Eu - o único português a perder dinheiro no imobiliário há uns 8 anos - não entendo esta escalada... compreendo o efeito do investimento estrangeiro, em especial em Lisboa (que afeta os subúrbios), compreendo a quebra (que demora, depois, a recuperar) da construção nova, compreendo a inflação recente na construção civil, compreendo apetência pelo investimento em imóveis... compreendo isso tudo e a junção de isso tudo; mas tanto?
Quando refere que está a perder no sector imobiliário à 8 anos, presumo que esteja a falar de fundos de investimento imobiliários, ou seja, o caro LM não tem os imóveis do seu lado, investe em conjunto com milhares de investidores, num grupo supostamente profissional que depois vai gerir esses dinheiro a fazer vários empreendimentos pelo mundo fora. O problema dos fundos é que a sua alavancagem pode estar comprometida logo à partida com os custos de gestão desse mesmo fundo e também de decisões de investimento que são tudo menos transparentes!
Mas a subida do sector imobiliário tem vários factores que vão terminar ou acabar muito em breve.
Dou-lhe vários factores:
- A pandemia e principalmente os confinamentos de meses, levaram as pessoas, principalmente das grandes cidades, a questionarem que secalhar um apartamento minúsculo pago a peso de ouro pode não ser a melhor solução ou a mais saudável. E houve muita gente a procurar locais mais calmos com mais espaço para poderem viver sem tantas restrições;
- As taxas de juro negativas, coisa que nenhum português teve, leva a alavancar ainda mais o sector da construção, que recordemos, viveu a pior crise com à 15 anos atrás, com a crise do subprime, precisamente no imobiliário;
- Com a pandemia, aconteceram vários fenómenos estranhos que estão a levar a uma escassez de quase tudo e consequentemente a um aumento de preços de tudo um pouco o que justifica a inflação. Pelo facto de termos muitas indústrias que estiveram ou ainda estão fechadas ou com a sua produção muito reduzida, o re-arranque torna-se penoso porque não há stocks de quase nada em quantidades;
- Esta escassez de stocks é agravada pelo facto de que grande parte do comércio acontecer por via marítima e esta não consegue restabelecer as linhas de fornecimento de um momento para o outro;
- Temos também o aumento do preço da energia desde o último trimestre do ano passado, e o sector da construção consome muita energia (sector das louças, azulejos, mobiliário, revestimentos). Posso dizer-lhe com conhecimento de causa de que estes produtos subiram todos entre 10 a 50%;
- E ainda por cima temos a guerra a ajudar à festa e a pressionar ainda mais a inflação.
Admito que haja ainda mais factores, mas estes são os que me recordo assim mais repentinamente.
Agora, o ciclo vai ser invertido. Até ao momento estamos de baixo do guarda-chuva do BCE, mas este não pode aguentar muito mais tempo este fardo! O BCE está a segurar principalmente as economias mais endividadas para não rebentar outro problema de dívida soberana na Europa (e por isso é que o aldrabão do Costa fecha a torneira ao investimento, menos para os camaradas, para não deixar crescer a dívida pública).
O BCE já sinalizou que os juros vão subir no 3º trimestre deste ano, já não aguenta mais os efeitos negativos do que estão a acontecer como:
- Aumento da inflação (subindo os juros as pessoas automaticamente recorrem menos ao crédito e consomem menos e passam a poupar mais, o que provoca o refrear e até mesmo declínio da inflação);
- Fuga de capitais. Se reparar, o euro está a desvalorizar, porquê? Porque somos o bloco com a taxa de juro mais baixa do mundo!!!!! E com isso, leva a que quem tem economias fuja para onde lhe dão mais dinheiro!!!!!!
- Mas a desvalorização da moeda, provoca ainda outro problema, que é o agravamento ainda maior da inflação!
Por todos estes motivos o BCE já avisou à muito tempo, para quem lê o que eles afirmam, de que os juros só não subiram, para a economia recuperar da pandemia e para evitarmos outra crise de dívidas!
E depois temos os bancos a apertarem cada vez mais o crédito incluindo o crédito à habitação.
Quem está a construír casa ou a comprar casa já construída, percebe que os bancos são muito mais duros!
Some-lhe a subida dos juros e o panorama não vai ser famoso para a construção!
Mas esta quebra eu acho que vai ser suave e até é saudável que seja suave e não brusca como em 2007 e 2008!!!!!