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Conflitos => Conflitos do Passado e História Militar => Tópico iniciado por: jmendespaulo em Março 01, 2006, 06:47:53 pm

Título: Carros de Combate M5A1 em Nambuangongo
Enviado por: jmendespaulo em Março 01, 2006, 06:47:53 pm
Antes de mais, desejo enviar uma saudação calorosa a todos os visitantes deste fórum, aos conhecedores e interessados nas questões militares e àqueles que, por uma razão ou outra, aos modos castrenses se sintam ligados. Passo a apresentar-me: o meu nome é João Luiz Mendes Paulo, major, arma de Cavalaria, nascido em 1932 e passado à reserva em 1971. Completei o ensino secundário no Colégio Militar e cursei na Escola do Exército (hoje Academia Militar). Fui mobilizado para Goa em 1958 (onde estive até 1961, em Valpoy, no 1º pelotão do Pel/Rec 4, com sede em Bicholim) e depois para a Zambézia, Moçambique, com o Batalhão de Cavalaria 571 (63-66). No seguimento da vida militar (as Forças Armadas combatiam então em três frentes de guerra em África), embarquei para Angola com o Batalhão de Cavalaria 1927 (destino final e base da unidade: Nambuangongo). Em 1970 fui de novo mobilizado, desta vez para a Guiné, como Oficial de Operações do Batalhão de Cavalaria 2922 (seria a minha 4º comissão, a terceira em cenário de guerra).

O motivo que aqui me traz é simples. Um amigo indicou-me este fórum e chamou a minha atenção sobre um assunto que me é particularmente caro: a acção dos carros de combate M5A1 do exército português no Norte de Angola, em finais dos anos sessenta. Num dos temas em discussão (creio que sob o título «Aquisição de novas viaturas para o Exército»), a certa altura, um dos participantes afirmou qualquer coisa como «toda a gente sabe que os carros de combate em Angola só serviam para as fotografias...». Sei, por conhecimento e experiência própria, que esta afirmação não corresponde à verdade. Ao interveniente em questão (a quem, desde já, envio um abraço), diria que muitas das acções do exército português e dos seus soldados permanecem ainda desconhecidas - responsabilidade e culpa que, como português e oficial do Exército, será também minha. E essa é mais uma razão para intervir neste fórum.

Os carros de combate M5A1 foram levados para Angola como consequência das ideias e argumentação de um jovem oficial do exército. Esse oficial, entre as comissões em terras de além-mar, tinha sido instrutor de Instrução Táctica de Cavalaria na Academia Militar (anos de 63 e 67). O principal meio de ensino de então era o carro de combate M5A1 e - acreditou esse oficial - as características do carro pareciam indicadas para o seu uso na guerra em África. A saber: o M5A1 possuía uma torre e peça em posição elevada (sendo obsoleto para a guerra «convencional», teria vantagem nas picadas rodeadas de capim); o carro era extremamente fiável do ponto de vista da mecânica, com provas dadas quer no deserto do Norte de África, quer nos Invernos rigorosos da Alemanha; como carro de combate, com as suas lagartas, blindagem e armas (uma peça de 3.7 e três metralhadoras Browning - nunca encravavam, desde que bem tratadas) o M5A1 podia ripostar imediatamente sob fogo numa situação de emboscada e até avançar sobre o inimigo mato adentro, protegendo a coluna e os nossos soldados; o carro era ágil, muito fácil de conduzir e extremamente rápido (80 km/h, provavelmente o mais rápido tanque de guerra na época); finalmente, e como razão determinante, existiam dezenas de carros de combate M5A1 arrumados para a sucata no Depósito de Material de Guerra em Beirolas... Bastava escolher os melhores, treinar as tripulações e passar da teoria à prática.

Esta era a ideia e, como devem ter percebido, o jovem oficial de então é o autor destas linhas. Recordo bem todas as cartas, relatórios e memorandos que enviei ao Comando, e os esforços que fiz no sentido de levar os carros de combate para África. E ainda hoje, conhecendo a pesada tradição da burocracia lusitana, não deixo de ficar espantado ao reler os despachos que determinaram a preparação, treino e embarque dos três M5A1 adstritos à CCS do Batalhão de Cavalaria 1927.

Os carros foram revistos nas Oficinas Gerais de Material de Engenharia e levados para o RC3, em Estremoz, unidade mobilizadora do B. Cav. 1927, no verão de 67. Foi da Companhia de Comando e Serviços (normalmente associada aos cozinheiros, faxinas, escriturários, mecânicos e clarins) que saíram as tripulações - homens e soldados cuja dedicação, dádiva e competência nunca esquecerei.

Dois meses depois estávamos em Nambuangongo, a principal base das NT no Norte de Angola, literalmente cercados por grupos de guerrilheiros da FNLA. O primeiro ataque deu-se a 21 de Dezembro. Dois M5A1 faziam a protecção de uma coluna que fazia reparações na picada quando começou a emboscada. Relato do 1º cabo condutor António Domingos Machado: «Era de madrugada, ainda não se via nada. Com os potentes faróis do carro vi pegadas na picada, pensei que alguém ali tinha posto uma mina. Avisei o nosso comandante e logo ali começou o tiroteio. Avançámos contra o inimigo com o carro a disparar o canhão e as metralhadoras e, passado algum tempo, acabou a confusão. Nesse dia fomos atacados mais duas ou três vezes sempre com o mesmo resultado: abríamos imediatamente fogo, entrávamos pela mata fora e o IN punha-se em debandada».

Outro ataque (dia 1 de Maio de 68), outro relato (furriel José de Matos Bento): «O nosso carro fechava a coluna. Caímos numa emboscada, disse ao pessoal que se mantivesse calmo e confiasse na nossa equipa. Disparámos a peça mais de vinte vezes, disparámos as metralhadoras para as palmeiras e a base das palmeiras, varremos aquilo tudo. Saímos daquela situação sem feridos, sem mortos, sem problema nenhum».

Continuando os depoimentos. Joaquim Fernando Pouca Roupa, 1º cabo mecânico, CCS B. Cav. 1927: «Eram emboscadas duras, mas tivemos uma saída muito airosa porque eles temiam as nossas máquinas. Estes carros de combate, que aqui estavam na sucata, protegeram muitas das nossas vidas e a posição que tínhamos em Angola na altura.»

Soldado Rec. Inf. Manuel Leite Ferreira: «Constituímos três extraordinárias tripulações em três tanques de guerra e a prova demonstrada é que nunca sofremos uma única mordedura de mosca na picada».

