Contra a hipocrisia da cláusula social (Opinião)

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Marauder

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Contra a hipocrisia da cláusula social (Opinião)
« em: Julho 15, 2006, 12:18:38 pm »
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Prevista há muito, a liberalização do comércio internacional têxtil no fim de 2004 suscitou pânico, sobretudo por causa das exportações chinesas. E, de facto, nos primeiros tempos após a liberalização aumentaram em flecha as vendas têxteis da China em todo o mundo e em particular na União Europeia.

Nada de mais natural, pois acabava de ser removido um obstáculo proteccionista (o Acordo Multifibras) que durante décadas travara o acesso aos mercados dos países ricos de artigos têxteis e de vestuário provenientes de economias de mão-de-obra baratíssima, como a China.

Nessa altura, os nossos industriais, como muitos outros na Europa e nos Estado Unidos, não se cansaram de reclamar salvaguardas e protecções contra a "invasão chinesa". E algumas conseguiram.

Decorrido um ano e meio sobre a liberalização têxtil, verifica-se que a indústria nacional afinal se aguentou relativamente bem. As exportações portuguesas de têxtil e vestuário subiram 1,3% no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período de 2005. Interrompeu-se, assim, um longo período de queda continuada dessas exportações.

Segundo a associação do sector, os melhores resultados foram obtidos em produtos tecnologicamente mais sofisticados. Ou seja, contra a concorrência de artigos fabricados com mão-de-obra muito barata, a solução é apostar em produções de capital intensivo. Como é óbvio.

Por outro lado, a atenuação da onda de pânico provocada pelas exportações têxteis chinesas tem a ver, também, com o facto de os salários estarem a subir a ritmo acelerado na China e na Índia. Facto recentemente referido, aliás, pelo presidente da Agência Portuguesa de Investimento, Basílio Horta.

Assim, a China intensifica agora as exportações de produtos de maior valor acrescentado e menos dependentes dos baixos salários. Computadores e navios, por exemplo.

Quem ganha com esta subida up-market da exportação chinesa são outros países asiáticos pobres, como o Vietname, o Bangladesh e a Indonésia, notava o Financial Times em editorial no passado dia 5. Países que exportam vestuário barato, calçado e brinquedos, onde o grande factor competitivo é o baixo salário.

Esta é, também, uma evolução perfeitamente normal, que antes se verificara noutros países da Ásia, como a Coreia do Sul. Um país que há meio século era mais pobre do que Portugal e que entretanto nos passou à frente. Um país onde os trabalhadores tinham escassos direitos há cinquenta anos, mas onde hoje existem sindicatos fortíssimos.

Tudo isto vem desmascarar a hipocrisia proteccionista dos que clamam por cláusulas sociais e ambientais no comércio internacional. Patrões e sindicalistas de sectores ameaçados pela competição das exportações dos países pobres protestam contra o que chamam dumping social. Pretendem que se considere concorrência desleal o facto de esses países não respeitarem normas sociais e ambientais correntes nas nações ricas.

Aliás, Portugal já foi vítima de uma manobra desse tipo. Na década de 60, os artigos têxteis portugueses entraram em força nos mercados britânico e sueco, graças à liberalização aduaneira da EFTA.

Devido às pressões dos industriais dos nossos parceiros da EFTA, Portugal foi então obrigado a aceitar limitações "voluntárias" na exportação de têxteis e vestuário, com o argumento de serem muito baixos os salários portugueses e de não haver aqui liberdade sindical nem direito à greve. Concorrência desleal, portanto...

Ressalta destas atitudes uma enorme incompreensão do que é o comércio internacional. Se as condições, incluindo as ambientais e as sociais (nomeadamente salários), fossem idênticas em toda a parte, não teria sentido o comércio. As trocas internacionais, tal como as outras, são úteis e tendem a beneficiar todas as partes (embora em medida diversa) precisamente por haver diferenças.

Se estivessem de boa-fé, os defensores da cláusula social e da cláusula ambiental compreenderiam que a economia não é uma realidade estática. E que a melhor maneira de os países pobres obterem salários decentes, direitos laborais e sociais e normas de preservação do ambiente está em promover o seu crescimento económico.

Mas como podem esses países crescer, se as nações ricas lhes fecharem os seus mercados, sob o pretexto - tão politicamente correcto e tão hipócrita! - de estarem preocupadas com a poluição e a falta de direitos dos trabalhadores nos países pobres?


de:
http://dn.sapo.pt/2006/07/15/opiniao/co ... ocial.html

O homem até tem razão..mas certamente que desta forma não vai ganhar amizades nos sindicatos..