Julgo que já questionei mas vou voltar: nos exercito dos EUA ascender à categoria de "NCO" é usual para os que começam como soldados em que percentagem (mais ou menos)? É usual haver soldados "para a vida" ou a ideia (tendência) é "para cima ou para fora"?
Penso que já respondi uma vez sobre isso. Existe a todos os níveis uma diferença brutal nas estruturas das carreiras militares entre os EUA (e os países anglo-saxónicos em geral) e Portugal.
Não existe uma divisão em classes diferentes entre praças e sargentos. Todos os NCO são “enlisted”, todos começam como soldados. Não existe um quadro permanente, todos começam com contratos, que depois podem ir sendo renovados por vontade de ambas as partes. Portanto respondendo à primeira pergunta, é usual apenas para aqueles que decidem renovar o seu contrato inicial, como progressão natural da carreira, sobretudo para níveis mais baixos de NCO. Mas muitos saem ao fim do primeiro contrato (que pode ter diferentes durações, mas normalmente não ultrapassa os 4 a 6 anos de serviço efectivo) e nunca chegam a NCO.
Sim, é completamente “para cima ou para fora”. Não, não existem soldados (praças) para a vida, aliás essa ideia é completamente bizarra no mundo anglo-saxónico e também deveria ser para nós, mas enfim…
Não digo que se utilizasse o modelo deles, são realidades diferentes, mas existem algumas coisas boas que poderíamos aproveitar.
Sobre as soluções normalmente apontadas e que parecem consensuais, tenho várias reticências e discordâncias.
Quadro permanente de praças deixa-me de pé atrás e no máximo aceitaria um número limitado, para especialidades técnicas com maior exigência de conhecimento e experiência e onde a disponibilidade física e mental não seja tão decisiva. E para militares com um perfil que possibilite depois o prosseguimento da carreira militar além de praça. Agora especialidades de combate e ainda para mais tropas especiais não me faz qualquer sentido. Nós não precisamos de aumentar o número de praças para fins estatísticos, precisamos para fins operacionais. E sim, a operacionalidade fica, e muito, comprometida com o avançar da idade, não vale a pena vir com lirismos, é a todos os níveis.
Sobre vencimentos, em vez de aumentos generalizados e cegos, poderíamos seguir os bons modelos de outros países. Definir as especialidades mais deficitárias e com mais impacto na operacionalidade, as mais caras e difíceis de formar e de reter e conceder bónus de admissão e sobretudo de retenção para as mesmas. Por exemplo poderia haver uma estrutura de abonos pecuniários definida para essas especialidades, em que o militar recebia a primeira parcela, de menor valor, após terminar o curso, uma segunda parcela de valor intermédio ao fim de 4 anos de serviço e a maior parte do valor após concluir 6 anos de contrato. Uma parte poderia até ser um abono a usar na compra de casa por exemplo. Isto seria sempre um bónus, que seria revisto e alterado para novas entradas caso as necessidades fossem mudando. O ponto também é procurar e premiar os perfis que mais interessa ter, se não fica-se sempre no mínimo denominador comum da mediocridade, que atrai a fina-flor do entulho.
Outra medida podem ser os falados contratos de longa-duração, mas para esses tem de existir a obrigatoriedade de no final do contrato o militar ter no mínimo uma formação certificada oficialmente e ao nível do 12º ano, bem como a frequências dos necessários estágios ainda que os mesmos tenham de ser realizados em entidades externas ao Exército. No fundo, em contrapartida do contrato de longa-duração, o Exército ficaria com o ónus de dedicar a parte final desse contrato exclusivamente às necessidades profissionais do militar e à sua reinserção no mercado de trabalho.
Outras coisas que se podem fazer são diminuir as necessidades de mão-de-obra pela modernização de alguns processos e diminuição da dispersão territorial, conceder a civis funções que não são de natureza militar, melhorar as condições de alojamento, não pôr os praças a fazer serviços pessoais para os graduados e direcioná-los o mais possível para as suas funções.