Crispação crescente entre ministro da Defesa e chefias

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Crispação crescente entre ministro da Defesa e chefias
« em: Março 20, 2007, 01:24:45 pm »
Crispação crescente entre ministro da Defesa e chefias militares



Manuel Carlos Freire
Leonardo Negrão (imagem)    
 
O Chefe do Estado preside hoje, em Santa Margarida, a uma cerimónia militar marcada pela crescente tensão entre o ministro da Defesa e as chefias militares.

O evento marca o regresso a Portugal das tropas estacionadas na Bósnia há 11 anos, na mais longa das missões humanitárias e de paz cumpridas pelas Forças Armadas. Daí que o discurso de Cavaco Silva, comandante supremo das Forças Armadas por inerência das funções de Presidente da República, deva centrar-se na importância dessas operações e no impacto sobre a transformação das estruturas militares.

Mas a incógnita da presença de Cavaco Silva em Santa Margarida está em saber se falará da crise aberta com a intervenção dos tribunais comuns na aplicação da disciplina militar - pilar das Forças Armadas enquanto organização - e os crescentes alertas feitos pelas chefias militares à tutela política para resolver, rapidamente, o problema.

Um sinal claro da crispação que se sente na Defesa foi dado há dias pelo antecessor de Cavaco, Jorge Sampaio: o Presidente deve "manifestar a sua opinião." E, "dentro da disciplina militar, que tem de ser absolutamente mantida, não se deve perder o diálogo com os representantes das associações militares", como consagra a lei, aconselhou.

O que se sabe é que Cavaco - que iniciou o seu mandato com uma visita às tropas na Bósnia e no Kosovo - continua atento ao que se passa nas Forças Armadas: inaugurou ontem, no site da Presidência (www.presidencia.pt), uma página explicativa dos seus poderes e competências como comandante supremo. Acresce que (a exemplo do realizado durante a visita de Estado à Índia) a Presidência dará aos internautas, quase em tempo real, notícias, imagens e vídeos sobre a cerimónia, disseram ao DN fontes do Palácio de Belém.

A ausência de sinais públicos do ministro da Defesa sobre a crise na disciplina militar, que rebentou a 14 de Fevereiro, levou os chefes militares - em particular o da Armada - a multiplicar sinais públicos de insatisfação (e pressão) aos órgãos de soberania para encontrarem soluções que evitem a desautorização pública da autoridade castrense e do exercício de comando das tropas.

Essa exasperação veio juntar-se ao ranger de dentes provocado, no fim de 2006, pela reacção de Severiano Teixeira ao naufrágio de uma traineira, deixando os militares sozinhos perante a avalancha de críticas ao trabalho da Marinha e da Força Aérea numa tragédia em que morreram seis pescadores e só se salvou um, a 50 metros da praia. Esse silêncio de uma semana - a par da ausência do ministro ou do próprio secretário de Estado dos Assuntos do Mar nas cerimónias fúnebres dos pescadores - contribuiu para que o chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) tivesse emitido uma mensagem interna a assumir todas as responsabilidades detectadas pelas investigações em curso.

De certa forma, a história repetiu-se agora - mas, desta vez, Severiano Teixeira reagiu: a mensagem da Marinha não foi divulgada e, numa cerimónia realizada no domingo para assinalar o regresso das tropas (mimetizando a agendada para hoje), o ministro mostrou o seu poder de tutela, ao rejeitar "declarações avulsas na praça pública" e lembrando que a solução será "estudada e tratada pelo Governo e Assembleia da República".

Outra fonte de tensão envolve a GNR: Severiano Teixeira, como académico, fez um estudo para reformar o sistema de segurança interna que tira poder e influência às Forças Armadas - que agora tutela, o que o deixa numa situação delicada. A percepção que se tem do seu peso político, quando comparado com o do ministro António Costa, também não reforça o ego dos militares, cujas reacções podem ser corporativas mas se exprimem com argumentos prudentes: evitar duplicação de estruturas e desperdício de dinheiros.  

http://dn.sapo.pt/2007/03/20/nacional/c ... tro_d.html
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas