GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO

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mafets

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Re: GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO
« Responder #15 em: Agosto 17, 2013, 12:19:51 am »
Citação de: "papatango"
O problema é que não podemos comparar os pântanos da Guiné com o Vietname ou com as ilhas japonesas ou com o caucaso ou as planicies da Ucrânia.

As razões são variadíssimas, desde os efectivos que o PAIGC tinha à disposição, quando em comparação com o Vietcong até aos meios que efetivamente estavam ao dispor na Guiné.

A verdade, é que para justificar muitas ações que foram ações de fuga (e não estou a falar especificamente do caso de Guilege/Gadamael) incompetência ou deserção, os militares na Guiné inventaram muito equipamento que foi atribuido ao PAIGC.
Muito desse equipamento nunca esteve ao serviço na Guiné, nem ao serviço do PAIGC nem sequer ao servico da Guiné-Conakry.

Confunde-se muitas vezes a Guiné e os fornecimentos ao exército de Conakry com os fornecimentos ao PAIGC e posteriormente a Bissau.

Exemplo disso é o alegado fornecimento de viatura PT-76 ao PAIGC.
Ainda hoje esse fornecimento é referido por fontes portuguesas, por soldados que dizem que conhecem quem viu, mas nunca ninguém realmente viu as famosas PT-76 na Guiné.
Sabemos que a União Soviética não forneceu PT-76 nem sequer à Guiné-Conakry, senão vários anos depois do fim do conflito.

Sabemos dos dados divulgados oficialmente que esse país recebeu 45 tanques T-34/85, sabemos que recebeu oito tanques T-55 mas não recebeu PT-76.
As viaturas PT-76 só foram fornecidas em 1977 à Guiné-Conakry e em 1978 à Guiné-Bissau.
A Guiné Bissau recebeu realmente peças de 122mm, mas o fornecimento só foi efectuado em 1979, seis anos depois dos acontecimentos de Gilege. A Guiné-Bissau também só recebeu tanques T-34 depois do fim da guerra.
Os dados são do SIPRI e são resultado de análises do instituto (que incluem possibilidades de fornecimento) e dos fornecimentos declarados.

Isto tudo para dizer que, poderá ter havido uma intervenção por parte da Guiné-Conakry. O PAIGC não tinha a força que lhe foi atribuída, e muito do que se diz, resulta de uma tentativa de demonstrar que a guerra na Guiné não tinha qualquer possibilidade de solução e que as tropas portuguesas estavam a lutar com fisgas, contra os valentes combatentes pela liberdade dos povos, armados com o mais glorioso armamento que a grande mãe Russia fornecia aos patriotas.

Do meu ponto de vista, considerando o material que se sabe ter sido fornecido pelos russos, considerando o material que estava disponível, considerando a predisposição do genocioda Sekou Touré em matar portugueses, especialmente depois da operação «mar verde», acredito que Gilege foi uma operação suportada por meios do exército da Guiné-Conakry e não pelo PAIGC.

As tropas portugueses não estavam habituadas a situações de guerra mais ou menos convencional e não estavam preparadas para um ataque de artilharia pesada. Sem comandos à altura terão entrado em pânico e sem comando e controlo adequado, justificaram a retirada.

A zona pantanosa na Guiné pode perfeitamente ser comparada com o delta do mekong ou com zonas de pântano que os japoneses enfrentaram desde as ilhas do pacífico à China. Estamos a falar de regiões de combate tão vastas e onde as devidas condições do terreno nesta ou naquela àrea acabaram sempre por se verificar em termos de semelhança. Atualmente países como a China desenvolveram equipamento próprio para as suas zonas de pântano mas existe material como o pt-76 a que não fizeram sequer grandes modificações (enquanto que a Venezuela optou por comprar BMP mais adequado a operações na amazônia que blindados principais) pois que há padrões de movimentação para determinado equipamento que são semelhantes ou mesmo iguais. Esporadicamente e quando foi necessário ouve movimentações de material pesado o que explica Dien Bien Phu, khe Sahn ou as dificuldades que os EUA tiveram no Mekong, sendo parte dessas dificuldades provenientes do facto de Franceses e Americanos não esperarem determinado equipamento e numero de forças do inimigo. A safa dos americanos foi o poder aéreo enquanto que os franceses não tiveram tanta sorte e estes últimos eram bem superiores em numero e equipamento.