E, realmente, Leite Ferreira tem razão: ao longo de quinze meses em Nambuangongo, não foi registada uma única baixa, morto ou ferido (nem um único ferido ligeiro), militar ou civil, nas colunas sob escolta dos carros de combate M5A1. Para a história fica também este facto: os três tanques realizaram, nesse período de tempo, cerca de 30.000 km, nas condições mais adversas (picada, pó, lama, emboscada), mais do que o conjunto de todos os blindados de lagartas então existentes em Portugal. Foram também os únicos carros de combate a entrar em acções de guerra em toda a história do exército português.

Três anos depois, encontrando-me na Guiné com o batalhão 2922 (Piche, junto à fronteira com a Guiné Conacri), o general Spínola - já conhecedor da eficácia dos M5A1 em Angola - encarrega-me de ir imediatamente a Lisboa recuperar o maior número possível de CC M5A1: a situação na Guiné tornava-se cada vez mais difícil e toda a ajuda era bem vinda. Existiam ainda nessa altura cerca de setenta M5A1 a apodrecer em Beirolas. Destes, de acordo com o relatório que então apresentei, vinte estariam prontos para a guerra num curto espaço de tempo e outros tantos alguns meses depois. Infelizmente - e escrevo esta palavra no sentido único que refere a protecção da vida dos nossos soldados (palavra e homenagem aos que a cada dia arriscaram a sua vida, no mato, longe dos seus) - o poder estabelecido recusou o uso dos carros na Guiné. Tratava-se de material NATO e os Estados Unidos exerceram pressão no sentido de tornar claro que esse equipamento não podia ser usado nas campanhas de África.

Como alternativa fui encarregado de preparar, testar e levar para a Guiné as primeiras viaturas anfíbias Chaimite V-200. Estas Chaimites foram também as únicas que entraram em acção na guerra do Ultramar. Muitos dos sistemas destas viaturas (rádios, blindagem, armamento e suspensão) eram inadequados e em muitos dos teatros de operações os M5A1 dariam melhor conta do recado. As HK-21 (metralhadoras que equipavam as Chaimites) encravavam com facilidade e os semi-eixos partiam com demasiada frequência. Uma das Chaimites foi atingida por um RPG-7 e ficou totalmente destruída, no que resultou a morte do condutor e do chefe de carro.

Entretanto, sem as modificações e melhoramentos que foram efectuados ao longo dos tempos (as Chaimite de hoje pouco têm a ver com as de então), nunca estas viaturas poderiam manter-se hoje, trinta e cinco anos passados, ao serviço do exército português.

Regressando ao início, posso assegurar que os carros de combate M5A1 foram armas extremamente eficazes, tão acarinhados pelos nossos soldados como temidas pelos guerrilheiros da FNLA. O sucesso foi tal que se criou uma lenda: o IN não ousava atacar as colunas se os tanques estivessem presentes.

Desejando contar esta aventura - a epopeia dos velhos tanques da Segunda Guerra Mundial em terras de Angola - escrevi um depoimento e memória, procurando todos os documentos, arquivos, fotografias, mapas, relatos e testemunhos. Toda esta informação - incluindo um DVD com mais de duas horas de duração, onde se mostram as únicas imagens filmadas da actuação dos M5A1 em África - estará brevemente disponível.

Não é minha intenção usar este espaço para fazer publicidade ao meu trabalho, razão pela qual não divulgo o título do mesmo. Os livros vendem-se porque existe um público interessado e se o assunto não interessa o trabalho merece ficar nas prateleiras.

Escrevo com orgulho porque acreditei naqueles velhos tanques da segunda guerra mundial e na sua capacidade de ajudar a proteger a vida dos nossos soldados. Escrevo, antes de tudo, porque quero relembrar aqueles homens (jovens soldados de vinte e poucos anos de idade) que viveram sob as escotilhas, carne com ferro, perdidos na imensidão de África, dos carros fazendo anjos de guarda - os seus e de todos que os acompanhavam. Eram soldados do Minho, de Trás-os-Montes, da Beira e do Algarve... Homens que um dia, se existe justiça, serão reconhecidos como verdadeiros heróis de uma história ainda por contar.

Logo que possível, indicarei um endereço na Internet onde gostaria de incluir fotos, filmes e documentação variada sobre o assunto. Desde já, procurarei responder a qualquer questão que me seja colocada.

As FA vão construindo o seu futuro. A todos convém conhecer o passado.

Um abraço a todos os intervenientes.
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Março 01, 2006, 06:58:02 pm
Permita-me saudá-lo pela sua participação neste fórum e bem falta fazem as intervenções de (mais) pessoal do QP (ou neste caso ex-QP), porque no fundo são os srs. os profissionais e aqueles que, provalmente, sabem mais do "metier" da guerra...

Cumprimentos
B. Pereira Marques
Título:
Enviado por: pedro em Março 01, 2006, 07:02:56 pm
Que aventura 8) .
Seja bem-vindo ao forumdefesa. :lol:
Cumprimentos
Título:
Enviado por: Spectral em Março 01, 2006, 09:24:19 pm
Seja muito bem vindo  :wink:

Ficamos à espero de mais informações.
Título:
Enviado por: fgomes em Março 01, 2006, 10:43:18 pm
Seja muito bem vindo! A sua presença só valoriza este forum!
Gostei muito do seu relato sobre a utilização de blindados na guerra de África. Já agora uma pergunta, o que condicionou mais a sua utilização, o boicote internacional ou tratou-se de uma escolha pela parte das autoridades militares da época?
Título:
Enviado por: Yosy em Março 01, 2006, 10:58:31 pm
Bem-vindo. Mal posso esperar por todos esses projectos ligados ao uso de carros de combate na Guerra Colonial. Um grande história por contar - o baptismo de fogo da nossa cavalaria moderna. :Soldado2:
Título:
Enviado por: Jorge Pereira em Março 01, 2006, 11:06:19 pm
Seja bem-vindo Major.

São pessoas como o senhor, e como aquelas que refere, que me fazem sentir orgulhoso de ser português.

Faça deste fórum a sua “casa”. Todos nós agradecemos.
Título:
Enviado por: komet em Março 02, 2006, 12:22:56 am
Sinto uma enorme honra em partilhar este pequeno espaço virtual com pessoas que têm tanto para contar e com que se aprender. Muito bem-vindo Major.  :wink:
Título:
Enviado por: luis filipe silva em Março 02, 2006, 12:46:33 am
Muito benvindo ao Fórum defesa.

A sua apresentação foi magistral.
Já agora, qual foi o papel das Panhard EBR? Era só reconhecimento, ou foi similar ao dos Sherman?

Saudações
Luis F. Silva
Título:
Enviado por: TOMKAT em Março 02, 2006, 01:06:50 am
Bem vindo ao fórum.

A história da Guerra Colonial precisa de ser contada.
Parece ser norma nos países que participaram em conflitos que deixaram "feridas abertas" ,passarem mais ou menos 30 anos para que a história verdadeira possa ser contada, sem traumas, na primeira pessoa.
Esses 30 anos estão a chegar ao fim em Portugal.

