Histórias de guerra do Ultramar

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komet

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Histórias de guerra do Ultramar
« em: Janeiro 12, 2004, 09:53:49 pm »
Alguém sabe onde posso encontrar na internet histórias de guerra, quer de soldados no terreno, quer pilotos durante o Ultramar? Acho bastante fascinante  :)

Para os interessados já encontrei esta (obrigado Ricardo Nunes)
http://www.edinfor.pt/anc/anchistoria-comb-1970a.html , acerca duma operação chamada "Mar Verde". Boas leituras..
"History is always written by who wins the war..."
 

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Tiger22

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Conakry - 22 de Novembro de 1970
« Responder #1 em: Janeiro 14, 2004, 12:22:56 pm »
Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa» (Vol.VIII)

Citar
A guerra subversiva é um tipo de guerra em que se visa obter o controlo de determinado território por intermédio da acção de guerrilhas actuando no seu interior. Evitando sistematicamente o confronto com forças superiores e restringindo a sua actuação a ataques de surpresa nas mais diversas localidades e itinerários, as guerrilhas procuram fundamentalmente convencer a população, as forças governamentais e o próprio Governo do território de que este não dispõe de meios para as dominar e que, consequentemente, mais tarde ou mais cedo não terá outro remédio senão submeter-se às suas exigências de carácter político.
Como é evidente, para que as forças governamentais possam ganhar uma guerra subversiva é necessário que sejam capazes de neutralizar as guerrilhas. Para isso existem, teoricamente, três linhas de acção estratégica possíveis: a primeira consiste em localizar e destruir as guerrilhas através do combate directo com elas; a segunda consiste em cortar as comunicações entre as guerrilhas e as bases, geralmente situadas em países vizinhos, que as abastecem; a terceira consiste em neutralizar essas bases por intermédio de acções militares, pressões económicas ou arranjos diplomáticos.
Só que qualquer destas linhas de acção, salvo em circunstâncias especiais, é muito difícil de pôr em prática. A localização das guerrilhas por meio de informações, da observação aérea ou do patrulhamento intensivo do terreno raramente é conseguida. Mesmo depois de localizado um grupo de guerrilheiros é quase sempre impossível aniquilá-lo, uma vez que em poucos minutos dispersam e afastam-se para longe, ou se escondem ou misturam com a população. Por último, quando as guerrilhas se sentem particularmente acossadas numa dada zona, retiram para as suas bases situadas em território estrangeiro e aí se refazem, para voltarem a aparecer mais tarde na mesma ou noutra zona.
Cortar as comunicações entre as guerrilhas e as suas bases também não é fácil, em primeiro lugar porque é praticamente impossível exercer uma vigilância eficaz sobre as fronteiras terrestres que podem atingir centenas ou mesmo milhares de quilómetros; em segundo lugar, porque as guerrilhas, no que toca a alimentação, são normalmente abastecias pelas próprias populações dos territórios onde actuam, sendo indiferente que estas o façam voluntariamente ou sob coacção.
Destruir as bases das guerrilhas situadas nos países vizinhos é, sem dúvida, o processo teoricamente mais rápido e mais eficaz para conseguir a sua neutralização. Mas isso implica a possibilidade de eclosão de um conflito armado de grandes proporções com esses países, risco que um pequeno pais, como era o caso de Portugal, não podia correr dado o seu fraco potencial militar e económico e o seu isolamento internacional.
Do que foi dito se poderá inferir, à primeira vista, que Portugal não tinha a menor possibilidade de ganhar uma guerra subversiva na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Trata-se porém de uma conclusão demasiado simplista.
Na realidade, embora seja praticamente impossível localizar e destruir uma parte substancial das guerrilhas que actuam no interior de um dado território, é possível, desde que se disponha dos meios militares adequados, exercer sobre elas uma pressão constante que acabe por tolher consideravelmente os seus movimentos e manter dentro de limites razoáveis os inconvenientes resultantes da sua acção. Embora não seja possível tornar impermeáveis as fronteiras terrestres, é possível, através da ocupação em força de certos pontos, do patrulhamento intensivo de certos troços, do uso de pisteiros e da observação aérea, dificultar consideravelmente a passagem de armas, munições e pessoal para o interior do território. Procedendo ao aldeamento das populações e dispondo de um bom serviço de informações é possível limitar os contactos daquelas com os guerrilheiros e, consequentemente, dificultar o abastecimento destes.
Em resumo, apesar de não ser possível pôr termo rapidamente a uma guerra de guerrilhas por meios militares, é perfeitamente possível limitar os seus efeitos por forma a permitir que o progresso económico e social do território continue como em tempo de paz. Nisto consiste ganhar militarmente uma guerra subversiva. Aliás, foi o que aconteceu em Angola e em Moçambique, mas que só muito dificilmente poderia ter acontecido na Guiné, dada a extensão das suas fronteiras terrestres em relação à exiguidade do seu território, e a sua densa cobertura vegetal.