Vietcong é uma coisa vietmin é outra completamente diferente. Estamos a falar de movimentos que tinham experiência de guerra que o PAIGC não tinha pois vinham da guerra contra os japoneses e franceses. O vietcong estava na sua terceira guerra quando enfrentou os americanos mas isso não invalida que o treino e parte do equipamento tivesse exatamente a mesma proveniência. O mesmo se passa com o material fornecido já que os franceses ou americanos não tinham o numero de tropas nem o material dos Portugueses. Os russos e chineses forneceram sempre em função do numero mas se verificarmos o padrão do equipamento fornecido este nunca sofreu grandes mudanças (o pt-76, t-34 e peças de 122mm foi praticamente fornecido a toda a gente,antes, durante e depois dos conflitos).



A questão do fornecimento dos pt-76 dos t-34 e de artilharia pesada é uma hipótese como o facto de ter sido fornecido à posteriori ou de mesmo no caso dos primeiros nunca ter sido fornecido. As listas de material não são exatas, à confusão quanto À sua proveniência e quanto a altura das entregas. Agora uma coisa é o material fornecido por russos outra é o material fornecido pela china que continua a viver em pleno comunismo da mesma forma que a investigação sobre a guiné não possui os mesmos moldes no que diz respeito aos arquivos comparados da II guerra mundial, Coreia ou Vietnam. Mesmo depois da queda do muro de Berlim À primeira vaga de arquivos russos seguiu-se o deserto de informações de Putin e Medvedev. No dia que se investigar seriamente  conflito na Guiné com uma comparação cuidada e possível de arquivo e listagens acredito que muita coisa se re-escreverá (pessoalmente não sou apreciador do Stockholm International Peace Research Institute, pois a simpatização dos nórdicos com os denominados "movimentos independentistas" das "colónias" Portuguesas sempre me causou uma certa sensação de parcialidade).

A hipótese de intervenção da Guiné Conacri em Guileje (uma posição que ainda hoje se discute se era defensável ou não com as limitações de água, abrigos sobrelotados, problemas de apoio aéreo, reforços, etc )é perfeitamente possível da mesma forma que o exagero de efetivos e material do PAIGC também o é. A operação "Mar Verde" foi um "nó na garganta" de Sekou Touré e é logico que este se iria vingar mas isso não invalida a boa coordenação de meios nas operações na fase final do conflito em que o PAIGC era de longe o movimento que mais problemas trazia a Portugal, sobretudo no ar e em terra. Mesmo que não existissem os supostos meios da Guiné Conacri os meios comuns utilizados pela guerrilha eram superiores aos usados pelos portugueses (comparando por exemplo a nossa bazooca ao RPG) e uma acção concertada iria sempre trazer problemas acrescidos Às tropas portuguesas, principalmente quando não existia capacidade de quem comandava de desmistificar as deficiências do Sa-7 ou a inadequada blindagem e o canhão de baixa pressão do Pt-76 (já para não falar nos problemas crónicos de identificação do equipamento inimigo).

A guerra sempre se fez de desinformação. O exagero de aumento de efectivos, de movimentações que nunca existiram e até de exércitos fantasma (um dos mais famosos o do General Patton que fez Hitler pensar que o verdadeiro desembarque do dia D era em Pás de Calais) sempre foi uma realidade que as forças tinham de ter em conta, saber lidar, combater e moralizar (e a guiné não foi excepção à regra). Estamos a falar de um pequeno pais chamado POrtugal que detinha um vasto território rico e cobiçado por diversas potencias Mundias e REgionais o que ainda mais exacerbou a propaganda comunista e  intolerância de um conjunto de países europeus, NATO e EUA, que das Filipinas ao Chile pregaram exatamente o oposto (apesar da guerra fria e do apoio comunista aos movimentos que lutavam contra os portugueses).
À porem aqui uma questão que é clara. As forças que retiraram de Guileje fizeram-no sobre um conjunto de prosupostos discutíveis (penso que posição era defensável e não cairia nas mãos da guerrilha mas compreendo a decisão)  mas essa retirada não deixou de ser executada.  O PAIGC explorou esta situação ao máximo mas se por acaso o aquartelamento tivesse sido tomado e os combatentes sido feitos prisioneiros o caso tinha sido muito pior (como Dien Bien Phu para os franceses).
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/12/guin-6374-p3628-retirada-de-guileje-por.html
O facto é que Portugal não estava habituado a uma retirada mesmo que organizada e executada. Generais como Rommel ou Maistain, mestres na retirada organizada de forças, (estudados e no caso deste ultimo até conselheiro da NATO), e não tinham no comando operacionais como o General Oliver Prince Smith que ao retirar a 1 divisão de Marines de Chosin em plena investida Chinesa disse a celebre frase "Retreat, hell! We're not retreating, we're just advancing in a different direction." Em Guileje tratava-se de um pequeno numero de 200 homens comandado por Maj Art Coutinho e Lima e 500 civis face aos supostos 650 guerrilheiros comandados por Nino Vieira o que não tinha o mesmo peso das Forças de Montegomery ou Zucov ou das ordes chineses, independentemente de este ser um conflito de guerrilha, raramente convencional e feito de forças em número bem menor.  
Afinal se as tropas portuguesas de Goa, Damão e Diu se renderam quando deveriam ter combatido até ao ultimo homem... Ou se o 25 de Abril de 1974 não tivesse dado os territórios ultramarinos portugueses pelos quais se combateu mais de uma década e onde mesmo com deserções, fugas e afins teve 9000 baixas contra 51 000 de americanos e 75 000 de franceses (mesmo tendo em conta os habitantes e forças de cada pais nos conflitos o numero de baixas quantitativas só é superior ao dos britânicos no borneu) .        
http://en.wikipedia.org/wiki/Oliver_P._Smith
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/01/guin-6374-p3689-retirada-de-guileje-por.html  

Cumprimentos
"Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos." W.Churchil

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papatango

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Re: GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO
« Responder #16 em: Agosto 17, 2013, 11:28:35 am »
Tentando ficar no assunto, acho que há uma diferença muito grande entre o delta do Mekong a o teatro operacional na Guiné.

Acho que a primeira grande diferença é o ponto até onde chegavam as marés do oceano atlântico. Em várias operações as tropas portuguesas tinham de lutar condicionadas pelas marés. As regiões de que falo, são as áreas de lodo que ficam quando a maré está vazia.
No delta do Mekong havia operações nos arrozais, em áreas longe do mar.

Alem disso, não podemos comparar a dimensão do Vietcong, com um exército de 300.000 homens em 1963 (mais que toda a população da Guiné portuguesa) com o PAIGC cuja estrutura na sua globalidade se estimava entre 4.000 a 7.000 pessoas em 1970. Para piorar a situação o PAIGC teria que transportar armamentos por áreas de maiorias étnicas que lhe eram adversas.

O que eu estou a dizer é que não vejo PT-76 na Guiné-Bissau em lado nenhum, embora a sua utilização até pudesse fazer algum sentido.
A Guiné-Bissau realmente recebeu PT-76, mas já os portugueses se tinham ido embora há cinco anos quando isso aconteceu.
A Guiné-Bissau recebeu peças de artilharia de 130mm mais modernas, mas já os portugueses se tinham ido embora.

O que tento afirmar é que muita da guerra na Guiné, não foi uma guerra de libertação, mas sim uma guerra secreta entre a Guiné-Conakry e Portugal.
Aliás, de todos os países africanos, a Guiné-Conakry foi daqueles com o qual sempre tivemos relações mais dificeis, mesmo depois do 25 de Abril.

Sabemos que o PAIGC tinha bases nas fronteiras, mas sabemos também que o Senegal dava ao PAIGC apoio moral e muito pouco apoio militar. Exemplo disso foi o ataque a Gilege, que foi feito por militares do PAIGC vindos do sul.
É evidente que isto também tem a ver com as etnias dominantes, já que os mais belicosos de todos eram os balanta, e esses viviam mais no sul que no norte.
No interior da Guiné-Bissau, com população de maioria muçulmana, os portugueses tinham acesso onde queriam.
O problema era a ligação entre a costa e as regiões do interior.
OPAIGC atacava essas vias de comunicação como podia, mas mesmo num país pequeno era dificil carregar armamento às costas.
Daí que houvesse necessidade de utilizar meios mecanizados.

Mas para utilizar meios mecanizados isso implica a existência de uma estrutura minimamente organizada que não se padece com grandes movimentações.
É necessário um parque-auto movel, para suportar mesmo que apenas uma ou duas PT-76, utilizadas para rebocar artilharia.

Como disse anteriormente, acredito que as PT-76 são um mito, e que são uma invenção (OU SEJA, UMA MENTIRA) destinada a explicar como o PAIGC transportava a artilharia que era utilizada contra os portugueses.

Se as peças de artilharia de 122mm da Guiné-Conakry eram disparadas do lado de lá da fronteira (e considerando a distância, era quase forçoso que estivessem do lado de lá da fronteira) então não haveria nenhuma necessidade de PT-76 e estaria explicado o logro.

