O projecto anglo-fancês para a construção de um porta-aviões

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Rui Elias

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A propósito do anunciado projecto de construção conjunta de um porta-aviões entre a França e a Inglaterra, com propulsão convencional, tenho uma opinião um pouco céptica, já que é um projecto longo no tempo e que exige muita cooperação entre os estados nas definições técnicas que agradem a ambos, para além dos elevados custos associados.

Um porta-aviões avulso tem uma economia de escala que não se compara com os custos proporcionalmente mais baixos dos porta-aviões da Classe Nimitz dos EUA, já que que estes têm vindo a ser construídos práticamente em série, beneficiando os EUA de um projecto que práticamente já entrou em linha de montagem, estando para breve o lançamento à água do próximo, que será o USS Ronald Reagan.

Julgo que uma verdadeira Defesa Europeia sem a Inglaterra não faz sentido, e não foi por o Presidente Chirac o dizer.

E que hajam acordos de cooperação militar entre os estados parece-me saudável.

No entanto a posição da Inglaterra em relação à integração europeia sempre foi dúbia, e até agora Blair foi o mais europeísta dos governantes britânicos.

Mas chegará a vez dele sair do governo, correndo-se o risco de para o lugar dele ir um "euro-céptico" que não concorde em alinhar o seu país com grandes projectos militares conjuntos com outros países europeus, preferindo aprofundar a aliança estratégica com os EUA.

Claro que da parte da Casa Branca também as suas atitudes em relação à construção europeia pode mudar e os EUA passarem a estar mais próximos da Europa e da sua integração, como no tempo de Bill Clinton.

Mas com a rapidez com que se assiste a mudanças nas correlações entre os estados, e com uma aproximação gradual da Rússia ao chamado eixo-franco-alemão, isso pode mudar os dados do jogo.

A "bola" passa, nesse caso, para o lado de Londres e da sua vontade ou não em se empenhar sem estados de alma, num projecto exequível da constituição de uma verdadeira política de defesa comum.
 

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NVF

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« Responder #1 em: Junho 09, 2004, 01:15:45 pm »
Caro Rui, creio que você não leu as notícias com a devida atenção. O Reino Unido vai adquirir dois (2) porta-aviões e a França decidiu associar-se ao projecto e adquirir um terceiro navio da classe para si, de forma a completar o Charles de Gaulle.

Ou seja, estamos a falar de três (3) navios ao todo, o que de algum modo fará diminuir alguns custos de projecto — talvez não todos, pois recorde-se que os francesses utilizam aviões convencionais e os ingleses irão utilizar F-35B STOVL. No entanto, parece que o projecto já contemplava a possibilidade de utilização de aviões convencionais, pois os ingleses encaram a possibilidade de vir a utilizar F-35C no longo prazo.

Recorde-se que o projecto que ganhou o concurso inglês foi o da Thales (francesa) mas a BAe (que perdeu o concurso) irá entre outras funções ser reponsável pela construção. O que nos leva a pensar duas coisas:

1) Os franceses entrariam no projecto se este não tivesse sido ganho por uma companhia sua?

2) Terão os ingleses conduzido as coisas de modo a trazerem os franceses para o seu projecto de PA e assim pouparem umas libras nos custos de desenvolvimento e construção?
Talent de ne rien faire
 

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Rui Elias

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« Responder #2 em: Junho 09, 2004, 01:24:05 pm »
NVF:

As suas perguntas trazem água no bico 8)

Claro que para projectos desta grandeza, a cooperação é necessária, ou os estados teriam que afectar muitos recursos financeiros, prejudicando outras áreas da governação, e como actualmente a Europa ainda não saiu da recessão, é útil esse empenhamento.

Eu realço que acho positivo essa articulação entre estados da Europa.

Apenas estou céptico em relação ao verdadeiro e genuíno empenhamento britânico no processo de construção europeia, o que implica também a vertente da política de Segurança e Defesa Comum.
 

