Orçamento Defesa sobe 8,5% em 2008

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Lancero

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Orçamento Defesa sobe 8,5% em 2008
« em: Outubro 12, 2007, 06:50:58 pm »
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OE 2008: Verbas para a Defesa crescem 8,5%, puxadas pela Lei de Programação Militar    

   Lisboa, 16 Out (Lusa) - As despesas do Estado com a Defesa vão crescer  8,5 por cento no próximo ano, puxado de acordo com o projecto de Orçamento  do Estado (OE) para 2007, hoje entregue na Assembleia da República.  

     

   A despesa total do Ministério da Defesa Nacional ascende a 2.046,6 milhões  de euros (1.996,4 estimados em 2006), o que representa cerca de 3,7 por  cento do total da Administração Central e 1,3 por cento do PIB.  

     

   O crescimento das transferências na Defesa - acima da inflação prevista  de 2,1 por cento e da projecção de 4,9 por cento para o crescimento nominal  da economia - é motivado essencialmente, como é referido no documento, pelo  "acréscimo evidenciado pelos recursos afectos à Lei da Programação Militar"  (publicada em 29 de Agosto de 2006), onde estão previstos os principais  programas de reequipamento das Forças Armadas.  

     

   Este capítulo das contas do Estado relativas à Defesa (as despesas com  pessoal consomem 55,7 por cento do total do orçamento desta área) cresce  73,2 por cento.  

     

   De resto, à semelhança do ano passado, os ramos vão sofrer cortes: o  Exército, o mais penalizado, perde 5,3 por cento de volume de transferências  (recebe 492,6 milhões de euros), seguindo-se a Força Aérea, com menos 4,5  por cento (254,8 milhões de euros) e a Marinha, com uma redução de 1,1 por  cento (321,9).  

     

   O Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) perde, por seu turno,  1,8 por cento, enquanto as verbas previstas para suportar a manutenção de  tropas em missões no estrangeiro (58 milhões de euros) se mantém.  

     

   Os encargos com a Saúde decrescem 49,4 por cento (62,5 milhões de euros),  enquanto as pensões de reserva são reduzidas em 25 por cento.  

     

   Na proposta de Orçamento, o Governo assegura que as transferências em  2007 são suficientes para assegurar as "orientações expressas" no seu programa,  nomeadamente quanto à participação em missões humanitárias.  

     

   "É reconhecido que a experiência de participação na última década em  missões internacionais tem permitido não só a modernização e prestígio das  Forças Armadas, mas também a própria credibilidade internacional de Portugal",  pode ler-se no documento.  

     

   A modernização e reestruturação das Forças Armadas é outra das apostas  do OE para o próximo ano, propondo-se o executivo proceder com as verbas  disponíveis proceder à implementação da nova estrutura superior da Defesa  Nacional e das Forças Armadas e avançar com o Centro de Altos Estudos da  Defesa Nacional e os processos de revisão dos quadros de pessoal da Marinha,  Exército e Força Aérea, além das reformas do ensino superior militar e do  sistema de saúde militar.  

     

   O OE ainda em vigor, entregue há um ano no Parlamento, contemplava um  crescimento de 1,2 por cento nas transferências para a Defesa, mas introduziu  também cortes de dois por cento no Exército, Marinha e Força Aérea.  
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

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Lancero

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« Responder #1 em: Outubro 12, 2007, 07:02:22 pm »
Mais (e melhor) informação a partir da página 214
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

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Luso

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« Responder #2 em: Outubro 12, 2007, 07:20:17 pm »
403M € para a LPM...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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pedro

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« Responder #3 em: Outubro 12, 2007, 07:59:41 pm »
E eu vou e acredito nisso.
 

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Lancero

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« Responder #4 em: Outubro 15, 2007, 10:37:01 am »
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2007-10-14 - 00:00:00

Orçamento: Despesas disparam na Defesa
313 milhões para equipamento

Os gastos com a Lei de Programação Militar (LPM) vão aumentar no próximo ano 67,6%, a avaliar pelas verbas inscritas na proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2008. Um acréscimo que faz o orçamento da despesa consolidada na Defesa subir 8,5%.

Dos 187 milhões de euros estimados este ano, a despesa com a LPM sobe para 313 milhões de euros em 2008. Tudo para modernizar as Forças Armadas através de forças, equipamento, armamento, investigação e infra-estruturas.

“Em 2008 prosseguirá o esforço de modernização dos equipamentos e requalificação das infra-estruturas militares”, lê-se na proposta de OE, que aponta a implementação da estrutura superior da Defesa Nacional e das Foças Armadas.

O documento prevê também que no próximo ano se proceda à revisão dos quadros de pessoal da Marinha, Exército e Força Aérea e à implementação do Projecto Integrado de e-learning para as Forças Armadas.

Este crescimento da despesa com a Lei de Programação Militar vem de encontro a um recente apelo do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), general Valença Pinto, para um reforço dos meios financeiros para a modernização militar. O general defenia a aquisição de submarinos, fragatas, blindados, um navio polivalente, a renovação do armamento ligeiro e a compra de novos aviões de transporte da Força Aérea.

No total, as despesas do Ministério da Defesa ascenderão, em 2008, a 2114 milhões de euros, ou seja, 8,5% mais do que os 1949 milhões estimados para o ano em curso.

A nível de ramos das Forças Armadas, a maior fatia do Orçamento vai para o Exército, com 490,5 milhões de euros – ainda assim menos 1,2% do que o estimado para este ano. A Marinha receberá 321,6 milhões de euros (mais 0,5%) e a Força Aérea 254,4 milhões de euros (mais 2,3%).

As despesas com pessoal continuam a consumir mais de metade da despesa consolidada com a Defesa, ou seja, 52%, o que apesar de tudo fica abaixo do previsto para este ano: 55%.

DINHEIRO A MENOS NA SAÚDE

A proposta de Orçamento do Estado para 2008 reduz significativamente os encargos com saúde e com pensões de reserva dos militares. Em relação aos valores estimados para este ano, os encargos com a saúde perdem 21,6 por cento para os 68,5 milhões de euros e os gastos com pensões de reserva caem 17,4 por cento para os 100 milhões de euros. Uma desorçamentação que poderá levar à repetição da situação vivida pelos militares este ano quando ficaram sem fundos para sustentar aquelas duas rubricas nos dois últimos trimestres do ano. Em causa estão 170 mil beneficiários da Assistência na Doença dos Militares das Forças Armadas e cerca de 4300 pensionistas na reserva, com pensão média de 2500 euros.
Sandra Rodrigues dos Santos

 
CM
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Lancero

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« Responder #5 em: Novembro 18, 2007, 03:13:43 pm »
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Ministro da Defesa, ao Expresso
"Queremos ser parte da solução na construção do novo aeroporto"

Severiano Teixeira diz que no orçamento do novo aeroporto tem que estar compreendido o financiamento da substituição do campo de tiro de Alcochete.

Luísa Meireles e Nuno Saraiva
 
23:00 | Sexta-feira, 16 de Nov de 2007
 
 
Há um ano, por esta altura, dizia não estar satisfeito com o Orçamento para defesa. Está mais satisfeito este ano?
É melhor que o do ano passado. É um orçamento de rigor, de continuidade porque faz a consolidação das finanças públicas, e também de transição, porque abre as perspectivas para que, terminada a fase de consolidação, possamos entrar em convergência com um conjunto de padrões internacionais relativamente à defesa.

A fase de consolidação está a demorar mais do que esperava?
O Orçamento para 2008 ainda é de rigor e de consolidação mas, este ano, aumenta. Se compararmos com as estimativas de execução, aumenta 8,5%. Se compararmos com o inicial de 2007, aumenta 3,3%. Vale a pena sublinhar que há um aumento importante e significativo no investimento: se juntarmos as despesas de PIDAC e da Lei de Programação Militar, temos um aumento da ordem dos 15,9%. Por outro lado, é interessante verificar que a sua estrutura se começa a aproximar daquilo que é desejável do ponto de vista da distribuição da despesa.

O que é que isso quer dizer?
Que temos uma estrutura de distribuição muito equilibrada e aproximada, do ponto de vista das tendências, dos padrões internacionais. Temos 55% da despesa com o pessoal (o número óptimo para a NATO é 50%), o que significa que, desde 1999 até agora houve uma queda na despesa da ordem dos 64% para 55%.

Está a reduzir pessoal?
Não, estamos a afectar mais ao investimento do que ao pessoal. Há uma percentagem no investimento da ordem dos 24% (bastante aproximado dos valores ideais, entre os 20-25%) e o restante para o funcionamento, aquilo a que se chama 'operação e manutenção', incluindo as despesas para as forças nacionais destacadas. É uma outra tendência muito interessante: em 2000 era da ordem dos 24 milhões de euros, hoje está nos 60 milhões. Corresponde à prioridade que é dada às missões internacionais das forças armadas.

Mas em termos de PIB, a despesa com a Defesa continua a ser inferior à média da NATO...
No que diz respeito à despesa com a Defesa no quadro da Administração Central, sobe um ponto percentual (de 3,7 para 3,8%). No indicador das comparações com a NATO, baixou de facto de 1,3 para 1,2%, o que não é do meu agrado. Se somarmos os valores que esses valores em geral incluem, como as despesas com a 'Gendarmerie' e as pensões de reforma dos militares subimos para 1,5 ou 1,6%.

Foi ao Parlamento e, referindo-se à Lei de Programação Militar (LPM) do seu antecessor, afirmou que 'o Governo foi optimista mas o mercado é realista'. Que quer dizer?
Esta LPM é equilibrada entre os ramos, é faseada e tem uma perspectiva de longo prazo, o que é raro naquilo que tem sido a história portuguesa do século XX nas fases de rearmamento. Há um conjunto de programas de reequipamento que se estão a desenvolver e que em 2008 vão ter concretização nos três ramos das FA.

Tais como?
Força Aérea: a chegada dos aviões C295, que lhe darão uma mobilidade táctica que ela não tem - são 12 e chegam quatro no próximo ano. Exército: viaturas blindadas de rodas - 260 no total, chegarão 88, algumas das quais, espero que ainda este ano; no final deste mês, também deverão chegar os rádios. Marinha: a primeira das duas fragatas que foi contratada à Holanda chegará no final de Dezembro de 2008, bem como o primeiro navio patrulha oceânico.

Mas porque é que o mercado é realista, ao contrário da LPM?
Quando ela foi aprovada, alterou-se um paradigma, isto é, até agora, usavam-se os equipamentos até ao fim e, quando isso acontecia, iam para a sucata. Como estamos numa fase de modernização acelerada, agora já é possível alienar equipamentos que ainda estão em condições de outras forças armadas utilizarem. E essa alienação foi considerada na LPM. É preciso conciliar a urgência de alienar, para realizar o capital, outra é alienar em condições de mercado que acautelem o interesse nacional, não vamos vender ao desbarato. Houve algum optimismo e estamos a trabalhar para o concretizar.

Estamos a falar dos F-16, dos Puma...
E das fragatas classe João Belo.

Vai ser tudo vendido em 2008?
Não, é faseado. Mas tem que começar no próximo ano.

Teve de lutar muito por essa dotação orçamental reforçada?
O difícil é estabelecer prioridades, mas em relação ao ano passado este orçamento é mais confortável.

Qual é o seu interlocutor mais difícil, o Presidente da República, que é o Comandante Supremo das Forças Armadas, ou o ministro das Finanças?
Tenho as melhores relações com o Presidente da República e com todos os meus colegas do Governo

E com as chefias militares?
As relações são excelentes. Aliás, nenhuma reforma é possível no quadro da instituição militar sem essa colaboração e confiança estreita com as chefias.

Prometeu a Lei das Infra-estruturas militares para meio do ano. Já está pronta?
Será apresentada em breve ao Parlamento. É plurianual (dois sexénios) e paralela à LPM. Será o maior programa de modernização de infra-estruturas militares desde os anos sessenta. Vai implicar que a alienação dos prédios do património militar se faça de forma integrada e com uma gestão profissional, com os objectivos de requalificar novas estruturas e das que entendemos que devem continuar, e a sustentabilidade do fundo de pensões das Forças Armadas.

Já tem a noção do que é alienável?
Temos o inventário de todo o património em todo o país.Com base nisso poder-se-á fazer a estimativa dos valores que estão em causa.

Está a falar sobretudo do Exército?
Sim, porque a libertação da grande parte desse património advém da reestruturação do Exército. De uma base territorial, implantado em todo o país, evoluiu para uma base de natureza operacional, o que faz com que um conjunto de infra-estruturas deixe de ter a função que tinha e possa ser rentabilizado.

Será tudo alienado ou existem outras formas de rentabilização?
A seu tempo essa gestão profissional do património terá que entender quais são as melhores soluções. Estamos a trabalhar para encontrar essa solução de gestão.

Na semana passada avançou com a primeira peça da reestruturação militar, a reforma do ensino superior...
É o alinhamento do ensino superior militar com as regras da declaração de Bolonha. A partir de agora, terá os mesmos ciclos de estudo e regras de concessão dos graus, a mesma exigência e o mesmo valor no mercado dos títulos académicos.

Para prosseguir a carreira, o oficial terá que ter o grau de mestre...
É o que diz Bolonha e é altamente prestigiante para o ensino superior militar. Do ponto de vista da racionalização interna, passa a haver uma estrutura de ensino superior, que tem um instituto de estudos superiores militares e três academias onde se integram departamentos politécnicos.

E quais serão os próximos passos da reestruturação?
A da estrutura de comando operacional e a saúde.

Em tempos disse que a nossa estrutura de comando era uma espécie de bizarria portuguesa, um CEMGFA com poucos poderes e os chefes dos ramos com muitos...
Temos de adaptar a nossa estrutura de comando operacional ao que são os desafios e ameaças em termos de segurança internacional, portanto, ao tipo de missões das FA. É importante distinguir os vários níveis e funções e as suas competências. No plano político do Ministério da Defesa, a capacidade de gestão político-estratégica, no plano do CEMGFA, as competências operacionais para que possa dirigir operações que na maioria dos casos são de forças conjuntas, no dos ramos, a capacidade para aprontar e por à disposição do Estado-maior as forças e fazer as missões próprias. É um processo que está a ser muito participado, aberto e num clima de muita confiança.

E em que pé está a reforma da Saúde?
Estamos a discutir e a conversar sobre o modelo.

Para a semana tem marcado mais um passeio de descontentamento também por causa da saúde militar...
Há um conjunto de preocupações que têm sido expressas, que também são minhas e das chefias. Foram adiantadas algumas razões para essa iniciativa, como a redução das despesas de saúde e das pensões de reforma e as carreiras militares. Ora, em relação a estes pontos, há um progresso.

Por partes, a saúde?
Só há redução, se compararmos com a estimativa de execução, há, mas tendo em vista o ano passado, não. Em 2007, estavam previstos 51 milhões, em 2008 são 57,5. Acrescem alguns factores de racionalização e economia de recursos que faz com que haja maior conforto: a gestão centralizada das Assistência na Doença dos Militares (ADM), que gera economias de escala, a actualização dos beneficiários, e a convergência com a ADSE, que faz aumentar a receita oriunda dos beneficiários. Não vai haver problemas.

Pensões de reserva?
Em 2007, estavam previstos na dotação inicial 90 milhões de euros, em 2008 estão 100. Também diminuiu o tempo de reserva: a nova legislação fixa em 36 anos o mínimo para passar à reserva, prolongando assim a idade da vida activa. O mesmo se diga na passagem da reserva para a reforma. Tradicionalmente, havia um mecanismo de dilação entre essa passagem e o período em que a Caixa Nacional de Pensões começava a pagar a reforma. Esse período era suportado pelo Ministério da Defesa, era a pensão provisória de reforma. Com a aceleração do processo de pagamento de reformas pela CNA, este universo também diminuiu. Também aqui pode haver alguma tranquilidade.

