André Furtado de Mendonça, o terror da Índia[/size]
André Furtado de Mendonça era filho de Afonso Furtado de Mendonça, comendador de Borba e de Rio Maior, e de D. Joana Pereira. Cedo, com apenas 16 anos, aquele que mais tarde viria a ser apelidado de "Grão-Capitão", se estreou nas
cousas da guerra, acompanhando D. Sebastião na sua primeira jornada em África. Aos 20 partia para a Índia. Era aí que posteriormente viria a adquirir outra alcunha que o deixou célebre:
"O Terror da Índia".
Em 1591, Furtado de Mendonça já tinha mostrado provas de valor. O Vice-Rei Matias de Albuquerque tratou então de o enviar a Goa com uma expedição punitiva de 20 velas contra o Rajá de Jafanapatão, que juntamente com o de Candia, havia declarado guerra contra os habitantes da ilha de Ceilão, cometendo grandes tiranias contra os que professavam a lei cristã.
Este Rajá de Jafanapatão intitulava-se "Rei dos Reis", pela sua arrogância e confiança no seu poder. Chegando à costa de Calecut, André Furtado de Mendonça encontrou três naus de Meca com numerosa guarnição de turcos, e outra bem armada de canhões e de todo o género de armas. Naquele mar navegava ao mesmo tempo o corsário Coti Muça com 14 ou 22 galés. Encontraram-se as armadas, e apesar de serem muito desiguais as nossas forças com as dos inimigos, estes ficaram completamente vencidos, sendo as galés rendidas, despojadas, e entregues ao fogo, tendo Coti Muça a fortuna de escapar, nadando...
Depois desta vitória, a esquadra de André Furtado de Mendonça aportou a Menar, encontrou outra nau inimiga, e travando-se renhido combate, que durou muitas horas, a vitória foi por fim declarada a favor dos portugueses. Faltava a empresa mais difícil, o ataque à cidade.
Apesar da dificuldade da empresa, estas eram contudo as preferidas de Furtado de Mendonça. Mais do que um bom marinheiro, André Furtado era sim um excelente cavaleiro, e mestre em guerra terrestre.
Descansaram as tropas naquela noite, e na madrugada seguinte, 27 de Janeiro do referido ano de 1591, desembarcaram as forças, e cortando todos os embaraços, seguiram valentemente até ao palácio real. O régulo indiano foi morto assim como o seu filho mais velho.
Aqui o "Grão-Capitão" demonstrou aquela célebre faceta dos grandes homens, quando o sentimento de misericórdia e humanidade substitui por uns momentos, a crueldade da guerra. Tenho o segundo filho do régulo indiano se atirado aos joelhos do capitão português, pedindo que não o matasse, este concedeu-lhe a vida, fazendo inclusive com que todos o reconhecessem como Rei, conseguindo desta forma o sossego e a tranquilidade daqueles povos. Em 1598 destroçou o pirata Cunhale, e destruiu uma fortaleza que ele erigira nas terras de Samorim de Calecut.
Em 1603 foi governador das ilhas Molucas, donde expulsou os holandeses de Amboino, e em 1605 passou a governar Malaca. Tornou-se o terror dos holandeses, que persistentes e tenazes haviam conseguido insinuar-se no Oriente, fazendo-nos concorrência ao comércio, tomando-nos um certo número de feitorias e fortalezas na costa de África, e rivalizando quase com os portugueses no domínio dos mares. Porém, quando tentaram introduzir-se na Índia e conquistar as nossas fortalezas, numerosos desastres assinalaram a sua tentativa. Não desanimaram, porém, e a fortuna afinal coroou a sua constância, mas as derrotas precederam as vitórias.
Era André Furtado governador, quando em 30 de Abril de 1606 apareceu em frente de Malaca uma esquadra holandesa de
11 navios com 1.500 homens de desembarque, comandados pelo Almirante Cornelius Matalief. A fortaleza portuguesa tinha de guarnição apenas 145 homens, porque não se esperava o ataque, mas André Furtado, costumado sempre a vencer, ousou fazer sortidas que foram tão felizes, que Matalief preferiu aos assaltos o bloqueio rigoroso. Além das forças de que dispunha, tinha a aliança de todos os régulos vizinhos de Malaca, dois dos quais, o de Jalhor e Singapura, o auxiliavam com tropas, mas a intrepidez e actividade de André Furtado, pareciam transformar em leões os soldados da pequena guarnição da fortaleza. Com este homem, renascia a velha chama dos primeiros varões ilustres que na Índia deixaram os seus nomes assinalados.
Durante o extenuante cerco, André Furtado de Mendonça não retirou por uma única vez a armadura que trazia no corpo, e de noite, com ela posta nem a espada saia da sua cintura. Depois de três meses de bloqueio, Matalief, sabendo que o Vice-rei vinha em auxílio da fortaleza, desistiu do seu intento, a retirou, deixando André Furtado de Mendonça vitorioso!
A 27 de Maio de 1609 chegava a recompensa pelos seus heróicos serviços. Era designado então Governador da Índia. Foi um governo curto, de apenas três meses, mas reza a história que fez mais do que outros em muitos anos. Chamado a Portugal, deixou Goa para trás a 26 de Dezembro de 1609. Os habitantes de Goa choraram a sua partida, o que atestou a simpatia que soube conquistar.
Nunca vencido pelos homens, acabou por morrer nas águas do Atlântico já depois de dobrado o Cabo da Boa Esperança. Foi sepultado no Convento da Graça.
(Homens, Espadas e Tomates - Rainer Daehnardt
Carreira da Índia, Marinha Portuguesa, Arqnet)