Politicas à parte, poderia dizer que qualquer profissional que abrace uma profissão - e nesta particularmente, considero difícil viver-se sem um mínimo de vocação - gosta de exercer aquilo para que se preparou. Estabeleço ainda uma outra comparação: imaginem um atleta olímpico que se prepara anos a fio para 2 ou 3 grandes eventos e que não pode participar porque os jogos foram cancelados. Sentirá certamente uma enorme frustração.
Acontece que os militares não têm de ser necessariamente iguais às outras profissões existentes na nossa sociedade; refiro-me especificamente ao facto de os militares não terem de produzir matéria-prima que contribua para o PIB do nosso país. Não é assim em nenhum país do mundo, porque terá que ser no nosso? PF, não desçam os militares à condição de terem de “alugar” as suas tendas e viaturas para poderem gerir o dia-a-dia nas Unidades.....e mais não digo!
Para o cidadão normal, será então bastante difícil, senão mesmo uma tarefa hercúlea, tentar compreender a razão da existência de umas Forças Armadas num país tão pequeno e tão carenciado. Talvez a primeira ideia que lhe venha à mente, fruto do passa-palavra de gerações que vieram cumprir o serviço militar, seja esta: os militares não fazem nada e passam o tempo nos quartéis a tentar justificar a sua existência. E de facto, o que estou eu a fazer, ao escrever estas linhas? Bem, assim é difícil exercer uma profissão, em que à partida tenhamos que permanentemente justificar a razão dos dinheiros gastos e que são fruto do trabalho de todos os Portugueses.
Falando português corrente e corrido, a ideia será esta: A tropa não tem que dar lucro, como uma grande empresa; tem, sim, de gastar bem e demonstrar que os recursos empregues foram ajuizadamente gastos. Talvez isto ainda não aconteça em todos os organismos onde se gastam dinheiros públicos, mas no seio das Forças Armadas, existe um grande esforço nesse sentido. Se entendermos a utilidade de umas Forças Armadas dimensionadas para o nosso país, e adequadas aos compromissos assumidos, facilmente compreenderemos que o lugar delas será onde melhor prestigiam o país, onde melhor poderão empregar toda a sua força e todo o seu empenho, fruto do treino diário e incessante. No fundo, será onde de pequenos nos fazemos grandes, pelo mundo inteiro.
Claro que os diversos analistas políticos e políticos de profissão se questionam: mas que interesses temos nós no Líbano ou naquela região? Eu pergunto: e que interesses temos no Afeganistão ou no Iraque? Claro que muito poucos, ou pelo menos, não tantos como as potências, que para lá nos tentam empurrar, ou nos incitam a ser solidários.
Independentemente de tudo isto, os militares, como sempre, estão preparados. E nem com as consecutivas desorçamentações de que têm sido alvo se desencorajam ou se atrevem a dizer não aos sucessivos governos. Por isso digo: envio de tropas portuguesas para o Líbano, porque não?! Será perigoso? Sim. Será um TO, em que as coisas se poderão complicar? Talvez. Não estamos a expor desnecessariamente os nossos militares? Não, sinceramente penso que não. Foi para isso que eles treinaram, foi para assumir riscos que eles confiaram no seu treino. Se não estiverem em acção nas missões de paz, para que se preparam eles no dia-a-dia? O leque de missões das Forças Armadas é hoje cada vez mais diverso e complexo, mas nunca foram tão desafiantes as novas missões, para o nosso pequeno país, que tenta afirmar-se pela sua neutralidade nos conflitos e que se destaca pela unânime aceitação das suas Forças Militares em qualquer cenário de guerra.