Como é do conhecimento geral, durante a guerra colonial portuguesa acções com um caracter classificado foram bastante frequentes. Muitas delas ainda não são do conhecimento público e um punhado foram desenvolvidas em territórios estrangeiros, com uma grande eficácia, mas sempre à margem do direito internacional. Era também normal a colaboração de outros países "amigos" nestas intervenções, sendo os mais óbvios a África do Sul e antigo Rodésia no teatro moçambicano.
É um pequeno relato de uma destas missões que vos trago e espero que me aturem visto que, sendo a informação escassa, é também uma história que sabe a "incompleta".
Decorria o ano de 1974. Os serviços de informações portugueses receberam uma suposta confirmação de que 3 navios de origem checoslovaqua se dirigem para Dar Es Salaam, Tanzânia, com carregamentos de armas destinados à Frelino.
É então elaborado um plano para deter os referidos navios. A 20 ( ? ) de Abril de 1974 zarpa de Moçambique a NRP João Coutinho rumo a norte.
Esta seria uma curta viagem, normal, se não fosse a declaração do comandante a meio da viagem: " Caros camaradas, desta ou ficamos lá todos ou vimos de lá todos ".
Ainda ao largo da costa de Moçambique, outra surpresa, um heli de origem sul-africana deixa no navio 6 especialistas sul-africanos em demolições marítimas e guerra submarina.
É então revelado o plano de acção: a fragata deverá aproxiar-me da entrada do porto da capital da Tanzânia e miná-lo: tarefa que seria efectuada pelos sul-africanos. Após isto deveria tentar "caçar" os 3 navios de origem checa.
Toda a viagem é feita sem qualquer bandeira no mastro e sem qualquer tipo de identificação vísivel. Um verdadeiro barco pirata.
É então atingida a entrada do porto e, a coberto da noite, os especialistas sul-africanos minam a entrada do mesmo. A tensão entre a tripulação era, nesta altura, intensa de tal maneira que até ao enfermeiro de bordo marinheiros se confessavam.
A João Coutinho segue agora à caça dos navios checos. Passam-se 2 dias e nenhum navio é avistado até que ao 3º dia os gritos nervosos do vigia indicam que 3 rastos de fumo são vísiveis no horizonte. Visivelmente nervosos todo o navio se prepara para o combate. Constata-se mais tarde que afinal os 3 rastos provinham apenas de um navio mercante que, alternando a utilização das caldeiras dos motores, deixara 3 rastos de fumo.
Sem êxito na sua tentativa de apresar ou atacar os navios checos a NRP João Coutinho regressa a Moçambique com os sul-africanos a bordo.
Vivia-se o dia 24 de Abril. O resto... o resto é história. Seguiria-se no dia seguinte o 25 de Abril de 74.
As informações relativas a esta missão são extremamente escassas, daí que, se algum membro possuir mais alguma informação de relevância por favor partilhe com todos nós visto que esta foi, e será sempre, uma das acções mais arriscadas e espectaculares efectuadas no período colonial português.
Cumprimentos,
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TanzâniaNRP João Coutinho