É uma grande contribuição para este fórum escutar mais uma voz experiente e conhecedora dos factos.

Bons post's
Título:
Enviado por: NVF em Março 02, 2006, 01:22:27 am
Seja bem-vindo ao FD, major Mendes Paulo. Excelente texto! Pela sua qualidade, nao tenho duvidas que os trabalhos que estao na calha para publicacao serao de excelente qualidade.
Título:
Enviado por: Rui Elias em Março 02, 2006, 12:06:21 pm
Mais um VCC neste fórum, o que só serve para o enriquecer, já que com as experiências relatadas, todos podemos aprender.

Bem vindo, pois.    :D

E há agora, não se arranjam umas fotos dessas viaturas no teatro de operações em África?

Outra coisa:

Poderá confirmar se o Maçanita (o comandante que liderou a coluna que retomou Nambuangongo e Carmona em 1961 ou 1962) morreu recentemente?
Título:
Enviado por: papatango em Março 02, 2006, 12:42:33 pm
Caro JMendesPaulo.
Seja muito bem vindo.

Como dizem os espanhóis "enorabuena" (ou coisa que o valha :mrgreen:

Isto, se não incomodar muito.

Aceite para já os meus cumprimentos de boas vindas.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: dremanu em Março 02, 2006, 02:35:28 pm
Caro Major Mendes Paulo, seja bem vindo ao forum defesa.

Que sorte que é, para nós, termos a oportunidade de contar com a sua presença, e de poder "escutar" os seus relatos sobre as suas experiências ao serviço do nosso país.

E sim, sem dúvida, justiça será feita para com a memória dos nossos combatentes em África; Tem muita gente das novas gerações que reconhecem, e admiram, os esforços que foram feitos pelos nossos compatriotas durante a guerra. Aliás, muitos de nós têm familia que participaram na guerra, como o meu pai, que esteve na Guiné no mesmpo periodo em que o Major foi mobilizado.

Pessoalmente estou curioso de saber também um pouco mais sobre a sua experiência em Goa. Deve ter sido um sentimento especial, como oficial do exército Português, chegar pela primeira vez à India, e sentir a herança viva da presença Lusitana no oriente. Fantástico.

Mais uma vez, bem vindo ao forum.
Título:
Enviado por: papatango em Março 06, 2006, 02:55:32 pm
Citação de: "JMendesPaulo"
as características do carro pareciam indicadas para o seu uso na guerra em África. A saber: o M5A1 possuía uma torre e peça em posição elevada (sendo obsoleto para a guerra «convencional», teria vantagem nas picadas rodeadas de capim)
No seguimento do descrito acima, há várias questões que se levantam relativamente à utilização operacional dos carros de combate M5A1.

Os M5A1 que Portugal recebeu como carro leve, tinham não um mas sim dois motores Cadillac de 8 cilindros, com  121cv de potência cada um.
O consumo destes dois motores era relativamente elevado e o M5 tinha autonomia para 160Km em estrada (o que já era bom, se comparado com a autonomia do seu irmão o M3).

A resistência (endurance) do M5 foi sempre considerada um dos seus pontos fortes. Nos primeiros testes feitos durante a guerra, o protótipo andou 800Km sem qualquer problema.

No entanto, com essa autonomia o M5 poderia ir de Luanda até Nambuangongo, (a cerca de 150Km de distância) e pouco mais, num veículo que "bebia" uma média de 140 litros de gasolina aos 100Km.

A minha questão é:
Faría sentido a utilização de um veículo como o M5, o que implicava uma muito maior necessidade de transporte de combustível?

Ficariamos numa situação em que os próprios M5 teriam que apoiar as solunas que se destinavam a tranmsportar o seu próprio combustível?

Não seria o aumento da necessidade de combustível um novo ponto fraco na nossa defesa?

Sendo a nossa capacidade de habituação a condições dificeis um dos pontos que jogava a nosso favor, optando por uma guerra mais convencional, teríamos as mesmas possibilidades de lutar contra os movimentos como a FNLA?

Sabendo-se que a União Soviética forneceu ao PAIGC nos anos 70 misseis SA-7 (STRELA) não poderia a União Soviética ter fornecido RPG's que poderiam com alguma facilidade colocar fora de serviço um veículo como o M5 ?

O que acha da possibilidade de se ter desenvolvido mais a colocação de torres blindadas a bordo de "Berliets" ?

A mim disseram-me que o motor da Berliet não aguentava nada muito mais pesado e que tería sido necessário redesenhar completamente uma Berliet, para a transformar numa torre blindada móvel que dominasse o terreno.

Não sería esta possibilidade tão ou mais eficiente, e também muito mais economica?

Espero não ter abusado com demasiadas questões...

cumprimentos
Título:
Enviado por: Rui Elias em Março 13, 2006, 09:58:40 am
Papatango:

Citar
Sabendo-se que a União Soviética forneceu ao PAIGC nos anos 70 misseis SA-7 (STRELA) não poderia a União Soviética ter fornecido RPG's que poderiam com alguma facilidade colocar fora de serviço um veículo como o M5 ?


O que aconteceu é que a URSS nunca apoiou politica ou militarmente a FNLA.

E na zona norte de Angola o MPLA, que seria apoiadao pela URSS a partir de 1964 não tinha expressão.

Primeiro a UPA, e depois a FNLA eram apoiadas pelo Zaire, e pelos EUA, que até ao 25 de Abril de 74 acreditaram que seria o melhor movimento para lutar contra a presença colonial e garantindo um novo país independente pró-ocidental.

Para mais quando a FNLA se reforçou após a dissidência de Daniel Chipenda que colocou a sua guerrilha ao serviço da FNLA no leste.

Por isso acho meio difícil que os EUA fornecesem RPG's ao FNLA, se bem que os EUA tivessem também eles as suas armas anti-carro.
Título:
Enviado por: papatango em Março 13, 2006, 09:51:50 pm
Os meios anti-carro são mais baratos que os meios anti-aéreos.

A FNLA não precisa de ser apoiada pela URSS para receber RPG's.

RPG's eram, já no fim dos anos 70 equipamentos conhecidos e embora não fossem ainda um produto de supermercado (como no Paquistão) não seria dificil a Mobutu obter uns quantos.

Tanques abatidos são muito boa propaganda.

Cumprimentos.
Título:
Enviado por: Rui Elias em Março 14, 2006, 04:33:39 pm
O Mobutu até tinha dinhiero para comprar a 6ª esquadra americana, se quisesse.

Mas as guerrilhas da FNLA ou do MPLA nunca tiveram o grau de empenhamento militar, e organização no terreno, que teve o PAIGC.