Se as tropas portuguesas em Gilege, estiveram debaixo de fogo, se a contra-informação lhes tivesse dito que o PAIGC tinha T-34 ou PT-76, então, perante um ataque pesado de artilharia e com a possibilidade de depois ter que enfrentar blindados (como determinava a doutrina russa), um comandante com pouca formação, pouca informação e quase nenhum contacto com o escalão superior de comando, tomou a decisão de abandonar as posições que detinha e que eventualmente poderiam ser defendidas.

Ou seja: Como já deve ter percebido, eu estou a dizer que existe a possibilidade de a guerra na Guiné ter sido perdida não para um glorioso e libertador PAIGC (que hoje sabemos que não passava de uma organização de bandidos que se matavam uns aos outros, como aconteceu com o Amilcar Cabral) mas sim para um inimigo não declarado, a República da Guiné-Conakry.

Portugal não podia reagir contra a Guiné-Conakry, porque isso era internacionalizar o conflito e justificar um aumento da intervenção da rússia comunista em África. Os americanos não queriam isso de maneira nenhuma, pelo que Portugal estava de mãos atadas. Em 1970 tentou matar o Sekou Touré, mas a operação falhou, pelo que Portugal ficou sem opções, com um inimigo não declarado à porta.

O receio da aviação do PAIGC era essencialmente receio da aviação da Guiné-Conakry. Por causa da Guiné-Conakry foram desenvolvidos planos de defesa para uma guerra convencional. Por causa da Guiné-Conakry Portugal começou a negociar a compra de Mirage, para poder responder aos MiG-21 de Conakry, o que também seria feito com os mísseis anti-aéreos Redeye que chegariam em 1974.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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mafets

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Re: GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO
« Responder #17 em: Agosto 17, 2013, 10:40:29 pm »
Citação de: "papatango"
Tentando ficar no assunto, acho que há uma diferença muito grande entre o delta do Mekong a o teatro operacional na Guiné.

Acho que a primeira grande diferença é o ponto até onde chegavam as marés do oceano atlântico. Em várias operações as tropas portuguesas tinham de lutar condicionadas pelas marés. As regiões de que falo, são as áreas de lodo que ficam quando a maré está vazia.
No delta do Mekong havia operações nos arrozais, em áreas longe do mar.

O  Delta do Mekong é maior que toda a Guiné (aproximadamante 39 000 km2 contra 37 000), pelo que compreendia diversos tipos de terreno, sendo que os EUA operavam a toda a sua extensão. Sendo a área de lodo banhada pelo pacifico não deveria ter uma amplitude de marés muito diferente do atlântico além de que em ambos os casos existia a estação das chuvas o que fazia aumentar significativamente a zona alagada. POr norma os arrozais encontram-se na parte norte enquanto que no sul encontra-se o manguezal.

Citar
Associado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa, está sujeito ao regime das marés, sendo dominado por espécies vegetais típicas, às quais se associam outros componentes vegetais e animais.
Ao contrário do que acontece nas praias arenosas e nas dunas, a cobertura vegetal do manguezal instala-se em substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo

Citar
Guerra

Durante o colonialismo francês na Cochinchina, a primeira revolta nacionalista, em nome do rei, teve início no Delta do Mekong e espraiou-se, transformando-se na Primeira Guerra da Indochina. Na Guerra do Vietnã, a região foi palco de diversos combates entre os guerrilheiros vietcongs da Frente Nacional de Libertação e unidades da marinha norte-americana em barcos e hovercrafts, nos manguezais e alagadiços que formam a maior parte do delta.

O delta do Mekong surge como um exelente exemplo da diversidade de terreno que as forças convencionais enfrentavam. A Task Force da Us Navy apelidada "Marinha das águas castanhas" operava nas zonas alagadas e nos braços de rio. Cabia aos fuzileiros desembarcar das lanchas de desembarque quando era necessário intervir no terreno, apoiados no inicio da guerra por pequenos patrulha (mas tarde substituídos pelos PBR) que face à mobilidade de forças cada vez maiores e meios mais pesados foram dando origem aos Monitores e Canhoeiras pesadamente armados (além dos meio aéreos). Por isso o Delta foi chamado a esta discussão.






http://pt.wikipedia.org/wiki/Delta_do_Rio_Mekong_(regi%C3%A3o)
Citação de: "papatango"
Alem disso, não podemos comparar a dimensão do Vietcong, com um exército de 300.000 homens em 1963 (mais que toda a população da Guiné portuguesa) com o PAIGC cuja estrutura na sua globalidade se estimava entre 4.000 a 7.000 pessoas em 1970. Para piorar a situação o PAIGC teria que transportar armamentos por áreas de maiorias étnicas que lhe eram adversas.
A dimensão do Paigc tinha em conta a dimensão das forças armadas portuguesas no território da Guiné, as quais não chegavam nem perto dos quase 2 milhões de soldados que entre americanos, vietnamitas do sul e seus aliados chegaram a combater no  Vietnam do Sul, Laos e Camboja. Agora independentemente das diferenças de cada conflito estamos a falar de uma guerra de guerrilha, com forças de suposta ideologia marxista, treinadas e equipadas por russos e chineses e com uma organização semelhante entre elas. O PAIGC como a maioria dos movimentos deste tipo transportava armamento ligeiro acompanhado de morteiros,rpg, canhões sem recuo e foguetes de 122mm e ocasionalmente para determinadas operações poderá (como outros movimentos) ter empregue outros meios, seus ou da Guiné-Conacri, avançando em áreas de etnias diversas (como os Mujahidin  tinham que ultrapassar as dificuldades inerentes aos múltiplos senhores da guerra)com os problemas que lhes são inerentes.
Temos que ter em atenção que na maioria dos conflitos de guerrilha existiram alguns poucos recontros convencionais e estes aconteceram porque a espaços ouve a introdução de outros meios perfeitamente documentados e onde a forma da sua mobilização e deslocação está referida na primeira pessoa entre Vietmin e Vietcong. Existindo nestes casos sempre o apoio externo de nações fronteiriças o caso da Guiné não deverá ser diferente.

Citação de: "papatango"
Daí que houvesse necessidade de utilizar meios mecanizados.

Mas para utilizar meios mecanizados isso implica a existência de uma estrutura minimamente organizada que não se padece com grandes movimentações.
É necessário um parque-auto movel, para suportar mesmo que apenas uma ou duas PT-76, utilizadas para rebocar artilharia.

Como disse anteriormente, acredito que as PT-76 são um mito, e que são uma invenção (OU SEJA, UMA MENTIRA) destinada a explicar como o PAIGC transportava a artilharia que era utilizada contra os portugueses.
Existe um ponto que é inegável na maioria dos movimentos de guerrilha. É a capacidade de improvisar o que em muitos casos deixaram as tropas regulares contra as quais combatiam perfeitamente surpreendidos com os lança-foguetes, transportes, artilharia autopropulsada improvisada, entre muitos outros exemplos. Sem grandes meios, com uma organização deficitária, sem suporto logístico.






Citação de: "papatango"
Ou seja: Como já deve ter percebido, eu estou a dizer que existe a possibilidade de a guerra na Guiné ter sido perdida não para um glorioso e libertador PAIGC (que hoje sabemos que não passava de uma organização de bandidos que se matavam uns aos outros, como aconteceu com o Amilcar Cabral) mas sim para um inimigo não declarado, a República da Guiné-Conakry.

Portugal não podia reagir contra a Guiné-Conakry, porque isso era internacionalizar o conflito e justificar um aumento da intervenção da rússia comunista em África. Os americanos não queriam isso de maneira nenhuma, pelo que Portugal estava de mãos atadas. Em 1970 tentou matar o Sekou Touré, mas a operação falhou, pelo que Portugal ficou sem opções, com um inimigo não declarado à porta.

O receio da aviação do PAIGC era essencialmente receio da aviação da Guiné-Conakry. Por causa da Guiné-Conakry foram desenvolvidos planos de defesa para uma guerra convencional. Por causa da Guiné-Conakry Portugal começou a negociar a compra de Mirage, para poder responder aos MiG-21 de Conakry, o que também seria feito com os mísseis anti-aéreos Redeye que chegariam em 1974.
Essa é uma hipótese de facto possível e que faz sentido. Embora não considere a Guiné uma questão perdida mas sim a mais complicada que Portugal enfrentava nas frentes em que combatia. Penso que o tempo o dirá em futuras investigações quanto À veracidade destes factos e a questão tão protelada sobre o suposto uso de t-34, Pt-76 ou artilharia pesada no conflito da Guiné.


