bem mais graves que a existência actual de duas normas, sobretudo na língua escrita no âmbito da Internet”.

Fingir que não ouvem
Para os adversários do AO, este não unifica a língua, como se propunha, e ao admitir um grande número de facultatividades – “Electrónica e Electrotecnia” poderá ser escrito de 32 formas diferentes sem violar o AO – contraria o próprio conceito de ortografia. E lembram que as grandes diferenças que separam as variantes portuguesa e brasileira da língua não são ortográficas, são lexicais, semânticas e morfossintácticas.

Com diferenças regionais e índices de iliteracia pouco comparáveis com os de Portugal, o Brasil tem problemas próprios no domínio da língua que poderemos estar a importar com este acordo. É o que defende Ivo Miguel Barroso, que acha que “o AO é desnecessário” e que “mais vale haver duas variantes: entendíamo-nos perfeitamente, e agora um brasileiro lê ‘receção’ e não sabe o que é”.

Do outro lado da barricada, os defensores acham que a “deriva ortográfica” entre Portugal e o Brasil ameaçava o futuro do português como língua mundial e crêem que uma ortografia mais próxima da fonética facilita a aprendizagem. Uma convicção partilhada pelos três apoiantes do AO que o PÚBLICO ouviu.

O argumento clássico contra esta convicção é o das crianças inglesas, que aprendem com aparente sucesso uma ortografia cuja relação com a pronúncia é bastante remota. E Vasco Graça Moura, numa entrevista ao autor deste artigo originalmente publicada na revista Cão Celeste, lembra que “as desgraçadas criancinhas” alemãs aprendem a escrever palavras como “Rheinunddonauschiffsfahrtsgesellschaftskapitän” [“capitão da companhia de navegação do Reno e do Danúbio”]. E os alunos de gronelandês ocidental não têm melhor sorte. Francisco Miguel Valada trouxe ao fórum da FLUL, para a endereçar aos promotores do AO, uma palavra deste idioma, “Tusaanngitsuusaartuaannarsiinnaanngivipputit”, que em português significa, explicou, “não podem estar permanentemente a fingir que não estão a ouvir”.

O linguista João Malaca Casteleiro, negociador do AO e redactor da sua Nota Explicativa, admite que este “não é perfeito, não unifica completamente a ortografia, porque não foi possível”, e “tem algumas incongruências”. Mas defende que o acordo veio pôr fim a uma “deriva ortográfica que durava há um século”.

Salientando que se trata de um acordo, e não de uma reforma, diz que “se houve cedências etimológicas, o Brasil também cedeu na acentuação, suprimindo o trema, bem como os acentos agudos em palavras como ‘ideia’ e ‘assembleia’”.

De resto, a supressão das consoantes mudas parece-lhe positiva, uma vez que “não existem na pronúncia e não faz sentido mantê-las na escrita”. Mas também reconhece que, “se não houvesse esta necessidade de um acordo com o Brasil, não era necessário estar a mexer na ortografia: os ingleses não mexem há muito tempo na deles, porque não tem sido preciso”. Se Portugal tivesse envolvido o Brasil na reforma de 1911, diz, “o problema tinha ficado resolvido”.

O conselho de Verney
Já o linguista Fernando Cristóvão acha que a oposição ao AO é “uma coisa doentia” e lembra que o acordo foi aprovado pela AR e ratificado por Mário Soares em 1991. E aos que o encaram como uma concessão ao Brasil, lembra que “as mudanças que se fizeram com este acordo já tinham sido reclamadas em 1746 pelo português Luís António Verney”, que na obra O Verdadeiro Método de Estudar defende que os portugueses “devem escrever a sua língua da mesma sorte que a pronunciam”.

Se Cristóvão é um defensor de que a ortografia se aproxime tanto quanto possível da pronúncia, já D’Silvas Filho, pseudónimo literário de um consultor do site Ciberdúvidas e autor do livro Prontuário - Erros Corrigidos de Português (Texto, 2012), embora tenha apoiado o AO “desde a primeira hora”, acha que este pode ter propiciado interpretações que "levaram longe de mais a prioridade ao critério fonético”. Uma crítica em que está sintonizado com os adversários do AO.

Já não subscreve, no entanto, outra crítica recorrente: a que censura a este acordo a proliferação de duplas grafias facultativas. Dada a impossibilidade de as evitar, o que parece crucial a D’Silvas Filho é que tanto Portugal como o Brasil incorporem nos seus vocabulários ortográficos nacionais ambas as variantes. E a sua posição é a de que qualquer grafia registada no Vocabulário Ortográfico Português é de uso legítimo em Portugal.

O linguista lamenta que os que se opõem ao AO “não vejam a vantagem extraordinária que há em unir a língua”, elogia os progressos do recém-apresentado Vocabulário Ortográfico Comum, que está a ser desenvolvido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), da CPLP, e que congrega já os vocabulários nacionais de alguns dos países que ratificaram o acordo, e congratula-se por “estarmos a caminho de poder organizar um dicionário para esta língua planetária”.

Mas o seu entusiamo não o impede de criticar o que lhe parece menos conseguido. Preferia, por exemplo, que “pára” mantivesse o acento, ou que “braço-de-ferro” não tivesse perdido os hífenes.

“Devem fazer-se aperfeiçoamentos”, diz, e espera que se possa aproveitar o actual trabalho no âmbito do IILP para melhorar o AO, mas acha que, “depois de todo o trabalho feito, não faria sentido suspender o acordo” para o corrigir.
Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/adversarios-do-acordo-ortografico-reclamam-referendo-1692912?page=-1

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #70 em: Abril 24, 2015, 06:29:01 pm »
Henrique Neto fala sobre o Acordo Ortográfico


A opinião de Henrique Neto sobre o AO90
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Nesta gravação, Henrique Neto diz aquilo que pensa sobre o AO90. Se bem que refira também a tese da “revisão” do acordo como sendo algo de plausível, estamos sem qualquer dúvida perante um depoimento de inegável relevância política, visto tratar-se de um candidato à mais alta magistratura da Nação, a Presidência da República Portuguesa.

(...)

[transcrição]
A minha opinião relativamente ao acordo ortográfico nunca foi muito favorável. Porque a Língua, que deve unir as pessoas e os povos, no caso do acordo ortográfico contribuiu para alguma desunião que tem prevalecido e que tem sobrevivido na sociedade portuguesa e presumo também que noutros países de língua oficial portuguesa. Pela importância do tema, eu resolvi aproveitar este Dia Mundial do Livro para ler uma declaração que é a forma mais rigorosa de expressar a minha opinião sobre o acordo ortográfico. E portanto passaria a ler.

‘Neste Dia Mundial do Livro, quero chamar a atenção do país para a importância política, social, cultural e geo-estratégica da Língua Portuguesa. Trata-se de um património insubstituível, que não pode correr riscos experimentalistas ou facultativos como os que estão previstos no chamado “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990″. Acordo que continua a merecer críticas generalizadas da comunidade científica e dos mais qualificados utentes do nosso idioma, incluindo poetas, escritores, professores, jornalistas e tradutores. E não apenas em Portugal; as reservas ao acordo multiplicam-se também nos diversos países e territórios onde o Português funciona como língua oficial e veicular.

Na realidade, o Português só pode impor-se no mundo através de elevados critérios de exigência que o promovam como elemento essencial nos mais diversificados sectores de realização da cidadania. As fundamentadas críticas que têm sido dirigidas ao acordo ortográfico não podem, por isso, ser ignoradas pelo Presidente da República, garante supremo da Constituição, na qual se estabelece o Português como língua oficial. Tais críticas reclamam, pelo contrário, uma ponderação séria, que, sem prejuízo dos trabalhos até agora efectuados, da legislação aprovada e dos caminhos percorridos pelas indústrias culturais mais directamente ligadas ao livro, designadamente o escolar, incluam a possibilidade de uma efectiva revisão do acordo.

Há poucas semanas, tive a ocasião de me insurgir contras as leis escritas em mau Português. Desde então, diversos acontecimentos evidenciaram, mais uma vez, as grandes disfunções que o chamado “acordo ortográfico de 1990″ continuam a causar, desde logo no meio educativo. Outros acontecimentos alertaram-me para a indiferença com que o poder político nacional tem aceite a perda de influência da Língua Portuguesa no plano internacional, que a recente votação da Assembleia da República, legitimando o directório da Alemanha, França e Inglaterra, na União Europeia, com a retirada do Português no caso do Tribunal Unificado de Patentes é o exemplo menos edificante.

Ao fim de 20 anos, não se podem ignorar as críticas generalizadas e persistentes da comunidade académica, científica e artística, e dos cultores mais qualificados do nosso idioma.

Longe de ser um factor de união, o chamado “acordo ortográfico” tem semeado a discórdia. Longe de utilizar a escrita, promoveu variantes e usos facultativos absurdos, de que todos os dias se oferecem exemplos abundantes.

Defendo, assim, a continuação do debate nacional numa matéria tão nuclear, com base em três propostas muito precisas: em primeiro lugar, a oportuna nomeação de uma “comissão de peritos”, com carácter interdisciplinar e multinacional, mandatada para uma revisão profunda do acordo, devendo as respectivas conclusões ser de carácter vinculativo; em segundo lugar, a aprovação de uma moratória de cinco anos, correspondentes à duração do próximo mandato presidencial, até à entrada em vigor do acordo, devidamente revisto e melhorado, na ortografia oficial da República Portuguesa; em terceiro lugar, fazer depender a entrada em vigor da nova ortografia da prévia ratificação do acordo por todos os Estados integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, algo que nunca chegou a ocorrer, e da sua simultânea entrada em vigor.

Estou certo da relevância deste tema para o interesse nacional e por isso o convoco expressamente neste Dia Mundial do Livro. Nos termos actuais, o acordo ortográfico não garante, como pretendia, a unidade essencial da Língua; revê-lo com bom senso contribuirá para a desejável expansão e afirmação do Português no mundo.’
[/transcrição]
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=18016

(Agora fala assim, mas quando chegar ao poleiro faz o mesmo que o Soares, Sampaio e Cavaco.)

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #71 em: Maio 03, 2015, 08:32:26 pm »
Movimento ou Partido?
Citação de: "Rui Valente"
No passado dia 10 de Abril, seguindo uma sugestão de um subscritor, a ILC propôs que se desse início à recolha de 7.500 assinaturas para a criação de um Partido Político. Este partido teria, como ponto único do seu programa, a revogação da entrada em vigor do AO90.

Desde essa data, temos vindo a debater esta ideia com várias pessoas.

A proposta, de um modo geral, tem sido bem aceite. Há mesmo que diga, dando como exemplo o seu caso pessoal, que um Partido assim poderá reconciliar "pelo menos um" eleitor com as urnas de voto. Mas, como é natural, há também quem refira dúvidas e inquietações.

Uma questão levantada por várias pessoas prende-se com o próprio conceito de "Partido Político", por oposição à criação de um "Movimento". Um "Movimento", dizem, tende a ser mais abrangente, na medida em que pode recolher o contributo de um sector alargado da população, independentemente de credos políticos, religiosos ou outros.

No caso da Língua Portuguesa, um "Movimento" poderia integrar pessoas da extrema esquerda à extrema direita, passando, evidentemente e por esmagadora maioria de razões, pelo chamado "centrão". Isto significa, de forma absolutamente abrangente e transversal, que pessoas cujas opiniões sobre outros assuntos podem divergir quase por completo encontrariam no "Movimento" um denominador comum que lhes permitiria actuar em conjunto.

Em contraponto, um Partido Político tende geralmente a rotular-se (ou a ser rotulado) — desde logo entre esquerda e direita, levando ao afastamento de quem quer que não se reveja nesses rótulos.

O argumento tem alguma lógica, mas não se aplica a este caso em concreto.

Em primeiro lugar, aquilo que propomos não é um partido político comum. Não se pode aplicar rótulos a um partido que não se pronuncia sobre política externa, sobre produto interno bruto ou sobre taxas de desemprego, por exemplo. Na verdade, aquilo que propomos é um "movimento". Inclusivamente, o nome proposto — M-nAO: Movimento não ao Acordo Ortográfico — contém a palavra "movimento".

Porquê, então, a criação de um Partido?

Como sabemos, não seria o primeiro partido a recorrer à palavra "movimento". Os exemplos abundam e, aqui sim, é possível dizer, da esquerda à direita. Em rigor, enquanto movimento, o M-nAO será sempre infinitamente mais genuíno do que muitos partidos que ostentam a palavra "movimento" nas suas siglas.

Neste contexto, as razões para a criação de um partido são muito simples: desde logo, manteremos todas as vantagens associadas a um movimento — agilidade e mobilização em torno de objectivos simples e claros. Mas teremos também as vantagens de um partido político: forçando as restantes forças políticas a pronunciar-se sobre o assunto (em vez de fugirem dele como o diabo da cruz) e mostrando a determinação de todos quantos lutam contra o acordo — seria a primeira vez que uma Causa de interesse nacional mobilizaria os cidadãos ao ponto de estes se constituírem em partido. Seria, sem dúvida, uma mensagem poderosa, capaz de se fazer ouvir até noutros países de expressão oficial portuguesa.

E já este pequeno texto ia lançado quando li, hoje, aquele que será talvez o melhor argumento a favor da criação de um partido: Diz João Roque Dias, algures no Facebook:

«Os partidos, desgraçadamente, ainda não perceberam que o aborto ortográfico é uma ferida aberta na sociedade portuguesa, mais funda do que possam imaginar. Estupidamente [...] querem acreditar que a rejeição do aborto não passa de uma teimosia de um bando de loucos que quer escrever "pharmacia". Senhores dos partidos: estes "loucos" votam. E há "loucos" que acham este assunto tão ou mais importante do que umas promessas de mais ou de menos cortes nas pensões ou na Educação. E, por isso, não votam.»

«Não votam», diz João Roque Dias. Neste último ponto tenho de discordar. Havendo essa possibilidade, havendo uma alternativa coerente, não deveremos nós, "loucos" confessos, votar?
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=18111

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #72 em: Maio 09, 2015, 07:45:07 pm »
Que grande surpresa. [/sarcasmo]

Porto Editora: Acordo Ortográfico "não teve impacto" nas exportações livreiras
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O Grupo Porto Editora afirmou à Lusa que a aplicação do novo Acordo Ortográfico "não teve qualquer impacto" nas exportações livreiras para os países lusófonos.

"Aliás, é pertinente sublinhar que Angola e Moçambique ainda não adoptaram as normas do novo acordo ortográfico, o que pode vir a causar dificuldades nas exportações para esses países", realçou fonte do grupo editorial.

O grupo editorial LeYa, questionado também pela Lusa sobre a mesma matéria, afirmou que mantém a posição assumida há seis anos quando o novo Acordo entrou em vigor: "Todos os [seus] livros são publicados com a nova grafia, excepto nos casos em que os autores desejem manter a grafia anterior ao acordo [de 1990]".

Questionados os dois grupos livreiros sobre um apoio do Estado para a reconversão tecnológica, por causa da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, como chegou a ser referido por responsáveis governamentais, a Porto Editora afirmou que "não teve qualquer tipo de apoio".

"Todo o esforço de adaptação foi feito com investimento próprio, incluindo o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para esse efeito - lembro, por exemplo, que tomávamos a iniciativa de desenvolver um conversor que colocámos 'online', para uso gratuito de todos os que queiram converter para a nova grafia palavras ou mesmo textos, pondo assim a nossa competência técnica ao serviço das comunidades de língua portuguesa", realçou fonte do grupo que congrega cerca de 30 editoras e chancelas, incluindo uma editora em Moçambique e outra em Angola.

Sobre esta questão o Grupo LeYa, que congrega cerca de 20 editoras e chancelas, e tem editoras em Angola, Moçambique e Brasil, não se pronunciou.

O Grupo Porto Editora usa a nova ortografia desde o primeiro trimestre de 2011, "na sequência de o Ministério da Educação da altura ter definido a obrigatoriedade de aplicar o Acordo Ortográfico na edição escolar", área em que este grupo é líder, assim como na área dos dicionários.

Todavia, "em relação à literatura, temos respeitado as opções dos autores, ou seja, publicamos com a ortografia anterior se tal for indicado pelos autores", esclareceu fonte do grupo Porto Editora, fundado há 70 anos.
Fonte: http://www.noticiasaominuto.com/economia/387683/acordo-ortografico-nao-teve-impacto-nas-exportacoes-livreiras

Mas estes pategos acharam mesmo que iam conseguir competir com a indústria brasileira após abrirem as portas para o AO90? Mais um bom negócio feito por empresas portuguesas no Brasil... Aliás, se forem a ver, muitas empresas e institutos em Portugal já nem a variante portuguesa/europeia do AO90 utilizam. Utilizam é a variante brasileira da língua portuguesa.

Entretanto, Angola já anda/andou a estudar a possibilidade de criar a sua própria variante oficial da língua portuguesa.

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #73 em: Maio 11, 2015, 10:10:02 pm »
O (Des)Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: uma agenda oculta (I) (uma abordagem na perspectiva da Ideologia Linguística e Análise Crítica do Discurso)
Citação de: "António Filipe Augusto"
No meu artigo publicado em 21 de Novembro de 2014, pelo Semanário O País, começo por sublinhar que “ a decisão acerca de adopção e/ou adaptação de um sistema ortográfico com fins de grafização de uma determinada língua ou conjunto de línguas é, e foi sempre, um processo de uma profunda investigação e aturados debates académicos, políticos e sociais e constiui um elemento preponderante entre os três pilares que sustentam o processo de Planificação Linguística, sendo por sinal, o elemento sine qua non para a implementação da Política Linguística de um Estado”. No mesmo texto deixei claro que a “Política Linguística de um Estado sério e responsável”, e aqui acrescento, que se diz ser independente, “é concebida por uma equipa criada de forma transdisciplinar e inclusiva”, e aqui acrescento, e é de inteira responsabilidade desse Estado. A Planificação Ortográfica, por sua vez, constitui um elemento crucial, pois, ela é um dos três pilares do processo da Planificação Linguística.

Porém, nos primórdios da última década do século passado, Portugal e Brasil entenderam conceber e liderar um processo de planificação linguística, e mais precisamente uma reforma ortográfica da língua portuguesa a que denominaram por Acordo Ortográfico Unificado da Língua Portuguesa, cujo “objectivo explicito”, alegam, “é de pôr fim à existência de duas normas ortográficas oficiais divergentes”. Com esta planificação linguística, os protagonistas da referida reforma ortográfica advogam que o pretérito “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 pretende instituir uma ortografia oficial unificada da língua portuguesa” e “actualizar o sistema ortográfico que data desde o Acordo do ano de1945”.

Os proponentes da política impõem esta ortografia, de uma forma implícita, à todos os países falantes do português como língua oficial, mesmo não fazendo parte do processo inicialmente, ipso facto, sentiram-se na obrigação de “persuadir” as lideranças políticas dos países africanos que têm o português como língua oficial para aderir ao acordo, o que parcialmente acabaram “cegamente” fazendo. Este facto, leva os analistas de políticas linguísticas a uma perturbação, não somente académico, como político-social. Esta perturbação pode traduzir-se em várias inquietações, tais como: com que legitimidade podem Portugal e Brasil conceber a política linguística para os países africanos que se dizem independentes? Que tipo de independência clamam estes países ter se ainda são linguisticamente dependentes da sua potência colonizadora? Aqui, é preciso salientar que segundo a Ideologia Linguística, a independência de um Estado começa pela independência linguística, pois, a língua é um potente instrumento de controlo, de poder e de manipulação.

O objectivo deste estudo é revelar a agenda oculta por detrás do “Acordo Ortográfico Unificado da Língua Portuguesa” em plena era pós-estrutural (pós-moderna), onde o clamor para a coexistência de diferentes variedades linguísticas sem discriminação e/ ou exclusão sociais ecoa persistentemente e alertar os fazedores das políticas linguísticas dos PALOP, e os de Angola em particular, para reflectir sobre a excessiva dependência da ex-potência colonizadora. Entende-se que é fruto da herança da ideologia linguística e política linguística coloniais, entretanto, a aclamação de apropriação da língua do ex-colonizador pela elite pós-colonial poderia levá-las a uma certa autonomia linguística, como podemos, por exemplo, observar com o inglês.