Talvez isso explique o porque da não existência de armamentos sofisticados por parte das guerrilhas em Angola.
Título:
Enviado por: papatango em Março 14, 2006, 11:05:28 pm
Quando olhamos para o mapa e vemos o tamanho de Angola e o tamanho da Guiné, entendemos perfeitamente porque é que a organização era diferente.

A verdade é que uma penetração de 50Km na Guiné podia chegar ao centro do país. já uma penetração de 50Km na fronteira de Angola, era pouco significativa.

Além disso, os antagonismos entre étnias diferentes tornava muito dificil qualquer organização combinada. Os guerrilheiros tinham que passar por terras de outros grupos étnicos onde não tinham apoio, o que tornava as progressões quase impossíveis.

Depois, há o problema da UNITA, e da colaboração desta com as autoridades angolanas. Os ovimbundo são a maioria da população em Angola e a UNITA era um movimento essencialemnte Ovimbundo.

Logo, quer a FNLA quer a UNITA eram movimentos sem grande apoio se exceptuarmos as zonas da fronteira com o Zaire e a Zambia.

Como sabemos, estas fronteiras eram guardadas por forças regulares e forças irregulares, utilizando-se a vantagem das diferênças étnicas mais vincadas.

Admito no entanto, que transportar material relativamente pesado para o interior de Angola poderia ser complicado, mas ao mesmo tempo, também sería complicado e um pesadelo logistico operar uma ou duas dezenas de carros de combate.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Rui Elias em Março 17, 2006, 10:03:44 am
Citar
Logo, quer a FNLA quer a UNITA eram movimentos sem grande apoio se exceptuarmos as zonas da fronteira com o Zaire e a Zambia.


Papatango:

E por outro lado o MPLA também só tinha apoios por parte das elites mais "educadas" nos centros urbanos do litoral, formada por alguns negros e mestiços.

O que resultou num conjunto de movimentos que cada um de per si nunca chegaria para agregar grande apoio da generalidade da população negra de Angola.

Portugal teria jogado com essas rivalidades entre os movimentos.

E ganhou tempo e espaço de actuação por causa dessas rivalidades.

Isso teria facilitado o papel militar e politico português por lá, de modo quem em 1974 a situação miltar estava praticamete controlada em Angola, ao contrário do que se passava em Moçambique?

Outro facto teria sido uma colonização portuguesa extensivel particamente a todo o território, ao contrádrio de Moçambique onde a presença branca praticamente se limitava a LM, Beira e pouco mais.


Durante alguns anos, apenas a facção do Daniel Chipenda dava algum a expressão militar ao MPLA, mas após a sua saída e colocação ao lado da FNLA acabou com a capacidade militar do MPLA até praticamente 1974.

Concordaria com esta análise?
Título:
Enviado por: jmendespaulo em Março 17, 2006, 12:24:12 pm
Renovo os meus cumprimentos a todos. Peço também as minhas desculpas por só agora regressar a este espaço. Para um Oficial de Cavalaria os mecanismos da torre, peça e motores de um carro de combate serão sempre mais fáceis de entender do que os meandros da comunicação via Internet.

Queria responder às questões colocadas por ordem de entrada.

Fgomes
Em 1967 havia a consciência do apoio que a retaguarda tinha que dar às unidades combatentes. Estou hoje convencido que me seria permitida a possibilidade de levar dez ou mais carros de combate se os tivesse pedido - na época existiam cerca de oitenta M5A1 aguardando a sucata no depósito de Beirolas. Pedi apenas três carros porque era o número mínimo de CC com vista a um emprego operacional e porque sabia que, a nível de batalhão, seria difícil dispor de mais meios materiais e humanos.
Do ponto de vista da arma de Cavalaria, os três carros de combate cumpririam as suas missões: dois CC fariam as escoltas, usualmente um à frente e outro atrás da coluna (em caso de avaria só um blindado com a potência de um carro de combate podia rebocar um outro) e o terceiro ficava na base em contacto rádio permanente (exactamente como se procedemos em Nambuangongo). O apoio dado por este terceiro CC era essencial. Antes do embarque dos carros para Angola consegui que os M5A1 fossem equipados com rádios SCR-528 (os mesmos então usados nos modernos carros de combate «Patton» M-47). Ao contrário da maior parte do equipamento de comunicações disponível na guerra em África, estes aparelhos de rádio eram de uma enorme fiabilidade e eficácia. Atrevemo-me a dizer que, só por esse facto, as colunas sob escolta dos carros de combate M5A1 ofereciam uma poderosa ajuda e mais valia. Só quem esteve debaixo de fogo numa emboscada sabe o valor de uma comunicação por rádio permanente.
Mais tarde, quando o general Spínola me pediu para levar o maior número possível de carros de combate para a Guiné (em termos militares tratava-se de uma simples ordem e missão) o ambiente já era diferente. Faziam-se contas ao custo das revisões, protelavam-se reuniões e sentia-se um certo grau de incompetência. O soldado português lutava no meio do mato, por vezes em condições bem adversas, mas a vontade inicial (hoje a mesma seria catalogada de ingenuidade) já não vencia: o mundo vivia então o complicado xadrez da «guerra fria» e os equilíbrios geo-estratégicos eram medidos ao milímetro.
Em 1967, os carros de combate com destino a Angola foram embarcados à luz do dia, sob as gruas do cais de Alcântara, com as gaivotas e barcos à vela no Tejo (as imagens fazem parte do DVD que acompanha o livro) e duvido que um observador da embaixada dos Estados Unidos estivesse presente. Se o envio destes carros foi depois usado como «peso» nos meandros da diplomacia foi porque algum embaixador terá referido que «Portugal estava a usar carros de combate fornecidos pela NATO nas campanhas de África». Entretanto, se os Estados Unidos tinham - à data - um bom parceiro diplomático em Portugal (base das Lajes, votações na ONU), o facto é que não desejavam a agressividade dos movimentos nacionalistas africanos. E pouco importou, no contexto, defender que os carros de combate M5A1 eram armas há muito consideradas obsoletas - mesmo sabendo que o inimigo usava o mais moderno armamento (como os RPG7 que ainda hoje, 30 anos passados, mostram a sua eficácia).
O facto - histórico - é que o exército português usou carros de combate M5A1 em Angola, e que estes velhos tanques de guerra - graças ao empenho, dedicação e criatividade de um punhado de homens - protegeram muitas das vidas dos nossos soldados.
Sobre os aspectos políticos inerentes ao contexto histórico, convém aqui referir que nunca os CC M5A1 participaram em acções de «agressão» ou similares (por muito que tivessem essa capacidade) e tal ideia só revelaria um total desconhecimento das condições específicas com as quais o exército português se debatia. A missão dos CC era antes de tudo defensiva, possibilitando uma resposta imediata e eficaz perante as emboscadas, reagindo sobre fogo IN e imediatamente impondo o seu respeito - os testemunhos dos protagonistas são particularmente evocativos a este respeito.
A cada país compete defender os seus soldados: enviados em missões de guerra, vergonha seria a de uma Nação que não o fizesse. E aqui reside a minha crítica, mais direccionada às autoridades políticas de então do que às militares: o Estado Português já antes tinha comprado armamento na União Soviética (indirectamente), na Alemanha e em França, bastando adquirir meia dúzia de M5A1 para provar à ONU que se tratava de material «legítimo». O certo é que o uso destes carros de combate (tão antiquados para a guerra moderna como aptos para as missões em muitos dos cenários Africanos) teria constituído um poderoso aliado das NT.  