E a terceira razão, das carreiras?
Quando a Assembleia da república aprovou o vínculo das carreiras e das remunerações, acautelou-se a especificidade da condição militar e remeteu-se para legislação especial a regulamentação das carreiras. Também está salvaguardado um conjunto de questões, que têm a ver com a manutenção e integração nos cálculos da reserva e da reforma do suplemento da condição militar. Mas há um princípio geral que tem de ser aceite: os suplementos só podem ser dados a quem exerce determinadas funções para as quais esses suplementos se dirigem. E tem de se encontrar um mecanismo entre os ministérios da Defesa e das Finanças que acautele a retenção nas Forças Armadas. É o caso dos pilotos, para dizer com clareza.

Para impedir a sua 'fuga' para a vida civil?
Quando se revir a questão dos suplementos, esse mecanismo tem que ser acautelado. Está acordado. Portanto, tanto pela questão das pensões de reserva, como pelas da saúde e da salvaguarda da condição militar na questão das carreiras, é preciso encarar as coisas com ponderação.

Em relação a reestruturação militar, fala-se na redução dos efectivos. Qual o impacto que terá nos fluxos de carreiras?
O grupo de trabalho das carreiras produziu um relatório que está nas mãos do secretário de Estado da Defesa e está a ser analisado. Neste momento não sou capaz de dar uma resposta.

Na contestação da próxima semana, vai voltar a haver manifestantes fotografados para posteriores procedimentos disciplinares?
O Ministério da Defesa ou o ministro não mandou, não manda, nem mandará fotografar. Não tem competência para isso.

Faz parte da competência de quem?
Se há iniciativas não autorizadas e se há entidades com responsabilidade para acautelar a ordem pública, não sei. Mas vale a pena dizer que das preocupações que têm sido manifestadas, muitas já foram resolvidas.

Há má fé por parte das associações que convocam estas manifestações?
Não quero qualificar. Tanto quanto sei, a manifestação não é convocada pelas associações sócio-profissionais. Uma das coisas que os preocupava era a interpretação das regras da reserva e da reforma - o Governo já aprovou um decreto-lei que interpreta essa matéria e clarifica a situação. Outra das questões era a comissão da reconstituição das carreiras, que estava paralisada. Já há um novo presidente nomeado a trabalhar e a reconstituir carreiras de militares que pensam que foram prejudicados pelo 25 de Abril. Outra questão, antiga, da equiparação remuneratória dos adidos militares aos diplomatas, foi resolvida na semana passada por um despacho conjunto das Finanças e da Defesa. Há um trabalho a ser feito que vai ao encontro das preocupações e anseios que existem entre os militares.

Costuma dizer-se que não se é, está-se ministro. Quando se for embora, pensa digitalizar documentação para levar consigo?
Quando saí do Ministério da Administração Interna não o fiz, não senti necessidade, não é uma questão que se me ponha.

Mas acha uma prática normal?
Tudo o que eu tinha para dizer, já o disse, não quero fazer mais comentários.

O Ministério da Defesa desencadeou algum processo de averiguação interna para saber que tipo de documentação foi digitalizado?
Só sei o que vi na imprensa e penso que é uma questão que se levanta no âmbito de um processo judicial. Se houver algum ilícito, é ao Ministério Público que cabe averiguar e avaliar, não o Ministério da Defesa.

Já tem solução para a reestruturação das indústrias de defesa, o Alfeite, a Manutenção Militar e as Oficinas Gerais de Fardamentos e Equipamento?
São instituições que foram construídas num ambiente económico e social e num tipo de Forças Armadas que hoje já não existe. Precisam de ser reactualizadas para que possam sobreviver. No Alfeite, foi pedido um estudo, já realizado, que aponta para algumas coisas: não se trata de privatizar, mas de empresarializar, mantendo uma empresa com capitais públicos; importa acautelar o objectivo primordial da Armada, que é a manutenção da esquadra, mas havendo capacidade sobrante, deve ser rentabilizada para o mercado, criando uma espécie de 'cluster' naval com outros estaleiros na área da Defesa; e precaver a situação dos trabalhadores.