De notar que em Cabo Verde e em São Tomé não houve guerras subversivas porque o domínio do mar e do ar de que dispúnhamos tornava impraticável apoiar a partir do exterior uma guerrilha que eventualmente se formasse em qualquer das suas ilhas.
Em princípios de 1969 soubera-se em Bissau que a Guiné-Conakry havia recebido da URSS três vedetas-torpedeiras da classe «Komar» e o PAIGC quatro vedetas-torpedeiras da classe «P6». As primeiras eram navios de 75 toneladas, armados com duas peças AA de 25 mm e dois mísseis superfície-superfície; as segundas eram navios de 66 toneladas, armados com duas peças AA de 25 rnm e dois tubos lança-torpedos. Umas e outras podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós.
Como é evidente, tratava-se de uma ameaça grave para nós. Durante a noite poderiam essas vedetas chegar a Bissau sem serem detectadas e afundar em poucos minutos um transporte de tropas ou qualquer outro navio de carga que lá se encontrasse.
Logo após a operação «Nebulosa» (Agosto de 1969) o comandante Alpoim Calvão, que era especializado em mergulhador-sapador, idealizou uma nova operação destinada a liquidar de uma assentada tanto as vedetas-torpedeiras do PAIGC como as da Guiné-Conakry. De acordo com o seu plano, uma das nossas LFG's aproximar-se-ia sub-repticiamente, durante a noite, do porto de Conakry e colocaria na água várias equipas de homens-rãs que iriam fixar minas-lapa nos cascos das vedetas. Feito isso, regressariam à LFG, que desapareceria sem deixar rasto. Algumas horas mais tarde as minas explodiriam e aquelas iriam ao fundo sem que ninguém pudesse saber exactamente o que tinha acontecido!
Como seria de esperar, o brigadeiro Spinola aprovou com entusiasmo a ideia. Calvão foi a Lisboa, conseguiu o apoio do chefe do Estado-Maior da Armada (vice-almirante Reboredo e Silva), que provavelmente terá informado o Ministro da Marinha (vice-almirante Pereira Crespo), e seguiu depois para a África do Sul, acompanhado por um inspector da DGS, a fim de tentar obter aí as minas-lapa necessárias para a operação, uma vez que a nossa Marinha não as possuía. Conseguidas estas, trouxe-as para Lisboa como se fossem bagagem pessoal e, seguidamente, mandou-as para a Guiné.
Tratava-se agora de obter um plano actualizado do porto de Conakry, de que também não existia nenhum em Lisboa ou em Bissau. Para resolver o problema o comandante Calvão propôs ao comandante da Defesa Marítima da Guiné (comodoro Luciano Bastos) que uma LFG disfarçada fosse fazer um reconhecimento a Conakry durante a noite. Concordou aquele e em meados de Setembro de 1969 Alpoim Calvão embarcou na Sagitário, de que era comandante o capitão-tenente Camacho de Campos, e dirigiu-se para a ilha João Vieira, onde o navio foi disfarçado por forma a dar impressão de que pertencia ao PAIGC. Foi também combinado que se a LFG se cruzasse com quaisquer outros navios ou embarcações durante o trajecto para Conakry só apareceriam no exterior os elementos africanos da sua guarnição. Um cabo fuzileiro com boné de capitão-tenente representaria o comandante. E assim foi feito, conseguindo a lancha chegar a Conakry pelas zero horas do dia 17 de Setembro sem levantar suspeitas, apesar de se ter cruzado pelo caminho com diversos pesqueiros guineenses!
Dando uma volta larga para se apresentar diante da cidade como se viesse do sul, a Sagitárío entrou no canal que separa as ilhas Loos da península de Conakry cerca das duas horas. Então, utilizando o radar, foram localizadas com rigor as posições dos diversos cais acostáveis. Uma hora mais tarde a lancha dirigiu-se para a saída. Mas, inesperadamente, o gerador avariou-se e o navio foi obrigado a fundear, o que submeteu os nervos dos seus tripulantes a uma rude prova. Felizmente a avaria foi rapidamente reparada e a Sagitário pôde continuar viagem e regressar a Bissau sem novidade. Indubitavelmente uma das mais audaciosas e mais bem sucedidas operações de reconhecimento levadas a cabo pela nossa Armada.
Animado pelo êxito da «visita» a Conakry Calvão resolveu alargar o âmbito da operação que estava a planear. Porque não, fazer um raide àquela cidade, cuja aproximação parecia tão fácil, e, simultaneamente, destruir as vedetas e libertar os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam? Era uma ideia que desde há muito germinava na sua mente e que agora se afigurava possível de levar à prática. E logo se apressou a apresentar a proposta a Spínola. Concordou de imediato o comandante-chefe com a ampliação dos objectivos da operação, a que havia sido dado o nome de código «Mar Verde», mas entendeu que, já que se ia entrar à viva força em Conakry, então que se aproveitasse para destruir também as instalações que o PAIGC ali tinha! A verdade é que o sucessivo alargamento dos objectivos a alcançar ainda não ia ficar por aqui.


