Sobre a "morte" de Sócrates

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Mike23

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #15 em: Fevereiro 19, 2010, 06:58:15 pm »
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Face Oculta
Assim falam os 'boys'
O SOL revela as conversas mantidas entre Marcos Perestrello, membro do Secretariado do PS e actual secretário de Estado da Defesa, e Paulo Penedos, membro da Comissão Nacional do PS e advogado na PT, exercendo funções na dependência do administrador executivo Rui Pedro Soares, sobre o apoio de Luís Figo à candidatura de José Sócrates.

Logo após a derrota nas eleições europeias de 7 de Junho, o PS começa a preparar a campanha das legislativas de 27 de Setembro. Membro do Secretariado do PS e actual secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello organizou os tempos de antena na TV.

Falou  então com o amigo Paulo Penedos, membro da Comissão Nacional do PS e advogado na PT, exercendo funções na dependência do administrador executivo Rui Pedro Soares.

Este tinha, entre outros, o pelouro do Marketing e Publicidade (com um orçamento de 15 milhões de euros de patrocínios para o Benfica, Sporting e FC Porto, por exemplo) e era administrador não executivo no Taguspark.
Assim falam os 'boys'
Paulo Penedos

MARCOS PERESTRELLO – O teu superior hierárquico [Rui Pedro Soares] foi para Barcelona ou Milão...
PAULO PENEDOS – Não, está no Algarve. Não foi para um sítio, nem para outro.

M.P. – Mas depois vai, acho eu.
P.P. – Vai para Milão, segunda-feira. Vai-se lá encontrar com o Figo, para com ele celebrar uma coisa um bocado pornográfica, mas pronto.
M.P. – Que é o quê?
P.P. – Eh pá … só te posso dizer se tu não disseres a ninguém. Se disseres, não te posso dizer.
M.P. – Se quiseres dizer, dizes! Se disseres que não é para dizer a ninguém eu não digo.
P.P. – Não, não digas que é uma coisa… Ele há dias disse-me, muito contente, que tinha conseguido que o Figo apoiasse o Sócrates e eu disse ‘boa e tal’, claro que é importante. E hoje ligou-me a pedir que eu lhe fizesse um contrato de patrocínio para a Fundação Luís Figo, à razão de 250 mil euros por ano.
M.P. – Pois, imagino…
P.P. – Ah?
M.P. – Claro, claro. E isso, aliás, vale muitos votos! Essa m... em subsídios de desemprego…
P.P. – Ah?
M.P. – Isso em subsídios de desemprego…

SOL
O Novo Portugal! Mais de 3 Milhões de Quilómetros Quadros!

 

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jmosimoes

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #16 em: Fevereiro 20, 2010, 12:36:56 am »
Esta corja está bem enturmada, votos á mistura com subsidios de desemprego(comentários), os candeeiros do Terreiro do paço a Sta Apolónia de ambos os lados eram poucos,  :G-bigun:
DEUS FEZ OS HOMENS SAMUEL COLT TORNOU-OS IGUAIS
BEM DA TRISTE E POBRE NAÇÃO  E DA CORRUPTA DEMOCRACIA
 