Citação de: "papatango"
Se as tropas portuguesas em Gilege, estiveram debaixo de fogo, se a contra-informação lhes tivesse dito que o PAIGC tinha T-34 ou PT-76, então, perante um ataque pesado de artilharia e com a possibilidade de depois ter que enfrentar blindados (como determinava a doutrina russa), um comandante com pouca formação, pouca informação e quase nenhum contacto com o escalão superior de comando, tomou a decisão de abandonar as posições que detinha e que eventualmente poderiam ser defendidas.
Na minha prespectiva a retirada de Guileje teve também bastante a ver com as restrições à operação de meios aéreos (principalmente helicópteros e aviões à hélice) nas operações de apoio e evacuação. A utilização do Sa-7 e a propaganda ao abate de alguns meios contribuíram para o mito de que a FAP não poderia intervir convenientemente nesta situação, o que a juntar à incapacidade de perceber que tanto o pt-76 e o t-34 seriam sempre em pequeno número, limitados operacionalmente pelo terreno e passiveis de destruição com o armamento que as tropas portuguesas possuíam, contribuiu significativamente para a retirada.


Cumprimentos
« Última modificação: Agosto 18, 2013, 12:00:22 am por mafets »
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Re: GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO
« Responder #18 em: Agosto 17, 2013, 11:00:50 pm »
Citação de: "mafets"
O delta do Mekong surge como um exelente exemplo da diversidade de terreno que as forças convencionais enfrentavam. A Task Force da Us Navy apelidada "Marinha das águas castanhas" operava nas zonas alagadas e nos braços de rio.
Nós tínhamos alguma unidade equivalente a essa? Sem ser os Fuzileiros?
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Re: GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO
« Responder #19 em: Agosto 18, 2013, 12:30:59 am »
Citação de: "HSMW"
Citação de: "mafets"
O delta do Mekong surge como um exelente exemplo da diversidade de terreno que as forças convencionais enfrentavam. A Task Force da Us Navy apelidada "Marinha das águas castanhas" operava nas zonas alagadas e nos braços de rio.
Nós tínhamos alguma unidade equivalente a essa? Sem ser os Fuzileiros?

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At the same time, the United States Navy found itself embroiled in a war that was fought at first, off the coastal waters of South Vietnam, and then in the river deltas, smaller waterways and canals of the country.  To combat North Vietnamese infiltration of men and supplies by sea, three Task Forces were formed: TF-115 called Operation MARKET TIME; TF-116 called Operation GAME WARDEN; and TF-117 called the MOBILE RIVERINE FORCE (a joint amphibious Army-Navy riverine operation).

http://www.warboats.org/stonerbwn/the%20brown%20water%20navy%20in%20vietnam_part%202.htm

A "Marinha das águas castanhas" foi um conjunto de 3 Task Forces, sendo duas delas da marinha enquanto que a Tf-117 era mista ( a joint amphibious Army-Navy riverine operation). No caso portugues (salvo erro) estas operações eram efetuadas pela marinha e fuzileiros, em cordenação (quando necessários) com as restantes forças mas sem ter sido criada uma unidade especial (ou mista) como a Tf-117.





http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_opera%C3%A7%C3%B5es_militares_da_Guerra_do_Ultramar
http://reservanaval.blogspot.com/2010/02/guine-1964-operacao-hitler-no-rio.html
http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-Marverde/marverde1.html

 :G-beer2:
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Re: GUINÉ, GUILEJE, E O DESNORTE DO REINO
« Responder #20 em: Agosto 20, 2014, 03:00:49 am »

Citar
ESTE DOCUMENTO HISTÓRICO FEITO POR UMA EQUIPA DE TELEVISÃO FRANCESA, EM PLENOS ANOS SETENTA DO SÉCULO PASSADO.

Guerra Na Guine...

É o único filme feito na Guiné que apanhou uma sequência real de guerra.

Os jornalistas franceses que seguiam nesta patrulha, mandada executar para que eles tomassem conhecimento com o dia a dia das NT estacionadas em BULA, um pouco a N do Rio Mansoa, apanharam um "cagaço", mas registarm algo que mais nenhum registou. Se não estou errado ia também uma jornalista.

A emboscada que as NT sofreram, não estava "no programa", mas isto era o que podia acontecer sempre que se saía para o mato e neste caso julgo que foi para os lados do CHOQUEMONE, uma das zona quente onde o IN tinha "acampamento(s)", na área entre BULA-BISSORÃ-S. VICENTE(já no Rio Cacheu).

O Spínola, com a seu ajudante de campo (era ainda o Almeida Bruno) e o Cmdt do Batalhão de BULA foram lá, mal tiveram conhecimento do que tinha acontecido.
Um galego é um português que se rendeu ou será que um português é um galego que não se rendeu?
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