...e agora para algo de verdadeiramente original no mundo dos submarinos alemães
As curiosas “máquinas” anfíbias concebidas em meados do séc. XVIII pelo engenheiro militar alemão Jakob Chrysostomus Praetorius incluem alguns modelos submersíveis propostos em Portugal.
Em homenagem ao Conde de Schaumburg-Lippe sob o qual serviu no exército durante a Guerra dos Sete Anos, Praeorius apresentou uma embarcação apelidada de
Steinhuder ou
Schaumburgische Hecht. Dotado de um casco de 23 metros, estreito e alongado em forma de peixe, deveria a ligação rápida e furtiva em apenas 6 dias entre Lisboa e a terra-natal do Conde de Lippe, servindo-se de uma cauda propulsora teoricamente movida por um sistema de cabos e roldanas accionado pela tripulação de 40 homens.
Ainda em Portugal, Praetorius idealizou uma nova versão deste veículo sob o nome de “fisch”. Esta embarcação,
que deveria ter visto a luz do dia em Lisboa, consistiria num casco alongado (cerca de 76 metros) e de linhas aperfeiçoadas aparentemente mais hidrodinâmicas e equipado com bombas de água, tanques de lastro e um conjunto de 6 mastros rebatíveis que formavam quando hasteados o perfil de uma barbatana dorsal gigante, dispondo ainda de uma longa cauda articulada.
A construção destas aparatosas embarcações submersíveis não é confirmada, mas a documentação guardada nos arquivos alemães dá-nos conta do regresso do engenheiro a Portugal em 1776 na qualidade de assessor militar, tendo dirigido a reorganização da artilharia e tornando-se membro da ilustre e recém-criada Academia Real das Ciências. Nada mais se sabe das suas propostas, mas após o seu regresso definitivo à Alemanha, Praetorius construíu e testou no lago Steinhuder em presença do Conde de Lippe um modelo de embarcação submersível mais reduzida dispondo de periscópio e movida a remos, mas sem grande sucesso devido às dificuldades de navegação em pouca profundidade.
Com poucas excepções, todos estes episódios e personagens resumem-se à parcela mais visível e divulgada de um mundo de técnicos e tecnologias que, por isso mesmo, detiveram maior influência na história dos resgates e do mergulho em naufrágios na época moderna. Mas, da leitura de muitas destas obras torna-se óbvio desde logo o frequente desconhecimento das inúmeras dificuldades intrínsecas ao meio subaquático demonstrado pelos seus autores. Isto, para
além da deficiente memória descritiva e visual incluída nos textos, tantas vezes de leitura incompreensível.
Daí que, a muitas propostas reputadas de eficazes no papel, não tenham correspondido em termos práticos verdadeiros avanços tecnológicos. Geralmente, reflectem mais o que já existia à época, do que a concretização das soluções ideais que se pretendiam “inventar”. Importa salientar, no entanto, a necessidade de um estudo comparativo para determinar
as influências e aplicações práticas verificadas no campo da tecnologia náutica e subaquática.
Mais leitura especializada:
WESKI, Timm, “Hippopotame and Schaumburgische or Steinhuder Hecht: an amphibious craft and a submarine from the second half of the eighteenth-century”, in
The Mariner’s Mirror, London, Vol. 88, No. 3 (August 2002), pp. 271-284.