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Miguel

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #17 em: Fevereiro 20, 2010, 03:32:58 pm »
Nos anos 60 passaram do liceu para as universidades. São do tempo em que ser senhor doutor valia alguma coisa e as famílias apostaram fortemente na sua formação, confiando que, apesar de cada ano lectivo corresponder a maior irreverência, no fim eles teriam o canudo. Para o futuro ficaram conhecidos como geração de 60. Em Portugal, a PIDE e a censura deram-lhes um enquadramento de resistência que vai para lá do que aconteceu aos seus congéneres nos países democráticos. Após 1975 cortaram o cabelo, apararam a barba e quando a tropa, já sem MFA, recolheu aos quartéis começaram a sentar-se no aparelho de Estado. Academicamente bem apetrechados e com o país a precisar de refazer-se das vagas de saneamentos, esta nova geração passou rapidamente da oposição para o poder. Alguns dos mais destacados elementos dessa geração vieram a tornar-se notáveis do PS. O que de algum modo fazia todo o sentido: tinham lutado contra o fascismo, o social-fascismo e outros ismos. Na democracia tiveram no PS o seu espaço natural e em Soares o líder que trataram como já não se tratam os reis.
Nem sempre as coisas correram bem mas havia a íntima convicção que nos grandes momentos eles escolheriam a liberdade tal como a tinham escolhido durante as crises académicas. Mas não é isso que está a acontecer. Agora estão calados. Calados como nunca estiveram com Guterres ou sequer Soares. Fazem o pino para justificar o injustificável ou passam discretos a ver se descobrem algo em que possam pegar naqueles que não estão dentro do seu círculo (ou triângulo, se se preferir o imaginário maçónico onde muitos acabaram após a fase juvenil do ateísmo).
Durante meses interroguei-me porque estaria isto a acontecer. Ainda esta semana me caiu no mail aquele PDF com o diploma da licenciatura de José Sócrates, datado de Agosto de 1996, mas de cujo papel timbrado fazem parte números de telefone que só passaram a existir no final de 1999. Quem mandava o mail perguntava: isto já é conhecido, não é? Claro que sim. Isso e tudo o que veio depois é sobejamente conhecido. Mas eles, tão ciosos das suas notas no Técnico, em Direito e em Letras, como no seu tempo se dizia, fazem agora de conta que não é nada com eles ou tornam-se peritos instantâneos em procedimentos jurídicos que levam invariavelmente a anulações e arquivamentos. Porque se calam? Não os move certamente o dinheiro, tanto mais que estão à beira de ser a última geração a gozar as  reformas douradas do estado que essa geração dizia social.
A resposta encontrei-a ao ver na televisão as notícias sobre a ronda de contactos entre o secretário-geral do PS e as estruturas partidárias. Eles, os contestatários dos anos 60, são agora a Situação. Sem Sócrates, que obviamente não é um deles, acaba-se a Situação, esta coisa que ninguém sabe o que é mas que se arrasta. Esta coisa em que se mergulha na dúvida, no boato, nos casos e em que os detentores do poder não se afirmam pelo que oficialmente fazem mas sim por conseguirem passar a mensagem de que não existe alternativa às suas pessoas.
Não são de modo algum a primeira geração a ficar refém dum tempo político. “Falhámos a vida, menino” – é uma das frases finais de “Os Maias”. Mas no caso da geração de 60 não só não parece que esteja interessada em fazer balanços do seu legado –  à excepção daquelas evocações que os transformam em heróis – como, por ironia, eles, que em jovens foram tão eficazes a combater o poder, revelam-se agora, à beira de se tornarem velhos, dispostos a quase tudo quando alguém os confronta com aquilo em que se tornaram. E note-se que eles não se tornaram poder que isso já o eram. O que Sócrates fez deles foi transformá-los na Situação.
 

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Miguel

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #18 em: Fevereiro 20, 2010, 03:48:02 pm »
Pergunta ao PR Cavaco Silva

Por muito menos grave que o que se passa neste momento em Portugal, o exPresidente Sampaio demetiu o Santana Lopes.

O que espera o PR para demetir este primeiro ministro?

 

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Miguel

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #19 em: Fevereiro 20, 2010, 05:20:33 pm »
Censura em Portugal visto por França

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Les relations notoirement tendues entre le Premier ministre socialiste José Socrates et la presse au Portugal se sont encore dégradées cette semaine avec la multiplication de révélations sur des tentatives du pouvoir de museler les médias jugés hostiles.

Déjà mis à mal à l'automne dernier par le scandale qu'avait provoqué, en pleine campagne électorale, la suppression du journal télévisé de la TVI dont il avait publiquement critiqué la présentatrice, José Socrates est désormais accusé d'avoir fomenté "un plan pour contrôler les médias".

L'accusation, lancée le 5 février par l'hebdomadaire Sol et reprise depuis par plusieurs médias, s'appuie sur des rapports d'écoutes téléphoniques, enregistrées dans le cadre d'une enquête pour corruption mais classées sans suite par la justice fin novembre.

La publication, par Sol puis par le quotidien Correio da Manha, d'extraits d'écoutes et de comptes-rendus judiciaires dénonçant de "forts indices de l'existence d'un plan impliquant directement le gouvernement" a été qualifiée d'"infâmie" par José Socrates qui a mis en cause un "journalisme de trou de serrure".

L'affaire a toutefois été jugée suffisamment grave pour que le parlement s'en saisisse et convoque la semaine prochaine, dans le cadre de sa Commission d'éthique, une série d'auditions consacrées à la liberté de la presse.

De son côté, le syndicat des journalistes a appelé jeudi "à combattre la censure", rappelant avoir dénoncé depuis un an plusieurs "tentatives de conditionnement des journalistes". Le dernier d'entre eux, Mario Crespo, présentateur de la télévision privée SIC, a accusé au début du mois José Socrates de l'avoir présenté comme "un problème à régler" lors d'un déjeûner avec des membres de son gouvernement.