Interessante.
"you're either with us, or you're with the terrorists."
 
-George W. Bush-
 

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komet

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« Responder #2 em: Janeiro 14, 2004, 12:51:57 pm »
Baixas estimadas:
Nossas: 3 KIA, 3 WIA
Inimigas: +500 KIA
"History is always written by who wins the war..."
 

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dremanu

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A guerra do ultramar
« Responder #3 em: Janeiro 14, 2004, 09:32:01 pm »
Encontrei à uns quatro anos atrás um livro excelente escrito por um oficial-aviador da marinha de guerra dos E.U., que prestou serviço no comando Ibérico da NATO em Oeiras.

O livro se chama "Contra-Insurreição em África. 1961-1974, o modo Português de fazer a guerra." O nome do autor é John P. Cann.

O livro descreve em detalhe toda a preparação pré-campanha feita pelo exército Português, desde a preparação da doutrina de guerra, estratégia militar, soporte logístico a ser adaptado, métodos de treino a serem utilizados para praças e oficiais, etc. Explica como o pensamento Português se cristalizou através da observação da experiência adquirida pelos Inglêses e pelos Francêses nas suas guerras coloniais, e da própria experiência Portuguêsa ganha em campanhas de guerra Africanas anteriores.

O livro descreve todos os diferentes ramos militares Portuguêses que foram utilizados na guerra do ultramar, inclusive a estrutura adoptada por cada um, os meios humanos e físicos utilizados, as tácticas de combate desenvolvidas, a eficácia das mesmas, o desempenho durante a guerra, os successo alcançados, as derrotas sofridas, etc.

É um livro cheio de informação histórica, escrito por um observador estrangeiro, e que vale a pena ler para quem queira saber mais sobre o esforço feito pelas nossas Forças Armadas durante a guerra do ultramar.

Cumprimentos
D.C.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Ricardo Nunes

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« Responder #4 em: Janeiro 14, 2004, 09:57:42 pm »
A 14,71€ na Bertrand.

A quem interessar: http://www.bertrand.pt/html/produto__q1 ... 41__q5.htm

Citar
Sinopse:
John P. Cann, que esteve colocado em Portugal no âmbito das suas funções como militar da NATO, interessou-se pelo "modo português de fazer a guerra", que permitiu a Portugal manter uma guerra em três frentes, a milhares de quilómetros do continente, durante treze anos. As soluções encontradas pelos militares portugueses devem, segundo o autor, servir de exemplo a outros países que tenham de enfrentar situações semelhantes.
Ricardo Nunes
www.forum9gs.net
 

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Rui Elias

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« Responder #5 em: Abril 07, 2004, 02:12:53 pm »
As nossas guerras no Ultramar foram de baixa intesidade (talvez se descontarmos a Guiné).

Por isso foi possível manter essas 3 frentes durante tanto tempo, mesmo que à custa do empobrecimento do país e do isolamento internacional.

De qualquer modo essas guerras nunca se ganham militarmenmte mas políticamente.

