« em: Agosto 22, 2007, 07:48:19 pm »
Salvaterra de Magos: Memórias da guerra no Museu Etnográfico da Glória do Ribatejo
Santarém, 22 Ago (Lusa) - O Museu Etnográfico da Glória do Ribatejo, Salvaterra de Magos, vai recordar, numa exposição que vai estar patente a partir de sábado e até Junho de 2008, memórias da Guerra, em particular da do Ultramar.
Roberto Caneira, responsável pelo museu, disse à agência Lusa que a exposição temática a inaugurar durante as festas da Glória do Ribatejo, que decorrem no próximo fim-de-semana, tem este ano por tema a guerra, mostrando um conjunto vasto de material recolhido ao longo de três meses junto de mais de 80 habitantes da aldeia.
A exposição, que recorda o facto de a Glória do Ribatejo ter tido, desde a Idade Média até à segunda metade do século XIX, o privilégio de os seus homens estarem isentos de serviço militar, prática comum aos lugares onde se pretendia fixar população, começa com um módulo dedicado à I Guerra Mundial, na qual participaram uma dúzia de glorianos.
Segue-se um conjunto de fotografias e material que recordam costumes ligados às "sortes" - quando os rapazes da mesma "mocidade" (ou seja, nascidos no mesmo ano) se reuniam para ir à inspecção médica em Salvaterra de Magos.
"Há uma série de imagens do transporte dos rapazes até Salvaterra, depois de um banho na barragem, e dos três dias de baile que se seguiam à chegada dos mancebos", disse.
"Chegados à Glória os rapazes, deitam-se foguetes e, em cortejo, percorrem a aldeia com o 'Ti Manel Ceguinho' a tocar harmónio. No braço, trazem fita vermelha os que ficam 'apurados', fita branca, os 'livres', fita azul, 'os da espera'", recorda a exposição.
A guerra colonial constitui a parte mais importante da exposição, não só com imagens dos homens que partiram, mas também com manequins trajados com as fardas dos vários ramos e material como máscaras, panos africanos, aerogramas, divisas.
"O painel mais emotivo é o que é dedicado aos dois glorianos que morreram no Ultramar, um em 1964 e outro em 1967, com fotos, recortes de jornal e aerogramas que enviaram à família", disse Roberto Caneira.
Frisando que o objectivo da exposição não é mostrar os efeitos da guerra, nomeadamente o stress pós-traumático, Roberto Caneira afirmou que a associação recolheu material e testemunhos, mostrando memórias associadas à guerra.
A mulher gloriana, que durante a guerra colonial envergava roupa mais escura se o filho, marido ou namorado estava "lá fora", uma "espécie de 'pré-luto' pela ausência do homem", está igualmente retratada.
Na impossibilidade de colocar na exposição as mais de 200 fotografias cedidas pelas 80 pessoas entrevistadas, a opção foi pô-las a passar em contínuo no exterior do edifício, afirmou.