Cada país que tem o inglês tanto como sua língua única ou como língua oficial goza de sua autonomia. Provam isto nossos computadores: ao processar um texto em inglês, vem de imediato a referência (US English – inglês americano, UK English – inglês britânico, Indian English – inglês indiano, South African English – inglês sul-africano). Entretanto, escoadas que estão duas décadas e meia, depois de tantos investimentos realizados, ouve-se e nota-se por parte da elite política de Angola uma tendência regressiva. Senão vejamos: “PAÍS DEFENDE ALTERAÇÃO DAS BASES: Acordo Ortográfico está em discussão” – Jornal de Angola (Sábado, 11 de Abril de 2015, pág. 2). Lê-se logo no princípio do texto “O Ministério das Relações Exteriores apresentou quinta-feira, em Luanda, o estado do projecto governamental sobre a alteração das bases do Acordo Ortográfico da língua portuguesa de 1990, tendo em vista a sua próxima ratificação”.

Na qualidade de estudioso de Políticas Linguísticas e patriota angolano, acima de tudo, preocupa-me a constante indefinição do Estado Angolano e as ambiguidades discursivas provenientes dos diversos intervenientes políticos governamentais a volta do assunto, pois, não passa muito tempo que se ouviu, se a memória não me atraiçoa, da locução do Senhor Ministro da Educação, numa cerimônia de lançamento de um trabalho sobre o pretérito Acordo, que Angola não iria ratificar o Acordo Ortográfico de língua portuguesa, e agora, no texto em referência lê-se: “Angola não está parada nem fora do processo e cumpre todos os preceitos”. Autêntica inconsistência política!

[continua]
Fonte: http://opais.co.ao/o-desacordo-ortografico-da-lingua-portuguesa-uma-agenda-oculta-i-uma-abordagem-na-perspectiva-da-ideologia-linguistica-e-analise-critica-do-discurso/ (via ILC AO)

Adriano Moreira: «eu próprio fui vítima disso, tinha que obedecer»
Citar
«A Língua transita. Sem precisar dessas ajudas. E é portanto isso que me leva a ter esta atitude em relação à Língua. Eu acho que ela muda, absolutamente, de acordo com a cultura local, em qualquer país onde ela se venha a implantar, recebe valores que os outros recebem, é inevitável isso, e portanto é melhor não pensar que há a capacidade de impor à Língua a evolução. E por isso é que eu achei que foi inoportuna a intervenção; simplesmente, eu próprio fui vítima disso. Porque eu era nessa altura Presidente da Academia das Ciências, que é responsável pela língua, tive um trabalho enorme para recolher o dinheiro necessário para fazer o novo dicionário etc., e afinal o Brasil adiou a entrada em vigor. Mas eu, como era Presidente da Academia, achei que tinha que obedecer à lei.»

(...)

AM: Como se fez agora. Porque a iniciativa foi do Brasil, desta vez. O Brasil já adiou a entrada em vigor, Angola recusou-se a assinar, outras antigas colónias também se recusaram a assinar. Primeiro, porque a nossa Língua é ali um enxerto na cultura local, implantação, e portanto eles são muito conscientes da maneira como a Língua foi assimilada e é oficialmente a Língua do país. Isso é a primeira coisa. A segunda coisa é que, do ponto de vista financeiro, essas mudanças, sobretudo para economias fracas, têm consequências muito sérias.  Suponha… os livros escolares, em que os editores, como sabe, guardam os instrumentos de impressão que depois reutilizam; se mudar a grafia, eles têm de fazer a revisão completa.

RDP: Mas hoje há ferramentas que ajudam nisso…

AM: Pois ajudam. Mas a palavra “ajuda” não é gratuita. Suponha uma enciclopédia, livros científicos: tudo isso tem encargos, sobretudo em momentos de crise, que os editores têm motivos para ter cautela porque a relação com a clientela provavelmente diminui e os encargos com a impressão aumentaram.  Há várias razões, portanto, para isso.

RDP: Mas também tiveram um período de transição, para se prepararem…

AM: Sim, mas ela transita. A Língua transita. Sem precisar dessas ajudas. E é portanto isso que me leva a ter esta atitude em relação à Língua. Eu acho que ela muda, absolutamente, de acordo com a cultura local, em qualquer país onde ela se venha a implantar, recebe valores que os outros recebem, é inevitável isso, e portanto é melhor não pensar que há a capacidade de impor à Língua a evolução. E por isso é que eu achei que foi inoportuna a intervenção; simplesmente, eu próprio fui vítima disso.  Porque eu era nessa altura Presidente da Academia das Ciências, que é responsável pela língua, tive um trabalho enorme para recolher o dinheiro necessário para fazer o novo dicionário etc.,  e afinal o Brasil adiou a entrada em vigor. Mas eu, como era Presidente da Academia, achei que tinha que obedecer à lei.  É claro que não me acontecia nada de mal se não obedecesse. Mas não se trata disso. Trata-se de, se se está à frente da instituição responsável, é melhor salvaguardar a intervenção da instituição. E é isto. Com simplicidade, é só isto.

[continua]
Fonte: http://ilcao.cedilha.net/?p=18242

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque:
 

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Re: CPLP acordo ortográfico da língua portuguesa
« Responder #74 em: Maio 17, 2015, 09:56:21 pm »
O capitão Windows e o general Klinger
Citação de: "Nuno Pacheco"
Anacleto estava radiante. Já lhe tinham dito lá na repartição mas ele não acreditava. No dia 13, o das aparições lá de Fátima, já podia escrever com menos letras, que alívio. Agora era lei, já não podiam gozar com ele quando escrevia “coação” e lhe perguntavam onde é que tinha comprado o coador. Só podia ser mesmo bênção dos pastorinhos. Ele tinha-se informado, sabia tudo. Até ao dia 13, havia na escrita portuguesa duas ortografias. Uma para Portugal e outra para o Brasil. Um excesso! Agora, a partir de dia 13, passa haver só duas ortografias. Reparem bem na subtileza: duas e “só duas”. Completamente diferente. As duas antigas tinham muitas palavras diferentes, e além disso eram duas. As novas também têm palavras diferentes (não exactamente as mesmas, porque é preciso variar, a escrita tem de vencer o tédio) e são “só duas”. Ora é com este “só duas” que o português vai finalmente ser aceite lá na ONU, na UE, na CEDEAO e nessas coisas todas importantes. Mesmo na colectividade lá do bairro, onde os comunicados já estavam a ser escritos em mandarim, ia passar a imperar o “só duas”. Que é uma escrita comum, como está bom de ver.

Ele, Anacleto, até já se precavera. Comprara um dossier daqueles de argolas, bem bonito, de capa colorida, para começar a coleccionar os preciosos documentos escritos em “só duas”. Claro que nem toda a gente ia aceitar aquilo, havia muitos conspiradores, sediciosos, sempre prontos a pôr em causa os altos interesses da Pátria. Para isso, ele tinha um remédio: o capitão Windows. Era como o capitão Falcão do filme, o que dava pancada a torto e a direito nos que desafiavam o poder do senhor doutor, mas este era mais hábil e eficaz. Mesmo sem capa, voava; e, mesmo sem ser o velhinho de barbas brancas assessorado por renas a cada Natal, conseguia entrar em todas as casas ao mesmo tempo. Fosse onde fosse, aqui ou noutros continentes. Bem podiam queixar-se de que isto estava a “desarrumar o português”, como ouvira a um jornalista africano descontente com a nova lei. O capitão Windows ri-se do matraquear no teclado e corrige as más vontades. Só dedos muito atentos e hábeis conseguem despistá-lo. Mas até esses hão-de cansar-se, vão ver!

Feliz com o 13 de Maio, Anacleto sabia que a coisa não ia ficar por ali. Que havia já, no Brasil, quem anunciasse mais simplificações. Escrever como se fala, claro, como é que ninguém tinha pensado nisso. Ou tinha?

[continua]
Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-capitao-windows-e-o-general-klinger-1695654

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque: