Há uns dias atrás, as declarações do almirante CEMA, afirmando que não entendia sequer as razões da revolta de alguns marinheiros na Madeira, trouxeram-me à memória as palavras de uma pessoa das minhas relações afastadas, um tenente-coronel do exército, já falecido há bastantes anos, que na altura tinha passado à reserva.
Dizia ele que, com o serviço militar obrigatório, a situação com a falta de praças, levava a que as tarefas mais pesadas e desagradáveis estivessem a ser feitas por um número cada vez menor de pessoas.
Antes, dizia ele, muitas tarefas levadas a cabo pelo pessoal do SMO, ou mesmo pelo pessoal com contrato a prazo, eram provisórias, as pessoas rodavam e especialmente para as praças do SMO, havia sempre a contagem do tempo até sair, para acabar de uma vez por todas com aquilo.
Havia pelo menos uma esperança no futuro. Aquilo, afinal, não haveria de durar para sempre.
Dizia que era grave no exército, mas que na marinha era ainda pior, porque eles tinham menos praças que o exército.
A falta de perspectivas, a falta de um objetivo na vida dos militares, acaba por os levar a fixar-se nos problemas que têm à mão.
A falta de meios ou a falta de condições. E claro, começa a saltar à vista o desenrascanço dos comandos, que por estarem numa situação de algum privilegio, acabam por “arranjar” e “desenrascar” soluções para as suas vidas privadas.
A vida dos militares, passa a andar à volta das faltas, dos problemas e dos outros militares, que se desenrascam...
Isto é um caldo explosivo.
É a razão que explica porque mesmo em tempo de paz, as tropas têm que ser mantidas numa situação de atividade. Se não há dinheiro nem para que as armas funcionem em condições, isso leva sempre a revoltas.
Por essa razão os generais romanos, quando não havia guerras, transformavam as legiões em enormes empresas de construção de estradas, pontes e viadutos.
E se o almirante CEMA não entende isto, então, talvez não devesse ser CEMA.