Poder Aéreo Russo na Invasão da Ucrânia – Factos e Mitos (Parte 5)
Após o falhanço e conseguinte retirada da ofensiva Russa sobre Kyiv, as tácticas e padrões de apoio aéreo próximo das VKS não se alteraram. Nas batalhas seguintes no Donbass, em Kherson e na zona de Kharkyv, o grosso das missões de ataque consistiram em lançamentos de foguetes por aviões Su-25 “
Frogfoot” e helicópteros Ka-52 “
Alligator”, Mi-28 “
Havoc” e Mi-24 “
Hind”. Estes bombardeamentos “á distância” (“
loft” ou “
toss bombing”) produzem um efeito semelhante ao sistema de artilharia “
Grad” de 122mm – atingem uma zona com fogo supressivo contra tropas e veículos ligeiros em campo aberto, ou obrigam tropas inimigas a manterem-se em posições defensivas, mas não possuem precisão ou regularidade (persistência) de combate suficiente para neutralizar o inimigo.
Este vídeo é um retrato da superioridade das defesas anti-aéreas na Ucrânia. Helicópteros de ataque modernos, como os Ka-52 “Alligator” e Mi-28 “Havoc” lançam rockets estilo “toss bombing”, lançam flares e executam de imediato uma curva de 180º sem nunca se aproximarem sequer das linhas inimigas. A ameaça dos mísseis anti-aéreos não permite arriscar mais e, verdade seja dita, os Ucranianos também têm sido forçados a usar a mesma manobra.
A ameaça das defesas anti-aéreas Ucranianas fez com que os ataques aéreos Russos contra posições estáticas, como centros de comando e controlo e concentrações logísticas, ficassem a cargo, primariamente, de mísseis de precisão, como o Kh-29 (e algumas bombas KAB guiadas por satélite) lançados por Su-34 “
Fullback” e, por vezes, Su-30SM desde médias altitudes e bem longe das frentes de combate. Este tipo de ataques será melhor descrito como interdição do campo de batalha do que missões CAS tradicionais, onde o contacto e cooperação com as forças amigas no terreno são mais (muito mais) directos e os efeitos mais instantâneos. Uma mudança mais recente ocorreu desde Outubro-Novembro de 2022 quando se observaram vários ataques de Su-34 na frente de combate a baixa altitude com o recurso a simples bombas simples de gravidade. Isto sugere uma clara escassez de munições de precisão, dado que o perigo dos MANPADS, e mesmo da artilharia anti-aérea ligeira, é muito elevado e, quer as chefias, quer os pilotos das VKS, prefeririam, sem dúvida, evitar tais riscos se de todo possível. Em termos de perdas materiais em missões CAS, as VKS perderam (até Março 2023) 20 Su-34 de uma frota de aproximadamente 130 no início da invasão e 30 Su-25 de uma frota de cerca de 120. Quando aos helicópteros de ataque, as perdas confirmadas incluem 33 Ka-52 “
Alligators” e 11 Mi-28 “
Havoc”, de frotas de cerca de 120 em ambos os casos. Por outras palavras, as VKS sofreram perdas sérias em aviões e helicópteros (sem falar nos valiosos e insubstituíveis pilotos) contra poucos resultados práticos no terreno.
Mesmo para aviões especializados em CAS, como o Su-25 “Frogfoot”, as missões a baixa altitude acarretam perigos extremos. Além da dificuldade em identificar (e atacar) pequenos alvos bem camuflados em terrenos com densa vegetação, a ameaça dos MANPADS está sempre presente.
Em conclusão, a avaliação da acção das VKS na Ucrânia é, na maioria dos casos, medíocre. Tem funcionado relativamente bem nas funções defensivas de longo alcance e contra a aviação Ucraniana (
defensive/offensive counter-air) e nos ataques estratégicos com mísseis
cruise a partir de bombardeiros pesados. Estes ataques, em combinação com ataques navais e mísseis baseados em terra (como o
Iskander), criaram um efeito SEAD nas defesas Ucranianas nos primeiros dias da invasão. Desde então, estes ataques tem continuado a causar alguns danos na logística Ucraniana mas, especialmente, na infra-estrutura civil. Por outro lado, as VKS provaram ser incapazes de efectuar missões de apoio às forças terrestres (CAS), missões de interdição de médio-longo alcance ou de neutralizar as defesas anti-aéreas. Todas estas deficiências surgem, primariamente, da incapacidade de localizar, identificar e atacar com precisão alvos móveis em espaço aéreo contestado com regularidade. Em conjunto, o falhanço da campanha DEAD e a inexistência de apoio próximo eficaz às tropas do terreno têm impedido as VKS de serem decisivas na Ucrânia.
Esta ilustração retrata o primeiro Su-25 “Frogfoot” Russo perdido na Ucrânia. Logo no primeiro dia da invasão, em 24 de Fevereiro, sofreu danos de combate e despenhou-se no caminho para a base, já dentro de território Russo, resultando na morte do piloto. Não seria o último.
A Força Aérea Ucraniana também sofre de alguns dos males acima descritos. Por um lado, tem acesso a
intelligence de localização de alvos e reconhecimento electrónico de grande qualidade e precisão (obrigado, NATO) mas falta-lhe meios aéreos adequados com capacidade de executar as missões de interdição e CAS em espaço aéreo coberto pelas defesas anti-aéreas e caças Russos. Por conseguinte, os Ucranianos também têm recorrido aos pouco eficazes bombardeamentos “á distância” com rockets – tal como os Russos, os resultados têm sido desinspiradores. Outra área onde a Força Aérea Ucraniana têm emulado os inimigos das VKS é nos lançamentos de mísseis
cruise de longa distância, neste caso, com os
Storm Shadow lançados de Sukhoi Su-24 “
Fencer”. Assim, em termos de guerra aérea, a situação na Ucrânia mantêm-se num impasse (que dura há meses); as defesas anti-aéreas têm-se revelado mais fortes, persistentes e eficazes, relegando a aviação de ambos os lados para um papel secundário.