Portugal teve que em 75 largar as colónias à pressa porque após 13 anos de guerras já não tinha margem de manobra política para impôr prazos, condições, ou o que quer que fosse.

O culpado da descolonização apressada foi em primeira análise o Estado Novo que se recusou sempre a saber interpretar sinais dos novos tempos, e a insistir na quimera romântica de um Portugal uno e indivisível, do Minho a Timor.
 

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Luso

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« Responder #6 em: Abril 07, 2004, 09:27:31 pm »
"O culpado da descolonização apressada foi em primeira análise o Estado Novo que se recusou sempre a saber interpretar sinais dos novos tempos, e a insistir na quimera romântica de um Portugal uno e indivisível, do Minho a Timor."

O triste é que a durante nossa quimera romântica ninguém morreu de fome e o crescimento económico era de 7% ao ano, no final dos anos 60. Havia ordem e disciplina e um ensino em condições, menos para os "revolucionários" - os espíritos sensíveis das letras, das artes e da advocacia (apesar do grande caminho que ainda haveria a precorrer, há que o reconhecer também).

Melhor que uma outra quimera que veio a seguir, não lhes parece?
E isso está demonstrado.

De todas as quimeras que existem eu escolho a das quinas. É a única que aceito.
« Última modificação: Abril 07, 2004, 09:57:43 pm por Luso »
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dremanu

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« Responder #7 em: Abril 07, 2004, 09:54:42 pm »
A forma como foi feita a descolonização em África, deve ter sido um dos piores erros jamais feitos na história deste país. Devia-se ter acabado com o fascismo, mas nunca se deveria ter feito o que foi feito, os Africanos não estavam prontos para se governarem.

Ainda á pouco tempo vi um programa sobre os médicos sem fronteiras, sobre uma missão que eles mandaram para Angola, e foi triste, muito triste. Assisti á morte de uma criança de 4 ou 5 anos (já não me lembro ao certo que idade é que tinha), que foi trazida pelo pai duma sanzala qualquer lá no meio d'Angola, com a barriga inchada da fome, a gemer, eles ainda o tentaram salvar, para o qual bastava fazer uma simples transfusão de sangue, o pior é que faltava o equipamente médico, daí morreu. De fome, em pleno séc. XXI.

Isto é que é ter independência? Ecónomia arruinada, destruição da infraestrutura do país, matança e sofrimento para milhares de pessoas, minas pessoais por todo o lado, crianças forçadas a serem guerrilheiros, guerra civil, etc, etc...Tanto lutaram por ideologias políticas do nada, e o que é aquilo lhes trouxe, destruição.

E o que é que os Africanos agora querem, voltem Portugêses, voltem e venham fazer negócio com a gente, e ajudar-nos a construir o nosso país.
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Luso

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« Responder #8 em: Abril 07, 2004, 10:04:58 pm »
Os comentários do Durão Barroso, durante as visitas a Africa a elogiar os movimentos de independência é traição!

Que se respeite os novos países muito bem, mas mais ainda há que respeitar a nossa memória e os nossos que tombaram por um grande Portugal. Não se tocava no assunto e falava-se de futuro, que seria o mais sensato. O resto é traição. Mas traição é típico desse indivíduo.
Um Primeiro Ministro deve ser um chefe. Deve dar-se ao respeito e exigir respeito. Inspirar respeito, disciplina e objectivos.
Este é apenas um servidor de interesses económicos desconhecidos ou obscuros, nada mais.
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dremanu

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« Responder #9 em: Abril 07, 2004, 10:11:59 pm »
E falando noutro aspeto da guerra do ultramar. Por acaso calhou que hoje tive uma conversa com um cliente meu, em que o pai dele também esteve na Guiné, nos comandos.

A história que ele me contou foi que o pai dele durante uma missão perdeu-se dos colegas e acabou por andar 30 dias sozinho no meio do mato. Sobreviveu a comer insectos, a matar animais, e a beber água de raizes e rios. Teve que se esconder dos guerrelheiros em várias ocasiões enquanto tentava retornar á base, matou uns poucos pelo caminho, mas lá consegiu voltar ao ponto de partida.

Não me custa a acreditar na história, apesar de saber que sendo nós latinos, sempre tendemos a exagerar um pouco a realidade. Algumas das qualidades sempre elogiadas no soldado Português do ultramar, por observadores estrangeiros, era a capacidade de resistência, sacríficio, estoicismo, e de sobreviver e lutar, mesmo tendo poucos recursos ao seu dispor.

