Vivemos num mundo de "falsas democracias"A freira beneditina catalã Teresa Forcades defendeu que o mundo é hoje um conjunto de "falsas democracias" com o poder político subordinado à economia, apontando como "maior fonte de esperança no futuro"...
A religiosa catalã, que na sexta-feira visita pela primeira vez Portugal a convite da Associação de Teólogas Feministas para falar sobre "as falsas democracias", considera que não existe hoje nenhum país que possa ser considerado uma verdadeira democracia.
"Democracia indicaria um sistema de governo onde a vontade do povo, da maioria, determinaria as decisões políticas", mas isso não acontece, segundo Teresa Forcades i Villa.
Para a freira beneditina, que falou à agência Lusa, por telefone, a partir de Berlim, a Espanha e a Catalunha são exemplos claros do falhanço da democracia e uma realidade "generalizável" a vários outros países.
"Temos uma maioria social descontente com as atuais decisões políticas que não se traduz numa mudança de direção política. É isso que considero uma falsa democracia", sublinhou.
E, num contexto de "democracias sequestradas", Teresa Forcades encontra na forma de funcionamento do sistema de partidos o principal problema.
"É um modelo que não serve. É preciso que os partidos sintam necessidade de prestar contas à população e tenham programas eleitorais submetidos ao controlo popular", defendeu.
Controlo que, segundo a freira, não se consegue sequer através de eleições porque os partidos submetem a sufrágio programas eleitorais que alteram logo depois de chegar ao poder.
"Não há nenhum sistema que possa penalizar imediatamente os partidos", disse Teresa Forcades, denunciando o bloqueio a que são sujeitas as iniciativas legislativas populares.
Teresa Forcadas critica também a forma de financiamento dos partidos políticos e a natureza antidemocrática da disciplina partidária.
"Não podemos ter partidos dependentes de capital externo para o seu financiamento porque depois lhes vão ser pedidos favores", disse.
É à luz destas contradições e da "desconfiança num sistema que propõe um governo da vontade popular, mas tem uma aliança com o poder económico", que Teresa Forcades entende o afastamento das populações, especialmente dos mais jovens, da política.
De resto, a crítica principal de Teresa Forcades é precisamente à aliança que, na prática, segundo a religiosa, "é uma subordinação do poder político ao poder económico".
"Em 2006, publiquei os 'Crimes das grandes companhias farmacêuticas' e, nesse momento, tomei consciência até que ponto instituições que deveriam velar pelos interesses da comunidade tomam decisões políticas para proteger, impulsionar ou favorecer os interesses particulares de certas empresas", adiantou Teresa Forcades, que é também médica e especialista em saúde pública.
Teresa Forcades, que lidera com o professor Arcadi Oliveres o movimento nacionalista, independentista catalão Process Constituent, com vista às eleições de 2016, defende no contexto da atual crise a Espanha deve "livrar-se da dívida externa o quanto antes".
"Antes do resgate [aos bancos] 19 por cento era dívida pública e 81 por cento era dívida privada, mais de 90 por cento da qual de grande corporações, na maioria financeiras. O que aconteceu com o resgate é que a dívida privada passou a ser pública. Impuseram-me uma dívida de outros que têm mais meios que eu para pagar. Isso é intolerável", disse.
Teresa Forcades aponta por isso exemplos de países "com os quais se pode aprender muito" nesta matéria: a Islândia, onde o povo disse não às imposições dos credores internacionais, ou o Equador, que auditou a sua dívida para separar a dívida legítima da ilegitima e conseguiram livrar-se de parte dessa dívida.
"Estamos a aguentar coisas que não são aguentáveis e deveríamos reagir a nível social", disse, defendendo para a Europa e para o mundo "um movimento decididamente anticapitalista que aposte num processo pacífico e democrático".
"Esta é a fonte de maior esperança no mundo contemporâneo", garantiu.
Sabe que a revolução popular que preconiza não resolverá todos os problemas, mas não admite que lhe digam que não há alternativa.
"Não há uma alternativa, há várias e com qualquer uma que seguíssemos estaríamos melhor do que agora porque a situação é muito dura", disse, lembrando que em Espanha o desemprego atinge os 25 por cento (50 por cento entre os jovens) e a pobreza os 30 por cento da população.
Lusa
publicado a 2013-11-13 às 09:34
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