Situações destas ainda existem.
O trabalho precário continua a existir. Continua a ser culpa do antigo regime? Julgo que não..
Com efeito, os casos continuam a existir, mas diz-nos o bom senso e a observação que uma coisa é a regra e outra é a excepção.
A pobreza e as situações que hoje vemos como revoltantes são hoje em muitos casos excepções ainda que detestáveis.
Eu falo sobre o que acontecia num tempo em que aquelas situações eram a regra.
Eu posso apontar ainda hoje um ponto em Setubal onde se podem encontrar barracas, mas posso indicar onde ficavam bairros inteiros de barracas, ruas inteiras (chamadas de azinhagas) onde habitavam os trabalhadores migrantes, vindos na sua maioria do Alentejo, e para os quais, viver em condições degradantes conseguia ser menos mau, que depender dos contratos ao dia conseguidos nas «praças de jorna» no Alentejo.
Eu afirmo que o autor do livro tem uma visão muito romântica da História de Portugal, e que quem tem o que aparenta ser uma visão arrebatada dessa mesma História, não fica muito bem em aconchegantes cursos nos Estados Unidos, quando gente da idade dele morria e ficava estropiada na Guiné, essa sim, literalmente a lutar em Nome da Pátria.
Dito isto, e fora a visão romântica que o autor aparenta ter, eu até concordo com parte do que ele escreveu e acho interessante que o tenha feito.
Realço a questão da India, e curiosamente uma outra questão que é a da razão principal do desconjuntar do regime em 1974.
Como aqueles que leram o livro se devem lembrar, Brandão Ferreira, implica Marcelo Caetano como um dos responsáveis ainda que indirectos do 25 de Abril de 1974.
Como já tive ocasião de aqui referir várias vezes, acredito que o golpe (a parte do golpe e não a revolução que começou no mesmo dia) foi mal planeado e poderia ter sido debelado com alguma facilidade, caso não tivéssemos que considerar vários factores.
Os meios empregues foram demasiado poucos e a forma como as coisas correram é para mim estranha.
Há também o factor PIDE e a afirmação segundo a qual a PIDE sabia do golpe mas estava de mãos atadas.
Pessoalmente acho que a argumentação do autor esbarra com alguns factos, como o da existência de grupos organizados de «contras» que poderiam dar um golpe contra o próprio Marcelo Caetano.
A PIDE não os conhecia ?
Se pensavam dar um golpe e tinham força para o fazer, porque não organizaram um contra-golpe em tempo útil ?
Falta de tempo?
Eu acho que foram duas coisas: Falta de tempo e falta de força.
E isto, claro, são apenas algumas considerações sobre as questões e temas que considero mais importantes. Também há outras notas importantes e curiosas sobre as relações entre os serviços de informações do exército e a PIDE, que parece ter sido completamente ineficaz se é que existiu.
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