Sendo assim pergunto a todos, será que o soldado Português de hoje em dia continua a ter as mesmas qualidades? Pessoalmente acredito que sim, acho que faz parte do nosso espírito e da nossa cultura.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Luso

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« Responder #10 em: Abril 07, 2004, 10:21:45 pm »
"Sendo assim pergunto a todos, será que o soldado Português de hoje em dia continua a ter as mesmas qualidades? Pessoalmente acredito que sim, acho que faz parte do nosso espírito e da nossa cultura."

Eu não serei assim tão optimista. Agora quem vai para as Forças Armadas ainda pode ser aguerrido e saudávelmente agressivo, com uma postura superior. Mas estou convencido que anteriormente a rusticidade do homem português era bastante superior à de muitos zéquinhas que todos conhecemos. E são cada vez mais.

Li em "The Chopper Boys- Helicopter Warfare in Africa" comentários pouco abonatórios feitos pelos Sul Africanos e Rodesianos sobre a resistência dos nossos homens. Má preparação física, blá, blá, blá...
Mas esse autor não me merece muito respeito: deve ser daqueles boers que vê todos os outros como "white kaffir".
Acho mais produtivo ignorar possíveis "virtudes da raça" e treinar, treinar e estudar, estudar, estudar. Hoje fazer por mercer os louvores de amanhã.
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papatango

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« Responder #11 em: Abril 07, 2004, 10:56:24 pm »
Não somos nem mais nem menos "heroicos" que outros povos, quando em igualdade de circunstâncias.

Eventualmente podemos notar no soldado português, alguns resquicios da nossa ascendência com origens Celtas e Bárbaras. Um certo desprezo pelas regras, um certo atabalhoamento ofensivo, a tradicional capacidade para o desenrascanço. Uma certa tenacidade bárbara.

A nossa capacidade de resistência, estoicismo e espírito de sacrificio, foram muitas vezes condicionadas por:

- Não há comida: Come o resto da lata de sardinhas de ontem e dá-te por feliz.
- As botas estão rotas: Calça outras meias e desinfecta os pés !
- A UNIMOG está avariada: Vái a pé !
- A G3 encravou: Agarra na Kalashnikov do Turra a quem limpaste o sarampo ontem e desenrrasca-te !
A Kalashnikov não tem munição: faz uma zarabatana e sopra !

Enfim, ontem como hoje, estamos muito parecidos.

E se as características dos Celtas ou Lusitanos, ficaram depois de passados milénios, nada nos diz que não continuamos a mante-las hoje.

Infelizmente, cada vez mais, são os exércitos disciplinados eficientes, organizados e com grande preparação técnologica que ganham guerras.

Pelo menos até hoje, amanhã, depois do Iraque, estou cá para ver, se for caso para isso.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Rui Elias

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« Responder #12 em: Abril 08, 2004, 10:52:23 am »
DREMANU e LUSO
Respeito os vossos pontos de vista, mas não posso concordar.

Se no passado havia ordem e disciplina, é simplemente porque existia uma ditadura, e uma polícia política que vigiava e detinha quem discordasse dos pontos de vista do partido único.

Portanto por aí, estamos conversados.

Depois o Luso afirma que nunca houve fome.

E depois do 25 de Abril de 74 também não.

Se se refer às ex-colónias é outra coisa, mas em Portugal, nunca houve mortos de fome após o 25 de abril, mas antes dessa data, em Portugal, em muitas aldeias do interior, e mesmo nos bairros mais pobres das cidades haviam bolsas de pobresa com subnutrição e miséria.

Quanto ao crescimento económico nos anos 60, este deveu-se à guerra colonial, mas grande percentagem do orçamento era para as FA e não para a saúde ou para a educação.

Sobre o bom sistema de ensino  :lol:  :o ?

Se há hoje fome e corrupção em Angola é porque esta é governada por um regime que rouba e é corrupto.

Mas isso é responsabilidade dos angolanos e não dos portugueses.

Portugal é o rectângulo.

Não os vastos territórios africanos que nunca passaram de colónias.
 

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Luso

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« Responder #13 em: Abril 08, 2004, 02:42:45 pm »
Não pretendo continuar mais a discussão porque seremos ambos irredutíveis nas nossas posições. Em todo caso e só para assegurar, não vejo que o "antigamente" fosse perfeito ou coisa que se pareça. Contudo, como país coeso e unido, acho que Portugal já não existe. Até porque nem temos governo. Dantes havia!

Continuemos.

"E depois do 25 de Abril de 74 também não."

Há fome sim senhor e ainda este mês o problema foi divulgado amplamente.
Faço no entanto uma concessão: dantes haveria também fome porque...
sempre houve fome porque sempre existiu miséria mental.

Dantes a sociedade não estava tão urbanizada e haveria pelos menos acesso a uma autosuficiência. Agora cada vez é mais difícil, e a urbanidade é mais exigênte para o indivíduo, ao nível dos recursos.

Quanto à fome nas antigas provincias ultramarinas isso também me entristece - e bastante - e não é pelo facto de serem independentes que deixam de ser pessoas. Aliás, o que os comunistas fizeram e eles sim é que foram racista na prática foi: - desenrasquem-se, que agora nós vamos tentar dominar o nosso cantinho.
"Fome? Miséria? A culpa não é da nossa política económica. É dos reaccionários e dos inimigos do povo."


"Sobre o bom sistema de ensino  

Quem vivesse numa aldeia do interior só podia ir até à 4ª classe e se tivesse dinheiro é que podia ir para a sede de concelho mais próxima para seguir estudos. "

Todos nós conhecemos os resultados do nosso actual sistema de ensino.
Nem argumento.
Todavia farei mais uma concessão: os nossos políticos são o resultado do sistema de ensino de antigamente - pelo menos os que andaram a conspirar e não a estudar para ganharem o pão honestamente.

"Estudar em Portugal nos anos 40, 50 e 60 era um privilégio das elites urbanas e rurais. "

E agora formamos "doutos doutores" para "tripularem" caixas registadoras (trabalho honesto, no entanto). Será uma boa gestão de recursos?
Ou apenas massificar o ensino para justificar corpos docentes inflacionados para haver mais reitores? E atrasar a entrada de "cabeças" no mercado de trabalho.

Dantes formava-se para um trabalho prático. Dexou-se disso com o 25 de Abril (ou pelos menos em grande parte) e os resultados estão à vista. Soube no entanto, que recentemente foi decidido pelo"Governo" que os cursos profissionalizantes iam ser ressuscitados...
Certamente foram abandonados porque certas almas sensíveis entendiam que não deveriam existir elites. Erro crasso: as elites irão sempre existir. E ainda bem, porque nivelar por baixo conduz aos resultados que sabemos. A natureza é aristocrática, meus senhores!

"Se se considera que os povos africanos não estavam preparados para a independência, então o que andámos lá a fazer durante 500 anos?"

Não percebi esta ideia. Lamento.

"Se há hoje fome e corrupção em Angola é porque esta é governada por um regime que rouba e é corrupto."

Não considero os angolanos responsáveis porque não são livres. E para serem livres têm que ser bem alimentados, saúde, terem emprego e uma consciencia do que os rodeia, além da miséria do dia a dia. A liberdade vem depois. O Rosseau - esse grande aldrabão - deveria ter conhecido a Africa de hoje antes de ter escrito os seus delírios e infectado as "belas consciências" com as suas ideias.
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dremanu

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« Responder #14 em: Abril 11, 2004, 06:47:35 pm »
Texto escrito pelo falecido General Kaúlza de Arriaga:

AS AUTÊNTICAS CAUSAS DA GUERRA ULTRAMARINA DE 1961-1974 EM ANGOLA E MOÇAMBIQUE

Abril de 1995

SÍNTESE

A esquerda política, inacreditavelmente ignorante ou, o que seria pior, dolosamente falsa, procura, de há muito, fazer impôr a ideia de que a causa básica da nossa última Guerra Ultramarina, de 1961 a 1974, era e foi a vontade, a ânsia, dos povos de Angola e Moçambique se libertarem do obstinado jugo colonialista português e se constituirem em países independentes. Tal é uma mentira total e absoluta.

Os povos de Angola e Moçambique sentiam-se perfeitamente bem na sua condição portuguesa e apenas algumas fracções muito limitadas, cujos "habitat" se situavam de um e de outro lado das fronteiras, trabalhadas e aliciadas, empurradas e conduzidas, pelo imperialismo comunista – na sua manobra para o controle da África Austral – e, em muito menor grau, pela psicose terceiro-mundista de independência, se subverteram e tentavam combater a Autoridade Portuguesa. Em Moçambique, por exemplo, nunca a subversão afectou mais de 7% do total da população, nem controlou mais de 3% do mesmo total. Quer isto dizer que, em 9 milhões de moçambicanos, cerca de 630 000 sofriam com a subversão, mais ou menos 270 000 estavam realmente subvertidos, e todo o resto, mais de 8 milhões, era estranho a essa subversão ou mesmo a combatia. Em 1972/1973, do total das tropas portuguesas, em Moçambique, mais de 60% era africana.

Um pequeno período houve, quando do início da guerra no Noroeste de Angola, em que o impulso subversivo, foi sobretudo norte-americano. E, mesmo neste período, o Presidente Kennedy e os seus colaboradores pensavam em termos de imperialismo comunista, pois admitiam, embora numa ingenuidade imensa, que para evitar o controle da África Austral pela URSS e China Continental, era necessário autodeterminar os respectivos povos. Desaparecido Kennedy, todo este devaneio africano terminou e os EUA deixaram de apoiar qualquer subversão nos territórios africanos portugueses. Isto foi ao ponto de, logo que conhecida a minha, então próxima futura, nomeação para Comandante-Chefe de Moçambique, o Governo dos EUA me convidar, e a minha Mulher, para uma visita ao seu País. Visita que se prolongou por mais de um mês e durante a qual todos os não poucos norte-americanos com quem contactei, desde as mais Altas Autoridades Políticas e Militares, até numerosas famílias privadas, me impulsionaram para uma vitória no meu futuro Comando.

Algumas fundações norte-americanas e principalmente alguns países europeus nórdicos, no seu desconhecimento do que é o Mundo e especialmente a África, ajudaram, continuamente e em termos financeiros, a subversão. Contudo, esta ajuda, da qual grande parte ficava pelo caminho, pouco ou nada afectou a contra-subversão portuguesa.

A verdadeira e importante causa da guerra em questão integrava-se na estratégia indirecta, de resto bem inteligente, aplicada pela URSS e China Continental, na confrontação Leste/Oeste. Esta estratégia indirecta tinha, como um dos seus objectivos principais, o controle da África Austral. Controle que privaria o Ocidente dos minérios desta parte de África, minérios essenciais ao seu esforço militar e mesmo à sua vida corrente. E, ainda, esse controle poderia interferir gravemente na rota do petróleo que, vindo do Golfo Pérsico, abastecia, em quantidade significativa, o Ocidente.

Assim, no caso vertente e em última análise, nada ou quase nada, de povos a desejarem autodeterminarem-se, mas sim, fundamentalmente e até ao fim, o imperialismo comunista que, na sua acção de procura do controle da África Austral, promovia, com pertinácia, contra Angola e Moçambique, uma agressão violenta e subversiva, sobretudo nas suas formas de muito terrorismo e alguma guerrilha. E imperialismo que, vergonhosamente para os portugueses, obtinha alianças na oposição política interna ao regime de Lisboa.

Portugal, o Estado Novo, apenas se defendia, como era sua obrigação indeclinável, diria sagrada, conduzindo, naqueles territórios uma contra-subversão defensiva e eminentemente construtiva, que tinha como lema – convencer inteligências e conquistar corações. E Portugal, defendendo-se assim, defendia também, toda a África Austral e o próprio Ocidente.

Naturalmente, que a guerra em África era, em muitos aspectos, um mal, embora noutros, excepcionalmente, dada a natureza clarividente e sã, na doutrina e na prática, da contra-subversão portuguesa, fosse promotora de enorme progresso. Porém, de qualquer modo, não era Portugal o responsável por essa guerra, mas era-o e foi-o, como se disse fundamentalmente e até ao fim, o imperialismo comunista, com alguns apoios, entre os quais, o de certos portugueses equivocados, apóstatas ou traidores.

A Portugal ficou a Glória de, em plena legitimidade, estar a vencer, em Angola e Moçambique, uma guerra contra a URSS e a China Continental, conseguindo transformar, grande parte do esforço de defesa, em fomento geral, extenso e intenso dos territórios, e na promoção acelerada das populações.

Kaúlza de Arriaga
"Esta é a ditosa pátria minha amada."