Texto escrito pelo falecido General Kaúlza de Arriaga:
AS AUTÊNTICAS CAUSAS DA GUERRA ULTRAMARINA DE 1961-1974 EM ANGOLA E MOÇAMBIQUE
Abril de 1995
SÍNTESE
A esquerda política, inacreditavelmente ignorante ou, o que seria pior, dolosamente falsa, procura, de há muito, fazer impôr a ideia de que a causa básica da nossa última Guerra Ultramarina, de 1961 a 1974, era e foi a vontade, a ânsia, dos povos de Angola e Moçambique se libertarem do obstinado jugo colonialista português e se constituirem em países independentes. Tal é uma mentira total e absoluta.
Os povos de Angola e Moçambique sentiam-se perfeitamente bem na sua condição portuguesa e apenas algumas fracções muito limitadas, cujos "habitat" se situavam de um e de outro lado das fronteiras, trabalhadas e aliciadas, empurradas e conduzidas, pelo imperialismo comunista – na sua manobra para o controle da África Austral – e, em muito menor grau, pela psicose terceiro-mundista de independência, se subverteram e tentavam combater a Autoridade Portuguesa. Em Moçambique, por exemplo, nunca a subversão afectou mais de 7% do total da população, nem controlou mais de 3% do mesmo total. Quer isto dizer que, em 9 milhões de moçambicanos, cerca de 630 000 sofriam com a subversão, mais ou menos 270 000 estavam realmente subvertidos, e todo o resto, mais de 8 milhões, era estranho a essa subversão ou mesmo a combatia. Em 1972/1973, do total das tropas portuguesas, em Moçambique, mais de 60% era africana.
Um pequeno período houve, quando do início da guerra no Noroeste de Angola, em que o impulso subversivo, foi sobretudo norte-americano. E, mesmo neste período, o Presidente Kennedy e os seus colaboradores pensavam em termos de imperialismo comunista, pois admitiam, embora numa ingenuidade imensa, que para evitar o controle da África Austral pela URSS e China Continental, era necessário autodeterminar os respectivos povos. Desaparecido Kennedy, todo este devaneio africano terminou e os EUA deixaram de apoiar qualquer subversão nos territórios africanos portugueses. Isto foi ao ponto de, logo que conhecida a minha, então próxima futura, nomeação para Comandante-Chefe de Moçambique, o Governo dos EUA me convidar, e a minha Mulher, para uma visita ao seu País. Visita que se prolongou por mais de um mês e durante a qual todos os não poucos norte-americanos com quem contactei, desde as mais Altas Autoridades Políticas e Militares, até numerosas famílias privadas, me impulsionaram para uma vitória no meu futuro Comando.
Algumas fundações norte-americanas e principalmente alguns países europeus nórdicos, no seu desconhecimento do que é o Mundo e especialmente a África, ajudaram, continuamente e em termos financeiros, a subversão. Contudo, esta ajuda, da qual grande parte ficava pelo caminho, pouco ou nada afectou a contra-subversão portuguesa.
A verdadeira e importante causa da guerra em questão integrava-se na estratégia indirecta, de resto bem inteligente, aplicada pela URSS e China Continental, na confrontação Leste/Oeste. Esta estratégia indirecta tinha, como um dos seus objectivos principais, o controle da África Austral. Controle que privaria o Ocidente dos minérios desta parte de África, minérios essenciais ao seu esforço militar e mesmo à sua vida corrente. E, ainda, esse controle poderia interferir gravemente na rota do petróleo que, vindo do Golfo Pérsico, abastecia, em quantidade significativa, o Ocidente.
Assim, no caso vertente e em última análise, nada ou quase nada, de povos a desejarem autodeterminarem-se, mas sim, fundamentalmente e até ao fim, o imperialismo comunista que, na sua acção de procura do controle da África Austral, promovia, com pertinácia, contra Angola e Moçambique, uma agressão violenta e subversiva, sobretudo nas suas formas de muito terrorismo e alguma guerrilha. E imperialismo que, vergonhosamente para os portugueses, obtinha alianças na oposição política interna ao regime de Lisboa.
Portugal, o Estado Novo, apenas se defendia, como era sua obrigação indeclinável, diria sagrada, conduzindo, naqueles territórios uma contra-subversão defensiva e eminentemente construtiva, que tinha como lema – convencer inteligências e conquistar corações. E Portugal, defendendo-se assim, defendia também, toda a África Austral e o próprio Ocidente.
Naturalmente, que a guerra em África era, em muitos aspectos, um mal, embora noutros, excepcionalmente, dada a natureza clarividente e sã, na doutrina e na prática, da contra-subversão portuguesa, fosse promotora de enorme progresso. Porém, de qualquer modo, não era Portugal o responsável por essa guerra, mas era-o e foi-o, como se disse fundamentalmente e até ao fim, o imperialismo comunista, com alguns apoios, entre os quais, o de certos portugueses equivocados, apóstatas ou traidores.
A Portugal ficou a Glória de, em plena legitimidade, estar a vencer, em Angola e Moçambique, uma guerra contra a URSS e a China Continental, conseguindo transformar, grande parte do esforço de defesa, em fomento geral, extenso e intenso dos territórios, e na promoção acelerada das populações.
Kaúlza de Arriaga