Conquista de Ceuta

  • 0 Respostas
  • 2510 Visualizações
*

dremanu

  • Investigador
  • *****
  • 1254
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +7/-18
Conquista de Ceuta
« em: Março 02, 2004, 12:00:09 am »
A 25 de Julho de 1415, sob o comando do Rei D. João I, largaram de Lisboa, em direcção ao Norte de África, 242 navios, alguns armados de guerra e galés, que levavam nos seus convés, entre bravos homens, os três infantes abençoados pela rainha mãe, D. Henrique, D. Pedro e D. Duarte.

Ceuta, chave do Mediterrâneo, compreendia uma enseada a leste - Barbaçote - e outra a oeste - Almina. Do lado peninsular, uma pequena ilha comunicava por uma ponte com o corpo da cidade. Foi por aí que D. João I ordenou o principal ataque, pela frota vinda do Porto, sob o comando do infante D. Henrique, enquanto ele, o rei, com o resto da esquadra, faria noutro ponto uma manobra de diversão que ludibriasse as forças dos defensores da praça. Quanto ao desembarque da majestosa frota, as ordens do rei eram específicas para que fosse ele a dar a ordem e só depois do infante D. Henrique tomar a praia.

A 21 de Agosto de 1415, os botes dos navios do infante começaram a despejar gente na praia. O primeiro que desembarcou, Rui Fernandes, com mais alguns cavaleiros, arremessou-se logo contra os Mouros que tinham acorrido, armados, à praia. A cobrir essa investida, desembarcaram logo mais reforços, e em breve mais de 300 portugueses se viram empenhados nesse primeiro combate, contrariando as instruções do rei.

E já D. Henrique, enfadado, ía suspender a batalha, quando um imprevisto acontecimento precipitou o desordenado assalto. Um gigantesco fundibulário negro, cujos tiros certeiros faziam grande estrago nos portugueses, arremessara uma pedra em cheio ao elmo de Martins de Albergaria, despedaçando-lho e ferindo-lhe no rosto; apesar de aturdido, o cavaleiro correu sobre o negro e atravessou-o com a lança. Cheios de pânico pelo desenlace do estranho duelo, os Mouros recolheram-se espavoridos às portas das da cidade, e 500 dos portugueses, que correram logo sobre eles, entraram também de roldão.

Já lá dentro, esses poucos assaltantes estabeleceram-se num pequeno morro, até que novos reforços chegassem; e, com efeito, pouco depois Vasco Fernandes de Ataíde fez estilhaçar uma porta a machado e penetrou com mais gente na praça.

Os infantes D. Henrique e D. Duarte chegavam entretanto com mais forças, e, enquanto este iam ocupando todas as partes mais altas, para que os Mouros as não ocupassem, vários destacamentos corriam as estreitas ruas, abrindo caminho com as suas espadas e lanças.
Ao saber disto, o rei, para evitar um desastre, apressou o desembarque das suas tropas e, dividindo-as em quatro corpos, correu com eles a misturar-se nas tortuosas ruas. Os combates corpo a corpo generalizaram-se por toda a parte. Não havia outro plano, nem ordens, nem ataques de conjunto.

No ímpeto do assalto, os soldados invadiam as vivendas ricas dos mercadores, arrombando caixas, cofres, sacas, num furor cego de destruição. Pelo chão das lojas alastravam a canela e a pimenta; as ricas drogas, as sedas, empapavam-se de azeite, de mel, de manteiga e dos óleos derramados dos jarros.

Tudo isso, com a lama e o sangue nas ruas, fazia um lodo vermelho e pegajoso onde os sapatos de ferro dos cristãos se atolavam. E o temerário D. Henrique, que durante cinco horas combateu sem descanso, viu-se num desses combates em grave risco de vida.

Ao anoitecer, os Mouros, sem comando, batidos por toda a parte, abandonaram a luta, sem tentar sequer defender a cidade, que não tardou em cair nas mãos dos portugueses.

A manhã de 22 veio encontrar os vencedores ainda no auge da colheita e na surpresa de uma fácil vitória. Depois procedeu-se solenemente à sagração da mesquita e à cerimónia de armar cavaleiros os três infantes e muitos fidalgos moços que valorosamente haviam recebido o baptismo dos combates.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."