EUA vigiaram negócios de Sócrates com Chávez14 de Abril, 2013 por Helena Pereira
A relação estreita de José Sócrates com a Venezuela continua para lá das suas funções oficiais como primeiro-ministro.
Hoje está em Caracas como um dos cerca de 300 observadores internacionais das eleições presidenciais.A ligação de Sócrates àquele país começou logo no início do seu primeiro mandato como líder do Governo, quando em 2008 estabeleceu como prioritário o reforço das relações comerciais com a Venezuela. E desde aí que as movimentações de Portugal suscitaram o interesse e a preocupação dos norte-americanos, para quem a Venezuela representa uma ameaça séria ao equilíbrio de poderes na região.
Ao longo dos anos, a embaixada dos EUA em Lisboa acompanhou de perto as relações políticas e económicas do Governo de Sócrates com aquele país, tendo até chegado a pedir algumas informações ao Ministério da Economia, por estranhar o grande volume de transacções quando o acordo inicial (de troca de petróleo da Venezuela por bens alimentares portugueses) não ia além dos 300 milhões de euros.
As transacções foram num crescendo pois alargaram-se às áreas de construção civil, tecnologia (os computadores Magalhães), construção naval e turismo.
‘Suave com regime de Chávez’, referem telegramasNos telegramas enviados pela embaixada dos EUA em Lisboa para Washington, é evidente o mal-estar com que esta relação é vista. Num texto de 22 de Fevereiro de 2010, divulgado pela Wikileaks, é sublinhado que Portugal "tem sido suave com o regime de Chávez devido ao seu desejo de fazer negócios com um país rico em petróleo e por causa da grande comunidade de portugueses em Caracas".
Mas, pela primeira vez, anotava as dificuldades que o Governo português enfrentava nesses negócios: "A burocracia, dificuldades de importação de matéria-prima, imprevisibilidade de Chávez, como inversões em decisões governamentais e um apertado controlo fiscal como entrave ao investimento".
E concluía, com algum agrado, que isso tudo iria "atrasar os investimentos portugueses" e que "as empresas iriam pensar duas vezes antes de entrar na Venezuela".
Dois anos antes, porém, a embaixada registava que em 2008 Sócrates havia reunido com Chávez quatro vezes e que Portugal tinha sido o país da União Europeia mais visitado pelo venezuelano.
O secretário de Estado-adjunto da Economia, Almeida Henriques – que esteve esta semana em Caracas – destacou que os dois países estão "a entrar numa nova fase, uma fase de consolidação desta relação", confessando que o seu Governo está "atento ao que se irá passar no do ponto de vista político".
No Governo português, o desejo é que Nicolas Maduro derrote Henrique Caprile, de modo a que o delfim de Chávez prossiga os acordos que ficaram suspensos, no início de Março, com a morte do Presidente e que, nas contas de Almeida Henriques, totalizam dois mil milhões de euros.
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