E o que é que falta para tomar uma decisão?
Há conversações interministeriais a decorrer, a fim de consensualizar algumas questões de pessoal e investimentos.

A situação da Manutenção Militar é mais complicada?
Está numa fase mais atrasada. O diagnóstico é o mesmo, é uma realidade construída para um Exército de grandes dimensões, voltado para a autosuficiência, o que já não faz sentido. Foi nomeado um grupo de trabalho com algumas orientações: manter no Exército algumas valências que estão na Manutenção e nas Oficinas Gerais e que o Exército considera essenciais para o seu funcionamento; rentabilizar os activos, que são muitos, nomeadamente no plano imobiliário; e acautelar a situação laboral dos trabalhadores. Só para Fevereiro/Março poderei ter mais informação.

O que é que mudou para que o Ministério da Defesa em 1999 tenha considerado inalienável o campo de tiro de Alcochete e, agora, considere que possa ser transferido para outro sítio, permitindo a construção eventual do novo aeroporto internacional de Lisboa naquela zona?
O Ministério da Defesa quer ser parte da solução e não do problema. Começa pela Força Aérea, mas há outros ramos envolvidos. Feita uma avaliação da função do campo de tiro, a decisão foi a de que, se o interesse nacional aconselhar que a localização do novo aeroporto seja em Alcochete, não é por causa do campo de tiro que se deixará de o fazer naquela zona. Mas com condições: a substituição e financiamento das estruturas que existem no campo de tiro de Alcochete e que são essenciais para o cumprimento da missão das Forças Armadas.

Quer dizer, terão que ser contempladas no financiamento para o aeroporto de Alcochete?
Exactamente. Há que prevenir pelo menos três questões essenciais: o próprio campo de tiro de Alcochete, o polígono de tiro de Vendas Novas que também está no alinhamento das pistas, e o realinhamento das pistas da base do Montijo. Quanto à base aérea, é dispositivo de forças e é fundamental para a Força Aérea e para o país.

Já tem uma localização alternativa?
A instituição militar está a trabalhar nesse sentido, mas ainda não é o momento para o dizer.

Um seu colega de Governo já defendeu que numa futura revisão constitucional, os serviços de informações sejam autorizados a fazer escutas telefónicas e ambientais. Concorda?
A questão deve ser conduzida pelos ministros da Justiça e da Administração Interna. Já me exprimi enquanto cidadão, quando não tinha nenhuma responsabilidade política e volto a reafirmá-lo: acho que em casos claramente delimitados a crimes como o terrorismo, deve ser possível fazer essas intercepções telefónicas, com autorização judicial e de forma claramente tipificada. Por uma razão simples: se essa escuta não for feita antes, não tem nenhuma validade. Nos crimes como os do terrorismo é o que faz sentido.

Na próxima semana reunir-se-á com os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia e o tema principal é Kosovo, onde Portugal tem 300 homens. Que vai fazer?
Portugal vai cumprir a sua missão no quadro da Aliança Atlântica, como todos os outros aliados. Terá uma posição concertada nesse quadro. Mas neste momento é preciso por a tónica nas negociações diplomáticas. Toda a actividade e iniciativa internacional terá que se concentrar sobre elas e sobre a pressão sobre as duas partes.

Mas Portugal é uma força particularmente vulnerável a uma alteração de circunstâncias no Kosovo, nomeadamente uma declaração unilateral de independência, visto que é uma força de reserva capaz de agir em todo o território...
Falar agora em cenários alternativos é retirar força a quem está a negociar. Essa é a posição de Portugal e da presidência portuguesa. Do ponto de vista militar, todos os cenários são equacionados e teremos que estar prontos para essa eventualidade.

Acredita que ainda é preciso evitar uma declaração unilateral de independência?
Aqui não há questões de fé.

Portugal decidiu reduzir o contingente militar no Afeganistão, não vai contra as decisões da NATO, que apela a um maior investimento dos parceiros?
Não. É uma decisão nacional, que mereceu parecer favorável do Conselho Superior de Defesa Nacional, onde estão sentadas todas as entidades com responsabilidade na defesa. É uma decisão que julgo que corresponde ao que são os interesses nacionais e a evolução da situação no Afeganistão. Portugal está desde o início com uma companhia, sem caveats, a trabalhar em todo o território. É uma prova de solidariedade. Neste momento, a Aliança faz pedidos em duas áreas, que são necessidades estratégicas: transporte aéreo e as chamadas OMLT, equipas de formação do Exército afegão. No princípio de 2008, aumentaremos a participação, preenchendo uma OMLT, prolongaremos a permanência da companhia até Agosto e só então a substituirá por um C-130. Encaremos ainda a possibilidade de vir a preencher outras OMLT no terreno. Eu sintetizaria da seguinte maneira: manutenção do interesse político no Afeganistão, da solidariedade com a Aliança, e uma alteração da tipologia que vai ao encontro das necessidades da própria Aliança.

Vai também ao Parlamento Europeu. Que balanço faz da presidência nesta sua área?
Muito positivo. Fizemos uma boa reunião informal em Évora no final de Setembro, tivemos uma iniciativa sobre África aqui em Lisboa. No plano das operações, Portugal acompanhou e monitorizou as operações que se desenrolam nos vários teatros e apresentará na próxima semana ao Conselho o catálogo de progresso de capacidades; quanto à iniciativa do Mediterrâneo, com a vinda dos ministros da Defesa da margem sul, tanto a presidência eslovena como a francesa se comprometeram a assumir como prioridade; nas relações com África, a reforma do sector de segurança e criação de capacidades africanas de intervenção em situações de crise e operações de paz obteve um bom acolhimento; finalmente, a relação entre segurança e desenvolvimento. Pela primeira vez, haverá um conselho conjunto entre ministros da Defesa e do Desenvolvimento.

Já disse que as 'meninas das sandálias' não gostam das botas e vice-versa. Como vai fazer para se entenderem?
O que verificamos no terreno é que é absolutamente indispensável que colaborem, porque são dois instrumentos - a ajuda ao desenvolvimento e a defesa - que são complementares. Temos é de encontrar mecanismos de articulação entre eles, porque o resultado é único: a estabilização e o desenvolvimento dessas zonas.

Está prevista uma missão da União Europeia no Chade no próximo ano. Como vê a situação?
A União está a preparar a missão, mas ainda não há uma decisão. África está muito próxima da Europa. Os desafios e riscos que se lhe põem, projectam-se na Europa. A nossa segurança passa também pela deles.

Em suma, pode dizer-se então que, para si, a presidência foi 'porreira, pá'?
... (risos)

Versão integral da entrevista publicada na edição do Expresso de 17 de Novembro de 2007, 1.º Caderno, página 8
 


Expresso
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zocuni

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« Responder #6 em: Novembro 18, 2007, 03:51:40 pm »
Não considero os gastos em Defesa Nacional,como gastos públicos ao contrário considero como investimentos.Estivemos duas décadas sem investimento no sector,me parece uma prioridade.É só uma opinião.

Abraços,
zocuni
 

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Ranger Rebelde

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« Responder #7 em: Novembro 18, 2007, 04:32:03 pm »
Exactamente a minha opinião, mas só será um investimento se os dinheiros públicos (de todos os contribuintes) não forem apenas canalizados para a aquisição dos equipamentos militares, onde os custos penhoram todos os anos o País e para os militares dos QP que se encontram em excesso, actualmente... ao contrário, e dito pelo CEME, faltam mais de mil militares RV/RC nas fileiras, mas no entanto foram alvo de cortes gritantes nos poucos incentivos que realmente funcionavam nestes regimes de prestação de serviço militar à Pátria, porque os restantes são meras ilusões, e para contradição total, o MDN procede a estudos para passar os contratos a 12 anos, para, imagine-se, contrariar a falta de militares nestes regimes... sintoma evidente que no Ministério da Defesa reina a confusão e incompetência, encabeçadas por um Ministro sem carisma, profissionalismo, entre outras...