Yosy
É verdade, tratou-se do baptismo de fogo da nossa cavalaria moderna. Mais: esperando (e desejando) que tais cenários não se apresentem no futuro, foi a única vez que o exército português usou carros de combate em acções de guerra.

Luís Filipe Silva
As auto-metralhadoras Panhard EBR e ETT foram fundamentais na abertura de itinerários e na conquista da Vila de Nambuangongo. As suas características técnicas não lhes permitiam, no entanto, a eficácia dos carros de combate ligeiros M5A1. Se bem entendi a questão, a referência aos Sherman prende-se com as próprias designações dos carros de combate americanos: o Sherman é um carro de combate médio e a sua designação oficial é M-4. O tanque ligeiro M5 era uma evolução directa do M3 (todos estes carros de combate foram empregues pelo exército americano na Segunda Guerra Mundial).  
As EBR do esquadrão de Luanda (cerca de vinte unidades) não conseguiam manobrar nas picadas mais estreitas e muito menos entrar capim fora em perseguição do inimigo. Desde logo, as próprias dimensões da EBR constituíam um problema: sete metros de comprimento, para além de um longo canhão de 75mm que batia nas árvores. Além disso, a viatura não dispunha de lagartas e a falta de aderência TT (todo o terreno) tornava-se óbvia: tal como todas as outras viaturas de rodas, as EBR também ficavam atascadas na picada.
Escrevendo sobre esta aventura - a dos carros de combate em África - não posso deixar de recordar, quando chegámos a Luanda, as pequenas picardias entre o pessoal das guarnições das Panhard EBR e os militares dos nossos carros de combate (CCS, B. Cav. 1927).  Realmente, a princípio, os velhos tanques de guerra foram um motivo de riso. Depois, na picada, bem demonstraram as suas capacidades. Sublinho este facto porque sinto algum orgulho: o carro de combate M5A1 foi o único blindado na guerra do Ultramar que, por meio de fogo e movimento, obrigou o inimigo a abandonar os abrigos e posições de emboscada e proceder a uma rápida retirada (de tal forma que passaram a evitar o contacto caso detectassem a presença dos blindados na coluna).

Rui Elias
Vou tentar enviar algumas fotos. Está em construção um site dedicado ao historial dos carros de combate em Angola. Nesse espaço estarão disponíveis dezenas de fotografias dos M5A1 em Nambuangongo e Zala, bem como testemunhos, documentos oficiais e excertos dos únicos filmes existentes sobre a actuação dos CC em África, bem como a preparação e treino do Batalhão e embarque dos carros em Alcântara. Confirmo (e lamento): o Coronel Maçanita morreu há cerca de um mês.



TOMKAT
Todos aqueles que serviram sob a nossa bandeira estarão por certo de acordo consigo. Trinta anos é tempo suficiente. Como oficial do exército, só posso dizer que o soldado português foi (e acredito que será sempre) o melhor soldado do Mundo - não só pelas suas evidentes qualidades militares como também pela capacidade de adaptação, contacto com as populações locais e criatividade demonstrada nos diferentes cenários de operações (incluindo bases perdidas no meio da selva, autênticos «buracos» sem o mínimo de enquadramento logístico ou possibilidade de apoio).
Entretanto, passados os anos, o esforço e a notável acção das NT foi já motivo de análise de muitos estudiosos e especialistas. A título de exemplo, refiro o livro «Contra-Insurreição em África», de John P. Cann (Oficial da Marinha dos Estados Unidos e depois doutorado em Estudos de Guerra na Universidade de Londres). Neste trabalho, editado nos EUA e em Portugal (Edições Atena), o autor, após uma meticulosa análise da situação nas três frentes de guerra (Angola, Moçambique e Guiné) chega à conclusão de que foi o exército português o único capaz de suster e mesmo vencer a acção da guerrilha - caso singular na história moderna dos conflitos. Embora norte-americano, o autor não deixa de fazer constantes comparações entre a guerra no Vietname e a guerra em África (conhecimento do terreno, uso de helicópteros, contacto com as populações, organização das unidades, etc), concluindo sempre no elogio absoluto ao modo de acção das nossas Forças Armadas.

dremanu
Tem inteira razão, a maior parte dos portugueses têm familiares que participaram na guerra do Ultramar. Goa - a «Jóia da Coroa» - foi um mais um caso: cinco séculos de História comum. Como tenente, vinte e poucos anos, ali aprendi a comandar homens (a «prática» efectiva no comando de soldados não se aprende na Academia Militar). Recordo as auto-metralhadoras Humber que equipavam os nossos pelotões de reconhecimento, recordo os soldados africanos (mobilizados em Moçambique) e recordo para sempre (nunca esquecerei) o hastear da bandeira e o toque de alvorecer - ali, nos confins do território, a poucos quilómetros dos tanques AMX13 e jactos da União Indiana. A comissão terminou quatro meses antes da invasão e o mesmo paquete «Índia» que me levou de regresso a Lisboa trouxe as últimas tropas destacadas e que depois acabaram por ficar lá ficar, como prisioneiros de guerra.

