Bem, uns dias sem vir aqui e está tudo diferente. Ainda bem.
Vou só pôr rapidamente em dia a correspondência, se me permitem.
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Sr. Ferrol,
Manifestamente enganei-me a seu respeito. Acontece.
Eu, desde fóra do país atopo outro portugués que di cousas contrarias ás deste forum e máis preto das miñas posicións.
Eu tenho visitado a Galiza com alguma regularidade e conto com alguns amigos permanentes em Vigo e em Ourense. E pelo que me é descrito e me já me foi dado observar, a língua galega é sistematicamente subalternizada (para não dizer estigmatizada), tanto profissional como socialmente. Enganei-me portanto ao admitir que você a utilizava como forma de afirmação da sua especificidade cultural de origem, quando afinal a razão era meramente funcional.
Non me chame resistente por escribir en galego e non en castelán, así eu non o chamarei "resistente" por escribir en portugués e non en inglés, lingua franca hoxe en día.
Provisoriamente acreditarei que se trata de alguma confusão de paralelismos. Em Portugal, os portugueses falam entre si em português, coisa que não é equivalente ao que se passa na Galiza.
Precisamente é onde lle vexo eu o trunfo ó Estado español. Conservou os particularismos enriquecedores que se perderon noutros Estados maís centralistas e represores das diferencias (...)
É precisamente onde eu vejo a diferença entre a retórica e a realidade: os “particularismos enriquecedores” existem APESAR do estado espanhol, não porque tivessem sido defendidos, muito menos promovidos. Até inversamente; reprimidos durante séculos passaram recentemente ao estatuto de tolerados. E mesmo assim...
(...) o galego, como pai que é do portuguiés (...)
É isso que vos ensinam na escola?
¿Agora tamén falan os xeneráis de política?¿Como Franco? (...) Realmente preocupante que un Xeneral fale de política en público, MOI preocupante.
Bom, realmente quando um General autoriza o sobrevoo ilegal das ilhas dos vizinhos, fica muito caladinho. Nesse caso, mais do que falar, põe em prática. Então das duas uma: ou o General cumpre ordens (e o estado espanhol não é pessoa de bem) ou então é uma iniciativa espontânea do general, que assim «está sacando os pés do xardín e perde todo o respecto» que o Sr. Ferrol lhe «podería dar». E se o estado espanhol tolera que estas iniciativas se repitam, então uma vez mais não é pessoa de bem.
(...) falando dos españois, cando existe unha ampla variedade de cores na nos Iberia.
É verdade que frequentemente nos enganamos e olhamos para a Espanha como um todo homogéneo que não é. Há efectivamente diferenças mas também semelhanças, derivadas da simples e nada menosprezável circunstância do estado espanhol ter um governo central que executa a sua política externa sem ter em conta essa «ampla variedade de cores».
Pessoalmente (e não estou só), tenho poucas razões para confiar na candura do estado espanhol e do governo de Madrid. Por um lado porque até recentemente, a «ampla variedade de cores» não passava de um conjunto de colónias geograficamente contíguas, situação que ainda se mantém, mais ou menos eufemisticamente. Segundo, porque o braço armado do poder central não perde o complexo «conquistador» nem disfarça sequer o seu apetite por competências sobre o território do vizinho. Terceiro, porque não respeitam os convénios sobre os caudais mínimos dos rios internacionais. Quarto, porque os convénios internacionais já são sagrados quando se trata de mandar a «Armada» de pescas esgotar os recursos da nossa ZEE. Por isso é tão difícil convencer as pessoas de que a recente implantação de numerosas empresas espanholas, por aquisição ou não, obedece meramente à lógica do mercado e que não se trata de uma sorrateira quinta-coluna de Madrid.
¿Que utilidade ten para Portugal gastar millóns en controis aéreos propios se os españois dan o mesmo servicio?
Deverá o Sr. Ferrol perceber que nem tudo se mede em dinheiro. E que os controles aéreos espanhóis têm um inconveniente insuperável: serem espanhóis. Coisa que permitiria ao General de há bocado outros sobrevoos mais arrojados. A julgar pelos precedentes, a coisa dificilmente ficaria por aí. E você, galego que é, deveria lembrar-se das informações tóxicas que receberam do Rajoi durante a crise do Prestige, e que as únicas informações verdadeiras eram as disponibilizadas pelas forças portuguesas.
Enfim, já estou a ser longo de mais. Mas antes quero saudar o colega Borges, não só pela invejável quinta histórica por onde passou Pedro IV, mas principalmente por ter trazido para a discussão a questão do centralismo europeu. A Europa do directório dos grandes, que parecia arredada de cena enquanto o mundo foi bipolar, começa a estruturar-se de forma mais ou menos nítida, em flagrante prejuízo das nações demograficamente pequenas. Claro que nações como a Galiza ou a Escócia que já estão acostumadas à aculturação não sentirão esta ameaça com a mesma intensidade. É assunto que talvez mereça as lucubrações dos ilustres companheiros de fórum.