Selon Sol, qui publie vendredi de nouvelles révélations, le "plan" du gouvernement consistait à prendre le contrôle, via l'entreprise Portugal Telecom, de la télévision TVI, très critique du Premier ministre, et d'acquérir un des principaux groupes de presse du pays.

Le projet de rachat de TVI par Portugal Telecom, rendu public en juin 2009, avait suscité un tollé dans l'opposition avant d'être finalement abandonné, sur ordre du gouvernement "pour éviter le moindre soupçon", avait alors expliqué M. Socrates.

Jeudi, toute la journée, un véritable jeu de cache-cache avait mis aux prises la direction de l'hebdomadaire Sol et un huissier de justice, chargé de faire appliquer un référé judiciaire interdisant la publication de nouvelles écoutes à la demande d'un administrateur de Portugal Telecom, par ailleurs conseiller municipal socialiste de Lisbonne.

En vain. Sous le titre "La Pieuvre" barrant le profil de José Socrates, Sol a assuré vendredi qu'il continuerait à "exercer la mission la plus noble du journalisme: mettre en lumière ce que le pouvoir prétend camoufler", annonçant à la mi-journée le tirage d'une deuxième édition.

L'hebdomadaire a reçu le soutien unanime de la presse portugaise qui a dénoncé une "tentative de censure préalable", "une première en trente ans", selon le quotidien Publico.

Pour Joao Marcelino, directeur du Diario de Noticias, pourtant réputé proche des cercles du pouvoir, cette affaire "exige la rapide mise en place d'une commission d'enquête parlementaire".

Selon le journal, "l'après-Socrates est déjà un thème de discussion au Parti socialiste", qui a perdu sa majorité aux dernières législatives. "Plusieurs dirigeants se demandent si Socrates est encore la solution ou s'il est déjà devenu un problème", affirme Diario de Noticias.
 

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Vicente de Lisboa

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #20 em: Fevereiro 20, 2010, 09:17:27 pm »
Citação de: "Miguel"
Pergunta ao PR Cavaco Silva

Por muito menos grave que o que se passa neste momento em Portugal, o exPresidente Sampaio demetiu o Santana Lopes.

O que espera o PR para demetir este primeiro ministro?
Não é obvio?  :wink:

 

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #21 em: Fevereiro 22, 2010, 08:23:35 am »
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Opinião
A queda da 1.ª República: a História repete-se
Por Manuel Monteiro, líder do PND

Em Maio de 1926, teve inicio um movimento militar que haveria de pôr fim à 1.ª República. Portugal vivia em profunda crise. Financeira, económica e política. O desemprego, associado a uma degradação das instituições, evidenciava dois países: o formal e o real


O primeiro estava corroído pela mesquinhez, pelos interesses egoístas de grupos partidários; o segundo estava distante dos políticos, descrente face ao presente e nada confiante com o futuro. Os republicanos sérios, preocupados com o Estado, pouco podiam fazer diante da voracidade das intrigas e da pequena política. E num dia, fruto dos erros cometidos, o regime caiu.

Caiu com o aplauso da população que se colocou ao lado dos revoltosos. Um relato atento de documentos sobre a época – e há, recentemente publicada, uma obra notável do dr. Luis Bigotte Chorão, intitulada A Crise da República e a Ditadura Militar – pode mostrar-nos como estava de rastos a imagem da Justiça, da Administração Pública, do Parlamento, do Governo e de toda a classe política em geral.

Os problemas, como muitos disseram, não se resumiam ao défice e aos elevados juros a pagar no estrangeiro; os problemas passavam, antes de mais, pela credibilidade perdida no funcionamento da Justiça e pela separação entre o povo e os seus representantes.

Hoje, quase 84 anos passados, chega a ser arrepiante como tudo é tão idêntico e tão próximo.
Eloquentes e notórios analistas, supostos descobridores da análise inédita, ignoram ou propositadamente nada dizem sobre o que provocou a queda da 1.ª República.

Sem o brilho, a inteligência e a qualidade de quem ao tempo escrevia sobre o assunto, eis que os vemos agora sentados nas suas ‘cátedras’ de petulância, cheios da sua imensa pequenez, culpando somente o que se passa lá fora para justificar o que de errado voltámos a fazer cá dentro.

Mas a História repete-se. Sem as especiarias da Índia, o ouro do Brasil e o dinheiro da CEE, voltámos ao que éramos. Pobres e cheios de deficiências estruturais, mas com a leveza de espírito característica dos incautos.

Mudou alguma coisa? É certo que sim. Temos mais auto-estradas, mais periferia e muitos subsídio-dependentes.
É  ainda  certo  que  temos  pessoas   e  profissionais  de  inquestionável  qualidade,  apesar  de  se  contarem  pelos dedos  das  mãos  as  possibilidades de  êxito  que  alcançam  numa  sociedade,  como  a  portuguesa,  que  cultiva  e  sustenta  a  mediocridade. Ser medíocre, mediano, poucochinho, é condição  base para progredir e para sobreviver.

Não há agricultura, nem pescas? Não possuímos indústria? Mas que relevância têm estas coisas menores, perante a pujança dos estádios, dos corruptos e das obras públicas desnecessárias? Diante de tamanha grandeza interessará para alguma coisa o estado deplorável a que chegámos?

Para o país formal não, contudo há ainda quem se interesse. Será uma minoria? Talvez. Uma minoria que não se conforma e uma minoria que não faz depender a razão das suas preocupações e ideias da quantidade volátil dos espectadores do circo.

Até porque, como em todos os circos, esses espectadores só aplaudem enquanto tiverem entretenimento e pão. E o entretenimento pode continuar, mas o pão vai escassear.

Manuel Monteiro

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Opinia ... _id=159481





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PS: em busca da honra perdida
19 February 10 10:00 AM

    Ao longo das últimas semanas, tenho resistido à tentação de regressar à memória do meu percurso como deputado e (também) militante do PS entre 2002 e 2004. A razão dessa resistência é simples: não queria confundir uma experiência pessoal, marcada pelas circunstâncias do tempo e pela subjectividade das minhas expectativas, com as actuais perturbações internas do PS (na sequência das suspeitas de interferência do chefe do partido e do Governo no controlo de meios de comunicação social, reveladas nas últimas edições do SOL).

    Dei-me conta, porém, que as opiniões que tenho publicado sobre o assunto não são de todo alheias a essa minha experiência. Por outras palavras: não posso fingir que aquilo que agora se vai tornando público é uma surpresa absoluta para mim, muito embora me confesse ultrapassado pela vertigem dos acontecimentos.

     

    Deixei de ser militante do PS no Outono de 2004 e já anunciara ao então líder parlamentar, António José Seguro, o meu propósito de renunciar ao cargo de deputado, quando o Presidente Sampaio decidiu dissolver o Parlamento em Novembro desse ano. Antes disso, não concordara com a demissão de Ferro Rodrigues de secretário-geral do PS depois de Sampaio ter aceite a substituição de Durão Barroso por Santana Lopes como chefe do Governo e recusado, na altura, a antecipação das eleições. Mas, entretanto, já assistira ao frenesim conspirativo de José Sócrates e dos seus fiéis para preparar a sucessão de Ferro (na eventualidade de António Vitorino não se candidatar à liderança, o que viria a confirmar-se).

    O caso Casa Pia tinha abalado profundamente o PS e chegou a pôr em causa a honorabilidade de Ferro Rodrigues e outros dirigentes socialistas, com base em testemunhos que nunca se confirmaram. Partilhei – e exprimi publicamente – a indignação que se vivia dentro do partido, mas pronunciei-_-me contra a tentação censória como forma de prevenir a histeria inquisitorial e irresponsável de alguns media.

    Numa reunião entre o grupo parlamentar e a direcção do PS, na sede do Largo do Rato, argumentei, em abono dessa posição: «Sabe-se como começa a censura, mas não se sabe como acaba». Ferro, apesar de visado pessoalmente na campanha difamatória, concordou comigo, mas, logo que terminei a minha intervenção, um deputado saltou da cadeira de dedo em riste e advertiu--me severamente: «Não concordo nada com aquilo que você disse!». Era José Sócrates.

    Retorqui que era a opinião dele, não a minha, e propus debatermos o assunto. Passámos longas horas a discutir pela noite dentro, num bar de Lisboa, esgrimindo as nossas razões, mas sem ser possível chegarmos a um acordo. Creio que foi aí que percebi definitivamente que o instinto autoritário de Sócrates e a sua desconfiança visceral em relação aos jornalistas – com excepção dos jornalistas alinhados e ‘amigos’– eram traços essenciais da sua personalidade.

