Então, mas este senhor Pereira é que é o gordo anafado ?
Fiquei sem perceber
Eu pensei que alegadamente fosse o Costa
Bom, realmente o individuo tem crescido um pouquito para os lados ...
Mas não creio que a responsabilidade pela atual situação possa ser atribuida a apenas uma pessoa.
Há um conjunto de fatores que levaram a isto.
Desgraçadamente, quando um ramo das forças armadas de qualquer país entra em decadência o resultado é sempre o mesmo.
Aumenta o nível de roubos, á cada um por si, e alguns, quando é possível, começam a planear a melhor forma de assegurar o seu bem estar :
Golpe de Estado.
A marinha esteve metida em tudo quanto é golpe e insureição no século XX por alguma coisa
Hoje não há condições para golpes, por isso, quando uma instituição se vê a si propria como ultrapassada e decadente, as pessoas passam a pensar não na instituição (que consideram morta) mas sim nas suas próprias pessoas.
A forma de evitar isso, é tentar renovar alguma coisa. Mesmo sem guerra, é possível mobilizar, por exemplo na renovação do material, ou na preparação e treino para operar material novo.
Nos últimos anos, nem nada novo, nem sequer verbas para manter navios minimamente operacionais.
O que vimos no NRP Mondego foi um sintoma disso. O navio tem sistemas redundantes, naturalmente - todos têm que os ter, militares ou civis - mas num navio da marinha portuguesa a situação chegou ao ponto de, se a marinha tivesse que se vistoriar a si própria, por lei não se poderia deixar a si própria sair dos portos por falta de condições de segurança.
Quando o Frank Carlucci chegou a Lisboa em Dezembro de 1974 em pleno Verão Quente[1] a primeira coisa que fez, como italiano, foi convidar o Otelo Saraiva de Carvalho para almoçar (creio que no Guincho). O Cunhal ficou verde raiva, e para o Cunhal ficar irritado, era preciso bastante [2].
O que Carlucci mais tarde disse, foi que das primeiras coisa que queria fazer em Portugal era colocar os militares fora da política. A solução era simples e conhecida. Iniciar um vasto programa de modernização das forças armadas.
Com todos os planos, reuniões, visitas e treinos que eram necessários, os militares não teriam tempo para se coçar, quanto mais para pensar em golpes.
O plano não resultou completamente, porque o PCP sabia dele e preservou a sua força operacional de ataque: os fuzileiros.
Mas no fim, após o 25 de Novembro, as coisas voltaram aos eixos e todos conhecem o resultado. Fora substituidos os tanques, programada a vinda de novos FIAT da Alemanha e depois A7, os M48 juntaram-se aos M113, e mais camiões, e aviões C-130 e até treinadores supersónicos Tallon que chegaram em 1977.
Os militares se tiverem o que fazer, e houver um objetivo, vão tentar atingi-lo. O problema é quando deixa de haver objetivos, e se tentam enganar as pessoas com alternativas verdes, defesa da sardinha, e preservação da natureza...
O resultado está à vista.
[1]
Alguns dias antes da chegada de Carlucci, tinha ocorrido o levantamento de 28 de Setembro, com a renuncia de Spinola à presidencia, e com um aumento do poder da União Soviética, que se viria a consolidar com o 11 de Março.
Henry Kissinger no Departamento de Estado em Washington dizia que era melhor abandonar Portugal, para que o falhanço português fosse um exemplo para a Europa,
[2] - Terá sido nesta altura que o PCP se lembrou de influenciar o Otelo Saraiva de Carvalho com uma visita a Cuba, que ocorreu em Julho de 1975