Papatango
O modo de acção dos CC teve origem na doutrina clássica: intervenção potente e imediata, através da acção de fogo e movimento - naturalmente, com as devidas adaptações ao meio, terreno e inimigo. Os M5A1 estavam equipados com uma peça 37mm e duas metralhadoras Browning 7,62 com fitas de 225 cartuchos (uma tracejante em cada 4). Uma terceira Browning, colocada na frente do carro, era menos usada. Este poder de fogo revelou-se suficiente em situações de emboscada.
Seria realmente difícil usar os carros de combate em escoltas contínuas e prolongadas - esse papel adequava-se mais às auto-metralhadoras. Na guerra «clássica», os carros eram levados para a frente de combate em zorras, de modo a poupar as lagartas e o combustível.
No Norte de Angola, em 1967 e 68, as zonas mais sensíveis eram o eixo Nambu-Beira Baixa (a 30 km, em direcção a Luanda) e Nambu-Fazenda Madureira, (a 20 km, direcção Zala.) Os CC realizaram missões de escolta às colunas de MVL (Movimentos de Viaturas Logísticos) e, quando emboscados, ripostaram de imediato e perseguiram mato adentro os grupos de elementos IN. Não houve uma única baixa nas NT nestas acções (como, aliás, em todas em que os CC estiveram presentes).
Entre outras capacidades e sucessos dos M5A1, relembro o sucedido com uma coluna MVL (mais de meia centena de Scanias, Volvos e Unimogs) que se deslocava entre a Beira Baixa e Balacende: em consequência da chuva e da lama, um terço das viaturas ficou atascada na picada e lá permaneceram dois longos dias e noites. Feito o pedido, os M5A1 entraram em acção: em 3 horas todas as viaturas foram rebocadas e escoltadas até Balacende. O caso repetiu-se várias vezes até que os camionistas civis fizeram saber que só seguiam em colunas escoltadas pelos carros de combate. Verificou-se também, como antes referi, que o IN, após os primeiros confrontos, preferia não atacar as colunas protegidas pelos blindados. Recordo o depoimento do furriel José de Matos Bento. «Quando os carros de combate saíam, os soldados sentiam-se muito mais seguros. Eles até costumavam dizer: Hoje vão os carros de combate, então podemos ir à vontade... e assim aconteceu sempre».
 
Quanto ao consumo de combustível, é verdade que os CC não eram muito modestos. Neste caso, tratava-se apenas de tanques ligeiros, mas é um facto que os carros de combate são, por concepção e uso, as armas de Cavalaria por excelência e as suas capacidades superam fortemente os custos. Este facto foi dramaticamente sentido pelos exércitos aliados que combateram na Europa no final da Segunda Guerra Mundial: os últimos Panzer alemães (que consumiam quantidades impensáveis de combustível) eram meios temíveis, existindo relatos de um único CC ter destruído vinte blindados americanos antes de ser finalmente atingido.
Regressando aos CC do exército português em Angola, o principal eixo de acção no Norte era o de Luanda-Caxito-Balacende-Beira Baixa-Nambuangongo. Em todas estas bases existiam quartéis com reservas de gasóleo, gasolina normal e de 80 octanas para as EBR, M5A1 e GMC (grandes camiões do exército americano, ainda em uso - quando carregadas gastavam 70 litros aos 100km). O abastecimento correu sempre bem, nunca faltou gasolina nem foi necessário qualquer procedimento especial de logística para aguentar os carros. Também só escoltavam o percurso mais perigoso, menos de metade do total. Só uma vez foram a Luanda para mudar motores.
Quanto à manutenção dos CC, o aspecto mais complicado foi a substituição das rodas de apoio (revestidas de borracha maciça) e as lagartas que se gastavam como pneus de automóvel (ficámos sem o nosso stock de reserva porque nunca imaginámos que os M5A1 andassem tanto). Para dar uma ideia dos trajectos percorridos refiro a estimativa da quilometragem realizada durante o primeiro ano: 30.000km (!) no conjunto dos três carros. Como refiro no meu livro, a distância percorrida pelos M5A1 em Angola foi superior à realizada pelo conjunto de todos os carros de combate então existentes em Portugal - acresce a este facto que os CC na Metrópole só participavam em exercícios e desfiles, ao contrário dos M5A1 que actuavam na guerra e nas condições mais difíceis (picada, lama, pó, emboscada).  
Sobre o armamento dos movimentos nacionalistas, não posso deixar de concordar que o RPG-7 foi uma arma poderosa, muito utilizada na Guiné e em Moçambique. Felizmente para os militares dos nossos CC em Angola, a FNLA não parecia dispor desses meios à época. O efeito da arma podia ser letal para qualquer blindado e recordo uma Chaimite destruída por uma granada de RPG-7 na Guiné, entre Bafatá e Nova Lamego, em Março de 1974. Entretanto, esta Chaimite estava parada na picada quando foi atingida e a granada entrou perpendicularmente por detrás da roda da frente (local de blindagem mínima da viatura). Os carros de combate M5A1, por instruções e experiência própria, nunca estavam parados: avançavam sobre o inimigo ou ultrapassavam a coluna através do capim de forma a localizar o ataque. Ainda hoje tenho dúvidas quanto à coragem necessária a um lançamento eficaz de RPG-7 sobre um carro de combate: os CC dispunham de razoável poder de fogo e movimentavam-se com grande facilidade e «ronco» na picada (barulho dos motores, blindagem, nuvem de poeira, efeito psicológico, etc) e não seria fácil apontar uma destas armas - se por acaso o apontador falhasse o lançamento, não teria certamente uma segunda oportunidade.  
Volto de novo às condições específicas da guerra em África. Nas emboscadas, no primeiro instante, todos se deitavam para o chão e só a reacção imediata dos valorosos apontadores das metralhadoras das Berliet, dos lançadores de dilagrama e guarnições de morteiro de 60 podia evitar o assalto, as baixas e os incêndios nas viaturas. No entanto, esta era sempre uma postura defensiva. Os grupos IN estavam protegidos em abrigos cavados a 10/20 metros da picada e só retiravam quando atingidos pelos impactos de dilagrama ou pelas granadas de morteiro (e, no meio do mato, era difícil acertar no alvo com estas armas). Com a actuação dos M5A1, o inimigo passou a ser desalojado, alvejado e perseguido. E a emboscada deixou de ser um risco apenas para as NT - pela primeira vez, constituiu também um risco para os atacantes. As torres nas Berliet seriam sempre úteis, evitavam o assalto do inimigo para capturar armas, incendiar viaturas. Mas não os desalojavam das suas posições.

Logo que possível, terei todo o prazer em indicar o endereço do site dedicado ao livro, DVD e historial dos carros de combate M5A1 em Angola.
     
É sempre com emoção que recordo a dedicação, esforço, sacrifício e coragem dos nossos soldados. São memórias que acompanham os tempos, nos dias de ontem e de hoje - como voltei a sentir ao ler a mensagem de Jorge Pereira e um certo «orgulho de ser português».

A todos agradeço as palavras de estímulo e consideração que me dedicaram.
Título:
Enviado por: Rui Elias em Março 17, 2006, 05:22:45 pm
Obrigado por estes depoimentos e esclarecimentos, Sr. Mendes Paulo.
Título:
Enviado por: papatango em Março 21, 2006, 03:17:20 pm
O meu comentário à questão colocada pelo Rui Elias está aqui (dado ultrapassar a questão da utilização dos carros de combate)
http://www.forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?p=40099#40099

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Caro jmendespaulo.

Tenho que agradecer os esclarecimentos relativos à utilização do M5A1.

