De referir que uma grande parte de quem participou no "desenvolvimento" e da validação do projecto do KC390 em Portugal muitos deles já não estão a trabalhar nas mesmas empresas nem seque já em Portugal.
De nada serve haver transferencias de tecnologia se não existe depois capacidade insdustrial e (mais do que tudo) um mercador com procura para sustentar essa capacidade industrial. Algo que pela nossa dimensão economica não temos nenhuma das 2.
Contudo isto não quer dizer que o KC390 foi um fracasso (ao nivel de economica em Portugal) pois está a permitir desenvolver um pequeno (para os padrões internacionais) mas importart cluster em Évora e Portugal. E isto criou e vai criar as condições para alguns dos engenheiros que participaram no projecto ainda por cá andarem.
Pois, aí é que está. O tal know-how que se ganhou, vai acabar por ser aproveitado por outras empresas que vão contratar esse pessoal. E a capacidade de fabricar de aeronaves, precisa de continuidade, através do fabrico de outros meios (aeronaves civis por exemplo), para manter as fábricas a funcionar. Caso contrário, fecha tudo e voltamos à estaca zero.
Daí dizer que, a nível da aviação, um mercado que terá garantia de futuro, é o de drones. E quando ouvimos a conversa de ter caças fabricados em Portugal, para fabricar uns 20 ou 30, eu respondo que é preferível investir no fabrico de drones, loyal wingman ou convencionais, que esses sim são produzidos em grande número. E não só, em termos de indústria de defesa, existem inúmeros produtos que era mais rentável fabricar em Portugal, do que aeronaves de combate tripuladas (munições, motores para drones, viaturas tácticas, radares leves, etc).
Era mais ou menos esse o discurso nos saudosos fóruns daqueles que defendiam fervorosamente o C130J, opção rápida e segura vs o A400, uma incógnita.
Agora serão os mesmos a "chorar" pelo A400 como opção acertada... vs KC390.
Qualquer programa tem riscos.
E qualquer país como o nosso tem de corrê-los. Porque sendo apenas um consumidor "pagador", nunca chegaremos a ter hipótese de estar na linha da frente.
A não ser que apareça petróleo à fattazana ou algo parecido, já que só com impostos não vamos lá.
Cada caso é um caso. Da mesma forma que é compreensível ter noção dos riscos, também se compreende querer inovar e correr esses riscos.
Também temos de ver a diferença de capacidades: se de um lado teríamos a hipótese dos A-400M (3 ou 4 que se falava na altura penso eu), do outro seria C-130J + C-17. A segunda opção, em termos de capacidades, era claramente superior.
Também temos de ver a sucessão de acontecimentos: saímos do programa do A-400M, porque estava a ficar caro, sendo o custo unitário proibitivo... e entrámos no programa do KC-390, aeronave inferior ao A-400M em capacidade de carga e alcance, com o pretexto de prometer ser ligeiramente superior ao C-130, por um preço bastante baixo (expectativas rondavam os 50 e os 80 milhões de euros), que afinal se veio a verificar um custo de 110 milhões por avião, ou mais.
Tudo isto, ao mesmo tempo que se moderniza os C-130. Ou seja, perante o aumento do preço do avião, e sabendo que já tinha sido iniciado o processo de modernização dos Hercules, porque raio é que não se reduziu a compra a 3 unidades? Abrindo depois espaço para substituir os Hercules modernizados, por um ou dois MRTT (e integrar o MMF)?
São estas coisas que não se compreendem, o 390 ficou muito mais caro que o previsto, a compra de 5 arrancou uma fatia muito maior da LPM do que o previsto, e ainda vamos acabar por ter (4?) C-130 modernizados. Tudo isto, enquanto falta de tudo nas FA.
Quanto aos caças, se o A-400 era um programa de risco, entrar num programa de caça de 6ª geração, é um risco multiplicado por 10, ou mesmo por 100. Com a agravante que, os F-16 não duram para sempre, mesmo com uma modernização para V, e atrasos no caça de 6ª geração colocariam em causa a sua substituição atempada, e comprar outro caça novo só para mitigar este risco, é francamente estúpido, pois íamos gastar dinheiro 2 vezes sem necessidade. E isto tudo, sem saber qual seria o custo unitário do tal caça de 6ª geração, sendo que dificilmente compete com o preço do F-35.