Crise e Submarinos

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typhonman

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Crise e Submarinos
« em: Maio 30, 2011, 09:52:44 am »
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Ultrapassar a crise? Comprem mais submarinos!
 

Para tirar veleidades a uns membros da”comunidade internacional”

Não acreditam que precisamos de mais submarinos? Já vão acreditar.

Em 1926 a situação económica e financeira de Portugal era bastante melhor do que a actual mas, em termos políticos e sociais, estávamos muito pior. De facto os indicadores pelos quais se aferem os dois primeiros âmbitos assim o provam. Aquando do 28 de Maio, a dívida pública era cerca de 63% do PIB; de 1910 a 28 houve um deficit acumulado de 2.684.724 contos (78.900.000 libras); em 1920 os salários referidos aos preços já valiam apenas um terço do que em 1910, e tudo isto apesar de a seguir à IGG se viver sem contas e sem orçamento, já que a classe política da altura não se entendeu sobre como pôr um de pé…

Presentemente a divida pública é já de cerca de 100% do PIB (e não está lá tudo!) – em 1974 era de 15%, e segundo o conceituado docente Santos Pereira, Portugal está na lista dos 10 países mais endividados do mundo. Nem vale a pena falar nos restantes indicadores macro económicos, um verdadeiro filme de terror que a pouco e pouco se vem tornando público.

A I República quis implantar uma espécie de “democracia directa”misturada com ditadura jacobina que lembrava Danton e Robespierre. O resultado foi o período mais infame que em Portugal já houve. Lembra-se resumidamente: oito PRs (um cada dois anos), dos quais um foi assassinado (idem para um chefe de governo), dois foram exilados, um resignou, dois renunciaram e outro foi destituído; 45 governos (média de três governos/ano); oito parlamentos, dos quais cinco foram dissolvidos, e 11 ditaduras, ou seja restaram apenas cinco anos cumpridos dentro da legalidade constitucional.

A ditadura militar instaurada em 1926, pôs ordem nas ruas, mas não soube resolver o problema financeiro. Os generais Sinel de Cordes e Ivens Ferraz negociaram um empréstimo (parece que só se sabe fazer isto…), de 12 milhões de libras, na Sociedade das Nações, mas as condições leoninas que nos impuseram levaram o governo a rejeitar o empréstimo. Só então se concordou com as condições de um certo professor de Coimbra, que foram buscar para ministro das finanças. O resto da história é conhecida, embora muito mal contada e convenientemente esquecida.

O actual empréstimo, negociado com a “Troika”devia ter levado o caminho daquele, por variadíssimas razões, a saber:

Enquanto nos continuarem a emprestar dinheiro, o problema político – de onde derivam todos os outros – não será resolvido em Portugal;

O empréstimo (e os que se seguirão), não são passíveis de serem pagos, nem daqui a 200 anos, a não ser que se descubra petróleo no Beato ou ouro em Foz Côa;

O empréstimo é feito a uma taxa de usurário e, por isso, inadmissível;

O dinheiro só vai servir para pagar juros, dívidas externas e internas, afim de não deixar colapsar o Estado. Não vai ser investido na economia nem em actividades reprodutivas, logo não tem mais-valia futura. É apenas mais um ónus. Até um simples aviador como eu, percebe isto;

O empréstimo, que não tem nada de filantropia destina-se, outrossim, a financiar os grandes bancos europeus, nomeadamente, franceses e alemães, em particular, e a alta finança ligada à Wall Street, em geral – nisto é mister dar razão a Jerónimo e a Louçã;

Tudo isto representa uma canga insuportável, que nos leva a soberania que nos resta. Depois não vai haver revolta que nos salve. Nem o Conde Duque Olivares se atreveu a tanto;

Para garantirmos estes empréstimos e os próximos – por esta lógica isto não vai parar nunca – vamos ter de abrir mão de tudo, privatizar tudo (a TAP, por ex., vai já à vida e por tuta e meia, por causa do enorme passivo que tem…), vender tudo. Quando não restar nada pagamos com sangue.

Finalmente, não deveríamos ter feito este acto suicidário, pela simples razão de que os partidos e todo o sistema político existente, não vão conseguir honrá-lo. Irão desentender-se todos e não haverá autoridade para nada. Também não acreditam? Leiam Fernando Pessoa (“O Interregno. Defesa e justificação da Ditadura Militar em Portugal”, 1928):

“Os partidos, (…) como têm um ideal político distinto do ideal nacional (sem o que não seriam partidos), ora sobrepõem aquele a este ora o infiltram neste, assim o pervertendo. Os partidos, ainda, como têm que ter a aparência de se apoiar na opinião pública, buscam “orientá-la”no sentido que desejam, e assim a pervertem; e, para sua própria segurança, buscam servir-se dela, em vez de a servir a ela, e assim a sofismam.”

Ora, lamentavelmente, os partidos actuais não são muito diferentes dos contemporâneos do grande poeta, enfim, aqueles seriam até mais patriotas…

Em súmula, chegando-se à conclusão que o empréstimo nada vai resolver, ao passo que tudo se irá agravar, então mandaria a lógica que interrompêssemos o caminho para o abismo quanto antes.

Mas as coisas não se irão passar assim, pela questão pueril de que não há coesão política e social e pela especificidade da natureza humana: ninguém quer fazer sacrifícios se lhes puder furtar, nem alguém no seu juízo perfeito – muito menos um politico - gosta de ser portador de más notícias. Ou seja, temo bastante que só quando houver fome, greves selvagens e “bombas”se irá atacar os problemas de frente. A alternativa (rara), só existiria com o aparecimento de uma verdadeira elite política. E todos sabemos que tal, de momento, não existe. Aliás, nos últimos 30 anos em vez de as tentarmos formar, fez-se tudo para as eliminar.
O que se deveria então fazer? A lista é longa e dura e teria que ser harmonizada numa política medularmente portuguesa, servida por uma grande estratégia. E quem a delinearia e poria em prática? Voltamos ao mesmo, não pode ser com a actual classe política – que foi quem nos trouxe ao inenarrável cenário contemporâneo - e que o dia seguinte às próximas eleições legislativas irá provar, mais uma vez, à saciedade.

Um conjunto de medidas – quando for possível implementá-las – passará pela eventual saída do euro, da UE, sair da zona de influência das agências de rating, regular fronteiras e trabalhar com os meios que tivermos. Concertar acções com outros devedores; renegociar a divida e embargar o seu pagamento, quando isso nos interessar. Voltarmo-nos para o mar e pôr a CPLP a funcionar. Tornar-nos neutros nas contendas europeias e afastar do poder todos os cidadãos que prefiram obediências estranhas à sua matriz nacional.

Ao contrário do que a maioria dos receosos pensam, só teremos dois problemas sérios pela frente: alimentar a população (água ainda temos alguma e vinho não falta!) e ter um mínimo de energia para nos sustentarmos – não produzimos e não temos como ir buscá-los pois, entretanto, estes adiantados mentais reduziram a marinha à exiguidade!

Finalmente, hélas, precisamos dos submarinos para tirar veleidades a uns quantos membros da”comunidade internacional”, para não nos bombardearem como estão a fazer à Líbia ou para, no mínimo, não pensarem que entram aqui a passear.

Creio que, agora, o título já faz sentido.

Excelente artigo /T.Coronel Brandão Ferreira
 

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Edu

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Re: Crise e submarinos
« Responder #1 em: Maio 30, 2011, 11:28:00 am »
Este senhor é que havia de estar à frente do país. Haveria alguma maneira deste individuo ou alguém como ele chegar ao poder?
 

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Desertas

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Re: Crise e submarinos
« Responder #2 em: Maio 30, 2011, 07:57:47 pm »
Parabéns excelente artigo Sr. T.Coronel Brandão Ferreira.
Quanto à tua questão Edu, julgo que só quando o país estiver de rastos , e à beira duma guerra civil .

Um Abraço
God and the soldier all men adore
in time of trouble and no more
for when war is over and all things righted
God is neglected and the old soldiers slighted
 

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Luso-Efe

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Re: Crise e submarinos
« Responder #3 em: Junho 04, 2011, 12:04:21 am »
O Tenente-Coronel Brandão Ferreira é dos poucos homens em Portugal que não tem medo de nada nem de ninguem. :oops:

Fica aqui o link da queixa que o Alegre triste interpos contra o Tenente-Coronel Brandão Ferreira.

http://novoadamastor.blogspot.com/2011/ ... cidos.html

Nutro também grande admiração e respeito por este militar e cidadão exemplar. :!:

Concordo com o Edu, precisávamos de um homem destes à frente dos destinos do pais.

Cumprimentos.
Chamar aos Portugueses ibéricos é 1 insulto enorme, é o mesmo que nos chamar Espanhóis.

A diferença entre as 2 designações, é que a 1ª é a design. Grega, a 2ª é a design. Romana da península.

Mas tanto 1 como outra são sinónimo do domínio da língua, economia e cultura castelhana.

Viva Portugal
 

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Senseke

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Re: Crise e submarinos
« Responder #4 em: Junho 05, 2011, 12:14:01 pm »
Olá a todos!

 Prefiro que se gaste dinheiro nos submarinos do que no Rendimento Social de Insercão. É uma questão de bom senso.
 

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Vicente de Lisboa

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Re: Crise e submarinos
« Responder #5 em: Junho 05, 2011, 07:49:21 pm »
Citação de: "Senseke"
Olá a todos!

 Prefiro que se gaste dinheiro nos submarinos do que no Rendimento Social de Insercão. É uma questão de bom senso.

Alhos e Bugalhos. Uns são uma questão de defesa externa, outros são uma questão de manutenção de ordem interna.
Há muitas áreas deste país que, sem RSI ou SubDesemprego, já estavam em revolta aberta.