Efectivamente, eu tenho conhecimento de que alguns dos veículos utilizados em África não eram conhecidos por gastar pouco combustível. Basta lembrar por exemplo os problemas de consumo de alguns UNIMOG.

Mas creio que o consumo dos M5A1, era de qualquer forma mais elevado que o de qualquer outro tipo de veículo, e a questão de terem sido fornecidos ao abrigo dos acordos com a NATO, pode ser um factor desencorajante, sendo que a compra dos carros também poderia constituir um problema.

Concluo, analisando a explicação que nos trouxe,  que a vantagem principal dos M5A1 era dada pelo facto de, por ter lagartas, ter uma superior mobilidade, o que lhe permitia dirigir-se rapidamente na direcção dos elementos adverários que (como afirmou) tinham por táctica, atacar desde posições fortificadas, as quais, poderiam ser atacadas pelos canhões ligeiros montados numa Berliet, sem no entanto terem o efeito de desalojar e/ou neutralizar os elementos adversários.

A conclusão que tiro, é a de que Portugal poderia ter tido vantagem na utilização de um veículo blindado leve com lagartas (não necessáriamente um tanque). Mas que estando os M5A1 disponíveis, teríam preenchido essa necessidade.

Creio porém que existem lugares onde a utilização táctica destes veículos  se torna inviável, pela largura exigua das picadas, as quais muitas vezes metiam por dentro de florestas densas. Neste caso, a utilização dos M5A1 da forma que nos refere (arremetida rapida sobre as posições inimigas) sería impossível.

É o caso da frente leste, onde em algumas regiões, há um tipo de vegetação diferente, onde abundam pequenas arvores, que embora pequenas, constituem obstáculo para carros de combate.

O seja, nas regiões onde predominam planicies com erva alta (creio que se chama erva-elefante) a altura do carro M5A1 e a sua mobilidade eram uma grande vantagem, mas a sua utilização não teria vantagens noutras regiões de Angola, nomeadamente naquelas onde numa segunda fase se passou a considerar estar o maior perigo.

= = =

A minha curiosidade está relacionada com a questão da utilização de carros de combate (ligeiros ou pesados)  no caso de Angola, pela utilização que lhe deram as forças cubanas que utilizaram carros T-34 numa primeira fase e T-54/55 numa segunda fase, tendo estes últimos chegado no final dos ano 80 às "vias de facto" com os Olifant da África do Sul, no sudeste de Angola.

Os sul-africanos utilizaram os ELAND (um Panhar 4x4 com canhão de 90mm) mas também os tanques convencionais, mas os resultados foram inconclusivos, tendo no entanto os sul-africanos alegado que, em combate contra os T-54, o facto de os Olifant serem mais altos, lhes permitia ver os carros de fabrico sofiético, que por serem muito mais baixos tinham pouca visibilidade sobre o campo de batalha.

Ora, a altura do M5A1 é idêntica à altura de um T-54/55, pelo que pelo menos no leste de Angola, e a acreditar nas versões sul-africanas, os problemas de visibilidade também se poderiam colocar.

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Também tenho algumas questões relacionadas com  aviabilidade da utilização dos M5A1 no caso de se verificar uma alteração nas técticas utilizadas pelos vários movimentos no ataque a colunas, mas já me estou a alongar demais.

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Mais uma vez os meus agradecimentos

Cumprimentos
Título: carros de combate M5A1 em Nambuangongo
Enviado por: jmendespaulo em Março 26, 2006, 06:38:52 pm
Caro Papatango ref 14Mar,

Disse: Seria complicado e um pesadelo logístico operar uma ou duas dezenas de carros de combate…

Para a CCS/1927 3 carros de combate nunca foram um pesadelo logístico
devido ás:

- características dos M5A1 (pesavam tanto e gastavam tanto como as EBR)
- excelência e motivação das guarnições.

Ainda hoje esse pessoal e eu mesmo acreditamos que núcleos de 3 M5A1
ajudariam a proteger os pontos mais críticos dos eixos principais.

Admito no entanto que a quantidade e continuidade de actuação poderiam dar origem á utilização de armas anti-carro fáceis de obter e transportar como minas potentes e RPG7.
Título: Carros de Combate M5A1 em Nambuangongo
Enviado por: jmendespaulo em Março 26, 2006, 06:42:49 pm
Caro Papatango ref 21Mar comentários a Rui Elias através com/fórum/viewtopic

Disse Papatango – Guerra em Angola/questões políticas: Pessoalmente creio que o MPLA não só não tinha fraca expressão…

Para mim trata-se de uma das mais lúcidas, verdadeiras e corajosas análises da situação. É tempo de repor a verdade dos factos.

No quadro político/militar de 1974 a guerra estava ganha em Angola, periclitante na Guiné, indefinida em Moçambique – em todos os casos havia condições para negociar a descolonização desejável a partir das N/ estruturas e presença militar.
Título: Morreu o MAJ Mendes Paulo
Enviado por: PereiraMarques em Setembro 10, 2006, 09:47:14 pm
Ouvindo os comentários semanais de Rebelo de Sousa na RTP, nomeadamente a rúbrica intitulada "Livros da Semana", percebi que faleceu o MAJ Mendes Paulo, que tivemos a honra de ter como membro deste fórum...

Apesar de não ter conhecido pessoalmente o MAJ Mendes Paulo, apreciei grandemente os seus comentários e a divulgação dos seus conhecimentos sobre o uso de Carros de Combate na Guerra Colonial em Angola, nomeadamente neste tópico...

Ao MAJ Mendes Paulo, apresento os meus mais respeitosos cumprimentos e que descanse em paz... :Soldado2:
Título:
Enviado por: Yosy em Setembro 10, 2006, 10:08:07 pm
:Soldado2:

Que descanse em paz. Foi uma honra tê-lo entre nós.
Título:
Enviado por: komet em Setembro 10, 2006, 10:14:51 pm
Sinto muito, ainda para mais sabendo que esteve presente no nosso singelo forum, toda a sua contribuição nos parece ainda mais valiosa.

Os meus sinceros sentimentos para a família e amigos, que descanse em eterna paz.
Título:
Enviado por: TOMKAT em Setembro 11, 2006, 12:52:19 am
As minhas mais sinceras condolências à família do major João Luiz Mendes Paulo.

Que descanse em Paz. :Soldado2:

Recomendação... de leitura de um livro da autoria de um rato do mato que nos honrou com a sua presença....



Citar
ESTÁ NAS BANCAS UM NOVO LIVRO.


Intitulado "ELEFANTE DUNDUM", da autoria de João Luiz Mendes Paulo, este livro é um verdadeiro documento histórico.