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« Responder #3 em: Junho 09, 2004, 01:25:57 pm »
Caro Rui Elias,

Apenas uma correcção:

O Ronald Reagan (CVN 76) já entrou ao serviço, neste momento encontra-se em construção o George H. Bush (CVN 77)

 :wink:
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Rui Elias

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« Responder #4 em: Junho 09, 2004, 01:34:07 pm »
P 44:

Obrigado pela informação que me escapou :oops: : quando é que ele entrou ao serviço?

Só se foi muito recentemente...
 

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JLRC

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Ronald Reagan
« Responder #5 em: Junho 09, 2004, 01:42:50 pm »
Caro Rui Elias

O CVN 76 Ronald Reagan teve assentamento da quilha em 05-96, foi lançado à água em 2000 e entrou em serviço em 12-07-03. Está colocado na esquadra do Pacífico e tem como porto base San Diego.

Cumprimentos

JLRC
 

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P44

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CVN 76
« Responder #6 em: Junho 09, 2004, 01:44:01 pm »
Caro Rui Elias;

http://www.navsource.org/archives/02/76.htm

USS RONALD REAGAN   (CVN-76)
Specifications
Class: NIMITZ

As built: Displacement: 77,600+ tons (98,235+ fl) — Dimensions: 1,040' wl (1,092' oa) x 134' (252' fd) x 37' / 317 wl (332.8 oa) x 40.8 (76.8 fd) x 11.3 meters — Armor: unknown — Power plant: 2 A4W nuclear reactors, 4 steam turbines, 4 screws; 260,000+ shp (*) — Speed: 30+ knots — Endurance: 1.5 million nm @ 20 knots (*) — Armament: Two Mk.29 8-cell NATO Sea Sparrow launchers; two 21-cell RAM launchers — Radar: SPS-48E 3D air search; SPS-49A(V)1 2D air search; SPS-67(V) surface search; Mk.23 target acquisition; SPN-43B and 2 SPN-46 air traffic control; SPN-44A landing aid — Fire control: 3 Mk.91 NSSM systems with Mk.95 radars — EW: SLQ-32(V)4 active jamming/deception; WLR-1H ESM; Mk.36 SRBOC decoy; SLQ-25A Nixie decoy — Aircraft: 80+ — Aviation facilities: 4 elevators; 4 steam catapults — Crew: 5,700-5,900

(*): Unofficial figures (propulsion information for nuclear powered ships is not released by the US Navy)


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Operational and Building Data
Contract awarded on 8 December 1994 to Newport News Shipbuilding and Drydock Co., Newport News, Va. Laid down 12 February 1998. Launched 10 March 2001. Commissioned 12 July 2003.

Status:   Active, in commission. To be homeported at San Diego, California, July 2004.
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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NVF

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« Responder #7 em: Junho 09, 2004, 02:06:20 pm »
Pelo menos enquanto estiver o Blair à frente dos destinos britânicos, no que toca a questões de defesa, estes vão jogar em duas frentes, i.e., com os americanos e com os franceses/alemães. O que até nem é particularmente gravoso, pois à excepção do TO iraquiano, americanos, alemães e franceses estão juntos em tudo o resto.

Recorde-se, que mesmo no auge do desentendimento Estados Unidos - França/Alemanha, Blair andava empenhadíssimo na constituição do exército europeu. Talvez seja a maneira britânica de segurar a NATO; como deve ser difícil ter raízes nas duas margens do Atlântico...
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Spectral

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« Responder #8 em: Junho 09, 2004, 06:59:05 pm »
Na minha visão, tudo o que o NVF disse está correcto.

Quanto às questões:

1) Não. Se o projecto da Thales tivesse perdido eles teriam construído este.

2) Tudo indica que sim.

Já agora, aqui vai a melhor página na net sobre o CVF inglês. Provavelmente terá muitas referências ao PA.2:

http://navy-matters.beedall.com/cvfmain.htm

Mais completo que qualquer site oficial
I hope that you accept Nature as It is - absurd.

R.P. Feynman