     

    Mal tinha eu arribado a São Bento, José Sócrates foi, entre os meus colegas de bancada, daqueles que manifestaram maior cordialidade e simpatia para comigo. Durante um período inicial, não fui insensível a essas atenções, presumindo que Sócrates estaria suficientemente informado sobre as minhas ‘idiossincrasias’ pouco ortodoxas ou domesticáveis e que não haveria nenhum comércio espúrio em perspectiva. Relacionava-me, aliás, de forma excelente com outras pessoas do círculo próximo de Sócrates, como Pedro Silva Pereira.

    Mas, à medida que o tempo foi passando, os equívocos que pudessem existir sobre a minha hipotética adesão a esse círculo de incondicionais socráticos dissiparam-se por completo. E é hoje claro para mim que foi a iminência de Sócrates suceder a Ferro Rodrigues como líder socialista (eu cheguei a apostar em António Costa que, no entanto, rejeitava liminarmente essa hipótese) o pretexto final para encerrar uma experiência política que, certamente por imperdoável ingenuidade minha, eu encetara com genuína convicção, mas se viria a revelar verdadeiramente frustrante.

     

    Sempre me senti socialista (ou, se quiserem, social-democrata à maneira nórdica), apesar do meu esquerdismo libertário juvenil. Foi, de resto, esse grão de irreverência anarquista que nunca consegui extirpar – talvez por uma vocação natural de rebeldia – o motivo maior da minha aversão às amarras do partidarismo ou do seguidismo tribal. Mas isso não impede que me reconheça na grande nebulosa da esquerda democrática. É essa a minha família política.

    Embora tenha arriscado fazer uma parte do meu caminho político como militante e deputado do partido de que me sentia mais próximo – recordo, por exemplo, a alegria e o entusiasmo com que participei na campanha eleitoral de 2002 em Lisboa – nunca mantive grandes ilusões sobre as pequenas misérias e mentiras da vida partidária ou qualquer suposta ‘superioridade moral’ do PS.

     

    Não atribuo exclusivamente a Sócrates a descaracterização daquilo que, em termos românticos, poderíamos chamar a ‘alma socialista’. Muito antes dele, o PS já passara por outras peripécias nada românticas ou edificantes. Mas também é verdade que nunca, como agora, vi essa alma tão perdida, penada e desonrada pelo carreirismo, pela vileza e pela falta de carácter (alguns mostram horror a que se fale disso, como se o carácter não fosse a essência da nobreza política).

   Onde estão as vozes inconformadas que não se fazem ouvir ou se escondem cobardemente atrás do reposteiro das conveniências, pactuando com a mentira, o cinismo, os negócios escuros e a promiscuidade dos interesses?

    Como é possível que aquilo que se mete pelos olhos dentro como punhais possa ser negado e mistificado em nome de embustes e hipocrisias formais? Como poderá a fidelidade servil ao chefe ser colocada acima dos ideais, princípios e convicções que inspiram a verdadeira fidelidade moral e política? Perdida a honra, que restará ao PS?

Vicente Jorge Silva

http://sol.sapo.pt/Blogs/vicentejorgesilva/default.aspx
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #22 em: Fevereiro 22, 2010, 04:53:32 pm »
Já tenho ouvido essa estória em mais sítios, e parece-me que é um tiro ao lado. Não por muito, mas ao lado na mesma. O fim da 1ª Republica resultou dum caos governativo - ora hoje em dia o problema é um Governo com falta de oposição. O fim da 1ª Republica veio com o desejo de um "salvador" que "metesse ordem nisto". Ora o Socas é acusado é de ser autoritário e querer "ordenar" tudo à sua volta. Sim, era época de CRISE assim mesmo em bold e itálico, mas também o era uma outra época que me parece mais apropriada - o fim da Monarquia. Rotativismo, Partidos iguais em tudo e sem soluções para a crise, fuga do discurso politico para a radicalização em torno de um Bode Expiatório em relação ao qual vale tudo...

Será que vem aí outra mudança de bandeira? Deus e Marx lo queiram.
 

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FoxTroop

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #23 em: Fevereiro 22, 2010, 11:58:56 pm »
Só mesmo muita má fé. Porque se não for má fé, então é seguidismo e ignorancia.

Tentar comparar e colocar o "inginheiro" ao nivel do "botas" é de ir às lagrimas. Para começar e só para começar, ninguém alguma vez contestou o mérito académico e os pergaminhos que o atestavam. É que naquele tempo os cursos universitários não tinham a benesse de permitir que os alunos se formassem aos Domingos. Mas..... "eles andim aí...."

Contudo é da nossa mediocridade como povo, que saem os mediocres dos que nos governam. Um povo apatico, invejoso, calatrão, encostado, mesquinho e sempre de mão esticada, não pode esperarar que as suas supostas elites sejam diferentes. E digo que uma maioria avantajada do nosso povo é assim porque nem com as coisas à frente se mexem. Começo a ter serias duvidas se existe um espirito nacional (excepto para a selecção de futebol e apenas se tiver bons resultados)

E quando este recalcamento todo rebentar?!!! Quando toda a raiva acumulada, toda a mesquinhez sabuja amontoada explodir nas ruas?!!!! A História mostra que quando extravazamos, não medimos nada à passagem. E que será da Nação, desta vez?!!!! Comemorarão os nossos descendentes o milénio da nossa pátria?!!!!
 

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Luso

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Re: Sobre a "morte" de Sócrates
« Responder #24 em: Fevereiro 27, 2010, 11:29:38 pm »
Fox, viu aquela do eurodeputado europeu inglês dirigindo-se ao Rompuy? É mesmo como diz: acção-reacção.

Mas regressando ao tema...

Recapitulando…Arquivado em: Política, Portugal — elisabetejoaquim @ 22:10
Tags: Ferreira Leite, Passos Coelho, polvo

1. A notícia de que Manuela Ferreira Leite estaria a par, desde Junho, da intenção da PT comprar a TVI surgiu ontem ao fim da manhã.

2. A notícia é baseada num escuta, à qual o DN teve acesso, segundo a qual a 27 de Junho, Rui Pedro Soares diz a Paulo Penedos que ambos foram vítimas de uma “cilada”, acrescentando: “A pessoa que mais sabia deste negócio era a Manuela Ferreira Leite”.

3. Soubemos hoje que essa escutas foram posteriores à data (25 de Junho) a partir da qual os investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro consideram que, tendo sido informados de que estavam sobre escuta, Paulo Penedos e Rui Pedro Soares terão semeado conversas para confundir a investigação (ilibando Sócrates de uma eventual participação do negócio).

4. Escassos momentos após a divulgação da notícia sobre o eventual conhecimento que Manuela Ferreira Leite tinha do negócio, Pedro Passos Coelho apressou-se a reagir, publicando o Jornal de Negócios (com quem, por sorte, estava a almoçar) a sua crítica ao «Envolvimento de Ferreira Leite»: Falando ao início da tarde, num almoço-debate organizado pela Associação Comercial de Lisboa em parceria com o Negócios, Pedro Passos Coelho, um dos três candidatos à presidência do PSD, não poupou nas palavras em relação ao envolvimento da ainda líder do seu partido.

Se Pedro Passos Coelho «não poupou nas palavras» em relação ao «envolvimento de Ferreira Leite», decerto tem «poupado nas palavras» no que toca ao envolvimento de Sócrates no mesmo caso, ambos em pé de igualdade no que toca à fonte – as escutas. A duplicidade de critérios é evidente.

Recapitulando novamente…

1. Pedro Passos Coelho tem «poupado» o nome de Sócrates – quer no seu livro, no qual nunca é referido apesar dos vários capítulos sobre a actualidade política, quer na apresentação da sua campanha onde nem por uma vez qualquer tipo de responsabilidade governativa foi imputada directamente ao nome Sócrates, preferindo as críticas vagas e gerais.

2. Pedro Passos Coelho é o administrador do grupo Fomentinvest. e presidente do conselho de administração da HLC Tejo e da Ribtejo. A Formentinvest tem como sócios figuras envolvidas em escândalos financeiros: os construtores Irmãos Cavaco, acusados de burla qualificada no caso BPN (Passos Coelho também «poupou palavras» na “nacionalização” do BPN) e Horácio Luís de Carvalho, que está a ser julgado por corrupção e branqueamento de capitais no processo do aterro da Cova da Beira.

3. No processo de adjudicação do aterro sanitário da Cova da Beira, Horácio Luís de Carvalho é acusado de ter depositado 59 mil euros numa conta offshore de António Morais, o “célebre” professor de José Sócrates na Universidade Independente.

4. O concurso teve lugar quando José Sócrates ainda era secretário de Estado do Ambiente – e o actual primeiro-ministro chegou a ser investigado, mas no que lhe dizia respeito o processo foi arquivado em 2007.



http://oinsurgente.org/2010/02/25/recapitulando-2/
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...