O autor é antigo oficial da arma de cavalaria, daqueles oficiais a quem os combatentes chamavam "ratos do mato", porque ao invés de ficarem aquartelados atrás de secretárias, comandavam homens em operações.
Tendo servido o país em locais tão distintos como India, Moçambique, Angola e Guiné, o seu testemunho leva-nos a uma realidade bem diferente das atoardas gizadas e propaladas, por aleivosas verborreias de quem tem no seu passado algo a justificar, ou esconder.

O livro é vendido com um DVD, cujas imagens o complementam. Filmadas na época e nos locais onde o autor serviu, constituem, por si só, testemunho importante e esclarecedor.


http://umpoemadevezemquando.blogspot.com/2006_07_01_umpoemadevezemquando_archive.html
Título:
Enviado por: Marauder em Setembro 11, 2006, 04:48:30 pm
RIP a um bravo luso, que tivemos a honra de ter como membro neste fórum, e que tantos factos e conhecimento na 1ª pessoa nos trouxe.

 :Soldado2:
Título: M5 A1 "Stuart" em Angola-Um pouco de história
Enviado por: Nuno PE em Outubro 06, 2010, 01:24:53 am
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fa7.idata.over-blog.com%2F500x324%2F3%2F00%2F93%2F00%2FMes-photos6%2FStuart_m5a1_cfb_borden_4.jpg&hash=14baa34a278e6fa3ce916ce379f63ff7)

Graças à determinação e entusiasmo do então Capitão de Cavalaria Mendes Paulo,três velhinhos carros de combate M5 A1 "Stuart" da 2ª Guerra Mundial,foram os protagonistas de uma aventura sem igual em terras africanas,ficando para a história como os unicos Tanques usados na guerra do Ultramar e os únicos a verem combate em toda a história do Exército Português.Resgatados a muito custo do Depósito de Material em Beirolas onde enferrujavam,estes veteranos de muitas batalhas tiveram nova oportunidade de emprego.Embarcaram 3 ( o Gina,o Milocas e o Licas) para Angola em 1967,e até 1972 distinguiram-se em muitas missões de escolta e reconhecimento,sendo apelidados pelos guerrilheiros da FNLA "Elefante Dundum".Noventa M5 A1 vieram para Portugal em 1956 ao abrigo da NATO.Quando chegaram ao nosso pais,estes carros eram já obsoletos.O Exército Português estava já nessa altura equipado com os mais modernos M-24 "Chaffee" e M-47 "Patton".Produzidos em 1943,em Detroit,os M5 A1,seguiram para Inglaterra onde foram baptizados "Stuart" e preparados para a iminente invasão de França,desembarcaram na Normandia,entraram em Paris com a 2ª Divisão Blindada do General Jacques Leclerc,rolaram pela Bélgica e terminaram a guerra na Alemanha,onde receberam a rendição de Neustadt a 16 de Abril de 1945.Foram depois vendidos ao Canadá,tendo servido no Exército Canadiano como blindados de instrução até 1956,ano em que após terem sido completamente revistos,recondicionados e motorizados de novo,receberam "guia de marcha" para Portugal.Em 1967,dos noventa M5 A1 Portugueses,o Regimento de Cavalaria 6 (RC6) possuia 2,a Academia Militar (AM) tinha 3,a Guarna Nacional Republicana (GNR) tinha 20 e finalmente o Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG) em Beirolas albergava os restantes 65,dos quais apenas 13 estavam operacionais,ou seja prontos para serviço imediato.Destes 13,apenas 10 tinham lagartas de ferro,as ideais para o tipo de terreno que iriam encontrar em África embora menos confortáveis do que as de borracha,mas mais resistentes ao desgaste.O Capitão Mendes Paulo,acompanhado de um condutor e de um mecânico,estiveram em Beirolas durante uma semana tendo sido selecionados seis M5 (os carros já não estavam no parque mas sim no "cemitério",última etapa antes de serem desmantelados pelo maçarico do ferro velho).Os carros eram sujeitos a um primeiro exame ,e se aprovados,eram tirados do cemitério para testes de andamento mais completos.Escolhidos os três definitivos,foram levados para às Oficinas Gerais de Material de Engenharia (OGME) em Belém,onde se procedeu a uma revisão completa.Na Direcção do Serviço de Transmissões (DST) foram equipados com rádios iguais aos dos M-24 e M-27.No Paiol de Sacavém estavam as munições-1.500 perfurantes de 37mm e 61.500 de 7.62mm para as metralhadoras Browning,que embarcaram com os carros no navio "Beira" a 26 de Setembro de 1967 (mais tarde foram recebidas as munições explosivas porque estas na altura estavam adstritas à GNR).
O carro ME-08-98 Milocas ficou no Grafanil,o ME-08-77 Gina em Luanda e o ME-07-70 Licas em Zala.
São hoje esqueletos de ferro ferrugento,reliquias de uma guerra muito particular.Actualmente em Portugal existem 13 M5 A1 distribuidos da seguinte forma:

-2 na Escola Prática de Cavalaria
-2 no Quartel de Cavalaria (ex-RC4)
-1 no Museu Militar do Porto
-1 no Regimento de Lanceiros nº2
-4 no Regimento de Cavalaria 6
-1 na Escola Prática de Serviço de Material
-1 (transitou do Regimento de Cavalaria 3) no Museu da Liga dos Combatentes no Forte do Bom Sucesso em Belém.

In "Cadernos Militares do Lanceiro n.º 3".Autor do artigo:Alexandre Gonçalves
Título: Re: M5 A1 "Stuart" em Angola-Um pouco de história
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 06, 2010, 01:33:50 am
Por acaso até tivemos a honra de ter umas participações do MAJ Mendes Paulo cá no fórum antes de falecer (https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.forumdefesa.com%2Fforum%2Fimages%2Fsmilies%2FSoldado2.gif&hash=c10232849d575e9b626f58495d777c7e).
Título: Re: Carros de Combate M5A1 em Nambuangongo
Enviado por: João Vaz em Outubro 07, 2010, 05:19:00 pm
Muito interessante e belo pedaço de história.

Estava a Leste de tudo isto  :mrgreen: Venham mais!
Título: Re: Carros de Combate M5A1 em Nambuangongo
Enviado por: Nuno Calhau em Novembro 04, 2010, 08:49:15 pm
Uma emenda; o carro que está no museu da liga, era o que se encontrava no RC-3.

Um Abraço.
Título: Re: Carros de Combate M5A1 em Nambuangongo
Enviado por: Nuno PE em Março 13, 2011, 01:30:41 pm
Citação de: "Nuno Calhau"
Uma emenda; o carro que está no museu da liga, era o que se encontrava no RC-3.

Um Abraço.

Saudações Lanceiras caro Nuno Calhau.
Obrigado,A informação foi corrigida.

Um abraço. :)