Os câmbios de governo são um problema em todos os países do mundo, e em Portugal são mesmo uma triste tradição. No fim da monarquia os governos caiam com poucas semanas de vida, e um governo que chegava ao seis meses batia recordes.
No entanto, embora a democracia seja hoje muito mais sólida, Pedro Santana Lopes, com um governo de alguns meses, bate o recorde dos últimos anos. Para encontrar governos de apenas alguns meses, temos que recuar a 1979, com o governo de Maria de Lourdes Pintassilgo, que era um governo intercalar.
Eu achei que o Presidente da Republica fez bem em empossar Santana Lopes. A legitimidade de um primeiro ministro não advém do voto do povo, mas sim do apoio da Assembleia da Republica. Essa sim, tem a legitimidade que lhe confere o voto popular.
Pedro Santana Lopes, no entanto, sabia que embora não necessitasse do voto popular, tinha uma tarefa complicada pela frente. Convencer as pessoas de que seria uma aposta para ganhar. A Pedro Santana Lopes foi dado o beneficio da dúvida. Não se pode queixar por isso.
O problema, do meu ponto de vista, tem a ver com o facto de, Pedro Santana Lopes e a sua “Entourage” serem pessoas habituadas a um certo estilo, que pode parecer muito bonito nas revistas de coração e na “Quinta das Celebridades” mas que não se coaduna com o governo de um país, e ainda por cima, de um país que reconhecidamente é tudo menos fácil de governar.
Santana Lopes precisava de ter “dado o litro” e não o fez. Sabia-se que ter um Primeiro-Ministro com a imagem de “Playboy” era um problema, para o governo, mas esperava-se que os “instintos” de Pedro Santana Lopes, fossem condicionados pela governação. Esperava-se que os tiques do Jet-Set, não passassem para o governo.
A verdade, pura e dura, é que Pedro Santana Lopes, foi igual a si mesmo. Um individuo que nunca escondeu que era fan, da politica espectáculo. Tentou “contratar” uns quantos nomes mais sonantes para o seu governo, para lhe darem credibilidade, e julgou que não tinha que fazer mais nada.
O governo da Nação, foi assim entregue a um espécie de “Quinta das Celebridades governativa”, em que se vota em quem vai sair e em quem entra, com o tradicional cortejo de acusações e recriminações que são tão típicos do Jet-Set decadente das nossas elites podres e acabadas.
Para cúmulo, quando se tornou obvio que a governação estava entregue à “quinta das celebridades”, o governo opta pela pressão sobre os órgãos de comunicação social, e sobre comentadores políticos na televisão e nos jornais.
Pedro Santana Lopes tinha que agir com cuidado, com organização e com método. Infelizmente, fez tudo ao contrario. O governo do país estava aos tropeços, contínuos, ridículos e patéticos.
A ideia que me fica deste governo, é a de um Pedro Santana Lopes, que desmarcou compromissos de estado, para ir a um casamento e a uma festa nocturna..
O PSD também foi culpado da situação, ao avançar com o nome de Santana Lopes, quando, era obvio que outros nomes havia que, correndo o risco de serem impopulares, não correriam o risco de serem fracos. Quando ouvi na altura a possibilidade de Manuel Ferreira Leite poder ser a cara do governo, achei que seria a melhor opção. Depois, foi Santana Lopes. Mesmo assim, achei que era legítimo e que tentaria o seu melhor, para justificar a confiança que lhe deram.
Pedro Santana Lopes foi capaz de colocar contra si, não só os seus opositores políticos naturais, mas também grande parte das pessoas do seu próprio partido.
Entre a paz podre dos tontos de um governo, que existia para dar estabilidade mas que se tornou a fonte da instabilidade, e por outro lado, o corte radical para evitar males maiores, provavelmente a opção da demissão do governo é a mais saudável.
A ida do Sr. Durão Barroso para Bruxelas, foi uma desistência muito mais grave que a saída de António Guterres. Portugal pouco ganhará com o facto de “José Manuel Barroso” ser Presidente da Comissão, mas já perdeu muito, com um governo que se enganou, e que com os prazos constitucionais, conduzirá a um ano perdido numa altura em que o país não podia perder tempo.
Cumprimentos