Novas Medidas de Austeridade para 2011

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Re: Novas Medidas de Austeridade para 2011
« Responder #15 em: Outubro 04, 2010, 04:57:25 pm »
Bem penso que não pude deixar de citar esta excelente entrevista a Henrique Neto, aparentemente um grande Português, publicada hoje no Publico online:

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Governo "dificilmente evitará a vinda do FMI"

Austeridade "não toca na gordura do Estado e nos interesses da oligarquia"
04.10.2010 - 07:27 Por Cristina Ferreira

Henrique Neto tem 74 anos e é militante do PS há cerca de 20. Mas é também um empresário da Marinha Grande, tendo criado a Iberomoldes em 1975, uma exportadora de moldes, de componentes para automóveis e de engenharia de produtos.

Em entrevista ao PÚBLICO, voltou a não poupar críticas às políticas económicas deste Governo. Diz que só os estadistas sabem ouvir os "críticos" e acrescenta que o chefe de governo utilizou um optimismo "bacoco e inconsciente" para esconder os problemas.

Desde o Governo de António Guterres, tem participado nos congressos do PS apresentando moções críticas para as políticas na área económica, por as considerar desajustadas das necessidades do país. Como vê a actual situação?
Com grande preocupação. Como português que gosta muito do seu país, não posso deixar de lamentar as oportunidades perdidas e os erros cometidos. Infelizmente, os nossos governantes não sabem da importância de ouvir os críticos, que é uma qualidade que está apenas ao alcance dos estadistas.

Como é que explica que, apesar dos avisos, o Governo tenha ignorado o impacto que a crise financeira iria ter na economia nacional?
Não há uma resposta simples para essa questão. Penso que é um misto de falta de sentido de Estado, de ignorância, de voluntarismo e de teimosia e, porventura mais importante, de falta de convicção sobre o interesse geral a que muitos chamam patriotismo.

Como avalia as linhas gerais propostas pelo Governo para reduzir o défice do Estado em 2011?
Pelo que se ficou a saber, certo é apenas que os portugueses pagarão, em 2011 e nos anos seguintes, os erros, a imprevidência e a demagogia acumulada em cinco anos de mau Governo. É por isso que, nestas circunstâncias, falar da coragem do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, como alguns têm feito, é um insulto de mau gosto a todos os portugueses que trabalham, pagam os seus impostos e vêem defraudadas as suas expectativas de uma vida melhor. As medidas propostas, sendo inevitáveis, dada a dimensão da dívida e a desconfiança criada pelo Governo junto dos credores internacionais, não tocam no essencial da gordura do aparelho do Estado e nos interesses da oligarquia dirigente. Mas o pior é que estas medidas, pela sua própria natureza, não são sustentáveis no futuro e não é expectável que, com este Governo, se consiga o crescimento sustentado da economia.

Acredita na execução orçamental de 2010?
Tanto quanto se sabe, o Governo não cumpriu as medidas acordadas com o PSD, do lado da despesa, no PEC (Plano de estabilidade e Crescimento)1 e no PEC 2. Mas, como todos sabemos, a contabilidade governamental é elástica e algumas das medidas agora apresentadas terão efeito ainda este ano, pelo que seria um absurdo indesculpável o Governo não cumprir o objectivo do défice para 2010.

Quais os efeitos das medidas anunciadas na economia real?
Os livros de Economia ensinam que estas medidas matam qualquer economia, e essa é uma razão adicional para as evitar em tempo útil, com bom senso e boa governação. Em qualquer caso, temos a vantagem de ser um pequeno país e acredito que as empresas têm condições para salvar a economia portuguesa. Mas, para isso, precisam de uma estratégia nacional clara e coerente, um Estado sério e competente que defenda o interesse geral e uma profunda reforma ao nível da exigência educativa. O objectivo principal terá de ser subir na cadeia de valor através da inovação e de recursos humanos mais qualificados.

Continua a haver risco de Portugal necessitar da intervenção do FMI?
Um Governo que deixou chegar as finanças à presente situação, dificilmente evitará a vinda do FMI.

Partilha da opinião dos que defendem que o melhor contributo que o Governo pode dar à economia é consolidar as contas públicas?
A consolidação das contas públicas é uma condição necessária mas não suficiente. Apenas o crescimento sustentado da economia abrirá novas perspectivas aos portugueses. Mas, neste domínio, José Sócrates iludiu, durante cinco longos anos, todos os reais problemas da economia através de um optimismo bacoco e inconsciente.

Não o fez apenas por ignorância, mas para servir os interesses da oligarquia do regime, através da especulação fundiária e imobiliária, das parcerias público-privadas, dos concursos públicos a feitio, das revisões de preços e de uma miríade de empresas, institutos, fundos e serviços autónomos, além das empresas municipais. Regabofe pago com recurso ao crédito e sem nenhum respeito pelas gerações futuras.

Como se resolve o dilema: estimular a economia e equilibrar as contas públicas?
Nas actuais condições de endividamento, dificilmente se conseguirão ambas as coisas. Por isso a dívida pública que os últimos governos deixaram acumular deveria constituir crime público. Porque nos tornou dependentes dos credores internacionais e coloca em causa o bem mais precioso de qualquer país, que é a independência nacional. Que, no caso de Portugal, tem mais de oito séculos e custou muito sofrimento. Aliás, por isso, e talvez não por acaso, infelizmente, são cada vez mais frequentes as tiradas vindas de alguns sectores apregoando que o país não é viável e que os portugueses não se sabem governar, ou que a solução dos nossos problemas passaria por uma qualquer união ibérica.

É possível cumprir as metas orçamentais sem aumento de impostos que permitem receitas imediatas?
Teria sido possível se a previsão fizesse parte do léxico do Governo de José Sócrates. Mas como, a três meses do final do ano, o ministro das Finanças ainda precisa de medidas adicionais e pede à oposição que lhe indique onde cortar na despesa, a resposta é não, no curto prazo, os impostos adicionais são inevitáveis.

Das declarações do Governo, ficou com ideia de que ele deixou cair o investimento público associado às grandes obras, TGV e aeroporto?
A ideia com que se fica é que o primeiro-ministro não leva em conta o interesse nacional, mas os interesses dos grupos de pressão dos sectores financeiro e das obras públicas, o que é a única explicação para a dimensão dos erros cometidos. Estamos a construir mais auto-estradas que ficam vazias e sem carros e um TGV com um traçado que não favorece a economia, ao mesmo tempo que nada foi feito para termos um porto de transhipment e transporte ferroviário de mercadorias para a Europa, investimentos cruciais em logística, para podermos ambicionar atrair mais investimento estrangeiro e desenvolver uma verdadeira capacidade exportadora. Em qualquer caso, contra toda a sanidade económica e financeira, o Governo não parou a maioria das obras programadas e utilizará o fantasma das indemnizações aos empreiteiros para as não parar.

Durante as últimas eleições, Passos Coelho desalinhou com a liderança do PSD da altura e veio também defender os grandes investimentos públicos como o TGV?
Infelizmente, Portugal está na senda de escolher jovens primeiros-ministros que não sabem do que falam. O que é agravado pela inexistência de uma estratégia nacional integradora das grandes decisões de investimento público. Desta forma, os investimentos são encarados como obra pública avulsa, o que conduz a cada cabeça cada sentença. Pedro Passos Coelho é parte desse problema, que, além disso, permite as constantes mudanças de opinião.

O que diz é que o jogo político entre as altas figuras que lideram o PS e o PSD se tem sobreposto ao desenvolvimento do país?
É inegável que existe um bloco central inorgânico na política portuguesa, que defende interesses privados ilegítimos e permite a acumulação de altos e bem pagos cargos na administração do Estado e nas empresas do regime. O que é facilitado pelo chamado centralismo democrático praticado nos diversos partidos políticos e pela habitual passividade e clubismo do povo português. Nesse capítulo, atingimos o ponto zero da moralidade pública e não vejo como será possível colocar a economia portuguesa no caminho do progresso e do crescimento, com algumas das principais empresas e grupos económicos a poderem ter relações privilegiadas com o poder político e a ser-lhes permitido fugir da concorrência e dos mercados externos, por força do clima de facilidade e de privilégio que detêm no mercado interno.

Nos últimos anos, chamou várias vezes a atenção para a promiscuidade dos grandes interesses privados com altas figuras do Estado. O cidadão tem a ideia de que não paga essa factura. O facto de o cidadão ser chamado agora a pagar a factura vai ter consequências?
Não sei quando é que os portugueses dirão "basta!". Mas sei que o maior problema resultante da imoralidade das classes dirigentes é a pedagogia de sinal negativo que isso comporta. Infelizmente, muitos portugueses têm a tentação de pensar que, se alguns enriquecem de forma fácil e rápida por via da sua actividade política, isso também lhes pode acontecer a eles no futuro. Fenómenos como o BPN e o BPP têm muito a ver com esta amoralidade geral reinante. Por outro lado, como pode o cidadão comum combater a corrupção, se o próprio Governo não fizer o que deve e pode para encabeçar esse combate, como ainda aconteceu recentemente?


Cumprimentos  :wink:
 

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Luso

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Re: Novas Medidas de Austeridade para 2011
« Responder #16 em: Outubro 04, 2010, 07:38:22 pm »
Ou seja - e resumindo - governa-se como se não houvesse amanhã.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Re: Novas Medidas de Austeridade para 2011
« Responder #17 em: Outubro 04, 2010, 08:24:34 pm »
Citar
Previsão (act.2)
S&P: Economia portuguesa contrai 1,8% em 2011

Pedro Latoeiro  
04/10/10 16:15

 A agência de 'rating' S&P esmagou a previsão do Governo para o crescimento da economia portuguesa em 2011.

Enquanto José Sócrates e Teixeira dos Santos projectam uma progressão de 0,5% do PIB no próximo ano, a Standard & Poor's (S&P) prevê uma contracção de 1,8% da economia nacional nesse período. Para 2012 é projectada uma estagnação.

Na primeira reacção à última onda de austeridade, a agência norte-americana escreve que as exportações serão provavelmente o único propulsor do PIB nos próximos dois anos.

"A projecção da S&P de que o PIB português vai recuar em cerca de 2% no próximo ano reflecte a nossa previsão de que o consumo se vai retrair como consequência da austeridade e também por causa da contracção no crédito", escreve a agência.

No mesmo documento, a S&P assume que "dois terços da consolidação prevista na última ronda de consolidação orçamental vão, provavelmente, ocorrer via cortes na despesa" e diz esperar que o Orçamento de 2011 seja aprovado no Parlamento, apesar da oposição do PSD a uma nova subida de impostos.

http://economico.sapo.pt/noticias/sp-ec ... 00707.html
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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cromwell

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Re: Novas Medidas de Austeridade para 2011
« Responder #18 em: Outubro 05, 2010, 12:42:31 pm »
Citação de: "pedrojoao"
Depois de ler este tópico e os comentário adjacentes estou convencido que a melhor solução é mesmo emigrar. E custa-me porque afinal, este é o país que todos os dias nós ajudamos a construir ou pelo menos ajudamos a tentar tirar da fossa. Cá para mim, deviam era haver cortes orçamentais em salários de ministros e reajustamentos em que modelos de carros se adquirem para os senhores deputados. Sempre os queria vêr a ganhar o salário mínimo mês após mês...é pena que os cortes venham muitas vezes cheios de boas intenções mas com direcção errada, nnão devuda ser de cima para baixo mas horizontalmente.

Eu também poderia emigar, como exilado político visto que sou monárquico, mas amo demasiado este país, apesar de o seu lado patriótico ter morrido à 100 anos. Defensores de Portugal como eu simplesmente não podem abandonar a sua pátria.
"A Patria não caiu, a Pátria não cairá!"- Cromwell, membro do ForumDefesa